Deseje-me se puder - Capítulo 24
O soco acertou Grayson em cheio no rosto, fazendo seu corpo alto cambalear para trás. Um silêncio pesado se instalou por alguns segundos, até que o barulho repentino assustou os pássaros, que bateram as asas e sumiram entre as árvores. Quando o som foi se dissipando, Grayson, que tinha dado alguns passos para trás, lentamente virou a cabeça de volta para encarar Dane.
E foi aí que Dane finalmente hesitou por um breve instante.
Os olhos roxos profundos de Grayson brilhavam de uma maneira assustadora. Eles mudavam de dourado para roxo e de volta para dourado, em um ciclo contínuo.
— Pfh… Heh… Heheheh.
Uma risada incomum escapou dos lábios dele. Ao mesmo tempo, uma quantidade enorme de feromônios se espalhou pelo ar. Era óbvio que aquilo não era intencional – Grayson estava tão excitado que seu corpo simplesmente não conseguia conter a reação.
Dane sentiu um arrepio subir pela espinha e, sem nem perceber, recuou um passo. ‘Esse cara é um completo lunático.’
— Ahahahahaha! Hahahaha! HAHAHAHAHA!
Ele ria. Ria como se estivesse se divertindo mais do que nunca, como se fosse explodir de felicidade. Seu corpo tremeu uma vez, então ele fechou os punhos devagar, mas com força.
— Agora é legítima defesa.
E, antes que Dane pudesse reagir, Grayson se lançou contra ele com uma velocidade absurda.
***
O tempo estava passando bem mais do que o esperado. Wilkins olhava impaciente para o relógio no pulso e depois para a trilha na mata, alternando entre os dois com uma expressão preocupada.
— Não tá demorando demais?
Alguém ao lado murmurou. O outro respondeu no mesmo tom:
— Pois é. Mesmo no pior cenário, já deviam ter voltado.
— E o Dane nunca se atrasa assim… Será que aconteceu alguma coisa?
— Ah, qual é? Um bombeiro tendo que salvar outro bombeiro? E ainda por cima, o bombeiro em questão sendo o Dane?
Mesmo tentando disfarçar, o grupo não conseguia esconder a preocupação. No meio deles, Diandre roía a unha do polegar, ansioso. Já fazia um bom tempo desde que Dane e Grayson desapareceram na trilha atrás da montanha.
Ele sabia que, a essa altura, a missão devia estar se desenrolando como esperado. O problema era o tempo que estava levando. O que diabos estava acontecendo lá? Será que algo deu errado com o Dane…? Não, isso não fazia sentido. Ele era o melhor entre eles. Não tinha como perder para um babaca como o Miller.
Mas e se…?
Inquieto, Diandre continuou olhando na direção onde os dois sumiram. Esperava, do fundo do coração, que estivesse tudo bem.
***
PAH!
O soco acertou Dane em cheio, fazendo-o cambalear com força. —Argh!— Um grunhido surpreso escapou de seus lábios. Ele quase perdeu o equilíbrio e rolou ladeira abaixo. O lugar tinha uma inclinação considerável, e se ele caísse e não conseguisse parar a tempo, poderia rolar direto para o penhasco abaixo. No mínimo, ele quebraria alguns ossos; na pior das hipóteses, poderia até morrer.
Talvez escolher esse lugar não tenha sido uma ideia tão genial.
Mas ele não teve tempo para arrependimentos. Grayson já estava no ataque de novo, desferindo um chute certeiro. Ele era mais ágil do que parecia e claramente sabia o que estava fazendo. Provavelmente teve aulas com um mestre renomado e treinou em várias artes marciais.
Ou pelo menos foi essa a conclusão que Dane tirou.
Errada, claro, mas, considerando o quão habilidoso Grayson era, parecia fazer sentido.
‘Eu pensei que esse cara era só um riquinho inútil.’
‘Merda.’
Dane teve que aceitar que subestimou o adversário. E isso era irritante. Se soubesse que a coisa tomaria essa proporção, teria cobrado pelo menos uns 100 dólares. Afinal, os 38 dólares e 25 centavos já tinham sido mais do que justificados. Agora, se quisesse sair dali inteiro, teria que começar a se esforçar.
E ele detestava isso.
Nada no mundo o irritava mais do que perder tempo e gastar energia à toa.
Era exatamente por isso que nunca deveria ter aceitado essa merda de trabalho.
O arrependimento bateu forte, mas Dane não tinha tempo para ficar remoendo as escolhas ruins da vida. Ele se abaixou rapidamente, desviando do ataque de Grayson, e apoiou as mãos no chão para puxar o tornozelo do outro. Como Grayson estava atacando com um pé só, perdeu o equilíbrio e caiu de cara na terra, dando a Dane a chance perfeita de se jogar por cima dele.
Os dois rolaram pelo chão em um caos de socos, chaves de braço e se enchendo de terra. Quando Dane acertou um soco no rosto de Grayson, o outro revidou segurando seu pescoço e o derrubando. Dane não perdeu tempo, cruzou as pernas em volta do Grayson e prendeu o braço dele numa chave, forçando o cara a soltar. Assim que conseguiu se livrar do aperto, usou as pernas para imobilizá-lo de novo, mas Grayson, teimoso, ainda tentava agarrar seu pescoço.
Até que ele tinha força e um certo talento para luta, pelo menos comparado a um civil comum. Mas isso não era suficiente. Dane riu, mesmo com sangue escorrendo do nariz. Ele não passou três anos no exército brincando. Não importava o quão bom Grayson fosse, no fim das contas, ele era só um civil. E um civil nunca venceria um militar treinado.
A luta já estava decidida. O plano de Dane era simples: fazer Grayson apagar e descer da montanha sozinho. O resto do pessoal que desse um jeito de arrastar o corpo dele depois, ou então que o próprio Grayson se virasse para voltar assim que acordasse. Dane já tinha feito mais do que o suficiente por hoje.
De qualquer forma, esse cara só trazia dor de cabeça. Três vezes já era demais. Três malditas vezes ele teve que derrubar esse desgraçado e dessa vez literalmente na porrada. Talvez estivesse na hora de ir embora dessa cidade de uma vez por todas.
Ele não era do tipo que acreditava em destino, mas quando algo ruim continuava acontecendo repetidamente, era um sinal claro de que estava na hora de dar o fora. E Grayson não era só problema – ele era um problema rico, completamente desequilibrado e perigoso. Um psicopata que, mesmo algemado em uma casa pegando fogo, ainda tentava subjugar um ômega só com feromônios e um sorriso cínico. E agora lá estava ele de novo, jogado no chão pela terceira vez, derrubado pelos mesmos feromônios e os mesmos punhos.
Pensar nisso só deixou Dane mais irritado. Desde que esse lunático apareceu, sua rotina pacífica no trabalho virou um inferno. Talvez fosse hora de ter uma conversa séria com Darling sobre cair fora dessa cidade.
Ele estava prestes a dar o golpe final quando, de repente, Grayson agarrou seu braço. Dane revirou os olhos, achando que era só mais um último esforço patético antes de desmaiar. Mas aí, num movimento surpresa, Grayson usou toda a força que tinha para puxar o Dane junto.
Dane não teve tempo de reagir.
No instante seguinte, os dois estavam rolando ladeira abaixo.
***
O teste, que tinha começado com o sol ainda alto, se arrastou até o fim da tarde sem sinal de terminar. O pessoal já estava inquieto, todos com os olhos fixos na montanha, esperando alguma coisa acontecer. No fim, quem quebrou o silêncio foi Ezra, incapaz de segurar a ansiedade.
— Não deveríamos ir atrás deles? E se tiver acontecido alguma coisa?
Assim que ele falou, foi como se tivesse aberto a porteira. As preocupações começaram a pipocar por todos os lados.
— Estão demorando demais! Alguma coisa aconteceu, certeza! O Dane nunca atrasaria tanto sem motivo.
— Se ele se machucou, quanto mais rápido agirmos, melhor. Não importa o quão bom ele seja, se deu azar, já era.
— O Miller que se vire, mas o Dane nós temos que salvar!
Wilkins começou a suar frio. Ele também estava preocupado, claro, mas como tinha sido um dos responsáveis por essa bagunça toda, não sabia se era certo tomar a frente agora. Só que manter a equipe calma estava ficando impossível. O tempo estava contra eles – se escurecesse, mesmo sendo uma montanha pequena, a busca ia se tornar um inferno. Talvez fosse melhor agir logo.
Ele estava tentando achar o momento certo para tomar uma decisão quando uma voz inesperada interrompeu tudo.
— O que diabos vocês estão fazendo aí parados? Se tem tempo sobrando, por que não estão treinando, em vez de ficar fofocando?
Todos se viraram na mesma hora.
Claro. Só podia ser ele.
O chefe estava ali, olhando para eles com uma cara de poucos amigos, claramente irritado com a situação.
— Então? Alguém pode me explicar?
— Ah, bem, chefe, é que…
Ezra tentou falar alguma coisa, mas as palavras simplesmente não saíam.
Wilkins percebeu que não tinha jeito e resolveu se adiantar.
— Desculpe, senhor. Estamos… conduzindo um teste de resistência com o Miller.
O chefe arqueou uma sobrancelha.
— Teste de resistência? Com o Miller? E vocês resolveram fazer isso sem me consultar antes?
°
°
Continua…