Deseje-me se puder - Capítulo 23
— Certo, preparados? Um, dois…
Wilkins deu um último olhar para os dois antes de dar o sinal. Em volta, os bombeiros já estavam berrando os nomes de Dane e Grayson, cada um torcendo pelo seu lado.
Dane se inclinou para frente, pronto para disparar assim que ouvisse o sinal. Wilkins, olhando de um para o outro, gritou com a voz carregada de tensão:
— Três!
— UOOOOHH!
— Dane, Dane! Nossa esperança! Nosso orgulho!
— GRAYSON, EU TE AMO!
— Corre, corre! Grayson, você tem que ganhar!
— Dane, você é o nosso orgulho!
O sinal de largada veio junto com uma explosão de gritos. Os dois dispararam, os pés batendo forte no chão. Lá embaixo, os outros bombeiros os observavam, ainda torcendo a plenos pulmões. Pelo menos até os dois sumirem na nova parte do percurso.
Era ali que a mágica irá acontecer.
Aquele trecho da corrida passava por um desnível acentuado, um ponto cego do vale onde ninguém lá embaixo conseguiria enxergar nada até que eles surgissem do outro lado. Dane já sabia que aquele era o momento perfeito para “prestar seu serviço”.
A reta inicial logo ficou para trás, dando lugar a uma subida íngreme. Era a primeira parte da prova – uma escadaria natural onde eles precisavam puxar uma mangueira de incêndio até a metade do morro.
Era um teste de resistência pura. Mesmo sendo uma montanha pequena, a inclinação era cruel, e carregar a mangueira só piorava as coisas. Pelo menos estavam usando uma mangueira vazia, diferente dos treinos na base, onde ela vinha cheia d’água.
Assim que chegassem ao ponto marcado, largariam a mangueira e pegariam os equipamentos da segunda etapa: duas motosserras, uma em cada mão, para correr até uma árvore a uns 100 metros dali e voltar. Fariam isso duas vezes antes de avançar para a próxima fase.
Se uma motosserra caísse no meio do trajeto? Desclassificação.
E com o pessoal lá embaixo assistindo? Nenhum erro passaria despercebido.
‘Droga, por que eu tô passando por isso…’
Já sentindo o suor escorrendo pelas costas, Dane xingou. Ao dar a volta na árvore, inevitavelmente se deparou com Grayson. A princípio, uma onda de cautela surgiu, mas, para surpresa de Dane, Grayson simplesmente passou por ele sem expressão nenhuma e continuou seu caminho ao redor da árvore. Dane quase perdeu a liderança por um momento de distração, mas logo acelerou e o deixou para trás.
Em seguida, em vez de subir a escada, Dane agarrou uma corda pendurada e escalou a parede de rocha. Ele ainda ouvia o som distante das vozes dos colegas, quase como se fossem insetos zumbindo. Quando terminou de escalar a corda, ele se agarrou num tronco da árvore e atravessou um pequeno riacho.
A subida não parava. Dane movia o corpo de forma mecânica, correndo sem parar até chegar ao local que havia planejado. Depois de completar alguns percursos, ele entrou em uma encosta ao redor da montanha e percebeu que era exatamente o lugar que ele esperava.
O som das vozes desapareceu por completo. No silêncio, ele se virou rapidamente. Grayson ainda estava lá. Grayson ainda não estava à vista. Dane respirou fundo e rapidamente observou ao redor. Era claramente uma parte do teste, mas o caminho havia desaparecido, e não havia um lugar óbvio para pisar. Ele encontrou um local relativamente plano, firmou os pés e se preparou. Um chute na cabeça devia custar uns 38 dólares e 25 centavos.
Agora é a hora.
Ficou em silêncio, de orelha em pé, esperando. De repente, um som suave de folhas se mexendo chegou aos seus ouvidos. Era o som dos passos de Grayson, que se aproximava a uma velocidade impressionante. Dane prendeu a respiração e se preparou para o momento exato. Um, dois… e finalmente.
Grayson apareceu por trás de uma pequena ladeira e parou. Seus olhos estavam fixos em Dane, que estava parado ali. Ao ver os olhos de Grayson se estreitarem, Dane deu uma leve sacudida na cabeça.
— Oi, bonitão.
A fala de Grayson estava carregada de sarcasmo. Então apenas encarou Dane sem dizer uma palavra.
Por um tempo, os dois ficaram só se encarando em silêncio. Ou melhor, Grayson fuzilava Dane com os olhos, enquanto o outro só olhava de volta com um tédio monumental. Quem abriu a boca primeiro foi Grayson.
— Olha só, me esperando desse jeito! Você estava preocupado comigo? Ah, claro, os bombeiros são herois, sempre prontos para salvar o dia! Que cena tocante…
— Eu vou te bater.
Ouvir baboseira não estava no contrato, então Dane cortou a fala dele sem piedade. Enquanto alongava o pescoço e girava o ombro, Grayson arregalou os olhos e perguntou:
— Vai me bater? Você está falando sério? Vai me bater? Do nada? Por quê?
O cara falava demais. Dane, que era mais do tipo calado, já estava ficando de saco cheio.
— Porque pagaram por isso.
— Pagaram?
— É.
Dane parou de massagear o ombro e falou com a maior tranquilidade:
— Vou te socar pela quantia de 38 dólares e 25 centavos.
Grayson fez uma cara feia. Talvez outra pessoa ficasse chocada com a situação. Mas ele não era qualquer um.
— … 38 dólares? Só isso?
Ele esfregou a testa como se isso fosse o mais absurdo da história. Tipo, não era o fato de que iam socá-lo, e sim o preço pelo serviço.
Sendo o famoso bad boy da família Miller, Grayson já tinha encontrado gente de todo tipo tentando ganhar um trocado às suas custas. Às vezes tentavam seduzir, às vezes tentavam matá-lo. Claro, era o karma da vida que ele levava. Todos aqueles que ele usou e descartou como diversão passageira estavam sempre afiando as facas da vingança.
Mas isso era problema dele. Dane não tava nem aí. Só imaginou que, por ser podre de rico, Grayson devia estar indignado com o preço baixo. O que fazia sentido. Dane aceitou essa lógica sem mudar a expressão aborrecida.
— É isso aí. Não aceito contra oferta. Isso quebraria a confiança das pessoas em mim.
— Isso é complicado, a confiança é essencial. Mas…
Grayson balançou a mão no ar como se tudo fosse uma grande piada e soltou um suspiro exagerado.
— Isso é ridiculamente barato. De todos que já foram pagos para me bater, você foi o mais barato. Normalmente, os caras cobram um absurdo só pelo risco de encarar a firma Miller. Mas você aceitou qualquer trocado? Ou será que esse é o preço do seu serviço? Caramba, você é bem baratinho, hein?
Dane ignorou a provocação. Só passou a mão pelo cabelo e respondeu de boa:
— Não precisa se surpreender, é só o seu valor de mercado. Se quiser que paguem mais, tenta aumentar seu preço.
Ele deu mais uma olhada em Grayson e acrescentou:
— Se se esforçar, talvez chegue aos 40 dólares.
— Hummm.
Grayson piscou algumas vezes e, em seguida, abriu um sorriso cheio de malícia.
— Olha só… você não é nada mal.
Não era exatamente uma experiência agradável, mas esse cara tinha um talento nato para irritar os outros. Se Dane se importasse com as coisas tanto quanto uma pessoa normal, provavelmente teria ficado ofendido com o que Grayson disse.
Mas Dane tinha um dom especial: não dar a mínima para qualquer coisa que não tivesse a ver com ele. E, convenhamos, a ideia de Grayson Miller conseguir afetar o humor dele era simplesmente ridícula.
— É isso aí? A ferramenta que você vai usar para me dar um beijo?
Ah, então você também tem talento para ser nojento, hein? Dane acrescentou mais um ponto à sua avaliação mental sobre Grayson antes de responder:
— Se pensar assim vai fazer doer menos, beleza. Vamos chamar de beijo profundo.
— Ótimo, beijo profundo. Adorei.
Grayson bateu palmas como se tivesse feito uma grande descoberta. Dane já estava começando a ficar cansado de conversar com esse maluco. Ele já tinha falado demais com alguém que claramente não estava com todas as faculdades mentais em dia. Sem perder mais tempo, ele partiu para o soco, já tinha dado aviso suficiente e tempo de sobra para Grayson correr.
O barulho seco ecoou pelo silêncio da floresta.
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Continua…