Deseje-me se puder - Capítulo 21
***
Os bombeiros estavam acostumados a ver Ezra sempre calmo, sem grandes explosões de humor. Então, quando ele voltou com o rosto vermelho de pura raiva, todo mundo ficou meio desconcertado.
— Que foi? O que aconteceu?
— Por que demorou tanto? Aquele desgraçado fez alguma coisa?
— Se ele aprontou alguma, fale logo! A gente se junta e acaba com ele!
Os caras cercaram Ezra, disparando perguntas, mas ele só cerrou os dentes, lançando um olhar assassino para Grayson.
— Aquele imbecil me fez de trouxa, é isso.
Tá, mas isso queria dizer exatamente o quê?
A curiosidade estava matando todos eles, mas Ezra claramente não queria entrar em detalhes. Sem escolha, um dos caras resolveu tentar adivinhar:
— Aposto que ele não queria vir, né? Você teve que arrastar o cara.
— É… Isso pelo menos tá certo.
Ezra finalmente abriu a boca, ainda a contragosto. Os outros ficaram esperando mais explicações, então ele suspirou e acabou falando:
— Ele estava lá de papo com a Beth, e nem se mexeu. Aí fiz o que o chefe mandou e avisei que, se não viesse, ia ficar preso no escritório para sempre, sem mais saídas. Aí ele pensou um pouco e acabou vindo.
— Hah! Sabia que ia funcionar!
— Mas que merda ele fez para te deixar assim, então?
Ezra só passou a mão no rosto e respirou fundo.
— Melhor não perguntar.
— Sério? Ele caiu nessa?
Os colegas de equipe se entreolharam, meio surpresos.
— Estranho… Achei que ele ia preferir ficar no escritório.
— Pois é, não veio aqui só para encher linguiça?
— Sair para um chamado é mais estiloso. O chefe sacou bem a dele.
— Nem imaginava que esse cara ligava para esse tipo de coisa.
— Ah, claro que liga! Vive atrás de mulher, tem que parecer fodão.
— Faz sentido.
O papo continuou até que Wilkins pigarreou alto, chamando a atenção. Quando todos se calaram e olharam para ele, ele finalmente virou para Grayson e foi direto ao ponto:
— Chamei você porque tem uma coisa que você precisa fazer, Miller.
Grayson não respondeu, só olhou para ele de cima. Pelo menos estava ouvindo, então Wilkins seguiu:
— Não sei se você sabe, mas todos nós aqui passamos por testes físicos antes de virar bombeiro. No campo, precisamos de um preparo físico absurdo e saber o que está fazendo. Olhando para você, até parece que está em forma. Mas tem uma diferença gigante entre músculos bem exercitados e músculos só de enfeite.
Ele lançou um olhar crítico para o corpo de Grayson, analisando como se tentasse enxergar além da aparência. E então voltou a encará-lo com uma expressão nada impressionada.
— Entrar num lugar pegando fogo é arriscar a vida. Somos responsáveis pela vida dos outros. Se você não fizer sua parte, coloca a vida dos colegas em risco. Entendeu?
Se ele não captasse a mensagem depois dessa, era um completo idiota.
— Então…
Grayson soltou um suspiro e passou a mão no cabelo, já sacando onde aquilo ia dar.
— Querem me testar.
— Basicamente.
Se ele resolvesse bancar o difícil e dizer que não foi avisado disso antes, não ia ter muito o que fazer. Até porque nem o chefe sabia dessa “surpresa”.
Se Grayson recusasse, eles fariam questão de chamá-lo de “covarde”, “bundão” ou “bombado de enfeite” até o fim dos tempos. Claro, era bem capaz de ele não ligar a mínima. Mas, no fim das contas, o simples fato de fugir do teste já pegaria mal o suficiente.
Wilkins não estava exagerando. Eles confiavam uns nos outros com a própria vida. Se alguém não desse conta do recado, colocaria o time todo em risco. Não importava se era homem ou mulher – todos passavam pelo mesmo treinamento pesado antes de entrar. Cada um deles era um bombeiro orgulhoso e competente, então fugir desse processo era, sem dúvida, uma grande mancha na reputação.
Isso sim seria um belo golpe na imagem dele.
Todo mundo pensou a mesma coisa.
Mas e se, por algum milagre, ele aceitasse…?
— Tudo bem.
A resposta veio curta e direta.
— Se eu passar no teste físico, está tudo resolvido, certo? Então, vamos nessa.
Wilkins sorriu discretamente. Claro, eles tinham um plano B para essa situação.
— Temos um percurso preparado. Mas tem um detalhe.
Ele fez uma pausa dramática antes de virar para trás.
— A velocidade também é importante, então um dos nossos vai correr com você. Dane!
Ao sinal de Wilkins, um homem de cabelo ruivo que estava mais afastado soltou um suspiro profundo. Ele claramente estava incomodado, mas, resignado, deu de ombros e caminhou lentamente até o centro.
Grayson ergueu uma sobrancelha quando viu o rosto dele.
As sobrancelhas de Grayson se moveram levemente ao ver o rosto do homem. O ruivo tinha ombros largos e um físico bem equilibrado, e seus cabelos brilhavam levemente sob a luz do sol. Dane parou, com uma expressão de tédio estampada no rosto.
O clima ficou tenso.
Wilkins, com o peito estufado, soltou o veredito:
— “Se você conseguir vencer o Dane, nós te aceitamos no time.
— Ah…
Os olhos de Grayson brilharam por um instante enquanto ele passava os dedos pelo queixo, encarando o rival.
— Isso vai ser divertido.
Seus olhos violeta pareciam cintilar num tom dourado por um segundo antes de voltarem ao normal. Ele conseguiu segurar a raiva, mas o cheiro forte de seu feromônio de alfa dominante era impossível de esconder.
Dane franziu o nariz, claramente incomodado, mas logo deu de ombros e olhou para Wilkins.
Com tudo resolvido, eles seguiram para o campo de teste.
— Haaah…
Dane, no fim da fila, soltou um longo suspiro.
…Será que ainda dava tempo de fingir que estava com intoxicação alimentar por causa de um iogurte vencido e sair fora?
Mas, como se tivesse lido sua mente, Wilkins olhou para trás e apontou para os próprios olhos com os dedos indicador e médio, depois para Dane, repetindo o gesto duas vezes.
Dane fechou os olhos e bufou.
Droga.
Sem saída, ele seguiu andando, agora ainda mais devagar.
***
Algumas horas antes.
O barulho pesado dos pesos batendo no chão ecoava ritmicamente pela academia.
Dane estava deitado no banco, levantando os halteres devagar. As veias saltavam em seus antebraços, e os músculos dos ombros e das costas se contraíam com precisão. O suor escorria pela testa, mas ele continuava, focado, sem expressar nada.
Foi no meio desse treino que ele ouviu um plano completamente absurdo.
Seu rosto se contorceu em desagrado.
Ele soltou um suspiro exasperado, passou a mão pelos cabelos como se tentasse processar a idiotice daquilo tudo e, com a paciência se esgotando, protestou:
— Tudo bem. Mas por que eu tenho que fazer isso?
Deane cruzou os braços e franziu as sobrancelhas, irritado. Sua voz deixava claro que ele estava extremamente incomodado. Mas, antes que ele pudesse terminar a pergunta, Ezra já estava lá, respondendo como se estivesse esperando por isso.
— Porque você é o melhor.
Antes que Dane pudesse retrucar, outro colega entrou na conversa.
— Já que bolamos esse plano, não dá pra deixar morrer na praia. Então tem que ser você.
— Só fazer o cara passar vergonha não é o bastante.
— É, tem que humilhar. Esse arrogante precisa sair daqui com o rabo entre as pernas.
— Só você pode fazer isso, Dane.
— Isso mesmo. Você é o único que bate de frente com ele no físico e na habilidade.
E assim, em questão de segundos, a conversa foi conduzida exatamente para onde eles queriam. Dane olhou ao redor, incrédulo. Como diabos ele deveria reagir a um absurdo desses?
Todos falavam como se já estivesse decidido. Ele virou para Wilkins, buscando algum tipo de bom senso, e abriu os braços, como quem perguntava “mas que merda é essa?”.
Wilkins, no entanto, manteve uma expressão séria antes de dar o golpe final:
— Também acho que deveria ser você, Dane. Já que as coisas chegaram nesse ponto, seria bom para a nossa moral se você desse uma lição nele.
E como se não bastasse, ainda completou, casualmente:
— Aliás, a ideia foi minha.
Dane imediatamente fez cara de quem queria sumir.
Ele deu um passo para trás, como se Wilkins tivesse acabado de virar algo contagioso.
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Continua