Deseje-me se puder - Capítulo 19
Um ano pode ser pouco tempo, mas às vezes parece uma eternidade.
Pontual como sempre, Dane chegou para o turno e logo deu de cara com a cena já manjada: Grayson rindo e jogando charme para mais uma colega de trabalho diferente.
Já tinha visto aquilo se repetir tantas vezes que começou a se perguntar se estava preso em um maldito looping temporal.
Mas, claro, isso não fazia sentido. A prova mais óbvia era que a mulher ao lado de Grayson nunca era a mesma. Era sempre uma nova “felizarda”, enquanto o restante da equipe assistia de longe, sem forças nem para reclamar. Até que, dessa vez, Diandre explodiu.
— Eu não aguento mais essa porra!
Os outros, que estavam distraídos checando os equipamentos, se sobressaltaram com a reação. Diandre apontou com indignação.
— Vocês vão ficar parados vendo essa palhaçada todo dia?
Na direção que ele indicava, estava Grayson Miller, relaxado, com uma mão no bolso e um sorrisinho arrogante, sussurrando alguma coisa no ouvido da nova funcionária. Ela jogou o cabelo para o lado, inclinou a cabeça e riu, completamente encantada. Seu jeito era tão natural e à vontade que parecia que os dois se conheciam há anos. Ela tocava o próprio braço de leve, enrolava uma mecha do cabelo nos dedos, ria baixinho.
O grupo inteiro ficou olhando a cena por um momento, depois voltou os olhos para Diandre. No meio do silêncio confuso, Ezra levantou as mãos num gesto de “E daí? O que você quer que a gente faça?”.
— Esse desgraçado tá destruindo a moral da nossa equipe! Vamos deixar isso acontecer? Vocês vão só ficar aí, olhando feito uns idiotas?!
O resto do pessoal se entreolhou, sem muito entusiasmo.
— E o que podemos fazer?
— Vamos sequestrar o cara e enfiar porrada nele, é isso?
— Olha, eu até topo bater nele, mas só porque ele é popular com as mulheres? Isso não é meio errado? Elas não querem nada com a gente, o que podemos fazer?
— Na verdade, eu saí com a Ellie semana passada. Se vocês se esforçarem, também conseguem.
Essa última frase fez todo mundo se virar na direção do sortudo. O bombeiro já estava com um sorriso convencido no rosto, passando a mão no queixo com um ar de quem queria ostentar. Até ergueu a sobrancelha, se achando.
— Oho! Olha só quem tá mandando bem!
— Seu desgraçado! Quando foi que você conseguiu?!
A galera começou a vaiar e bater palmas, mas o bombeiro só ficou mais cheio de si, estufando o peito com um sorriso convencido.
— Isso prova que as mulheres não olham só para o Miller. Já combinei o próximo dia de folga para sair com ela. Até escolhi um restaurante legal.
— Leva umas flores. Eu sempre dou rosas nos meus encontros.
Wilkins aconselhou, e o cara acenou com a cabeça, animado.
— Fui na floricultura e só falei que era um encontro, eles montaram um buquê perfeito. Da última vez, a Ellie estava com um vestido verde… ela ficou um absurdo de linda.
— Oooooh!
O grupo reagiu, incentivando o colega com risadas e tapinhas nas costas.
Mas Diandre só conseguia olhar aquilo tudo irritado.
— Bando de imbecis!
Ele berrou de repente e saiu marchando na direção oposta. O pessoal se entreolhou, surpreso. Será que ele ia brigar com o Miller? Precisavam segurar ele? Ou será que ele só tava indo no banheiro? Várias hipóteses passaram pela cabeça deles… até que perceberam que ele estava indo para um lado completamente aleatório.
— Ué? — Wilkins soltou, confuso.
Todo mundo ficou olhando, sem entender nada, até que Diandre parou, respirou fundo e, do nada, berrou de novo.
— Que porra é essa?! Vocês não têm vergonha?! Como puderam nos trair desse jeito?!
As bombeiras, que estavam de boa conferindo os equipamentos, se viraram ao mesmo tempo, encarando ele com uma mistura de choque e irritação. Até que ele teve coragem de invadir o espaço delas, mas a reação foi bem fria.
— Traição? Do que você tá falando? — Priscilla, líder do time B, se levantou com os braços cruzados, encarando Diandre com uma expressão dura.
As outras começaram a se levantar também, uma a uma, e de repente, ele não parecia mais tão confiante assim. Deu um passo para trás, só para dar de cara com os outros bombeiros assistindo tudo de longe. Agora, se voltasse atrás, seria humilhante. Então, engolindo em seco, ele fingiu estar no controle, abriu o peito e despejou sua frustração.
— Eu chamei você para sair três vezes e levei um não nas três! E não foi só comigo! Todos nós aqui fomos rejeitados! Anos trabalhando juntos, e vocês nem olharam para nós! Mas aí aparece esse idiota do Miller, e em menos de uma semana já tão caindo no papo dele?! Isso é traição! Vocês são umas traidoras, traidoras!
Apesar do desabafo cheio de raiva do Diandre, as mulheres só deram uma resposta cínica.
— E daí.
Valentina, que estava atrás, deu um passo à frente e falou:
— No fim das contas, o que você tá perguntando é por que dormimos com o Grayson Miller, mas não com você? É isso mesmo? Vocês todos pensam igual?
A pergunta direta de Valentina pegou Diandre de surpresa. Ele congelou, sem saber o que responder. Atrás dele, os outros caras também se encolheram, balançando a cabeça apressadamente.
— N-não, não é bem assim…
— Foi só curiosidade, sabe? Coisa de querer entender melhor.
— Ah, eu nem tô curioso. Vocês devem ter um motivo. Diandre, o que você tá fazendo? Vem pra cá, rápido.
Ezra até fez sinal para ele sair dali, mas Diandre continuou plantado no mesmo lugar, esperando por uma resposta. ‘Cara, quanto mais tempo você ficar aí, pior vai ficar!’ Os bombeiros atrás dele compartilhavam do mesmo pensamento, assistindo à cena com uma mistura de pena e vergonha alheia. Mas, ao mesmo tempo, ninguém realmente tentou puxá-lo dali. No fundo, estavam curiosos para saber o que elas iam responder.
As mulheres riram baixinho, balançando a cabeça.
— Bom… Ele é bonito e tem boas maneiras.
— Só isso?
Diandre se agarrou à resposta, como se tivesse encontrado um ponto fraco. Mas antes que ele pudesse se animar, Liz respondeu no lugar de Valentina.
— O Grayson, na verdade, é muito gentil e atencioso quando a gente conversa. E o mais incrível: ele realmente escuta. Ele não só finge que entende, ele de fato presta atenção no que eu digo. Foi a primeira vez que senti que um cara realmente me compreendeu.
— O quê?! — Diandre arregalou os olhos, indignado.
A fala pegou Diandre de surpresa – e não só ele. Os caras atrás dele também ficaram boquiabertos. Como assim? O que diabos isso queria dizer?
Antes que pudessem reagir, outra mulher entrou na conversa:
— Além disso, é como se ele lesse minha mente. Ele sabe exatamente o que eu quero, o que eu preciso ouvir, e simplesmente entende sem que eu tenha que explicar. Ele se aproxima de um jeito natural, sem pressão, mas ao mesmo tempo dá para sentir que é sincero. Ele não é só educado da boca para fora, ele realmente presta atenção nos detalhes.
— Pois é, não é surreal? E quando você percebe, já tá caidinha por ele, porque ele te escuta de verdade.
As mulheres que já tinham saído com Grayson começaram a concordar, balançando a cabeça. Mas Diandre ainda estava completamente perdido.
— Tá de sacanagem, né? Os Alfas dominantes são psicopatas! Que história é essa de empatia? Vocês estão se iludindo!
Mas as mulheres só o olharam com indiferença, como se nada do que ele dissesse fosse mudar a opinião delas.
— Eu sempre quis transar com um alfa dominante. É uma experiência única.
Liz jogou mais lenha na fogueira, e o grupo de mulheres assentiu em concordância.
— Sim! E eu nunca nem tinha visto um pessoalmente antes. Agora, sexo com um? Claro que fiquei curiosa!
A reação foi praticamente unânime. Algumas assentiram, outras deram risadinhas. Diandre só conseguia encarar aquilo tudo com a boca aberta, sem palavras.
Valentina riu de leve e olhou diretamente para ele.
— Ainda não entendeu? Se nós mulheres não tivéssemos que nos preocupar com gravidez, também seríamos tão safadas quanto vocês.
— E os alfas dominantes podem controlar a própria fertilidade. Não é incrível? Você pode ter um sexo incrível sem se preocupar em engravidar.
— Agora eu entendo por que homens são tão obcecados por sexo. Sem o risco de engravidar, dá para curtir à vontade.
— Se fossem vocês que engravidassem, pode apostar que iam pensar duas vezes antes de sair por aí fazendo sem preocupação.
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Continua..
Bela lição