Deseje-me se puder - Capítulo 185

— Haa, haa… haa, haa…

A respiração pesada escapava de sua boca. Diante dele, erguia-se uma mansão imponente, com todas as luzes apagadas. Dane não sabia como tinha chegado ali, só se lembrava de dirigir feito louco e, quando deu por si, estava naquele lugar.

Por alguns segundos, ele apenas ficou parado, olhando para o prédio, meio em choque, até que balançou a cabeça com força e correu até a porta. Bateu com pressa, desesperado, mas como esperava… nada. Nenhuma resposta. Tudo ao redor estava silencioso, e isso só aumentava sua angústia.

‘O que está acontecendo? Por que ninguém aparece? Será que o som foi baixo demais?’

— Grayson! Grayson Miller! Ei!

Ele começou a gritar repetidamente, socando a porta e apertando a campainha com força. Mas o barulho se perdeu no ar, como um eco sem retorno. Ninguém respondia.

— Merda…

Dane afundou as mãos nos cabelos e soltou um longo suspiro de frustração.

***

Ele já não sabia quanto tempo tinha passado. Estava sentado, encostado na porta da frente, completamente tomado pelos próprios pensamentos. A noite tinha caído de vez. O breu era pesado e o silêncio, sufocante e ali estava ele, jogado no chão frio, remoendo o mesmo pensamento em looping. A imagem de Grayson levando um tiro simplesmente não saía da sua cabeça.

‘O que foi aquilo, afinal? O que está acontecendo agora?’

Tinha tentado ligar para Joshua, mas ninguém atendeu. E foi aí que se deu conta: não havia mais ninguém para quem ele pudesse perguntar sobre Grayson. O celular do homem estava desligado. Dane se sentia completamente impotente, sem saber o que fazer, o que pensar.

— Ah, porra…

Soltou um palavrão, dominado pela irritação. A cena de Grayson coberto de sangue, preso àquela cadeira, com o corpo todo machucado, insistia em voltar como um pesadelo. Tentou pensar em outra coisa, qualquer coisa, mas era inútil. Só conseguia vê-lo daquele jeito – ferido, vulnerável, desesperadoramente calado. (licença poética)

— Será que foram aqueles desgraçados de novo?

Os caras que tinham tentado sequestrar Grayson antes eram só um grupo pequeno, dissidente da organização maior. A verdadeira ameaça ainda estava viva e muito bem.

‘Aqueles filhos da puta ainda eram capazes de qualquer coisa. Podiam ter sequestrado Grayson de novo. Podiam ter atirado nele, podiam até… matá-lo.’

Um pensamento assustador fez seu coração gelar. Sem perceber, ele engoliu em seco.

‘E se… e se aconteceu mesmo alguma coisa com ele?’

Sua visão ficou turva, e suas mãos começaram a tremer. Dane abraçou a própria cabeça e encolheu o corpo como se tentasse se proteger da realidade.

‘Se for isso… se for isso mesmo…’

‘Eu…’

‘Eu… Eu…!’

— Dane?

Aquela voz fez seu corpo congelar no mesmo instante. Ele ficou completamente imóvel, e só depois de alguns segundos, lentamente, muito lentamente, começou a levantar o rosto. Quase como se quisesse adiar o momento, com medo de ter imaginado aquilo. Ou talvez… porque queria acreditar por mais um momento, só mais um pouco, que aquilo era verdade.

‘…Ah.’

Um suspiro fraco escapou dos seus lábios. E então viu – parado diante dele, estava um homem absurdamente alto, com um longo sobretudo que combinava perfeitamente com sua altura. Os seus cabelos platinados brilhavam suavemente sob a luz da lua. Seus olhos, tão arregalados quanto os de Dane, o encaravam, e em seu rosto não havia nenhum vestígio de sangue ou ferimentos.

Ao ver aquele rosto que tanto desejou rever – embora diferente do que havia imaginado – Dane ficou completamente paralisado. Não disse uma palavra sequer. Só conseguia ficar ali, sentado, olhando sem reação.

O vento frio da noite roçou a bochecha de Dane. Mesmo assim, ele continuava imóvel, encarando o homem à sua frente com olhos perdidos, sem sequer conseguir processar o que sua própria expressão perplexa significava.

— Ah…

Grayson também parecia ter perdido as palavras. Soltou um som sem jeito, coçou a parte de trás da cabeça e foi o primeiro a romper o silêncio.

— O que aconteceu? Por que você está aqui…?

A expressão dele era de total surpresa, como se realmente não fizesse ideia do que estava acontecendo. E a verdade é que Dane também não fazia. Nem ele mesmo conseguia entender por que tinha corrido até ali daquele jeito, tão desesperado.

Mas descobrir o motivo ficaria para depois. Tinha algo mais urgente que precisava confirmar.

— …Você está bem?

Dane se levantou meio desajeitado, perguntando com a voz rouca e embargada.

— Você… está mesmo bem? Não se machucou? Está tudo certo?

As palavras começaram a sair cada vez mais rápido, carregadas de ansiedade. Ele estava pálido, e sua preocupação era evidente, quase sufocante. Grayson ficou ainda mais confuso diante daquilo.

— Ah… eu estou bem. Tudo normal…

Ele piscou algumas vezes e respondeu, claramente sem entender nada, antes de devolver a pergunta:

— E você? O que aconteceu com você? Por que está assim?

Dava para ver que ele realmente não fazia ideia do que estava acontecendo. Ao ver isso, Dane sentiu um alívio imenso. Mas logo em seguida, a realidade o atingiu em cheio – e com ela, veio a vergonha.

— Na televisão…

Depois de uma pausa, ele acrescentou com uma voz vazia:

— Disseram que você… que você tinha levado um tiro.

— Eu?

Grayson franziu a testa e inclinou levemente a cabeça, confuso. Foi então que Dane percebeu: ele só tinha visto o nome “Miller” na notícia. Não tinha confirmado nada direito. Respirou fundo, surpreso com a própria impulsividade, mas já era tarde demais.

Grayson puxou o celular do bolso do casaco, abriu alguma coisa e, logo depois, franziu o cenho.

— Por acaso foi isso que você viu?

Ele virou a tela do telefone em direção a Dane. Ao baixar os olhos e ler o que estava lá, o rosto de Dane se contorceu imediatamente.

[Chase Miller foi atingido por um tiro!]

Logo abaixo, o artigo sensacionalista começava a se desenrolar.

Chase Miller, o protagonista da nova série “Justiça nas Sombras”, dessa vez, ele interpreta um atirador de elite? Aqui, ele interpreta um homem que, após levar vários tiros, sobrevive milagrosamente e busca vingança contra uma agência secreta do governo…

— Haa…

Dane soltou um longo suspiro, completamente abatido. Não podia acreditar que tinha sido feito de bobo por uma matéria sensacionalista. Quanto mais pensava, mais ridículo tudo parecia. Tinha sido enganado por um título idiota, corrido até ali feito um louco e ainda por cima passado vergonha desse jeito? Com uma mão cobrindo o rosto, Dane foi tomado por um sentimento profundo de autodepreciação.

Foi só então que Grayson, que até aquele momento não tinha dito nada, finalmente abriu a boca.

— Você achou mesmo que era eu?

O tom dele deixava claro que achava aquilo tudo absurdo. E era mesmo. Dane sabia disso, mas ainda assim não conseguiu evitar que suas orelhas ardessem de vergonha.

— É que… só disseram “Miller”…

Não tinha muito o que inventar, o jeito era ser sincero.

— Se alguém da família Miller fosse levar um tiro, é claro que eu pensaria em você primeiro.

Grayson arregalou os olhos, completamente incrédulo. Dane desviou o olhar, tentando evitar encarar a expressão dele, e continuou:

— Eu sempre pensei que, um dia, uma coisa dessas fosse acontecer.

— …Hah.

Grayson soltou outro daqueles suspiros cansados. Um silêncio constrangedor se instalou entre os dois. Dane, tentando se explicar, comentou o que tinha ouvido de Joshua:

— Ouvi dizer que você andava por aí se desculpando com algumas pessoas…

— E por isso você achou que alguém tivesse me dado um tiro?

A pergunta de Grayson soou amarga, Dane não teve coragem de responder. Ficou em silêncio. Grayson então completou, com uma lógica que agora parecia óbvia demais:

— E se eu tivesse levado um tiro, por que você acha que eu estaria aqui? Estaria num hospital.

— Ah…

Dane percebeu tarde demais o quão estúpido tinha sido. Antes que pudesse afundar mais na própria vergonha, Grayson ainda soltou uma piadinha:

— Ou então no necrotério.

Ele soltou uma risada – aquela risada típica dele, como se tivesse acabado de contar a melhor piada do mundo. Achava genuinamente engraçado e, claro, esperava que Dane risse junto. Mas não aconteceu.

Dane estava pálido, olhando para ele como se tivesse visto um fantasma.

— Ha… ha…

A risada de Grayson foi diminuindo aos poucos, até sumir por completo. O silêncio voltou, e os dois se encararam sem dizer nada. Foi Dane quem quebrou o clima dessa vez, incomodado com o peso daquele momento.

— Então… você voltou agora da costa leste?

Observando suas roupas e juntando com o que Joshua dissera, ele perguntou. Grayson acenou com a cabeça.

— Lá é mais frio do que aqui.

O assunto morreu ali de novo. Sob o poste que iluminava a entrada da mansão, Grayson parecia visivelmente mais magro e abatido. O rosto estava pálido, e havia algo triste em seus olhos.

— Você está bem?

Dane perguntou sem nem perceber. A pergunta era diferente da de antes, mas Grayson entendeu o que ele queria dizer.

— Não, não estou.

Dessa vez, ele deu uma gargalhada. Uma bem mais alta, quase escandalosa. Dane se assustou, sem saber como reagir. Grayson, ainda sorrindo, disse:

— Então é melhor você ir embora. Vai que, dessa vez, sou eu que acabo te atacando.

Logo depois, acrescentou num tom tranquilo:

— E da próxima vez… mesmo que eu morra, não precisa vir.

Dane não disse nada. Só ficou ali, parado, olhando para o rosto de Grayson em silêncio. Então, finalmente, virou o rosto e começou a caminhar. Seguiu até o carro que tinha largado a alguns metros dali, com passos pesados. Durante todo o caminho, sentiu o olhar de Grayson cravado em suas costas.

E mesmo depois de entrar no carro, mesmo depois de sair dali…

A sensação continuava.

Mas Dane não olhou para trás. Nem uma única vez.

°

°

Continua….