Deseje-me se puder - Capítulo 184
Ao ouvir aquelas palavras, Grayson parou completamente. Mal conseguia respirar. Sem perceber sua reação, Naomi continuou:
— É bem estranho, né? Quem é que escolhe uma coisa dessas como palavra de segurança? Acho que até quem ouviu achou esquisito. Quando perguntaram por que justo essa frase, ele respondeu…
⟨Porque quando eu ouço isso, perco completamente a vontade de continuar.⟩
Grayson quase podia ver o rosto de Dane, sorrindo enquanto falava aquilo com aquele jeito despreocupado. Ele continuou ali, calado, imóvel, e Naomi deu de ombros.
— Que jeito esquisito de dizer que não quer compromisso. Mas precisa mesmo dizer isso no meio do sexo? Não dava para simplesmente falar outra coisa? Tem quem fique ainda mais excitado ouvindo eu te amo. Mas se até uma declaração feita no calor do momento deixa a pessoa incomodada, então isso só mostra o quanto ela é irresponsável.
— …Não é isso.
A voz de Grayson saiu baixa, quase um sussurro, interrompendo o desabafo final de Naomi.
— Pelo contrário, esse homem é assim porque tem muito senso de responsabilidade.
Naomi, confusa, o olhou sem entender. Grayson continuou, encarando o canto da mesa como se estivesse falando sozinho:
— Ele leva muito a sério tudo o que diz e sempre assume tudo até o fim, custe o que custar…
Ela piscou, surpresa.
‘Que história era essa?’
Naomi ficou sem saber o que dizer, mas Grayson parecia já ter mergulhado nos próprios pensamentos.
⟨Eu forcei algo que ele estava tentando evitar a todo custo.⟩
Um vazio enorme tomou conta dele. Só agora percebia isso, e já era tarde demais.
Grayson soltou uma risada vazia, sem graça, e levantou o rosto. Naomi, que não tirava os olhos dele, se assustou um pouco quando seus olhares se cruzaram. Ele sorriu do jeito de sempre e disse:
— Obrigado por me contar isso.
— Hã…?
Ela respondeu com um som meio bobo, sem saber o que pensar. E antes que pudesse processar o que estava acontecendo, Grayson encarou seus olhos e perguntou, com um tom mais lento:
— E você?
— O quê? Como assim?
Ela franziu a testa, irritada com a pergunta do nada. Grayson respondeu com aquele sorrisinho habitual:
— O que foi que eu fiz com você? Se você conhece o grupo, quer dizer que também tem algum rancor de mim, certo?
— Eu não entrei no grupo, só estou ciente da existência dele.
— Ok, tanto faz.
Ela corrigiu a informação com a cara fechada, e ele só balançou a cabeça com desinteresse. Aquela atitude despreocupada dele fez Naomi apertar os olhos, irritada. Grayson, encarando ela em silêncio por um instante, soltou um meio sorriso e falou:
— Me conte, por favor.
O rosto era o mesmo de sempre, mas o jeito de falar era diferente. Naomi ficou olhando para ele por alguns segundos antes de estreitar os olhos e soltar:
— Você tem que saber separar quem é só para sexo de quem é para casar.
Ela imitou perfeitamente o jeito que ele costumava falar, usando toda sua habilidade dramática. Os olhos dela brilhavam com raiva contida. Já tinha tentado esquecer essa frase. Mas, do nada, a lembrança voltava e trazia junto aquela fúria. Com o tempo, a raiva só aumentou. Agora, nada que Grayson sofresse seria suficiente.
‘Vamos ver, fala aí. Quero ouvir que desculpa você vai dar.’
Em contraste com o olhar que o fitava com intenção assassina, Grayson fez uma expressão de surpresa. Para seu desgosto, isso deixou Naomi ainda mais irritada.
— Do que você tá falando? Eu disse isso, para você?
— Ah, claro! Exatamente como eu esperava do Grayson Miller.
Brilhante. Naomi sorriu docemente e até bateu palmas, sarcástica.
— Achei que você nem lembraria. Mas é claro, é o Grayson Miller
— Quando foi que eu disse isso…?
—Bem, faz sentido. Por que você se daria ao trabalho de lembrar? Você é um Miller, afinal.
Aquelas palavras, carregadas de sarcasmo, fizeram Grayson parar por um instante. Naomi riu de forma cínica, exagerando na ironia.
— Aposto que nunca nem pensou nos sentimentos dos outros, não é? Claro que não. Você nunca precisou. Por que se incomodar em lembrar de alguma coisa, se tudo que precisa fazer é falar o que quer e ir embora?
As palavras saíram com tanta raiva que Grayson parecia genuinamente surpreso. Mais do que tudo, ele ficou perdido por ver que Naomi estava mesmo brava daquele jeito.
— Você é incrível, sabia?
— O quê?
Ela ficou na defensiva, desconfiada. ‘Que diabos ele vai dizer agora para me provocar?’ E então ele disse, com a maior naturalidade:
— Mesmo sentindo tanta raiva de mim, você continuou sendo minha amiga… Eu não sabia. Obrigado.
‘QUE PORRA É ESSA?’
Grayson parecia mesmo tocado, como se tivesse acabado de perceber algo muito bonito. Naomi quase bateu com força na mesa, de tão irritada. Mas, com um esforço sobre-humano, ao invés de chamar ainda mais atenção, ela abaixou a voz, mesmo que não conseguisse controlar o tremor, e soltou entre os dentes:
— Você acha que eu continuei por perto por quê? Eu estava esperando para ver você se ferrar, seu filho da puta.
Grayson apenas murmurou um “Oh.”O silêncio desconfortável que se instalou logo depois parecia pesar entre os dois. Ele olhou para Naomi, que o encarava com um olhar cortante, e acabou abaixando os ombros.
— Entendi…
Ele murmurou isso num tom baixo, abaixando a cabeça. A imagem dele naquela hora era como a de um cachorro que perdeu o biscoito favorito. ‘Ridículo. Esse não pode ser o Grayson Miller.’ Naomi teve que se segurar para não dar um tapa na própria cara e gritar “acorda!”, mas no fim só arregalou os olhos, firme.
‘Não tenha pena. Isso é só mais um dos truques dele. Não caia nessa, de jeito nenhum.’
Enquanto se repreendia, Grayson falou:
— Acho que estou sendo punido pelos meus erros.
— O quê?
Naomi arregalou os olhos, surpresa.
‘Eu ouvi isso mesmo?’
Aquela frase… jamais poderia ter saído da boca de Grayson Miller. Ela simplesmente não podia acreditar. Mas lá estava ele, sem esboçar nem um sorriso, com os cantos dos lábios caídos, olhando para baixo, com um ar completamente derrotado. Aquilo não fazia sentido. Não com ele.
Mas talvez… talvez isso fosse mesmo uma punição.
Grayson pensou:
‘O preço por sempre pisar nos sentimentos dos outros, priorizando apenas os meus desejos.’
⟨Alguma vez alguém já ficou feliz com a sua ajuda?⟩
De repente, a voz do Dane ecoou na mente dele. E era verdade. Ele só fazia o que queria, como queria. Nunca tinha parado para pensar no outro lado, sempre foi tudo sob o seu próprio ponto de vista.
Então, uma imagem surgiu de repente. O rosto do irmão. Aquele que ele sempre tentou ajudar a vida toda, mas que só o retribuía com ódio e desprezo. E Grayson… Grayson sempre achou aquilo injusto.
— Me desculpe.
A voz saiu baixa, quase sem força. Naomi arregalou ainda mais os olhos, Grayson continuou, com a voz mais séria do que nunca:
— Me desculpe… por tudo que eu disse. Eu jamais devia ter feito aquilo… de jeito nenhum.
‘No fim das contas, só consegui entender quando aconteceu comigo.’
Grayson comentou com um sorriso amargo:
— Me desculpe por ter te machucado.
Naomi ficou em silêncio por um momento. Não podia ser… Ela desejou tanto por esse dia, rezou por ele, e ao mesmo tempo, sempre acreditou que nunca, jamais, isso aconteceria. Mas agora…
— Você realmente ama aquele homem, não é?
Grayson hesitou antes de responder ao murmúrio quase inconsciente dela:
— Sim.
Naomi continuava olhando para ele, como se estivesse em transe. Grayson ergueu a cabeça e disse:
— Obrigado por ter me contado sobre o Dane. Foi bom ouvir… de verdade.
‘Meu Deus…’
Ainda parecia mentira, mas ela não conseguia duvidar. Porque, ali diante dela, no rosto de Grayson, havia um sorriso que nunca tinha visto antes. Um sorriso que, mesmo com a boca curvada, parecia quase um choro.
‘Grayson Miller… finalmente aprendeu o que é sentir.’
Ao perceber isso, Naomi sentiu como se tivesse levado um soco na cabeça.
‘Não era assim…’
O pensamento surgiu do nada.
‘Não é isso. Não foi assim que eu imaginei.’
Essa frase ficou girando na cabeça dela sem parar.
Agora era para ela rir. Era o momento de rir bem alto, aliviada. O momento que ela tanto desejou. Aquele que ela esperou teimosamente, mesmo achando que jamais aconteceria. Mas finalmente tinha chegado.
‘Mas por quê? Então… por que eu não consigo rir?’
Naomi só conseguia encará-lo, confusa. Era absurdo, mas naquele instante, ela sentia pena de Grayson. Aquele homem que tinha facilmente o dobro do tamanho dela, estava todo encolhido, afundado numa tristeza pesada… E, de repente, toda a raiva que ela carregou no peito por tantos anos simplesmente… desapareceu.
‘Como isso pode ser possível?’
Atordoada, Naomi de repente entendeu.
‘Ah… isso é o que a gente sente quando é humano.’
E foi aí que ela percebeu: não dá para odiar alguém para sempre.
Perdoar, sentir compaixão… isso também faz parte do ser humano.
Quando aceitou isso, ela sentiu uma paz como nunca antes. Nem dez horas de ioga davam um alívio como esse. Só então, Naomi conseguiu dizer com sinceridade:
— Eu aceito suas desculpas.
Grayson, que a observava em silêncio, deu um sorriso leve.
— Obrigado.
Ele se sentiu um pouco mais leve.
‘Quem mais falta mesmo…?’
Enquanto tentava puxar pela memória, Grayson deixou escapar um risinho.
‘Ainda falta muita gente.’
Mas o último da lista… esse já estava decidido. Chase Miller.
***
Como sempre fazia depois do trabalho, Dane tratou logo de cuidar da comida e da caixinha de areia da sua gata. Depois disso, improvisou o jantar com as sobras que tinha na geladeira e se sentou no sofá. Enquanto tomava uma cerveja, ficou passando os canais da TV, mas tudo parecia incrivelmente chato.
O problema, no fundo, era que o chato mesmo era a vida dele. Nada havia mudado – nem antes, nem agora – mas ainda assim, Dane sentia todos os dias o quanto a própria vida era insuportavelmente monótona. Era como ser forçado a assistir um filme entediante que passava na velocidade mais lenta possível.
— Quando foi a última vez que fui a uma boate?
Pensou nisso, mas não tinha ânimo nem para sair. Já fazia um bom tempo que estava numa espécie de celibato voluntário – o que, na prática, só servia para aumentar a frustração. Ele soltou um suspiro. Quando percebeu que Darling estava se aninhando em seu colo e esfregando a cabeça contra sua barriga, passou a mão nela com o mesmo carinho de sempre, num gesto quase automático.
‘Me sinto… sozinho.’
Enquanto assistia a um programa de perguntas na TV sem o menor interesse, uma memória turva veio à tona…
***
— …… …… ……
O barulho de alguém falando o acordou de repente. Foi só então que Dane percebeu que tinha pegado no sono no sofá. Estava prestes a desligar a TV e ir para cama quando algo chamou sua atenção. A voz de um repórter cortou o ar, clara e direta, entrando pelos seus ouvidos.
[Sim, é isso mesmo. Foi exatamente aqui que Miller levou o tiro.]
Naquele instante, Dane congelou.
°
°
Continua…
Duda
Ah mds
Lee joobim
A Naomi me represento 😌
Comecei a novel odiando o Grayson e agora sofro se lê sofrer 🥲