Deseje-me se puder - Capítulo 181
(Mas, mesmo assim, a noite sempre chega ao fim.)
O calor forte do sol finalmente tinha dado uma trégua, e agora uma luz mais suave começava a tomar conta dos dias. Era aquele período curtinho antes do Indian Summer, quando o clima ficava leve e delicioso. Aproveitando esse momento fresco e agradável, Deandre se espreguiçou com satisfação.
— Aaah, que maravilha!
Ele exclamou com força e olhou para o céu com um sorriso satisfeito. Mas, quando se virou, viu algo que contrastava completamente com o dia ensolarado: um homem desleixado, esparramado como um trapo. Levou um susto e parou na hora.
— O… o que é isso?
Sua voz saiu mais alta do que pretendia, mas o outro nem sequer reagiu. Sentindo-se um pouco constrangido, Deandre aproximou-se com cautela.
— Dane, o que houve? Você está bem?
Com uma cara de puro cansaço, Dane ficou olhando para cima, largado em uma cadeira, e respondeu com a voz arrastada:
— Ahn. Vá embora.
A fala enrolada só aumentou a preocupação, mas Deandre sabia que insistir não adiantaria nada.
‘O que que deu nesse cara…’
Mesmo preocupado, Deandre preferiu não perguntar mais e saiu dali. Dane continuou parado no mesmo lugar, dentro da garagem onde o caminhão dos bombeiros ficava estacionado, só encarando o teto como se o tempo tivesse parado. Mais um dia monótono e vazio, estava indo embora.
***
— Saúde!
— Bebam logo!
Os caras levantaram as garrafas de cerveja e brindaram, rindo alto, e logo em seguida começaram a beber direto no gargalo. Um por um, foram abaixando as garrafas e engatando conversas sem fim.
— Então, ontem eu e a patroa tivemos uma briga feia. E claro, fui eu o culpado, mas poxa, uma hora cansa…
— Quando será um bom momento para pedir a Charlotte em casamento? Ela tá meio estranha ultimamente…
— Vocês viram o jogo ontem? O cara ganha uma fortuna pra jogar daquele jeito? Eu faria melhor! Era só rebater com o taco assim…
Enquanto as conversas iam e vinham sem muito sentido, Dane só continuava bebendo. Depois do trabalho, alguém sugeriu de irem tomar uma e, como sempre, acabaram indo para o bar onde já estavam acostumados a se reunir.
— Foi aqui que rolou aquela vaquinha pro Ezra lembram?
Alguém comentou e, de repente, o clima que estava animado desabou num silêncio pesado. Todo mundo se entreolhou sem saber o que dizer, até que Wilkins quebrou o gelo:
— Ouvi dizer que a Sandra está melhorando. Parece que a nova medicação fez efeito.
O comentário logo recebeu algumas respostas aliviadas de outros:
— Sério? Que bom…
— Ainda bem. O Ezra fez merda, mas a Sandra e as crianças não têm culpa de nada.
— É, verdade. Não é, Dane?
Todos olharam na direção dele. Afinal, ele foi um dos mais afetados por tudo que tinha acontecido por causa de Ezra, então ninguém queria falar nada que o deixasse mais incomodado.
Mas Dane só continuou ali, calado, bebendo a cerveja dele e olhando pro nada. Parecia que nem estava ouvindo a conversa, totalmente alheio. Aquela indiferença deixou todos meio desconcertados, sem saber como reagir.
— Tá bom, pessoal, chega disso. Vamos beber!
Wilkins interrompeu, e logo retomaram aos assuntos de antes – falando besteira, rindo, trocando histórias. Quando o clima já estava mais leve e a bebedeira começando a bater, a garçonete que trazia as bebidas jogou um olhar para Dane. Ele colocou a garrafa na mesa, cruzou o olhar com o dela, e a moça logo deu um sorriso como se estivesse esperando por aquilo.
Deandre foi o primeiro a notar. Deu umas cutucadas com o cotovelo no cara do lado, que fez o mesmo com o próximo, e logo a coisa foi se espalhando. Em pouco tempo, todos na mesa já sabiam. Trocaram olhares furtivos e sorrisos maliciosos, enquanto ela, como se nada tivesse acontecido, simplesmente virou as costas e saiu andando com toda a tranquilidade do mundo. Dane ficou olhando as costas dela por um tempo, depois virou o resto da bebida direto da garrafa e se levantou.
— Ei, Dane. Já vai?
Quando Deandre perguntou, Dane só acenou com a cabeça, tirou do bolso a quantia que devia pelo drink e deixou sobre a mesa, levantou uma das mãos num aceno rápido e seguiu em direção à saída. Todos os caras da mesa pensaram a mesma coisa e acompanharam o movimento com os olhos. Como era de se esperar, a garçonete de antes estava lá fora, esperando. A cena seguinte parecia óbvia: Dane ia sair com ela do bar e…
— Hã?
Um dos homens observando, soltou um som de confusão. Logo em seguida, outro que também estava de olho em Dane falou:
— Ele… ele está indo embora sozinho?
Todos viraram automaticamente para a entrada. E lá estava Dane, saindo sozinho. Deixando a garçonete claramente desconcertada para trás.
Os caras ficaram piscando, sem entender. Um deu de ombros, outro balançou a cabeça. Ninguém fazia ideia do que tinha acontecido. Só trocaram olhares cheios de dúvidas, até que alguém quebrou o silêncio:
— O que tá acontecendo? O Dane indo pra casa sozinho?
Deandre respondeu:
— Pensando bem, ele também não está mais indo para a boate.
Aos poucos, começou o burburinho.
— Isso é muito estranho. O Dane está muito comportado ultimamente.
— Que porra tá rolando? Alguém aí sabe o que tá acontecendo com ele?
— Aquele desgraçado que parecia um cavalo no cio, agora virou um monge?
— Será que… será que aconteceu alguma coisa com ele… lá?
Todos pensaram a mesma coisa ao mesmo tempo. E se entreolharam, pálidos.
‘Será que o negócio dele parou de funcionar?’
A imaginação assustadora os deixou pálidos. Mas enquanto os bombeiros surtavam com essa possibilidade, Dane saiu do bar, completamente alheio ao pânico coletivo.
Lá fora, o clima era o oposto do bar: quieto. Ele acendeu um cigarro, soltou a fumaça devagar e ficou ali, pensativo.
A verdade é que o interesse das pessoas era passageiro. Depois de uns dois meses, o vai-e-vem de gente da mídia e das outras áreas começou a sumir. Até os conhecidos pararam de aparecer. O número de pessoas que costumavam gritar o nome dele e correr para cima quando o viam, diminuíram drasticamente.
Ainda assim, ele continuava sendo uma figura popular. De vez em quando, alguém que ele nunca viu na vida puxava papo ou pedia uma foto, e isso já tinha virado parte da rotina. Ele conseguia tolerar esse nível pequeno de agitação, mas, por outro lado, também achava tudo um pouco entediante.
‘Essa é a vida que eu queria mesmo?’
Ele tragou fundo o cigarro, sentindo um sentimento de vazio. E então, sem querer, pensou:
‘Como será que ele está agora…?’
***
O bar localizado no sky lounge do hotel, como sempre, estava cheio de fumaça de cigarro. As luzes baixas criavam um clima meio misterioso, cheio de risadas embriagadas e conversas sussurradas. Quando o homem apareceu, todos voltaram sua atenção para ele de uma só vez.
— Meu Deus…
Alguém murmurou, como se estivesse admirando uma obra de arte. Algumas pessoas coraram, outras arregalaram os olhos. Ele, com a altura absurda que tinha, olhou em volta uma vez, como se procurasse alguém. Logo em seguida, encontrou quem queria e foi direto até lá, sem hesitar.
Todos os olhares o seguiram. Qualquer um teria ficado desconfortável com tanta atenção, mas ele não parecia ligar nem um pouco. Caminhou com firmeza até parar atrás de duas pessoas sentadas no bar.
— Oi, como vocês estão.
Os gêmeos, que estavam bebendo e rindo baixinho, viraram o rosto – e levaram um baita susto. Um deles quase escorregou da cadeira. O homem se apressou em segurar o que quase caiu e, com um sorriso tranquilo, perguntou:
— Está tudo bem?
A pergunta só deixou os dois ainda mais em choque. As bocas se mexiam, mas nenhum som saiu. O que foi ajudado, agora de volta na cadeira, foi o primeiro a conseguir dizer alguma coisa:
— Quem… quem é você?
O homem riu, como se tivesse ouvido uma piada engraçada.
— Sou eu, o Grayson. Já me esqueceram?
Assim que ouviram isso, os dois gritaram ao mesmo tempo: Ahhh!
— Eu estava procurando por vocês…
Ele tentou dizer mais alguma coisa, mas os gêmeos não quiseram ouvir. Ao mesmo tempo, eles começaram a gritar, em pânico:
— Mentira! Isso é mentira!
— Impostor! Você matou o Grayson e vestiu a pele dele, não é?! Não vamos cair nessa!
— É isso! Ou então é um alienígena que se transformou nele. Você é um farsante!
— Ou será que ele tem amnésia?
— Será mesmo? Igual o Marco naquele dorama que vimos ontem!
— Depois de sair por aí se exibindo, alguém deve ter batido na sua cabeça, seu maldito. Bem feito!
— Isso é o Karma! Sabíamos que esse dia chegaria.
Elas tagarelavam sem parar, fazendo mil suposições uma em cima da outra. Grayson só conseguiu rir, sem saber se achava engraçado ou absurdo.
— Tudi bem, já entendi… Mas sou eu mesmo, o Grayson Miller que vocês conhecem. Não tenho amnésia, nem fui abduzido.
Apesar do tom calmo, os dois continuavam olhando para ele com uma cara cheia de suspeita.
— Não acreditamos..
— Eu ainda acho que é mentira.
— É sério, sou eu.
Vendo que eles ainda duvidavam, Grayson soltou uma risadinha, como se dissesse “Não tem jeito”. Então, ele apresentou a prova mais irrefutável possível: um suave e doce aroma de feromônio começou a se espalhar pelo ar.
— Hã?
Os gêmeos fizeram uma expressão de choque. Grayson, vendo que ainda estavam desconfiados mesmo depois do feromônio, recolheu o aroma no ar e perguntou:
— Agora vocês acreditam?
Era difícil continuar negando, mas eles ainda estavam confusos. O Grayson que eles conheciam não era do tipo que aparecia assim, tão de repente, e com esse ar tão… diferente. O que tinha acontecido com ele?
Os dois se olharam por um momento e depois voltaram os olhos para ele. Como dois gatos ariscos, ainda em alerta, perguntaram ao mesmo tempo:
— O que você quer com a gente?
Um leve sinal de tensão escapou deles, revelado por uma sutil liberação de feromônio. Grayson soltou um suspiro curto e amargo antes de responder:
— Eu vim pedir desculpas.
Por trás de sua voz calma, um silêncio constrangedor pairou no ar.
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Continua..
Duda
Corre atrás deleeee Daneee