Deseje-me se puder - Capítulo 180
Ele entrou na casa chamando alegremente e rapidamente olhou ao redor.
‘Onde ele está? Com certeza deve estar por aqui em algum lugar.’
— Grayson!
Koy chamou pelo nome novamente e passou pela sala de estar, indo direto para a próxima área. Depois, foi para a sala de visitas, a sala de chá, a sala de música, mas não encontrou o rosto que procurava. Confuso, subiu as escadas do mezanino.
‘O que será que aconteceu? Será que algo ruim teria…’
Com o coração apertado, Koy finalmente o encontrou. Grayson estava deitado num dos sofás da varanda, que ficava ligada à sala. Assim que viu as pernas compridas esticadas por cima do braço do sofá, ele soltou um suspiro de alívio.
— Ah, então era aqui que você estava.
Grayson ainda estava de olhos fechados, tomando sol, mas ao ouvir a voz, acabou abrindo devagar os olhos. Koy, olhando para ele de cima, sorriu e deu um beijo em sua testa.
— Está tudo bem com você? Eu senti sua falta.
Ele falou com um sorriso afetuoso, mas Grayson, por outro lado, franziu a testa.
— E o meu pai?
Ele piscou algumas vezes, perguntando:
— Onde está o meu pai? Não me diga que você veio sozinho.
— Eu vim sozinho.
A resposta veio sem hesitação, e Grayson lentamente se sentou, encarando seu rosto. Sob aquele olhar que parecia questionar o que aquilo significava, Koy continuou:
— Ash tinha um compromisso hoje. Ele disse que não podia vir de imediato, mas que eu podia vir na frente. Disse que não havia problema em ficarmos só nós dois.
— Hmm…
Grayson soltou um som meio vago e inclinou a cabeça de lado, como se não soubesse bem o que pensar. Ignorando a reação do filho, Koy puxou uma cadeira da mesa de chá e se sentou ao lado dele.
— Mas o que aconteceu? Por que você veio para a costa leste assim, do nada?
— Ah…
Grayson passou a mão no cabelo e respondeu como se não fosse grande coisa.
— Tinha umas coisas para resolver. — Koy achou que ele estava tentando evitar o assunto, mas então Grayson completou: — Tinha umas pessoas que eu precisava encontrar.
— Pessoas?
— É.
E foi só isso. Dava para sentir que ele não queria continuar falando sobre o assunto, então Koy decidiu não insistir. Na verdade, o que mais o preocupava era outra coisa.
— Você parece mais magro, Grayson.
Ele olhou para o rosto do filho, onde as bochechas estavam visivelmente fundas, com uma expressão cheia de pena. Grayson só puxou um sorriso fraco, quase automático.
Sem dizer mais nada, Koy observou seu perfil. O filho parecia uma planta que havia perdido toda a vitalidade. Como se estivesse murchando devagar e ele não pudesse fazer nada, só olhar.
Ele sabia que Grayson e Dane tinham terminado. O filho já tinha tido muitos relacionamentos antes, que começaram e terminaram, mas dessa vez era claramente diferente. Até Koy, que normalmente era meio desligado, podia ver que alguma coisa dentro dele tinha mudado.
‘Você deve está sofrendo muito, Grayson…’
Mas ele não conseguiu dizer isso em voz alta. Só passou a mão no ombro do filho em silêncio. Mesmo assim, Grayson continuava ali, sentado, com aquele olhar vazio, como se estivesse olhando para um lugar muito, muito distante.
***
Ashley chegou pouco tempo depois. Enquanto isso, Koy teve que suportar um silêncio pesado, sentado ao lado de Grayson sem dizer nada. Assim que viu Ashley, ele se levantou de repente.
— Ash, ainda bem que você veio.
— Koy.
Ashley o cumprimentou com um beijo, de forma natural, e logo voltou sua atenção para o filho. Ele observou Grayson, que se levantou lentamente para encará-lo, manteve uma certa distância e então falou:
— Você está bem magro… está se alimentando direito?
A voz calma fez Koy se surpreender. Ashley sempre tinha sido rígido com os filhos, mas agora estava falando com Grayson do mesmo jeito gentil com que costumava falar com ele. Até Grayson pareceu confuso com aquilo, parando por um momento antes de responder.
— …Sim. Mais ou menos.
Ashley continuou, ainda num tom tranquilo:
— Você precisa se alimentar melhor. Que tal jantarmos juntos mais tarde?
Isso também era uma mudança surpreendente. Ashley não disse “Vamos jantar, prepare-se”, mas sim perguntou “Que tal jantarmos?”– como se estivesse consultando a vontade do filho. Dessa vez, Grayson pareceu um tanto confuso e balançou a cabeça.
— Não, obrigado. Vou comer sozinho.
— …Tudo bem.
O silêncio entre eles voltou, mas não era o mesmo clima tenso de sempre. Tinha algo diferente no ar. Koy, arregalando os olhos, olhou de um para o outro, sem saber bem o que fazer.
‘Talvez isso seja…’
— Ah, então… — ele tossiu antes de continuar — Eu vou ali pegar um copo d’água e já volto. Vocês dois conversem um pouco.
Se Ariel estivesse ali, com certeza teria soltado um grito surpreso. “Koy, desde quando você tem esse tipo de tato social?” — ela diria. Koy até se sentiu orgulhoso de si mesmo enquanto se retirava rapidamente da sala, deixando Ashley e Grayson a sós.
Ashley foi o primeiro a se mexer. Sentou-se na cadeira que Koy havia ocupado e apontou para o sofá, como se dissesse “Sente-se”. Quando o filho obedeceu sem resistência, Ashley finalmente falou:
— Você está controlando seus feromônios?
Essa era uma das poucas coisas que não mudariam nunca. Sempre que via os filhos, Ashley perguntava isso antes de qualquer coisa. Grayson assentiu, sem muita animação.
— Fui ver o Dr. Stewart. Ele drenou, também conferiu os níveis e disse que estão abaixo da média.
— Seus feromônios estão abaixo da média?
— Sim.
Ashley franziu o cenho, surpreso, e Grayson apenas confirmou com a cabeça.
— Eu extrai uma quantidade enorme.
Só então, Ashley entendeu o que ele quis dizer. Mas isso não o deixou menos preocupado.
— Não é bom retirar tanto de uma vez.
Uma extração tão forte poderia até causar um choque no corpo. Mas Grayson respondeu como se não fosse grande coisa:
— O Dr Stewart acompanhou tudo. Ele garantiu que está tudo bem.
Ashley ficou em silêncio. Mesmo com o filho evitando seu olhar e encarando qualquer outro canto da sala, ele não parecia desconfortável. Ashley soltou um leve suspiro antes de dizer:
— Se tiver alguma coisa que eu possa fazer por você, me avise.
Grayson assentiu e respondeu:
— Sim. Eu vou ligar para Bernice.
— Não, ligue para mim.
Ashley corrigiu de forma firme a resposta que veio sem resistência. Mais uma vez, Grayson ficou com uma expressão perplexa. Ashley suavizou o tom e acrescentou:
— Entre em contato diretamente comigo. Eu atenderei imediatamente, a qualquer hora.
— …Tá bom.
— Ótimo.
Ele assentiu e deu um leve tapinha no ombro do filho.
O silêncio voltou quase que instantaneamente. Ninguém dizia nada, como se cada um estivesse preso nos próprios pensamentos. Um tempo se passou assim, até que, de repente, Grayson falou:
— Como você sabia?
Ashley franziu a testa diante da pergunta repentina e encarou o filho. Grayson olhou diretamente nos olhos dele e repetiu:
— Como você sabia que eu ia tentar matar o Dane?
O ar entre eles ficou gelado. Ashley ficou em silêncio por alguns segundos, apenas observando o rosto do filho. Depois de uma pausa tensa, ele abriu a boca devagar, muito devagar.
— Naquela hora… você sorriu, não foi?
Grayson congelou por um instante e o pai continuou, vendo a reação dele:
— Quando ouviu que o Dane Stryker poderia ficar cego.
Sem chance de escapar daquela observação, Grayson não respondeu de imediato. Seus olhos se moveram de um lado para o outro, como se buscasse uma desculpa, mas logo ele desistiu e encolheu os ombros.
— Como você percebeu? Eu cobri minha boca quando o riso escapou.
Enquanto observava o filho puxar os cantos dos lábios em um sorriso familiar, Ashley respondeu:
— Suas orelhas. — Ele falou baixo, olhando direto para as orelhas de Grayson. — Elas se mexeram.
Grayson não reagiu de imediato. Só ficou ali, encarando o pai em silêncio, até que jogou outra pergunta:
— E por que tinha certeza que eu estava sorrindo?
Podia ter sido outra coisa. Às vezes o corpo reage por nada. Mas Ashley respondeu sem vacilar, com o olhar frio:
— Porque não tinha como ser outra coisa.
— Haha…
Grayson soltou uma risada seca, vazia.
— Aquele aviso naquela época… foi porque o vovô fez a mesma coisa? — A pergunta fez Ashley franzir a testa novamente. Grayson continuou, olhando para o vazio:— Bernice me contou, como o vovô morreu.
Ashley encarou de lado o rosto do filho por um momento.
— …Não.
A voz dele saiu mais baixa do que o normal, quase num sussurro.
— Foi por minha causa. — O ar entre os dois voltou a esfriar. Ashley só olhou para o rosto surpreso de Grayson e depois de mais um pouco de silêncio, ele falou bem devagar: — Se fosse eu, eu teria feito. Sem hesitar.
Grayson encarou o pai como se tentasse enxergar se ele estava falando sério. O meu pai teria matado o papai? Aquilo não fazia sentido. Ele nem conseguia imaginar. Mas Ashley Miller… ele nunca fazia piadas, ainda mais em uma situação dessas.
— Eu costumava achar que você se parecia muito com meu pai.
Ele murmurou as palavras com um tom de autodepreciação.
— Depois, comecei a achar que você se parecia comigo… Mas não era verdade.
Ashley calou-se após dizer isso. Grayson, que observava as profundas marcas ao redor de sua boca, perguntou:
— E agora? O que vai acontecer comigo?
A pergunta soou meio vaga, difícil saber se ele realmente queria uma resposta ou se só disse por dizer. Ashley respondeu de forma simples:
— Eu não sei. — Depois acrescentou, com um sorriso triste: — Nem eu, nem meu pai tivemos coragem de seguir esse caminho.
Ashley soltou um suspiro curto e passou a mão no rosto antes de encarar o filho. Grayson sentiu algo estranho ao ver aquela expressão no pai, algo que ele nunca tinha visto antes. Ashley voltou a falar:
— Você fez uma escolha que nem eu, nem o seu avô fomos capazes de fazer. Você é você, Grayson. Não é como a gente.
Um sorriso melancólico pairou em seus lábios.
— E isso é admirável.
Ah… De repente, Grayson se lembrou. Já tinha visto aquela expressão antes. Era a mesma expressão que Dane fazia ao olhar para ele. O mesmo olhar que Ashley estava tendo agora.
‘Então isso é… compaixão.’
Foi um estalo repentino. Aquele sentimento que ele nunca entendeu, aquela expressão que ele nunca soube imitar.
Era compaixão.
Os olhos de Grayson começaram a arder. Ele sabia. Dane Stryker nunca o amou. Ele apenas sentia pena e, provavelmente, sim, ele teria dado a vida por Grayson… mas do mesmo jeito que daria por qualquer outra pessoa, com sua justiça imparcial.
— …Eu odeio bombeiros
Grayson disse, soltando uma risada fraca, sem força.
‘Por que as emoções têm que coexistir com as memórias?’
Ele acabou descobrindo uma coisa que talvez fosse melhor nunca ter descoberto. E agora, nunca mais conseguiria voltar àquele lugar que tanto amava: a Disneylândia. Nunca mais conseguiria ver fogos de artifício. A dor daquele momento ficaria gravada em sua mente, atormentando-o para sempre.
Mesmo que ele nunca mais visse a pessoa que deixou tudo isso marcado nele.
Mas, se por acaso… se realmente existisse um Deus… Grayson permitiu-se um pensamento vago:
‘Espero de verdade que, no momento final, ele não esteja sozinho.’
°
°
Continua…
Duda
Ai que tristeza
HuaCheng
O bichinho sofrendo que só