Deseje-me se puder - Capítulo 18
Parte 2 – O Ornitorrinco Apareceu
O dia estava tão ensolarado quanto sempre. Sem uma única nuvem no céu, só aquele azul profundo se estendendo até onde a vista alcançava. Ao ver aquilo, Dane já começou a se preparar para o trabalho.
‘Aquele filho da mãe provavelmente também vai trabalhar hoje.’
Enquanto se certificava de que havia feito a barba direito no espelho, Dane pensou nisso. ‘Se der merda, eu apago ele e sumo.’ Sentia um pouco de pena pelos colegas, mas paciência. ‘Antes eles do que eu.’
Até agora nunca tinham descoberto o que ele realmente era. Sempre que usava feromônios para derrubar um alfa dominante, eles apagavam e, quando acordavam, nem lembravam do que tinha acontecido e Dane simplesmente desaparecia na hora.
‘Mas já usei duas vezes naquele desgraçado.’
Ele admitiu isso com indiferença ao se lembrar. ‘Faz sentido que ele queira me matar.’
Só por precaução, ele tirou a mala do armário e começou a separar as coisas essenciais. Caso precisasse sair correndo, era só jogar o básico dentro e dar o fora.
– Tchau, Darling.
Depois de dar um beijo na gata, ele saiu de casa e foi trabalhar no seu carro velho, que já tinha mais de 10 anos. Seria meio triste ter que dar adeus à Califórnia.
***
Depois de estacionar o carro no lugar de sempre, Dane foi para o quartel dos bombeiros e parou ao ver um grupo de colegas olhando furiosos para algo. Seguindo o olhar deles, ele viu Grayson Miller encostado no caminhão de bombeiros, conversando com alguém.
– O que está acontecendo? – perguntou baixo, se aproximando.
Um dos bombeiros, rangendo os dentes, respondeu:
– O que parece? Aquele filho da puta tá dando em cima da Valentina.
Valentina era, sem dúvida, a funcionária mais popular do quartel. Linda, gente boa, do tipo que conquistava todo mundo. Muitos ali tinham uma queda por ela, mas como ela já tinha dispensado alguns pretendentes de forma educada, a maioria entrou num acordo silencioso: esperar ela escolher alguém.
Até lá, mantinham tudo num clima de “boa camaradagem”, ainda que, de vez em quando, fizessem investidas discretas.
E então chega esse babaca e resolve atravessar todo mundo?
Todos estavam de olho neles, com os olhos queimando de inveja e raiva.
“Rejeita ele, Valentina! Dá um fora nele do jeito frio e cruel que deu na gente!”
Mas, ao que parecia, Valentina não captou a energia desesperada dos colegas. No instante em que ela sorriu e passou a mão no braço de Grayson, metade do grupo simplesmente desmoronou.
– Perdemos… A gente já era!
– Não, espera! A Valentina é gentil! Ela deve estar tentando amenizar o impacto antes de dispensar ele. Com certeza!
– É mesmo? Porque comigo ela nem chegou perto!
– Aceita logo, mano. Se tocou no braço, acabou.
– Cala a boca! Braço?! Que tipo de frouxo desiste só por causa disso? Se fosse a coxa, aí sim…
Dane suspirou, observando de longe aquela comoção ridícula. Nem parecia que os caras eram bombeiros. Enquanto os outros continuavam surtando, ele seguiu para o vestiário. Mas antes mesmo de sair do alcance da confusão, vieram os primeiros sons de choque: suspiros surpresos, gemidos de incredulidade e um gritinho indignado.
Pronto. Aconteceu.
– Ela tocou na coxa dele!
– Espera aí! O cara é alto pra caramba! A mão dela só chegou ali por acaso. Relaxa!
– Ela tá acariciando! Já era, perdemos feio!
– NÃO! Minha Valentina jamais se renderia a um canalha desses!
– Desde quando ela é sua?! Cala essa boca!
Dane deixou aquele pandemônio para trás sem se importar. Ele não dava a mínima para o drama dos outros, mas uma coisa ficou bem clara: Grayson Miller definitivamente não lembrava dele.
Como esperado.
Dane deixou de lado qualquer preocupação e abriu o armário com calma. A mochila que ele tinha preparado de manhã não seria mais necessária. Viajar com uma gata cega e surda não seria fácil, então era um alívio.
Ou talvez estivessem todos errados. Talvez a história de ele ter vindo para descobrir quem o havia nocauteado fosse só uma desculpa, e houvesse outro motivo por trás disso.
‘Não que eu me importe.’
Quando voltou para fora, os bombeiros ainda estavam parados no mesmo lugar, estáticos. Ele seguiu o olhar deles e notou que Valentina e Grayson tinham sumido.
– Eles foram juntos…
Alguém murmurou, atônito. Outro completou, quase em luto:
– Ela nos deixou… Valentina realmente caiu no papo do Grayson Miller…
– Vocês viram o rosto dela? Eu nunca tinha visto a Valentina sorrindo assim… Ela nunca olhou para ninguém daquele jeito.
– NÃO! Galera, foco! Eles só saíram juntos! Pode ser que só estavam indo para o mesmo lado!
A única coisa que ele ganhou com sua tentativa de manter a última esperança viva foram olhares gelados.
— Você é o mais irracional de todos.
— Quem precisa encarar a realidade é você! “Só estavam indo na mesma direção”? Ah, claro, só faltou chover purpurina.
— Não, espera… Vai ver ele tem razão. Estamos sendo muito pessimistas. Não é como se fosse impossível.
— É isso! Eu também aposto que só estavam indo na mesma direção. A Valentina não é de cair assim na de qualquer homem!
— Exato! Nenhum de nós conseguiu nada com ela, e agora você quer me dizer que o Grayson Miller conseguiu em menos de uma hora? Isso sim seria absurdo!
O discurso otimista começou a ganhar força. De braços cruzados, Dane só observava aquele espetáculo patético. Para ele, a realidade era óbvia: a Madonna intocável da corporação caiu em menos de uma hora na lábia do maldito Grayson Miller.
‘Idiotas.’
Mas, por mais céticos que fossem, os bombeiros estavam desesperados para se agarrar à última faísca de esperança. Então, bastou alguém murmurar, incerto:
— Bom… pode ser…
Enquanto trocavam olhares, alguém murmurou, e outro logo aproveitou a deixa.
— É ISSO! O Grayson pode ser um alfa riquinho, mas a gente sabe quem é a Valentina, não sabe?
A empolgação foi crescendo.
— Isso! A Valentina jamais faria isso!
— Eu acredito nela!
— Eu também!
De repente, estavam todos batendo no peito e jurando que confiavam na mulher. O clima de união e esperança dominou a equipe. Eles estavam convencidos. Valentina jamais teria caído no papo daquele cretino.
…Até que, algumas horas depois, ela voltou.
Com o cabelo bagunçado. Com a expressão meio aérea. Qualquer um com dois olhos podia ver o que ela e Grayson tinham feito durante aquelas horas. E, para piorar, Valentina ainda puxou Grayson e o beijou, como se quisesse confirmar tudo.
O silêncio foi unânime.
Os bombeiros que estavam do lado de fora viram a cena e saíram espalhando a notícia pelo quartel inteiro. Quando a informação chegou na sala de descanso, os que ainda tinham esperança sofreram um choque. Alguns deles gostavam genuinamente de Valentina, outros tinham pelo menos uma ilusãozinha bem cultivada. O resultado? O ambiente ficou tão pesado que parecia que alguém tinha morrido.
Depois de um tempo, alguém soltou, derrotado:
— No fim das contas, a Valentina sempre esteve fora do nosso alcance.
Outros assentiram, melancólicos:
— É… Ela nunca escolheu nenhum de nós, mesmo.
— Talvez o Grayson Miller não seja tão ruim assim…
— Enfim, foi a escolha dela, então temos que apoiar, como colegas.
— Com certeza. No fim das contas, somos todos uma equipe.
Apesar de tudo, o clima até estava indo bem. Claro, eles tinham levado um fora, mas aqueles bombeiros machões não queriam parecer uns perdedores chorões. O orgulho deles não deixava, a inveja consumia e Grayson continuava sendo um desgraçado insuportável, mas fazer o quê? Como alguém tinha dito, talvez o Grayson fosse um babaca só com eles e tratasse a Valentina como uma rainha. Então, engolindo o orgulho e tentando esconder a dor, eles decidiram deixar para lá e torcer pela felicidade dela. Até aí, tudo certo.
Até que, algumas horas depois, Grayson Miller reapareceu… dessa vez com o braço em volta da cintura de outra colega, a Liz e os dois desapareceram na mesma direção que ele e a Valentina tinham ido antes.
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Continua…