Deseje-me se puder - Capítulo 179
Finalmente, Dane colocou em palavras a pergunta que não parava de martelar na sua cabeça há tempos. Por mais que pensasse, ele não conseguia entender. Que tipo de truque esses caras haviam usado? Incapaz de conter sua ansiedade, ele continuou perguntando:
— Por que Grayson foi sequestrado daquele jeito sem reagir? Eu não consigo entender. Se ele quisesse, naquela hora, podia ter acabado com todos aqueles caras…
Ele engoliu em seco, forçando-se a não dizer o que realmente pensava: que Grayson podia ter matado todos ali, facilmente. Desde que os dois se separaram daquele jeito, essa dúvida não saía da cabeça de Dane. No começo era só uma curiosidade, mas foi crescendo, crescendo… até virar um enigma que não saía mais do pensamento. Como uma farpa debaixo da unha que não dá pra tirar – irritando o tempo todo.
‘Por quê? Por que diabos ele fez isso?’
Agora não tinha mais como perguntar diretamente a Grayson. E a única pessoa que podia responder estava bem ali, na frente dele. Ao ver a expressão quase desesperada no rosto de Dane, Ezra pareceu um pouco surpreso, mas logo abaixou a cabeça, abatido.
— Foi por minha causa.
— O quê?
A resposta pegou Dane de surpresa, fazendo-o franzir a testa. Ezra respondeu num tom ainda mais baixo, com a voz meio trêmula – talvez por culpa.
— Foi por minha causa. Eu implorei para ele… Pedi para que ele fosse com aqueles caras, sem reagir. Disse que se ele não fosse, eu e toda a minha família íamos morrer.
Dane piscou, atordoado. Ele achou que finalmente ia ter uma resposta e agora parecia que tinha mais perguntas do que antes.
‘Como assim? Só por causa disso Grayson foi com eles sem resistir? Foi torturado por causa disso? Tudo isso… pelo Ezra e pela família dele?’
— …É só isso?
A pergunta saiu carregada de dúvida, mas Ezra apenas assentiu.
— Sim, foi isso.
Com a mesma resposta se repetindo, Dane ficou em silêncio. Ele apenas fitou Ezra, imóvel. Talvez incomodado com o silêncio, ou achando que precisava explicar melhor, Ezra voltou a falar.
— No início, ele pareceu achar ridículo. Mas aí eu disse que precisava muito do dinheiro… que não tinha escolha, que eu sentia muito… chorei, supliquei. Talvez tenha sido isso.
Ezra soltou um suspiro pesado. Seu rosto expressava arrependimento e angústia, enquanto Dane permanecia calado. As palavras de Ezra ecoavam em sua mente. Ele parecia estar revivendo aquele dia, paralisado.
Dane abriu a boca para falar, mas fechou de novo. Por alguns segundos, ficou só o silêncio. Até que, finalmente, um suspiro longo e pesado escapou entre os lábios dele.
— Aquele idiota…
Ele levou a mão à testa, seu rosto estava marcado por uma dor incompreensível. Ezra achou que ele havia percebido algo, mas Dane não explicou. Em vez disso, ele preferiu encerrar o assunto de outro jeito.
— Tudo bem. Obrigado por me contar.
— É…
Na verdade, era ele, Ezra, quem se sentia envergonhado por estar ouvindo um “obrigado”. Afinal, nem tinha dito muita coisa. Pensando nisso, com um olhar meio amargo, ele abaixou os olhos e perguntou com cuidado:
— E o… o Miller? Como ele está? Eu queria pedir desculpa, mas não consegui encontrar com ele…
— Não sei. Faz tempo que eu também não vejo ele.
Diante do tom direto de Dane, Ezra ficou um pouco desconcertado, mas no fim só conseguiu responder:
— Ah… entendo.
Foi nessa hora que o agente penitenciário ao fundo fez um sinal avisando que o tempo da visita estava acabando. Ezra olhou brevemente para trás, depois voltou-se para Dane e se despediu.
— Foi bom te ver depois de tanto tempo. Obrigado por ter vindo.
— É… Se cuida.
Dane também respondeu com aquela frase genérica de despedida. Estava prestes a colocar o fone de volta no gancho quando, de repente, parou. O movimento inesperado fez Ezra também hesitar antes de desligar. Dane levou novamente o fone ao ouvido e falou:
— Tem mais uma coisa… que eu queria saber.
— Claro. O que é?
O tempo da visita já estava no fim, mas Ezra não pareceu se importar. Só então Dane lembrou de uma pergunta que não tinha feito.
— Por que você não vendeu aquele colar? Você estava desesperado por dinheiro, não estava?
Ezra piscou, confuso.
— Colar…? Que colar?
Ao ver que ele realmente não fazia ideia do que estava falando, Dane explicou:
— Aquele colar que estava no pescoço do ursinho de pelúcia. Disseram que valia uns 400 mil dólares.
Ezra pareceu vasculhar a memória por um instante, e então ficou completamente pálido, como se tivesse levado um choque. Ficou de boca aberta, sem conseguir emitir som, depois de algumas tentativas, conseguiu perguntar com a voz trêmula:
— Qua-quatrocentos mil?
— É. Você não sabia?
Quando Dane devolveu a pergunta, Ezra ficou ali, murmurando como se tivesse perdido a alma.
— Aquele colar… não era falso?
Vendo que ele não fazia ideia do valor, Dane começou a desconfiar.
— Como você conseguiu aquela jóia?
Com a pergunta dita num tom frio, Ezra pareceu voltar à realidade. Ele se encolheu um pouco e abaixou a cabeça com uma expressão derrotada.
— Foi o Miller…
A voz dele estava fraca, quase sumindo.
— Miller me deu. Como presente de aniversário para minha filha.
Dane não ficou surpreso. Ele mesmo estranhou sua falta de reação – talvez, no fundo, já esperasse por isso. Ezra começou a chorar baixinho enquanto continuava:
— Ele até falou para eu mandar avaliar o colar… mas eu… eu não fiz isso…
O choro abafado logo virou um pranto de verdade. O agente penitenciário que observava de perto avisou que a visita tinha terminado e segurou o braço de Ezra para levá-lo embora. Enquanto era levado, ele, ao se aproximar da porta, de repente se soltou e começou a bater a cabeça contra a parede. O agente correu para tentar impedi-lo, mas Ezra, chorando, continuou se machucando, batendo a cabeça repetidamente. Logo o sangue começou a manchar a parede. Dane assistiu tudo em silêncio, depois se virou e saiu da sala de visitas.
Lá fora, o mundo ainda estava claro e o céu, absurdamente azul. Com a testa franzida, Dane olhou para o horizonte limpo e suspirou bem fundo.
— Idiota…
Ele mesmo não sabia a quem estava xingando. Era direcionado para Ezra, por sempre fazer as escolhas erradas até o fim? Ou…
Com um suspiro pesado, quase um lamento, ele murmurou com amargura:
— Numa situação daquelas, você devia ter batido no Ezra primeiro.
Era óbvio, não era? Em vez de ser levado sem resistência por uma chantagem absurda, era melhor ter dado uns tapas no Ezra até ele cair na real e encontrarem uma solução juntos. Mesmo assim, ele sabia exatamente porque aquele cara tomou uma decisão tão estúpida.
⟨Pensei no que você faria no meu lugar.⟩
— Aquele imbecil… ele realmente não sabe nada sobre mim, né?
Dane chutou o pneu do carro, como se fosse culpa dele. Desde o dia em que se despediram daquele jeito na Disney, Grayson nunca mais tinha dado sinal de vida. Nenhuma mensagem, nenhuma ligação. Ele nem fazia ideia de como o outro estava. Já havia até mudado de estação, e mesmo assim… nada.
⟨Foi bom enquanto durou. Eu nunca vou esquecer.⟩
Essa tinha sido a última frase que ele disse. Com o rosto todo inchado de tanto chorar, ainda assim, sorria. Como uma flor que tinha florescido linda e agora murchava devagar.
⟨Adeus.⟩
A imagem de Grayson indo embora no carro ainda estava viva na cabeça de Dane, como se tivesse acontecido ontem. Ele suspirou e bagunçou os próprios cabelos, irritado.
— Fui eu quem disse para terminar primeiro. Falar em se separar, que merda foi essa? Por acaso tínhamos combinado de começar de novo…
Mesmo reclamando sozinho, nenhuma resposta veio. Ele olhou ao redor devagar, confirmando que estava sozinho, então ficou em silêncio, com um gosto amargo na boca.
‘O que será que ele está fazendo agora?’
Essa pergunta surgiu de repente em seus pensamentos. Dane ficou parado ali, por um bom tempo, sozinho, como sempre. Como já estava acostumado.
Mas, por algum motivo, dessa vez a solidão doía mais do que nunca.
***
Do lado de fora da janela havia uma enorme varanda conectada diretamente ao quarto. E logo abaixo dela, um parque gigantesco. Em dias de céu limpo, uma das coisas que Koy mais gostava de fazer era sentar-se na mesinha de chá, cercado pelo pequeno jardim que ele mesmo havia montado na varanda, tomar um café ou fazer uma refeição leve enquanto olhava o parque lá embaixo. Era por isso que ele ainda não tinha se desfeito daquele apartamento. Graças a isso, os filhos de Koy, quando tinham compromissos na costa leste, de vez em quando se hospedavam naquele local.
Quando Koy soube que um de seus filhos estava ali, ele deixou de lado todo seu outro trabalho e correu para lá primeiro.
— Bom dia, Sr. Niles.
— Bom dia, Benjamin.
Cumprimentando com familiaridade o porteiro da entrada, Koy apertou o botão do elevador privativo e, antes de subir, deu uma gorjeta generosa ao funcionário. Conforme o elevador se aproximava do último andar, o coração dele batia cada vez mais rápido. Seu rosto já estava levemente corado de ansiedade.
Assim que as portas se abriram, ele praticamente correu até a entrada. Então, o nome que guardara no peito finalmente explodiu em seus lábios:
— GRAYSON!
°
°
Continua…
Água viva
Huuuum…..
Obrigada pelo capítulo ❤️