Deseje-me se puder - Capítulo 172
— Uma sucessão de milagres, só podemos chamar assim.
Stewart fez seu comentário com descontração. Sentado no sofá do consultório, tomando café enquanto falava ao telefone, ele parecia exatamente um sujeito ocioso curtindo um momento de lazer. Olhando para o céu azul do lado de fora da janela, ele continuou a conversa, como se estivesse simplesmente batendo papo com um amigo.
— Quem poderia imaginar? Um ômega dominante despejando seus feromônios para salvar uma pessoa à beira da morte e ainda por cima eliminar o risco de sequelas. Nunca pensei que o “vínculo” entre ômegas dominantes pudesse ser tão forte assim.
[Não se esqueça do acordo de confidencialidade.]
Uma voz fria soou do outro lado da linha, e Stewart respondeu com naturalidade:
— Imagina se eu esqueceria. Como sempre, manterei tudo em sigilo absoluto.
Apesar do tom bajulador, ele não deixou de sondar de leve:
— Gostaria de estudar esse caso com mais profundidade… mas imagino que não seja permitido, certo?
[Norman Stewart.]
Ashley Miller chamou seu nome com uma voz carregada de advertência. Stewart rapidamente recuou, respondendo com um sorriso no tom de voz:
—Eu já imaginava. Entendi. Se pudesse pesquisar, talvez fosse até útil para o senhor Niles no futuro, mas… paciência.
Ele deixou escapar essa última frase de propósito, como quem não dá muita importância, e então completou com naturalidade:
— De qualquer forma, Dane Stryker está sendo tratado sem apresentar nenhum problema. Não parece haver motivo para preocupação. Disseram até que, com sorte, ele poderá voltar a andar dentro de uma ou duas semanas.
Em seguida, acrescentou:
— Ah, e como o senhor mencionou, somente o médico responsável na hora sabe sobre o uso de feromônio. Fora isso, ninguém, nem mesmo o pessoal do hospital, tem conhecimento. Grayson também já havia saído quando isso aconteceu, então ele tampouco sabe.
[Certo.]
Ashley desligou sem mais palavras. Stewart olhou brevemente para o celular agora silencioso, depois o colocou sobre a mesa.
Grayson não voltou mais ao hospital, Ashley certamente também sabia disso. Só que, o que exatamente Grayson estava pensando agora, apenas ele próprio poderia dizer. Era justamente esse ponto que preocupava Ashley Miller.
‘Mesmo assim… Com essa recuperação tão milagrosa e dramática, será que eles não começariam a desconfiar da interferência de Niles?’
Pensando nisso, Stewart sorriu de leve e levou a xícara de café à boca.
‘Isso é muito divertido.’
***
— Ah…
Um pequeno gemido escapou, e o médico que cuidava dos ferimentos de Dane parou o que fazia e perguntou:
— Me desculpe. Está doendo muito?
O tom preocupado do médico fez Dane balançar a cabeça imediatamente.
— Não, estou bem, só me distraí por um momento.
Dane sorriu, um pouco envergonhado, e então virou novamente o rosto para cima, na direção que acreditava ser o teto. Quando recobrou completamente a consciência, recebeu uma notícia inesperada.
⟨Pode haver danos à visão, então vamos manter os olhos vendados por enquanto.⟩
Segundo o médico, havia um risco real de Dane perder a visão. Felizmente, logo depois desse diagnóstico, seu estado melhorou milagrosamente, afastando o perigo de cegueira. No entanto, por precaução, o médico recomendou que a luz fosse totalmente bloqueada por um tempo para observar a evolução do quadro.
Com isso, ele não teve escolha: os dois olhos foram enfaixados e cobertos por uma venda, impedindo-o completamente de enxergar. Tudo o que podia fazer era confiar nas palavras do médico – que, uma vez recuperado, poderia se readaptar gradualmente à luz e voltar ao normal.
Era o que lhe restava: resistir à rotina monótona de cada dia.
Haaa…
Assim que terminou de trocar os curativos das feridas restantes e ficou sozinho, ele soltou um longo suspiro que estava reprimido. Agora, todas as máquinas que estavam ligadas ao seu corpo tinham sido removidas, e ao redor dele só havia um silêncio profundo.
‘…Está tão silencioso.’
De repente, sentiu-se estranho. Será que já tinha experimentado um silêncio tão absoluto antes? Pensando bem, não era exatamente novidade. Quando vivia sozinho com Darling, também era assim. A não ser que fosse uma daquelas noites em que ia ao clube e trazia alguém para passar a noite com ele, aquele silêncio era uma parte habitual da sua vida.
‘Por que agora isso parece tão solitário…?’
Não conseguia entender o motivo. A única explicação plausível era que, naquela época, pelo menos Darling estava com ele… e agora, nem isso.
‘YeonWoo deve estar cuidando bem dela…’
No hospital, não era permitido trazer gatos. Yeonwoo, ao saber que Dane havia recobrado a consciência, foi até o quarto e, com uma expressão de tristeza, contou que Darling estava muito bem.
⟨Nos primeiros dias ela parecia meio deprimida, eu fiquei preocupado… Mas agora ela está bem.⟩
Yeonwoo e os filhos eram muito tranquilos, então, com certeza, cuidariam bem de Darling. O segundo filho tinha um jeitinho mais levado, mas, com Yeonwoo e o primogênito por perto, não haveria problemas. Pensando nisso, Dane conseguiu aliviar um pouco a preocupação com a gata. Em breve começaria a fisioterapia, assim que conseguisse andar, daria entrada no processo de alta e a primeira coisa que faria seria buscar Darling. Ele reafirmou essa decisão para si mesmo.
Mas foi só até aí. Logo depois, o mesmo pensamento voltou à sua mente.
‘…Que tédio.’
O dia parecia interminável. Tudo ao redor era dominado por uma quietude insuportável. A ponto de ele considerar seriamente pedir para que o sedassem de novo, como na época em que só dormia.
Enquanto ponderava essa ideia absurda, de repente, um rosto lhe veio à mente.
‘Como será que aquele cara está…?’
Enquanto estava inconsciente, Dane ficou sabendo, através dos médicos, que Grayson vinha visitá-lo todos os dias. Quando abriu os olhos pela primeira vez, o primeiro rosto que viu também foi o de Grayson. Nos primeiros dias, devido ao tratamento, sua mente estava confusa e ele dormia com frequência, então não percebeu, mas, ao refletir, se deu conta que depois disso, Grayson não apareceu mais.
‘Ele vinha todos os dias quando eu estava dormindo, mas agora que acordei…’
Dane franziu o cenho, mas não conseguia entender o motivo. Ainda sem chegar a nenhuma conclusão, permaneceu apenas deitado.
— Quem é que pode entender o que se passa na cabeça dele… — murmurou de propósito, como se quisesse preencher o silêncio.
Mas, mesmo assim, só conseguiu sentir ainda mais o silêncio opressivo do quarto. Desde que aquele tagarela sumiu, ele sentia um vazio absurdo. Ele devia estar ocupado com alguma coisa importante. Sem querer pensar mais sobre isso, fechou os olhos e suportou o longo e interminável tempo de silêncio.
***
Era tarde da noite e o hospital estava mergulhado em silêncio. As luzes que iluminavam o longo corredor estavam acesas em intervalos, projetando sombras longas das poucas pessoas que passavam. O corredor, especialmente silencioso e quase sinistro naquela noite, era percorrido por um homem que caminhava calmamente. O som ritmado dos seus passos, quebrando o silêncio, criava uma sensação arrepiante – mas o homem não demonstrava se importar. Seguiu andando sem hesitar nem por um instante até chegar ao seu destino: uma porta de quarto.
Ele não abriu a porta de imediato. Ficou ali parado por alguns momentos, como se ponderasse algo, mas não demorou muito. Logo segurou a maçaneta e abriu a porta, a luz do corredor se estendeu para dentro do quarto.
Com um leve clique, fechou a porta atrás de si e voltou a andar. Um passo, depois outro, aproximando-se da cama. Durante todo o caminho, seus lábios permaneceram firmemente fechados, sem o menor tremor.
Ele parou ao lado da cama e ficou ali, imóvel, olhando o homem que estava deitado. Antes, aquele corpo, coberto de ataduras e ligado a vários aparelhos, travava uma luta incessante contra a morte a cada segundo. Mas agora, não. As ataduras haviam diminuído, as feridas estavam menos visíveis. O homem repousava em uma respiração tranquila, como se estivesse apenas dormindo profundamente. Parecia em paz, sem sinal de sofrimento.
…Haa.
Pela primeira vez, o visitante soltou um longo suspiro. A luz da lua, atravessando a janela, iluminou seu rosto. Grayson Miller, com uma expressão distorcida, encarava Dane, imóvel.
Grayson só voltou ao hospital cerca de dez dias depois. No momento em que soube que o estado de Dane havia melhorado repentinamente e que não havia mais risco de perder a visão – ou, mais precisamente, desde o instante em que Dane, recobrando a consciência, olhou diretamente para ele – Grayson não aparecera no hospital nem uma vez.
Nesse meio-tempo, ele havia mudado muito. Estava extremamente magro, não comia nem dormia direito. Suas bochechas fundas e as profundas olheiras sob os olhos confirmavam isso com clareza. Apesar da exaustão extrema, sua mente estava estranhamente lúcida. Grayson veio até aqui com uma clareza mental tão absoluta, que sentia que nunca estivera tão consciente de si mesmo em toda sua vida.
‘Sim, minha decisão agora não está errada.’
°
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Continua…
Duda
Ih,ala,vai inventar moda agr não