Deseje-me se puder - Capítulo 170

Sentindo o peito apertar diante da voz profundamente trêmula, Koy respondeu:

— Vou liberar meus feromônios. Por isso, você não pode entrar comigo.

Ele falou com firmeza, como se tivesse lido os pensamentos de Grayson. Imediatamente, o rosto de Grayson assumiu uma expressão de puro desespero, como se o mundo estivesse desabando. Ao ver aquele semblante, Koy piscou, surpreso.

‘Grayson… fazendo esse tipo de expressão?’

Era quase triste que Ashley não estivesse ali para ver isso. ‘Eu estava certo,’ pensou Koy, agora convicto. ‘Grayson está sentindo, está sentindo emoções. Por causa do Dane.’

— Você… — Grayson murmurou com dificuldade, quase sem voz.

— Está falando sério? Você pode mesmo… salvar o Dane?

— Não tenho certeza.

A voz de Koy vacilava, visivelmente abalada, ao responder com relutância.

— Mas precisamos tentar de tudo. Para que Dane acorde. Para que ele possa se recuperar.

Ainda assim, Grayson só podia observar do outro lado do vidro. Essa realidade era uma tortura insuportável para ele, mas não havia escolha.

No entanto… se Dane realmente acordasse…

Um lampejo de esperança surgiu no rosto de Grayson.

— Por favor.

Ele falou com a voz embargada, tomada pela emoção. Koy, que nunca o tinha visto assim, ficou novamente surpreso. Mas Grayson, alheio à reação do outro, segurou os ombros de pai com força e suplicou desesperadamente:

— Salve o Dane. Por favor… por favor. Eu faço qualquer coisa, qualquer coisa mesmo… Só te peço isso.

Diante do filho que suplicava sem parar, Koy foi tomado por uma mistura de surpresa, dor, alegria e tristeza – emoções todas entrelaçadas em seu peito. No final, não aguentou e abraçou Grayson com força.

— Vai ficar tudo bem.

Koy continuou, colocando também seus próprios desejos nas palavras:

— O Dane com certeza vai acordar e logo estará bem. Você sabe como ele é forte.

Então se afastou e olhou para o filho, acrescentando:

— O Dane vai voltar a ser como era antes. Então vamos acreditar e esperar, juntos.

‘…Hã?’

Diante dessas palavras, Grayson piscou surpreso. Koy se afastou do filho, deu mais um sorriso e se virou em direção ao quarto do hospital. Grayson ficou parado, olhando-o com um olhar vazio.

‘Vai voltar a ser como era antes.’

‘Como antes…’

‘…Como era antes.’

Repetindo essas palavras em pensamento, o rosto de Grayson foi lentamente ficando cada vez mais pálido.

***

O corpo de Dane, deitado sozinho no quarto silencioso, era uma visão que despertava tristeza. Assim que entrou sozinho e pôde observá-lo de perto, Koy logo sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Era inacreditável ver alguém tão cheio de vida e energia, naquele estado agora.

Não havia tempo a perder. Koy sentou-se rapidamente em uma cadeira ao lado e respirou fundo. Colocou suas mãos trêmulas sobre o braço – envolta por bandagens – de Dane, fechou os olhos. E então, um perfume leve, fresco e ao mesmo tempo reconfortante começou a se espalhar por todo o quarto.

***

Era uma escuridão sem fim. Ele já havia andado por um bom tempo, mas ainda assim não conseguia ver absolutamente nada. Dane, exausto de tanto caminhar, acabou parando no meio do nada.

— Talvez seja hora de desistir.

Esse pensamento pairou em sua mente.

‘Já havia vivido tanto tempo. Passado por tantas coisas. Talvez agora pudesse finalmente descansar. Afinal, qual o sentido de tudo isso? Qual o sentido desta vida?’

⟨Você é quem insistiu em nascer.⟩

De repente, as palavras de sua mãe lhe vieram à mente. Algo que ela lhe dissera há mais de dez anos. Ele já havia esquecido, mas, de vez em quando, essas palavras voltavam para torturá-lo. A cada vez, a cada instante, ele se dava conta de que estava sozinho. E provavelmente também partiria sozinho. Vagando por toda a vida nessa escuridão, cairia exausto e desapareceria como poeira para sempre.

‘Será que, se eu sumir, essas palavras malditas como uma praga, também desapareceriam do mundo… de uma vez por todas…?’

⟨Dane.⟩

Alguém chamou seu nome. Dane, confuso, olhou ao redor, ainda envolto por uma escuridão densa como breu, não conseguia sentir a presença de mais ninguém.

‘Eu devo ter ouvido errado…’

Ele inclinou a cabeça com leveza e logo soltou um riso curto e descrente.

‘Que bobagem. Não tem mais ninguém aqui além de mim.’

‘A vida inteira, sozinho.’

Foi quando pensou nisso, com amargura, que a voz voltou a soar.

⟨Dane, volte.⟩

Dessa vez, a voz foi mais nítida. Com certeza era real. Alguém estava chamando por ele com desespero. Havia súplica, havia urgência naquela voz.

⟨Dane, por favor, abra os olhos. Volte para nós.⟩

De repente, uma luz fraca surgiu à distância. Dane, surpreso, piscou os olhos. Como se estivesse enfeitiçado, seus pés começaram a se mover. Primeiro um passo lento, depois outro… e, de repente, ele estava correndo. A luz se tornava cada vez mais intensa. E quando por fim, ela o envolveu por completo como o brilho do sol…

— …Dane!

Alguém gritou seu nome. Ele levantou as pálpebras lentamente. Seu campo de visão, ainda turvo, estava tomado por uma luz difusa, ele não conseguia ver nada com clareza. Mesmo com esforço, suas pálpebras logo se fecharam novamente. Mas as vozes continuaram a chegar até ele.

— Aqui! Dane abriu os olhos! Chamem a equipe médica! Rápido!

A voz aflita foi se afastando aos poucos. Dane, num canto vago da consciência, suspirou. Ele mal teve tempo de pensar que gostaria de se agarrar aquela voz  e então, mais uma vez, sua consciência apagou novamente.

Quando ele finalmente recuperou a consciência novamente, o ambiente estava barulhento. O som contínuo dos aparelhos, pessoas indo e vindo apressadas, vozes misturadas em um caos geral. Ainda grogue, ele permaneceu imóvel, deitado. Na verdade, ele não conseguia se mover.

Foi exatamente um mês e meio após o acidente.

***

«O retorno milagroso de Dane Striker!»

«O herói nacional, Dane Stryker, por quem todos torceram e oraram, – finalmente despertou! Após 45 longos dias. Muitos cidadãos foram até o local para celebrar e dar as boas-vindas a esse retorno milagroso. Segundo o médico responsável, Dane Stryker ainda precisará de cerca de três meses de tratamento e reabilitação antes de se recuperar completamente… »

A notícia se espalhou como fogo. Todos os veículos de mídia publicaram matérias sobre Dane Stryker. Foram exibidas diversas reportagens e programas relembrando como e por que o acidente havia acontecido, deixando-o em coma. Também se multiplicaram entrevistas com pessoas que haviam participado das vigílias à luz de velas, torcendo por sua recuperação.

Nesse cenário, a atenção das pessoas começou a se voltar para os terroristas que haviam causado toda essa situação. Afinal, quem eram eles para provocar um incidente tão devastador?

[Eu também conheço essas pessoas que chamam os Alfas dominantes de demônios. Havia um clube religioso assim na minha universidade. Não cheguei a entrar, é claro.]

[E os Alfas dominantes não são pessoas, por acaso? E ainda tentaram soterrar uma cidade inteira… são malucos. Quer dizer, eles estavam dispostos a matar até mesmo quem não era Alfa dominante!]

[É verdade que os Alfas dominantes têm muitos problemas. Na real, é meio esquisito, não é? Dizem que podem enlouquecer por causa dos feromônios… eu, sinceramente, não consigo entender.]

As pessoas opinavam de forma dispersa, cada uma com sua teoria. E, enquanto isso, a investigação prosseguia com firmeza, revelando, aos poucos, a identidade dos terroristas.

Eles faziam parte de um grupo que se separou de uma organização já existente – em outras palavras, uma facção dissidente. Eram pessoas que não concordavam com o antigo líder nem com os ensinamentos da doutrina original, então decidiram criar seu próprio grupo. O objetivo deles era capturar Alfas dominantes para torturá-los e matá-los. No entanto, eram desorganizados e impulsivos, um bando sem preparo, e por isso a maioria foi morta antes mesmo de conseguir fazer qualquer coisa concreta. Dos que sobreviveram, restaram apenas dois, e era quase certo que os dois seriam condenados à prisão perpétua.

Enquanto o mundo permanecia em alvoroço, Dane continuava em estado crítico, totalmente dedicado ao tratamento. Após recobrar a consciência, passou a sofrer dores intensas. Por causa disso, os médicos o mantinha sob sedação constante, e ele passava a maior parte do tempo dormindo.

Grayson continuou indo ao hospital todos os dias para ver como ele estava, mesmo já tendo se recuperado dos próprios ferimentos. Ele não tinha mais motivo para ficar internado, mas insistia em aparecer – só para ficar ali, olhando em silêncio para Dane, que lutava contra a dor em um sono induzido. E mesmo sem poder fazer nada, apenas o observava.

Koy voltou ao hospital alguns dias depois.

— Grayson!

Ele correu até Grayson animado, e logo atrás vinha Ashley. Koy o abraçou com força e exclamou, quase saltando de alegria.

— Que bom que o Dane acordou! É um alívio… Nossa eu estou tão feliz! Tão feliz.

Koy repetia as mesmas palavras, dominado pela alegria, sem saber como expressá-la por completo. Grayson respondeu com um leve sorriso:

— Sim, é muito bom.

Ao ver o rosto dele, Ashley franziu sutilmente a testa. Aquele sorriso… era exatamente o mesmo que ele havia ensinado. Um sorriso forçado, o mesmo que aprendeu quando jovem.

‘O que está acontecendo…?’

Quando Koy voltou, logo após liberar os feromônios pela primeira vez, ele estava eufórico. Disse com entusiasmo que Grayson havia mudado. Que agora demonstrava claramente suas emoções. Ele disse aquilo cheio de alegria, como se tivesse certeza…

‘Mas agora, esse sorriso… O que significa?’

‘Será que Koy estava errado?’

Ashley ponderou.

‘É comum que o amor de pai cegue sua percepção. E Koy sempre foi muito apegado às crianças. Talvez ele tivesse interpretado mal as reações de Grayson.’

Ainda assim, Ashley sentia um sentimento estranho. Enquanto observava o filho e Koy com um desconforto crescente, o Ômega virou-se e perguntou:

— Quero ver o Dane. Será que ele já pode receber visitas?

— Ah, claro!

A pergunta havia sido direcionada ao diretor do hospital, que estava ali por perto. Ele respondeu imediatamente.

Isso é bom, Ashley pensou. Assim poderia ouvir mais sobre o estado de Dane Stryker, enquanto o observava de perto.

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Continua…