Deseje-me se puder - Capítulo 167

— Pare aí! Eu disse pra parar!

Joshua gritou repetidamente, tentando impedir Grayson. Mas aquilo só serviu para aumentar ainda mais sua raiva, sem surtir qualquer efeito.

— Sai da minha frente, não me atrapalhe.

Grayson empurrou Joshua com violência e começou a subir a montanha. Mesmo mancando visivelmente por conta dos ferimentos, ele insistia em seguir em frente com teimosia. Aquilo fez Joshua explodir de vez.

— Porra, eu mandei você parar!

Por fim, ele acabou xingando. Agarrou o braço de Grayson com força e o puxou de volta, fazendo o corpo grande e pesado do homem tombar para trás. Aproveitando a chance, Joshua se jogou sobre ele e o derrubou no chão, montando em cima e agarrando-o pelo colarinho.

— Quantas vezes eu preciso dizer que você é inútil em relação a isso?! Seu único trabalho é esperar em segurança e torcer para que tudo dê certo!

— Cala essa boca!

Grayson o empurrou mais uma vez e se levantou. Tentou recomeçar a subida, mesmo cambaleando, mas Joshua o agarrou novamente.

— Acorda, seu maluco! Você não pode ir! NÃO PODE!

— POR QUÊ?!

Grayson se virou para ele, gritando com raiva.

— Por que você não o impediu?! Por que deixou o Dane ir sozinho?!

Diante do protesto furioso, Joshua finalmente hesitou pela primeira vez. A culpa, que ele vinha tentando ignorar, começou a emergir, corroendo seu coração. Ele mordeu os lábios, baixou a cabeça e, finalmente, confessou:

— Eu… eu não podia impedir.

Com o rosto todo contraído, ele gritou com voz trêmula e cheia de frustração:

— Se houver um deslizamento, todo mundo lá embaixo vai morrer. Dane tinha que ir para evitar isso. Você sabe tão bem quanto eu… aquele desgraçado é sempre o primeiro a se jogar numa situação dessas. Ele não escuta ninguém! O que eu podia fazer? Eu não podia simplesmente deixar todas aquelas pessoas morrerem lá embaixo!

— E o que ele tem haver com isso?!

Grayson gritou, a voz carregada de desespero.

— Que diferença faz?! Não me importo se o mundo inteiro morrer! NADA DISSO IMPORTA!

‘Só o Dane importa. Para mim, o único que tem algum significado é ele. As outras pessoas? Quem são? Por que Dane deveria arriscar a própria vida por elas? Por quê?’

“Não diga essas merdas.”

O rosto de Joshua empalideceu. Os dois se encararam por alguns segundos – Grayson ofegando de raiva, Joshua imóvel, paralisado. Um silêncio gélido se instalou entre eles. E, pouco depois…

De repente, uma leve vibração foi sentida sob seus pés. Instintivamente, Joshua olhou para o chão. O corpo de Grayson oscilou, e em seguida ele perdeu o equilíbrio e caiu de joelhos.

— Hã…

Os dois se olharam ao mesmo tempo, e logo desviaram o olhar na mesma direção: para trás de Grayson, mais acima, em algum ponto do monte de onde tinham descido. E então, no instante seguinte…

BOOOOM!

Um estrondo ensurdecedor sacudiu o lugar inteiro. O ar vibrava com tanta força, fazendo suas cabeças latejarem e seus corpos tremerem.

— AAAAH!

Joshua gritou, jogando-se no chão. O vento era tão forte que quase doía, e a tontura tomou conta dele. O impacto foi tão grande que causou vertigem. Logo em seguida, viram a fumaça branca subindo de algum ponto mais alto da montanha e, lentamente, as fendas gigantescas começaram a se abrir.

— …Dane….!

Grayson murmurou, atônito. Outra explosão ecoou lá de dentro. Chamas intensamente vermelhas saltaram em todas as direções. Logo depois, ele pareceu recuperar os sentidos e gritou com fúria:

— Dane! Daaaaane!

— Para!

Joshua o segurou novamente, tentando impedi-lo de correr desesperado montanha acima. Dessa vez, ele definitivamente não podia deixar. Se Grayson fosse pego pela explosão… ou se fosse atingido por uma pedra rolando lá de cima… seria o fim.

‘Essa é a missão que o Dane me confiou.’

Joshua sabia que precisava cumpri-la, mesmo que precisasse arriscar sua vida. Com todas as forças, ele agarrou a cintura de Grayson e se pendurou nele, ao mesmo tempo, se conectou à equipe pelo relógio de pulso e gritou sem parar:

— Aqui é Joshua, estou com Grayson Miller! Mandem ajuda, qualquer coisa! Um helicóptero, alguém, o que for…!

— Me solta! Solta agora! Dane! Daaaaaane!

Grayson continuou gritando. A montanha ruiu em estrondos. Entre colunas de fumaça negra e branca que subiam sem parar, as chamas ondulavam violentamente.

⟨Meu cachorrinho…⟩

A voz de Dane, que ele ouvira em seus sonhos, ecoou em seus ouvidos como se estivesse ali.

— AAAAAAAAAH…!

Grayson acabou gritando de forma desesperadora. O que veio depois, ele mal conseguia lembrar. Em flashes desconexos, lembrava-se de escavar o solo enlouquecidamente, movendo terra e pedras com as próprias mãos. Não sabia ao certo se havia deixado Joshua para trás ou se estavam juntos – mas lembrava de ver os membros da equipe, indo e voltando sem parar. E ele continuou cavando, removendo pedras, terra, sem parar, sem parar, sem parar.

E então, finalmente, quando encontraram Dane sob os escombros, ensanguentado e inconsciente, Grayson perdeu completamente a razão.

— Dane… Dane…

Chamou seu nome repetidas vezes, mas ele não respondeu. Nem sequer parecia estar respirando. Grayson jamais o vira tão quieto.

‘Por que ele não está olhando para mim? Por que não está sorrindo e me chamando de “bonitinho”? Era isso que ele devia dizer. Por que está em silêncio? Por quê?’

Abraçando o corpo completamente inerte de Dane, Grayson ficou ali, em transe. Foi quando Joshua apareceu de repente e gritou com força:

— Acorda! O Dane ainda não morreu!

Com o grito que parecia um trovão, Grayson piscou e olhou para baixo, encarando Joshua. Ele continuou, rápido:

— O helicóptero está chegando. Vamos levá-lo para o hospital. Então pare com esses pensamentos, entendeu?

— Mas… — Grayson gaguejou: — Ele está perdendo muito sangue… e tá inconsciente…

Em seguida, ele baixou os olhos para o rosto de Dane.

— Nessa altura, ele já devia estar me xingando e me dando um soco, mas… está quieto…

A voz de Grayson tremia, descontrolada. Com o rosto pálido, murmurou: — O que eu faço…? E se o Dane realmente… morrer? O que eu faço?

Joshua o olhou, atônito. Esse era o Grayson Miller que ele conhecia? Não podia acreditar, mas era real. Aquele rosto, aquele corpo – não podia ser outro. Mas Grayson Miller… estava dizendo essas palavras? Sério? Ele parecia…

Foi quando Grayson sussurrou:

— Eu devia morrer também.

Joshua ficou completamente paralisado.

Mas ele sabia. Aquilo não era força de expressão. Grayson estava falando sério. Ele sabia com absoluta certeza: se Dane morresse, o homem não veria mais sentido algum em continuar vivo.

‘Quero morrer junto com ele…’

Foi o que pensou.

E nesse momento, o líder da equipe se aproximou e disse:

— Precisamos transportá-lo imediatamente. Vamos colocá-lo na maca.

— Grayson.

Joshua chamou novamente o nome dele. Observando Grayson ainda completamente fora de si, ele aumentou o tom de voz e continuou:

— Vai ficar tudo bem. O Dane ainda está vivo. Pare de pensar besteira e vamos levá-lo para o hospital. Depois, quando tudo estiver mais calmo, você pensa no que fazer. Agora, o importante é levar o Dane para o hospital o quanto antes.

— …

— Vamos!

Diante da insistência, Grayson finalmente se moveu. Como se só então tivesse recobrado a consciência, correu de repente em direção a equipe médica que já o aguardava. Pouco depois, o helicóptero que levava Dane decolou, e Grayson ficou ali, parado, observando enquanto ele desaparecia ao longe.

— Vai ficar tudo bem.

Joshua deu um leve tapa em seu braço, tentando oferecer algum consolo. Ele mesmo se perguntou, com certa dúvida e cansaço: ‘Por que estou tentando consolar esse cara?’ Então sentiu um misto de dúvida e frustração consigo mesmo. Foi então que, de repente, percebeu que o corpo grande ao seu lado parecia desmoronar.

— Grayson!

Joshua, em pânico, gritou seu nome. Mas Grayson não respondeu. Ele havia desmaiado e caído, completamente inconsciente.

***

Sobre a maca que irrompeu pelos corredores da emergência, havia um homem em estado deplorável, coberto de sangue, quase irreconhecível. Os médicos, sem perder tempo, o transferiram imediatamente para a cama e começaram a conectar os aparelhos com urgência, trocando instruções rapidamente entre si.

— Ele foi atingido por uma explosão. É uma emergência, preparem a sala de cirurgia agora mesmo!

— Como estão os sinais vitais? Vamos começar com os exames mais urgentes!

— A pressão continua caindo. Tragam o sangue, rápido!

— Os ferimentos são muito graves. Precisamos agir imediatamente!

— Qual o nome do paciente? Já temos a identificação?

— Dane Stryker!

No meio da correria e dos gritos, uma das vozes se sobressaiu:

— Ele é bombeiro!

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Continua…