Deseje-me se puder - Capítulo 163

— O que você está querendo dizer?

Dane falou sem pensar muito, mas logo se deu conta. Os tiros e os gritos tinham cessado, e agora tudo ao redor estava estranhamente silencioso. Observando a expressão dele mudar num piscar de olhos, Joshua foi o primeiro a falar.

— Alguns deles fugiram daqui mais cedo.

Diante do olhar confuso de Dane, como se perguntasse “do que você tá falando?”, Joshua repetiu:

— Fugiram. Eles pegaram um carro e foram embora.

Ainda calmo, mas com um tom de impaciência, ele passou a mão pelos cabelos de forma brusca e disse.

— Devem ter escolhido só os principais e caíram fora. Os que ficaram foram deixados para morrer, provavelmente são peças descartáveis…

— Por quê?

Dane o interrompeu antes que ele pudesse terminar. Joshua franziu o cenho e curvou os lábios num meio sorriso amargo.

— Por que você acha?

Como se quisesse devolver a pergunta com outra pergunta, repetiu as palavras de Dane. E foi exatamente nesse momento que uma explosão ensurdecedora sacudiu o chão com violência.

— Ugh!

— Abaixem-se!

Grayson gritou por reflexo, e Dane imediatamente puxou sua cabeça para baixo. Joshua quase caiu com o impacto, mas conseguiu recuperar o equilíbrio. Eles ainda se endireitavam quando Dane sacou a arma de repente.

— O quê…

No momento em que Joshua hesitou, um tiro passou raspando por ele. Ao se virar, viu um homem atrás de si gritando e desmoronando no chão.

— Agora a dívida está paga.

Falando como se não fosse nada demais, Dane enfiou a arma de volta no cós da calça e começou a andar rapidamente. Joshua, sem ter o que dizer, soltou um suspiro longo e foi atrás dele.

— O que foi isso agora? Um terremoto?

Dane não respondeu. Na verdade, os dois estavam pensando na mesma coisa, mas nenhum queria dizer em voz alta, aquela possibilidade era assustadora. Em vez disso, Dane desviou o assunto.

— Melhor torcer para aquele cara ter alguma informação útil.

O homem que havia levado um tiro na barriga estava deitado no chão, arfando de dor. Dane se ajoelhou ao lado dele e se inclinou.

— Para onde foram os outros? Você não foi o único que ficou?

O homem, em vez de responder, apenas olhou de relance para Dane, arfando. Mesmo sabendo que estava morrendo, um sorriso fraco apareceu em seu rosto, deixando Joshua com uma sensação desagradável e arrepiante.

— Fala.

— Aaaargh, AAAAARGH!

Dane apertou com força o ferimento no abdômen, e o homem gritou com uma dor lancinante. Os olhos reviraram, e ele começou a salivar enquanto murmurava:

— Isso é uma guerra santa… uma guerra santa…

— O quê?

Dane franziu a testa, tentando entender. Mas o homem parecia estar em transe, repetindo as mesmas palavras como se estivesse hipnotizado.

— Eliminem os amaldiçoados… enterrem-nos nas profundezas… só Deus pode me…

— Acorda.

Joshua deu um tapa no rosto do homem. Ele piscou algumas vezes, como se tivesse voltado um pouco à consciência, e então olhou para os dois à sua frente, alternando o olhar entre eles.

— “Guerra sagrada”? Que papo é esse? E aquela explosão de antes? Não me diga que vocês estão pretendendo morrer aqui junto com todo mundo?

Diante da pergunta insistente de Dane, o homem deu um sorriso debochado.

— Por que não? Seus idiotas…

Hihihi, o homem riu com um som estranho e murmurou novamente:

— O Senhor está vindo… Todos, curvem suas cabeças. O Senhor nos castigará. Quem deseja a vida eterna, ofereça o sacrifício. O Deus está chegando…

— Todos já fugiram, seu idiota. — Joshua cuspiu insultos sem piedade. — Só sobrou bucha de canhão aqui. Gente idiota como você, entendeu?

Mesmo com aquela dose de realidade friamente jogada na cara, o homem continuou rindo.

— O idiota é você. — Entre respirações curtas, ele continuou: — Somos os guerreiros que protegem a última linha de defesa. Somos os guias que irão arrastar vocês para o inferno. Todos vocês vão arder junto com os demônios, seus defensores do mal.

Com aquelas palavras, Dane e Joshua entenderam.

O que eles estavam tentando fazer ali.

— Eles queriam nos atrasar.

Joshua falou, e Dane assentiu com a cabeça.

— Para que não conseguíssemos fugir.

‘Então aquele barulho de explosão antes era…’

Nesse momento, o som da explosão de antes voltou à mente deles… e, junto com ele, uma única palavra que ambos tentavam evitar pensar.

‘Bomba.’

— Esses filhos da puta querem nos enterrar aqui. — Joshua rangeu os dentes ao murmurar isso. — Devia pelo menos ter dito quantos ainda restam…

— Não devem ser muitos.

Dane murmurou em resposta à fala de Joshua.

— Então eles estão confiando nas bombas…

Isso queria dizer que o que aconteceu até agora era só o começo. Não havia como saber quando seria a próxima explosão. Nem quantas ainda existem.

— Agora eu também, e você.

Dane falou calmamente. Em seguida, olhou para Joshua e sorriu de forma peculiar.

— E você veio aqui por vontade própria.

— Hah.

Como quem queria dizer que, aconteça o que acontecer agora, a responsabilidade não era dele. Joshua soltou um pequeno suspiro, sem acreditar.

— Eu sei que foi minha culpa. Não precisava me lembrar disso.

O tom era irônico, mas Dane apenas deu um sorriso curto, parecendo até satisfeito com a resposta. Logo depois, ele olhou para baixo e murmurou:

— Esse lixo… morreu.

Joshua olhou fixamente para o homem que já não respirava mais.

— Será que foi para o céu como desejava?

— Vai saber.

Dane respondeu com indiferença:

— Uma coisa é certa: se ficarmos enrolando aqui, também vamos acabar indo para algum lugar – seja o céu ou o inferno.

Naquele momento, um sinal sonoro veio do relógio de Joshua. Ele conferiu rapidamente e murmurou:

— Eles chegaram.

Referia-se à “equipe”. Com a voz um pouco mais leve, como se estivesse aliviado, Joshua olhou para Dane, que respondeu meio irritado:

— Demoraram tanto que achei que era fila de espera no DMV (Department of Motor Vehicles).

— Devem ser ex-funcionários de lá mesmo.

Resmungou Joshua, claramente também incomodado com a lentidão. Mas como eles não eram funcionários do DMV, não perderam tempo e logo começaram a se mover.

— Grayson, levanta. Grayson!

Dane gritou, chamando o homem encostado na parede com os olhos fechados. Ele logo abriu os olhos e, ao ver o rosto de Dane, seus lábios se abriram naturalmente:

— Vênu-…

— Chega! Fica quieto. Não é hora para isso – Dane interrompeu com a voz firme, enquanto passava o braço de Grayson por cima do ombro e o ajudava a se levantar.

— Consegue andar sozinho?

— Não

Grayson respondeu descaradamente e se agarrou a Dane, que imediatamente olhou para Joshua:

— Josh, revezamento.

Joshua e Grayson franziram o rosto ao mesmo tempo, claramente incomodados com a situação. Mas Dane já tinha se esquivado debaixo do braço de Grayson, escapando do apoio que dava a ele. Ele segurou o outro braço do homem com uma das mãos e, com a mão livre, apontou para o lado vazio – como se estivesse indicando que Joshua deveria assumir dali e passar a ajudar a carregar Grayson.

— Você estava indo muito bem sozinho, continua assim.

— É, o Josh tem razão

Grayson concordou prontamente. Pela primeira vez, os dois estavam em sintonia, mas Dane não concordou.

— Eu sou bombeiro. Preciso cobrir a retaguarda.

‘Ele está falando sério?’ pensou Joshua, franzindo o cenho.

Mas antes que pudesse questionar, uma nova explosão ecoou. Grayson quase caiu, mas Dane o segurou rápido e o empurrou para Joshua. No susto, Grayson conseguiu se virar habilidosamente e se apoiar na parede. — Tsk.— Dane estalou a língua, irritado. Ouvindo isso, Grayson e Joshua olharam para ele ao mesmo tempo.

‘Ele fez de propósito.’

Mesmo com os dois lançando olhares furiosos, Dane falou como se nada tivesse acontecido:

— Mexam-se. Estão esperando o quê?

— Dane, vamos —  Grayson tentou convencê-lo, mas Dane o cortou:

— Vocês vão primeiro.

O chão tremeu novamente, desta vez, ainda mais forte. Dane gritou, mais alto que antes:

— Um Bombeiro sempre sai por último! Agora, vão!

Com aquele grito, Grayson e Joshua não tiveram escolha a não ser seguir em frente. Enquanto olhava para trás, para ver se Dane os acompanhava, Grayson ouviu Joshua resmungar:

— Ele nem está em serviço agora… que história é essa de bombeiro…

Mas tanto  Joshua quanto Grayson sabiam que Dane era esse tipo de pessoa. O tipo de homem que sempre ficava por último e que estava sempre pronto para arriscar a própria vida… a qualquer momento.

Grayson sentiu um arrepio estranho quando, de repente, um tiro ecoou atrás deles.

— Vão! E não olhem para trás!

Dane gritou, mas claro que Grayson não era do tipo que simplesmente obedeceria a isso. No mesmo instante, ele se virou. Foi então que viu Dane correndo em sua direção com uma expressão feroz, apontando a pistola.

— Se você olhar para trás de novo, eu te mato e transo com o Josh bem aqui nesse chão!

— Mas eu nem olhei para trás! — gritou Joshua, desesperado.

Mas quando Grayson, em puro pânico, disparou à frente dos dois, correndo o mais rápido que podia, Joshua simplesmente ficou sem reação.

— Porra, eu também não quero isso, cacete…!

Joshua gritou mais uma vez, cheio de indignação. Mesmo assim, Grayson não diminuiu a velocidade. Pelo contrário, correu ainda mais rápido, se afastando deles o máximo possível.

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Continua..