Deseje-me se puder - Capítulo 161

Diante do olhar que o encarava como se tivesse sido traído, Dane respondeu de forma ríspida.

— Quem foi mesmo que disse que, se fosse legítima defesa, não teria problema matar?

Tinha sido o próprio Grayson. Ele sabia muito bem disso, por isso ficou momentaneamente sem palavras, mas, depois de um breve silêncio, abriu a boca com um suspiro:

— Se eu assassinar alguém… você vai acabar me odiando.

A voz de Grayson estava carregada de um misto de autodepreciação e resignação, como se dissesse: “Eu já sei como isso termina.” Dane, que caminhava à frente, virou-se com uma expressão franzida.

— E quem foi que disse que matar lixos que sequestram e torturam pessoas é assassinato? — Grayson parou, surpreso com a resposta. Quando ergueu o olhar, Dane acrescentou com seu tom habitual de sarcasmo: — Isso é limpeza urbana. Redução de dióxido de carbono. Um favor para o meio ambiente.

— M-Mas… — Grayson tentou protestar, visivelmente confuso. — Da última vez que eu disse que ia matar aquele cara, você ficou bravo comigo!

Ele tinha se contido até agora por causa disso.

Diante da reclamação, que quase parecia um lamento de injustiça, Dane franziu a testa.

— Fiquei bravo porque você estava falando em matar só para me impressionar. Não foi? Estou errado?

Grayson não teve como rebater. Rapidamente, seus ombros se encolheram, e ele murmurou em concordância:

— …Você está certo.

— Claro que estou.

Dane cuspiu a resposta, virou-se e continuou andando. Antes de dobrar o corredor, encostou-se na parede para observar os arredores. Foi quando Grayson, colando-se rapidamente ao seu lado, perguntou:

— Você já chamou a polícia?

— Por que eu chamaria a polícia? — A resposta veio sem hesitação. Quando Grayson estava prestes a questionar de novo, Dane completou: — Um bombeiro nunca chama a polícia.

Quase todo mundo sabia da rivalidade entre bombeiros e policiais. Dane, sendo bombeiro, preferia atravessar um campo minado sozinho a pedir ajuda à polícia. No fim, Grayson não teve escolha a não ser fechar a boca sem discutir.

Dane então levou o dedo indicador aos lábios, sinalizando silêncio. Assim que Grayson prendeu a respiração, Dane, que estava colado na parede como se esperasse por algo, saltou repentinamente para o corredor.

Assustado, Grayson correu atrás e, assim que o alcançou, ouviu um PAN! alto ecoar. Com um único golpe, Dane derrubou um dos homens armados e lançou um olhar rápido para Grayson, como quem dissesse “Vamos!”. Grayson, tentando conter a excitação para não gritar, sussurrou:

— Você é tão sexy… tão incrível como sempre… é por isso que eu te amo!

Dane, que estava prestes a seguir em frente de novo, cambaleou por um instante. Quando virou-se, incrédulo, deu de cara com o grandalhão sorrindo para ele com os olhos brilhando de admiração. Ele soltou um suspiro resignado e, no momento em que ia se virar de novo…

— Dane!

Grayson gritou de repente. Antes mesmo que ele pudesse entender o que estava acontecendo, os pés de Dane foram erguidos do chão.

‘…O quê?’

Em um instante de confusão, seu corpo foi arremessado no ar. Em seu campo de visão, por um breve momento, surgiu um homem careca e gigantesco.

‘Mas que merda é isso…?’

Dane ainda tentou reagir, mas não teve tempo de fazer nada. Num segundo, seu corpo foi violentamente arremessado contra a parede, com força brutal.

— Dane, Dane!

Grayson correu até ele, pálido como um fantasma. Dane, que estava jogado no chão de forma lamentável, finalmente recobrou os sentidos e levantou a cabeça. “Tum, tum…” Passos pesados e ameaçadores ecoaram, um homem colossal se aproximava. Ele era ainda mais alto que Grayson e seu corpo era quase três vezes mais largo – uma verdadeira muralha humana caminhando em direção a eles.

— Sai da frente.

Dane empurrou Grayson com impaciência e se levantou às pressas, assumindo uma postura de combate. Já havia sido enviado para várias zonas de conflito, mas nunca enfrentou alguém como aquele cara. O homem se aproximava com uma expressão feroz e dentes cerrados. Mesmo sem armas, seu corpo inteiro era uma arma letal. Dane puxou rapidamente a faca militar presa à cintura. Ele tinha uma arma de fogo, mas o barulho poderia atrair os outros – e isso seria um desastre. Precisava derrubar aquele brutamonte só com a faca.

— Dane, cuidado!

Ignorando o grito desesperado de Grayson, ele firmou a empunhadura da faca e partiu para cima do homem. No momento em que o brutamonte estendeu o braço para agarrá-lo, Dane girou o corpo e escalou a parede. Com um impulso certeiro, lançou-se no ar e caiu atrás do inimigo. Assim que tocou o chão, desferiu um golpe rápido com a faca.

Rasga!

O som cortante ecoou quando a lâmina rasgou a carne do homem.

— Grrrgh…!

O homem gritou de dor, com um rugido quase bestial. Dane aterrissou, se abaixou e atacou novamente, mirando o tendão de Aquiles. Mas o gigante puxou o pé no último segundo, e o corte foi superficial.

— Tsk.

Dane estalou a língua e avançou mais uma vez, seus olhos analisavam rapidamente o corpo do oponente, buscando uma brecha. Quando encontrou, ele desferiu outro golpe com precisão. Mas, de repente, o homem arregalou os olhos, injetados de sangue, e cerrou os dentes com força.

— Seu desgraçado…!

O braço gigantesco cortou o ar com brutalidade. — Droga…—Dane percebeu tarde demais o erro e foi atingido em cheio na cabeça.

— DANE!

Grayson gritou, desesperado. O corpo de Dane bateu no chão com violência, quicando uma vez antes de ficar imóvel. O brutamonte avançou com passos pesados, tum, tum, e agarrou Dane antes que ele pudesse se recuperar.

— Urgh… grh…

Com uma das mãos, ele apertava o pescoço de Dane com força brutal. Seus olhos arregalados transmitiam puro ódio, ele parecia pronto a despedaçá-lo ali mesmo, cada músculo do seu corpo estava tenso como um animal prestes a atacar. O rosto transbordava fúria por ter sido ferido.

— Esse verme… vou te matar, vou te matar… matar…!

— Argh…!

Babando de raiva, o homem segurava o pescoço com uma mão e tentava arrancar o braço de Dane com a outra. Nesse instante…

— Hã…?

Um som estranho saiu da boca do gigante, e sua mão afrouxou de repente. Dane, que lutava para se soltar, franziu a testa, desconfiado. Então veio o som:

Crac… crac… crac.

Era o barulho de algo estalando – e então o sangue explodiu em todas as direções.

— Ah…?

O gigante só conseguiu soltar esse último suspiro antes de seus olhos revirarem. Ele caiu para frente, revelando Grayson atrás dele – ensopado de sangue. As costas do homem estavam abertas de forma grotesca. A ferida feita por Dane fora brutalmente dilacerada. Dane então entendeu – Grayson tinha rasgado a ferida com as mãos. Entre as bordas da carne aberta, a coluna vertebral do homem estava exposta, como se Grayson tivesse enfiado as mãos na carne e puxado o osso para fora.

Era inacreditável. Mas o sangue fresco escorrendo pelas mãos de Grayson, pingando no chão, não deixava dúvidas.

— Um cheiro forte e desagradável de sangue pairava no ar.

Dane ficou tão chocado com a cena brutal à sua frente que prendeu a respiração sem perceber. Seus olhos arregalados pousaram no homem que ainda respirava com dificuldade no chão, antes de lentamente erguer o olhar.

Grayson estava parado ali, tingido de vermelho, olhando para eles com um rosto completamente sem expressão.

— Foi legítima defesa.

Foi tudo o que ele disse. Dane não respondeu. Só falou depois de um momento:

— Sim, você está certo.

Dane se apressou em se levantar e deu um leve tapinha no ombro de Grayson, como quem diz “bom trabalho”.

— Vamos logo.

Essa foi toda a resposta de Dane. Ele voltou a correr pelo corredor, e Grayson, que observava em silêncio, deixou seus lábios se entreabrirem devagar.

— Uhum.

Com as bochechas levemente coradas, ele apressou o passo para acompanhá-lo. Naquele momento, ele não sentia dor alguma. Na verdade, seus pés pareciam tão leves que era como se estivesse flutuando.

***

BANG!

Um barulho estrondoso ecoou pelos corredores.

Em uma sala de monitoramento, Emerson – o líder do grupo – assistia em tempo real à cena que acabara de acontecer pelas câmeras de segurança. Ele tremia de raiva, seu corpo inteiro estava tomado por fúria.

— Como se atrevem… Como se atrevem, aqueles desgraçados…!

Ele desferiu um soco violento contra a mesa e manteve o olhar cravado nos monitores. Atrás dele, os homens que assistiam à cena, hesitavam, mas finalmente, alguém tomou coragem para falar:

— E-Ei, Sr. Emerson… O que… o que vamos fazer? O Sam… o Sam foi derrotado… E agora, nós… o que faremos?

— O que faremos?! Impedimos aqueles bastardos, é isso que faremos!

Emerson gritou com violência.

— Peguem as armas agora mesmo! Atirem, acertem eles! Se aqueles dois escaparem daqui, estamos todos ferrados!

— S-Sim! Sim, senhor Emerson! Entendido!

Os homens saíram da sala de controle, empurrando-se uns aos outros de tão apressados. Emerson os observou desaparecer pelo corredor e cerrou os dentes com força, fechando os punhos com tanta raiva que os nós dos dedos ficaram brancos.

‘Ainda não é o fim. Eu ainda tenho uma carta na manga.’

Ele se virou de volta para as câmeras, encarando Dane e Grayson que estavam fugindo.

‘Se tudo der errado… Eu só preciso usar aquilo e acabar com todos eles de uma vez.’

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Continua…