Deseje-me se puder - Capítulo 160

FALTA REVISAR!

‘Além disso…’

Grayson refletiu com indiferença. Não adiantava se esforçar para voltar, já que Dane não estaria lá.

‘Sim. Dane não está mais lá. A casa está vazia, assim como costumava ser antes. E ele não estará lá para me receber de volta.’

‘Então… por que eu deveria fazer todo esse esforço pra voltar?’

Ele inclinou a cabeça para trás e olhou para o teto sujo.

‘No fim das contas, que diferença faz estar lá ou aqui?’

Claro, muita coisa mudaria. Antes de tudo, ele não seria mais espancado e torturado. Ninguém injetaria nada nele nem o queimaria com pontas de cigarro.

Mesmo assim, Grayson não sentia motivação nenhuma para sair dali. Não via razão para se dar ao trabalho de quebrar as algemas, matar todos aqueles idiotas lá fora e voltar para casa. Com um suspiro, deixou o corpo relaxar — até que de repente seus olhos brilharam por um instante.

— Ah…

‘Isso é… o que chamam de depressão?’

A ideia surgiu em sua mente, e ele soltou um leve som de surpresa.

‘Então é isso… isso é estar deprimido. Não querer fazer nada, sentir-se como se estivesse afundando…. como se o corpo estivesse sendo engolido por um buraco de areia sem fim. Então, quer dizer que eu… estou deprimido agora?’

Grayson soltou um suspiro profundo ao chegar a essa conclusão.

‘Eu preferia não saber disso.’

Ele franziu a testa, mas logo soltou um gemido baixo. Até mesmo mover os músculos do rosto para fazer uma expressão era doloroso. Seu rosto estava inchado, machucado, coberto de cortes e hematomas.

— Pff.

Ele cuspiu no chão a saliva misturada com sangue que se acumulava na boca. Foi nesse momento que sentiu uma presença.

‘Quem está aí?’

Grayson começou a lembrar, um por um, dos rostos dos caras que vinham até ele pra espancar, xingar e zombar dele. A imagem do pior deles, um brutamontes, passou pela sua cabeça por um segundo… mas logo descartou. Os passos eram leves, quase não faziam barulho. Se a situação fosse diferente, ele teria pensado que alguém estava tentando se aproximar silenciosamente de propósito.

‘Claro… como se isso fosse acontecer.’

Grayson analisou a situação com frieza. Nesse caso, só podia ser o mais baixo e magrelo do grupo? Mas aquele cara andava de um jeito espalhafatoso. Não fazia sentido que estivesse andando tão discretamente assim.

— Hm…

Ele ficou imerso em pensamento. No fim, só havia uma resposta possível: alguém novo tinha vindo. Grayson franziu a testa novamente, mas a dor o fez relaxar a expressão

‘Espero que não me queimem desta vez…’

Mesmo sequestrando alguém e fazendo esse tipo de coisa, aqueles caras rezavam e falavam de Deus o tempo todo. Era como se quisessem justificar seus atos. ‘Vão se foder, idiotas,’ pensou Grayson.

Infelizmente, sua constituição era a pior possível para momentos como esse. Seus ferimentos cicatrizavam rápido demais. Qualquer outra pessoa já estaria entre a vida e a morte, mas ele ainda estava completamente consciente. Se conseguisse escapar logo e receber tratamento, provavelmente nem ficaria com cicatrizes. Mas o problema é que… ele não tinha a menor vontade de fazer isso.

‘…Está aqui.’

Os passos pararam bem na frente da porta. Por algum motivo, quem estava do lado de fora não abriu imediatamente, ficou ali, parado, como se estivesse observando ao redor. Ou talvez estivesse só tentando assustar o Grayson, fazendo suspense. Só que ele, do lado de dentro, estava entediado, piscando lentamente.

Clack…

A porta se abriu de leve. Não foi como das outras vezes, quando era escancarada com violência. Aquela abertura silenciosa e cuidadosa fez Grayson estranhar. E pouco depois, além da porta ser aberta, apareceu um rosto que ele nunca imaginou que veria ali.

— Hã…

O rosto de Grayson, que até então estava apático, começou a mudar aos poucos.

‘O que é isso? O que está acontecendo?’

‘Eu estou…. sonhando?’

Um homem alto, que cruzou o olhar com o dele – ainda piscando em choque – parou abruptamente. Seus olhos se arregalaram, e então seu rosto se distorceu.

— Grayson, o que….

‘O que diabos aconteceu com você, porque está nesse estado lastimável?’

Dane engoliu essas últimas palavras com dificuldade, mas isso não mudava em nada a cena diante de seus olhos. A imagem normalmente impecável de Grayson havia desaparecido, ele estava coberto de sangue e poeira, com hematomas e cortes por todo o corpo. Sentindo seu coração despedaçado ao ver ele naquele estado lastimável, Dane se aproximou rapidamente – quando, de repente, o rosto de Grayson empalideceu.

Um som metálico e sinistro ecoou pela sala.

— O quê… o que foi isso?

Surpreso, Dane parou bem diante dele. Quando se deu conta de que era o som das algemas se rompendo, Grayson já havia virado o corpo para o lado e coberto o rosto com as duas mãos. Dane piscou, perplexo.

— O que você está fazendo?

Ele perguntou, sem entender nada, mas não houve resposta. ‘Esse idiota…’ Dane começou a ficar irritado.

— Ei! Que diabos você está fazendo? Tá brincando comigo agora?

Depois de ser pressionado com raiva, Grayson finalmente respondeu. Sua voz era baixa, quase um sussurro.

Só depois de ser pressionado, Grayson respondeu – num sussurro quase inaudível, como se estivesse se forçando a falar:

— …Porque eu estou feio.

Dane ficou em silêncio. Um constrangimento estranho pairou entre eles. Sem acreditar no que estava ouvindo, Dane piscou, sem saber o que dizer, e levantou a mão com um rosto incrédulo. O próximo passo, obviamente, seria gritar “seu idiota!” e dar um tapa bem dado na cabeça de Grayson… mas, por algum motivo, ele hesitou.

Grayson continuava escondendo o rosto com as duas mãos, encolhido. Como se estivesse decidido a não mostrar de jeito nenhum o estado deplorável em que se encontrava. Dane o observou em silêncio por um momento, e então se abaixou. Ajoelhando-se com um joelho no chão, ele abaixou a mão que estava prestes a bater no outro e, segurou a parte de trás da cabeça de Grayson. Podia senti-lo tremendo levemente. Inclinando a cabeça para o lado, Dane se aproximou devagar, e então pressionou os lábios suavemente contra o dorso da mão dele que ainda cobria o seu rosto.

…Hein?

Grayson piscou, ainda com o rosto escondido entre as mãos. Aquela sensação inesperada o deixou confuso. O que era aquilo no dorso da sua mão? Aquele calor, aquela respiração quente… seria…?

Com cuidado, ele abriu um pouco os dedos para espiar. E por entre o vão, viu o rosto de Dane que olhou para ele com um leve sorriso.

— Quem foi que disse que você está feio?

A voz dele era inacreditavelmente gentil. Quando Grayson, com os olhos arregalados de surpresa, ficou imóvel, Dane segurou o braço dele. Mesmo sem fazer força, a mão do Alfa foi caindo devagar, como se estivesse sendo puxada. Quando o rosto finalmente ficou exposto, Dane – que esperou até então – olhou fundo em seus olhos e sorriu.

— Você continua lindo.

Grayson ficou de boca aberta, como se não pudesse acreditar. Seus longos cílios tremiam intensamente para cima e para baixo.

Mas não parou aí. Ele fechou os olhos e pressionou os lábios contra os de Grayson. Num toque suave que logo se intensificou – e então uma língua úmida lambeu delicadamente o interior de sua boca. Era, sem dúvida, um beijo. Surpreso, Grayson prendeu a respiração, e Dane voltou a falar:

— Você é realmente lindo, meu menino lindo.

Aos poucos, os olhos de Grayson começaram a brilhar. Só então suas orelhas começaram a se mexer descontroladamente, como se finalmente acreditasse nas palavras de Dane.

‘Ah…’

Ao ver aquilo, Dane pensou subitamente:

‘Que adorável.’

Um sorriso suave surgiu nos lábios dele. Dane nunca tinha sentido uma emoção tão intensa assim por ninguém, em nenhum outro momento da vida. E, ironicamente, era por um homem maior que ele. No instante seguinte, Grayson o puxou em um abraço apertado.

— Dane…!

Mesmo todo machucado e exausto, ele demonstrava uma força inacreditável. Por um momento, Dane sentiu o ar se esvair de seus pulmões e ficou desorientado. Mas não conseguiu empurrá-lo para longe. Grayson o envolveu com toda sua força, repetindo a mesma confissão, uma e outra vez, com a voz carregada de emoção.

— Eu senti tanta, tanta falta de você… Dane, eu senti muito a sua falta. Muito, muito mesmo…

— Eu sei — Dane respondeu, dando alguns tapinhas leves nas costas dele, fez isso com cuidado, com medo de machucá-lo, mas era um receio desnecessário.  Grayson já estava esmagando Dane em seu abraço.

Por um tempo, Dane deixou que continuasse. Sabia que Grayson tinha passado  por muita coisa e pensou que deixá-lo se acalmar um pouco era o melhor a se fazer. Mas não podiam perder tempo demais ali.

— Tudo bem, podemos continuar isso lá fora.

Com cuidado para não machucá-lo mais, Dane afastou Grayson devagar.

— Eu derrubei os caras que estavam fazendo a guarda lá fora, mas não sei quando vão acordar. Precisamos sair daqui logo, já tenho uma rota segura.

— Continuar?

Grayson perguntou de repente, olhando para Dane, que já se adiantava para sair. Percebeu que sem querer tinha plantado esperanças desnecessárias no coração do outro, mas já era tarde. Em vez de responder, apenas puxou Grayson pela mão, e mudou de assunto.

— Por que não tentou fugir? Você podia ter escapado, não podia?

As algemas penduradas nos pulsos de Grayson já não serviam pra nada – balançavam como se fossem meros acessórios. Dane lançou um olhar rápido para elas e perguntou. Grayson hesitou por um momento antes de responder.

— Meu braço está quebrado e eu não consigo controlar minha força… Tive medo de acabar matando alguém tentando escapar. — Ele olhou de canto para Dane e completou: — Não se pode sair por aí matando pessoas, não é?

Imediatamente, a expressão de Dane se distorceu.

— Idiota, isso seria legítima defesa!

Por um momento, Grayson olhou para ele com uma expressão atordoada.

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