Deseje-me se puder - Capítulo 16
— Dane!
— O quê? Você tava aqui?
— Onde diabos você se meteu? Por que demorou tanto?
Assim que viram Dane Stryker, os bombeiros se adiantaram, disparando perguntas. Mas, em vez de responder, ele simplesmente jogou algo no chão.
BOOM.
O barulho pesado ecoou pelo espaço. E, ao verem o que (ou melhor, quem) estava ali caído, todo mundo congelou.
Grayson Miller estava desmaiado no chão.
Seu corpo enorme e pesado estava largado ali como o de um predador abatido. Braços musculosos, físico sólido, uma estrutura muito maior que a da maioria dos caras… Ver aquela criatura monstruosa completamente vulnerável deixou todos com a mente em branco.
— O quêêê? O que é isso?!
— Espera, esse não é o Grayson Miller?! Que porra aconteceu?!
— Dane, pelo amor de Deus, me diz que você não socou ele!
Enquanto a equipe gritava em pânico por diferentes razões, Dane continuou com uma expressão carrancuda e respondeu de forma curta:
— Sei lá. Ele desmaiou do nada. Deve ter anemia.
Anemia?!
Essa era a maior besteira que já tinham ouvido. Como diabos um brutamontes de mais de dois metros e cem quilos ia desmaiar por anemia?! Ninguém engoliu essa, mas o fato inegável era que Grayson estava ali, apagado.
E, claro, todos chegaram à mesma conclusão:
Esse idiota socou o Miller de novo.
Wilkins, com dor de cabeça só de imaginar o rolo que ia dar, soltou um suspiro longo antes de perguntar:
— Você não bateu nele, certo?
— Quem sabe?
Dane respondeu sem um pingo de interesse, e uma veia saltou na têmpora de Wilkins.
— Dane, fala sério! Ele te viu ou não?!
— Quem sabe?
A mesma resposta desleixada. Wilkins estava prestes a perder a paciência quando Ezra entrou na conversa.
— Cara, só explica logo o que aconteceu!
Todos esperaram ansiosos, e Dane, mais uma vez, falou sem pressa:
— Nada demais. Eu estava no depósito transando, aí esse cara abriu a porta, ficou me olhando um tempo e, do nada, desmaiou.
O pessoal automaticamente preencheu a frase na própria cabeça: entre o “ficou olhando” e o “desmaiou”, claramente faltava um “eu soquei ele”. Agora sim fazia sentido.
Eles rapidinho se organizaram e começaram a agir como se tivessem combinado tudo antes. Um deles chegou perto de Dane, colocou o braço no ombro dele e com uma cara séria, disse:
— Você não esteve aqui hoje. Entendeu?
Outro se virou para os demais e gritou:
— Todo mundo concorda, certo? O Dane não veio aqui hoje!
Como se fossem um só, empurraram Dane para longe dali.
— Pronto, agora vaza. Isso nunca aconteceu, beleza? Pegou a ideia?
— O resto a gente resolve. Vá embora logo, caralho!
Dane ficou parado, confuso, sem entender nada. Que merda estava acontecendo? Desde quando esses caras ficavam tão preocupados com Grayson Miller? Eles fizeram uma algazarra quando souberam que iam dividir o quartel com ele! Agora, de repente, estavam todos surtando por isso?
Vendo que Dane não tava nem aí, Ezra perdeu a paciência e gritou:
— O cara tá te procurando, porra! Então some antes que ele te encontre!
Mas isso só deixou o Dane mais curioso. Ele parou e perguntou:
— Me procurando? Por quê?
Wilkins bufou, estressado.
— Porque você apagou ele naquele dia. Ele veio aqui atrás de quem fez isso.
Dane piscou, processando a informação. Seus olhos vacilaram por um instante, o que era raro de acontecer. Ezra aproveitou o momento.
— Miller está tentando descobrir quem bateu nele. Dissemos que ninguém sabe de nada, então finge que não foi você OK? Você não veio aqui, entendeu? Agora vaza, vai!
Com tanta gente empurrando ele porta afora, Dane acabou cedendo. Assim que ele sumiu, os outros começaram a limpar os rastros. Felizmente, todos no bar já estavam bêbados o suficiente pra não notar a bagunça que tinham feito.
(Aliás, eles próprios tinham bebido bastante, mas esse drama todo trouxe a sobriedade na marra.)
— Vamos levar ele daqui. Pergunta para o dono do bar se tem um lugar para ele deitar.
— Deixa comigo!
Ezra saiu correndo atrás do dono do bar, enquanto o resto do time tentava levantar um homem de mais de dois metros e arrastá-lo para longe dali.
Grayson, no entanto, nem dava sinal de que ia acordar. No ar, o cheiro do feromônio dele, que todo mundo conhecia, estava misturado com o de um ômega desconhecido, mas a galera bêbada nem percebeu.
Os bombeiros estavam ocupados demais surtando para notar isso.
***
Quando Grayson abriu os olhos de novo, algumas caras preocupadas estavam olhando para ele. A luz do teto piscava meio embaçada, os sons ao redor pareciam distantes, e seus ouvidos zuniam como se tivessem levado um belo soco. O corpo parecia pesado, afundado no chão.
‘Que porra… que situação é essa?’
Antes mesmo de conseguir juntar os pensamentos, um monte de vozes começaram a disparar ao mesmo tempo.
— Grayson, você está bem?
— Está sentindo alguma coisa estranha? O médico já está vindo, aguente firme.
— O que aconteceu? Você já estava se sentindo mal antes? Será que foi um problema com os feromônios…
Era tanta pergunta que ele nem conseguiu responder. Nem teria como, já que ele mesmo não fazia ideia do que tinha acontecido.
— Calma aí, espera, o médico já vem…
Quando tentou se levantar, os bombeiros se apavoraram e tentaram impedir, mas Grayson ignorou completamente e ficou de pé, sacudindo a poeira da roupa. Enquanto o resto da equipe se entreolhavam, sem saber o que fazer, Wilkins apareceu, parecendo tão perdido quanto todo mundo.
— Miller, que diabos aconteceu? Te achamos desmaiado no corredor e te trouxemos para cá. Você lembra de alguma coisa?
O time inteiro prendeu a respiração. E se ele tivesse visto a cara do Dane? Era melhor que a sorte estivesse do lado deles mais uma vez.
Mas Grayson apenas fez uma cara feia.
— Não lembro.
—…O quê?
Todo mundo ficou meio confuso, mas ainda preocupado. Grayson sentiu os olhares pesando sobre ele e respondeu de novo, dessa vez com um tom irritado:
— Não lembro de nada. Não faço ideia do que aconteceu.
Os bombeiros se olharam de soslaio e ficaram em silêncio. ‘Graças a Deus.’ Enquanto o alívio tomava conta da equipe, Grayson soltou um palavrão.
— Merda.
Ele passou a mão pelos cabelos, claramente frustrado. Ninguém ousou dizer nada. No meio daquele silêncio estranho, ele mordeu o lábio, tentando processar as coisas.
***
Mas que merda aconteceu?
No caminho de volta para casa, Grayson se pegou remoendo tudo com irritação. Por mais que tentasse, não conseguia lembrar de nada. A última coisa que vinha à mente era ele saindo da festa e abrindo a porta do que achava ser o banheiro. E depois? Nada. Ele sabia que tinha visto alguém lá, mas não lembrava do rosto, nem do gênero. Só lembrava de um cheiro fraco de feromônio de ômega. E que a porra do peito dessa pessoa era incrivelmente gostoso.
‘Posso ter tropeçado e batido a cabeça.’
Os bombeiros que estavam esperando Grayson acordar contaram tudo. O vídeo da câmera de segurança mostrava ele abrindo uma porta no corredor e, segundos depois, desabando no chão do nada.
Lá dentro, aparentemente, tinha um casal. Eles saíram, deram uma olhada rápida nele, e logo depois foram embora, de mãos dadas, como se nada tivesse acontecido. Uns instantes depois, o cara voltou sozinho, pegou Grayson nos braços e saiu andando pelo corredor, saindo do alcance da câmera.
Como só os dois estavam lá, dava para imaginar o que estava rolando ali dentro.
Era o mesmo desgraçado.
Grayson tinha certeza. Foi exatamente como da outra vez, no instante em que sentiu o cheiro de feromônio do Ômega, ele apagou. Mesmo truque, mesmo efeito.
O problema era que ele não lembrava de absolutamente nada do que aconteceu entre um ponto e outro. Ele sabia que Ômegas Dominantes podiam causar um choque de feromônios em Alfas Dominantes, a ponto de levar a perda de memória ou até derrubar o cara no chão. Mas cair na mesma armadilha duas vezes?
‘Que merda!’
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Continua…