Deseje-me se puder - Capítulo 154

‘Parece que enlouqueceu.’

Grayson pensou com indiferença.

‘Por que, exatamente, eu deveria fazer isso por ele? Esses caras disseram que garantiriam minha segurança? Acha mesmo que eu vou acreditar numa baboseira dessas? Esses estão tentando me convencer com um papo furado que nem eles mesmos acreditam.’

Ele já tinha visto pessoas arriscarem a vida por amor antes. Seu irmão Chase e o parceiro dele, Joshua, foram assim. Mesmo sabendo que poderiam morrer, aceitaram de bom grado aquele destino.

Ezra era igual. Assim como Joshua e Chase naquela época, ele estava disposto a sacrificar tudo por amor.

‘Mas por que merda eu tenho que arriscar minha vida nisso?’

Grayson franziu a testa, pensativo. A escolha de Ezra até podia ser considerada admirável, mas o problema era que ele estava tentando sacrificar outra pessoa para isso. E a vida que estava sendo arrastada junto nessa história… era a dele.

Se fosse como nos velhos tempos, ele já teria mandado calar a boca com aquela ladainha absurda. Os caras que estavam ali reunidos, incluindo Ezra e o homem que estava em suas mãos – Grayson poderia eliminar todos eles, sem exceção. Os critérios para legítima defesa estavam mais do que justificados. Seria fácil, quase entediante…

Mas…

‘Se o Ezra morrer… o Dane vai ficar triste.’

Essa foi a única coisa que o fez hesitar. Olhar para Ezra, chorando e implorando, não despertou nenhuma emoção nele… mas a ideia de Dane sofrendo o incomodou.

‘Dane sofrendo por causa de outra pessoa que não seja eu? Isso, eu não posso tolerar.’

‘Será que ele me culparia?’

Com esse pensamento, todas as suas opções desapareceram.

‘Se fosse o Dane, o que ele faria nessa situação?’

A resposta era simples. Sem dizer uma palavra, Grayson afrouxou a força da mão. O homem que ele segurava desabou no chão e, ao ser invadido pelo oxigênio de uma vez, começou a se contorcer em agonia.

— Cough, cof— Hrk!

— Joseph!

— Peguem ele!

Os homens que estavam atrás do líder avançaram de uma vez só contra Grayson. Enquanto um deles verificava Joseph, os outros começaram a golpeá-lo com bastões de madeira por todos os lados. Ezra se desesperou e gritou ao ver a cena:

— M-Miller! Miller! Não! Parem com isso! Isso não foi o que vocês prometeram!

— Cala a boca. Pare de chorar feito uma mocinha.

O chefe apenas zombou dele. Ao ver essa reação, Ezra ficou completamente sem cor no rosto.

— Não! Miller! Parem! Eu mandei parar!

Ele tentou intervir, desesperado, mas era inútil. Acabou sendo arremessado de lado como um boneco e só pôde assistir, aterrorizado, enquanto Grayson era espancado impiedosamente. Quando o bastão finalmente quebrou, os agressores passaram a socá-lo e chutá-lo. Mesmo depois que Grayson caiu cambaleando, os ataques continuaram por um bom tempo.

Só depois de extravasarem toda a raiva, os homens, ofegantes, recuaram. Ezra olhou para o corpo de Grayson caído no chão, coberto de sangue, e prendeu a respiração de susto.

— M-Miller! Miller! Acorda!

Ele correu até Grayson e o sacudiu com urgência. Felizmente, ele não estava desmaiado. Grayson soltou um gemido rouco e murmurou um xingamento:

— Merda… como eu odeio sentir dor…

— Miller…!

As lágrimas saltaram de uma vez dos olhos de Ezra. Ele se voltou para o chefe do grupo que havia feito tudo aquilo com Grayson e protestou:

— Você disse que isso não aconteceria! Prometeu que ele estaria seguro! Eu acreditei em vocês! E agora espancam ele desse jeito… vocês…!

— E daí? Vai me processar? Você também está no mesmo barco que a gente. É cúmplice de tudo isso.

O homem falou com um sorriso zombeteiro. No mesmo instante, Ezra congelou no lugar. Grayson, com os olhos semiabertos, piscou lentamente e soltou um suspiro.

‘Idiota… nem isso conseguiu prever.

Os homens começaram a se aproximar novamente para pegar Grayson. Ezra se colocou à frente dele, bloqueando o caminho, e gritou em desespero:

— E-e o dinheiro… o que vai acontecer com o dinheiro?!

Provavelmente era esse o motivo de ele ter se envolvido em tudo aquilo. Grayson, apenas ouvindo em silêncio, escutou a voz do homem responder:

— Já te pagamos, antes.

O rosto sorridente do homem girando levemente a cabeça fez Ezra arregalar os olhos de espanto.

‘Pagaram? Quando?’

Na primeira vez que se encontraram, foi num restaurante familiar, onde conversaram. E o dinheiro que Ezra recebeu naquela ocasião foi…

— Mas… o combinado era vinte mil dólares! Vocês me deram só duzentos!

Ezra gritou com a voz rouca, como se cuspisse sangue, mas o homem apenas caiu na gargalhada.

— Aquilo já foi mais do que suficiente. O que você fez, afinal?

— V-vocês me enganaram…

Ezra tremeu, tomado pela sensação de traição, mas eles apenas o ridicularizaram.

— Ah, é? Então vá em frente e nos denuncie por fraude, vai ver onde você vai parar. Acha mesmo que vai sair ileso?

Em seguida, o homem que parecia ser o líder apontou o queixo em direção a Grayson.

— Quem trouxe esse cara até aqui, quem ajudou a capturar, foi você, não foi? Acha mesmo que não vai ser demitido do trabalho, depois disso?

A visão de Ezra escureceu. ‘Ser demitido? De jeito nenhum.’ Sua casa já estava hipotecada, ele já tinha pegado todo o dinheiro emprestado que era possível. Não havia mais nada para vender, dentro de casa, só restava a cama. Ele já estava praticamente falido. Se fosse despedido do corpo de bombeiros agora… ‘O que será da minha família…?’

— Ezra.Foi nesse momento. Uma voz o chamou

repentinamente, fazendo-o se assustar e se virar. Grayson, deitado no chão, fitava o céu noturno e falou:

— Da uma olhada naquele presente que eu te dei antes… Acho que me enganei sobre o preço.

Ezra piscou, confuso. Com certo atraso, se lembrou do presente de aniversário que Grayson tinha dado para sua filha. Por pensar que era só uma bugiganga barata, ele nem considerou vender aquilo.

— O quê…?

Ele tentou perguntar algo, ainda atordoado, mas não teve chance. Os homens o empurraram para o lado e puxaram Grayson, cobrindo sua cabeça com um capuz preto. Estava claro que era para que ele não soubesse para onde o estavam levando. Amarraram seus pulsos para trás e o empurraram para dentro da caçamba de uma caminhonete. Em seguida, todos se espalharam em vários carros e partiram.

— Miller!

Ezra gritou desesperadamente o nome dele, mas a caminhonete já estava em movimento. O líder do grupo, sentado no banco de trás de um carro, abaixou o vidro e gritou em direção a Ezra, que ainda parecia desnorteado.

— Valeu pelo trabalho! Agora vamos fingir que nunca nos vimos!

Ha ha ha! E com risadas, desapareceram. Ezra não pôde fazer nada além de encarar enquanto os via se afastando.

***

Mais uma vez, o silêncio caiu. Joshua ainda olhava para Dane com desconfiança. Sob aquele olhar pesado, Dane pensou:

‘Acho que nunca me senti tão incompetente assim.’

— Você sabe, não é… Grayson Miller nunca dorme com a mesma pessoa duas vezes. Mesmo se eu quisesse, ele recusaria. Então por que eu iria me meter num incômodo desses?

Nem tudo era mentira. Joshua também sabia que Grayson não repetia parceiros. E também sabia que Dane não era do tipo que insistia em alguém correndo o risco de ser rejeitado.

Na verdade, tudo o que Dane havia dito era verdade – mas, ao mesmo tempo, também era mentira. Por isso, para Joshua, não seria fácil captar o significado oculto por trás das palavras.

Como Dane previra, Joshua franziu a testa, mergulhado em pensamentos. O que ouviu não destoava muito das informações que conhecia, então soava plausível. ‘Acredite, acredite.’ Dane repetiu mentalmente, observando a reação de Joshua.

Ahh, Joshua soltou um suspiro e passou a mão pelos cabelos.

— Recebi uma missão.

— Missão?

‘Então foi por isso que ele veio até aqui? Não era apenas uma visita casual ou algo do tipo…’

Enquanto Dane tentava adivinhar, meio incerto, Joshua respondeu:

— Proteger você.

Dane não reagiu de imediato. A expressão era nova para ele, e por um momento sua mente pareceu travar. Após alguns segundos de silêncio, ele franziu profundamente a testa e perguntou:

— O quê?

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Continua..