Deseje-me se puder - Capítulo 153
Tac tac tac, tac tac tac tac.
O som de batidas no chão continuava sem parar. Dane sacudia uma das pernas em uma velocidade absurda. Sentado na beira da cama, de braços cruzados e com as pernas bem abertas, ele não conseguia encarar diretamente o outro e só movimentava os olhos para os lados, enquanto sacudia a perna. Estava dolorosamente consciente dos olhos verdes fixos em seu rosto, inabaláveis e imóveis.
Enquanto isso, sentado na única cadeira velha do quarto, Joshua Bailey o encarava com um olhar assustador. Ele não sacudia as pernas, nem desviava o olhar. Seus olhos, cravados no rosto de Dane, pareciam prestes a cortá-lo ao meio.
Desde que Joshua entrou no quarto, os dois estavam assim, sem trocar uma palavra. Um encarando, e o outro tentando fugir desesperadamente daquele olhar.
No fim, quem cedeu primeiro foi Dane.
— …Desculpa.
Joshua franziu uma das sobrancelhas ao ouvir o pedido de desculpas que escapou sem mais nem menos. Dane temeu, por um instante, que ele fosse começar a questionar “Desculpa pelo quê?”, mas felizmente, isso não aconteceu.
— O que foi isso tudo?
Ele falou com o rosto carregado de raiva.
— Mandei você sequestrar o Grayson, e você acabou se apaixonando por ele?
Diante da acusação dura e direta, Dane pulou no lugar, negando rapidamente.
— Eu admito que a missão foi um fracasso. Mas dizer que eu me apaixonei já é exagero!
Apesar de negar com seriedade, o rosto de Joshua ainda estava cheio de desconfiança. Não importava o que ele dissesse, Dane já tinha sua resposta pronta. Afinal, qualquer coisa que Joshua imaginasse estaria errada.
— Você transou com a Laura também.
De repente, Joshua lançou algo completamente fora do esperado. Dane, piscando de confusão, franziu o rosto com um segundo de atraso e perguntou:
— Quem?
Joshua apertou os punhos, que estavam soltos sobre suas coxas. Seus olhos verdes escureceram, e ele rosnou entre os dentes:
— A secretária de Chase! No meu casamento!
— Aaah…
Só então Dane se lembrou. Ah, é, isso tinha acontecido. Ele não lembrava se o nome dela era Laura, mas provavelmente sim. Ele encolheu os ombros, defendendo-se:
— Estava morrendo de tédio, precisava de alguma emoção.
Ele disse isso com a mesma despreocupação de sempre, mas logo percebeu o clima e se apressou em acrescentar:
— Não estou dizendo que o seu casamento foi entediante, e sim que o cantor que você contratou era…
— Não fui eu que contratei, foi o Chase.
Joshua interrompeu a tentativa desesperada de explicação. E logo depois, acertou direto no ponto:
— E sejamos sinceros: se aquele cantor fosse o seu tipo, você não teria achado nada entediante, certo? Teria dormido com ele em vez da Laura!
Na verdade, se tratando de Dane, talvez tivesse dormido com os dois. Era totalmente plausível. Joshua sabia disso porque já tinha experimentado em primeira mão a promiscuidade desse homem.
E fez questão de ignorar o fato de que ele mesmo tinha feito parte daquela bagunça.
Claro, Dane também queria cutucar esse ponto, mas o clima não era favorável. No fim das contas, não havia como justificar ter feito algo assim no casamento de outra pessoa.
— É… me desculpe.
Dane coçou a nuca ao se desculpar sem resistência.
— Não achei que você tivesse percebido. Parecia ocupado.
Claro, Joshua tinha percebido por outro motivo. Ele vinha monitorando Dane de perto, com medo de que o homem acabasse se envolvendo com sua irmã, Emma. Mas, para sua surpresa, Dane desapareceu com a secretária do Chase. Só então Joshua suspirou aliviado.
‘Que sorte a Emma ter gostos tão diferentes da maioria das mulheres. Se não fosse por isso, com certeza teria caído nas garras desse sujeito promíscuo.
‘Nunca pensei que eu ficaria aliviado por ela só se atrair por fracotes…’
— Então, o que vai fazer?
Joshua perguntou novamente, e acrescentou em tom frio, como se já soubesse de tudo:
— Você dormiu com o Grayson, não foi? E agora, o que pretende fazer?
— Hm, hrrm…
Como esperado, Joshua conhecia Dane bem demais. Desde o tempo em que estavam no exército, mesmo depois de voltarem à vida civil, os dois tinham andado juntos por um bom tempo – compartilhando uma rotina caótica e promíscua, difícil até de descrever em palavras. Então era natural que Joshua conhecesse seus hábitos melhor que ninguém.
‘Será que ele também acha que eu comi o Grayson…..?’
Dane se perguntou de repente. Joshua sabia que ele era um ômega – não um ômega comum, mas um que, em termos de desejo e apetite sexual, era ainda mais caótico do que um alfa dominante. Foi justamente isso que os aproximou ainda mais na época.
Claro que Joshua não sabia que ele era um ômega dominante…
Naquela época Joshua era heterossexual até a medula e só se interessava por mulheres. Dane, por outro lado, nunca se importou com o gênero – e Joshua já o tinha visto diversas vezes “caçando” alfas atraentes e invertendo os papeis, por assim dizer. Então era bem possível que ele não descartasse a chance de Grayson ter sido o passivo.
Mas no fim, pouco importava quem ficou por cima ou por baixo. O que Joshua queria saber era se eles tinham dormido juntos. Dane, visivelmente desconfortável, desviou os olhos mais uma vez.
— Houve circunstâncias… inevitáveis.
— E o que vai fazer a respeito?
A pergunta era vaga demais, mas, na verdade, resumia tudo. Se Dane pudesse controlar seus ciclos de calor, ele nem teria nascido neste mundo.
— Olha…
Cansado das cobranças, ele respondeu com a voz esgotada:
— Você sabe como eu sou. Eu nunca me envolvo seriamente com ninguém.
— Está dizendo que foi só uma transa? E justo com Grayson Miller?
— Sei que é difícil de acreditar, mas é verdade.
Encarando o rosto de Joshua, que ainda transbordava desconfiança, Dane completou:
— E além disso, não vamos nos ver de novo.
***
O vento frio da noite arranhou seus rostos. Eles ficaram parados, encarando um ao outro em silêncio.
— Urgh, kh, khrrgh…
O homem que Grayson estava estrangulando foi parando de se debater, como se estivesse perdendo a consciência. Quando ele começou a engasgar com a respiração, o homem que apontava a arma para a cabeça de Ezra pressionou o cano contra a têmpora dele, em tom de ameaça.
— Solte ele agora! Isso não é brincadeira, eu vou atirar de verdade!
— N-não, por favor, me deixa viver, Miller… por favor…
Enfim, Ezra começou a chorar. Ao vê-lo tremer de medo, o homem ao seu lado abriu um sorriso satisfeito – era o sorriso de alguém certo de sua vitória. No entanto, a reação de Grayson foi fria. Com o rosto ainda inexpressivo, ele abriu a boca como se estivesse entediado até a morte.
— E o que eu tenho a ver com isso, seu imbecil…?
Num instante, todos congelaram. Ezra permaneceu com o rosto choroso, e os capangas que o cercavam, ameaçando Grayson, ficaram boquiabertos e desconcertados.
Mas era a pura verdade. Ousar ameaçar Grayson Miller? Além disso, ele jamais obedeceria ordens de um cara cuja identidade nem conhecia. Não havia chance. No mundo inteiro, existiam apenas duas pessoas perante as quais Grayson abaixaria a cabeça voluntariamente: seu pai, Ashley Miller, e Dane Stryker. E eles não eram nenhum dos dois.
E agora estavam mandando ele soltar alguém? Grayson contorceu os lábios em um sorriso debochado e zombou do homem à sua frente.
— Atira. Ele não tem nada a ver comigo mesmo.
— Millerrrrr!
Ezra começou a tremer ainda mais e caiu no choro. Um homem crescido chorando daquele jeito, aos prantos, era uma das visões mais patéticas possíveis. Mas Grayson não o zombou, nem teve pena. Na verdade, não sentiu absolutamente nada. Para ele, Ezra era tão relevante quanto uma lixeira tombada e suja no fundo da rua.
Grayson virou o rosto novamente. Olhou para o homem que ainda resistia em sua mão e pensou: ‘Será que eu devia simplesmente quebrar o pescoço dele agora?’
E quando esse pensamento surgiu…
BANG! Um estrondo alto ressoou. Hã? Surpreso pela sensação estranha, Grayson piscou devagar. Sua bochecha começou a arder, e algo escorria por ela. Levou a mão livre até o rosto e limpou o que escorria – era vermelho, vivo. Uma bala havia raspado sua face.
Ao se virar lentamente, Grayson avistou um homem apontando uma arma em sua direção. Ezra, que até pouco tempo estava chorando e se agarrando a ele, agora estava pálido, gritando:
— O-o que você está fazendo?! Pare com isso!
— Saia da frente! Aquele desgraçado está tentando matar meu filho!
Ezra, que tentava intervir, percebendo a determinação inabalável do homem, ficou ainda mais pálido. Alternando o olhar entre Grayson e o homem, ele então gritou para Grayson:
— Grayson, soltae ele! Por favor, agora!
‘Mas que diabos esse idiota está dizendo…?’
Grayson franziu o cenho, irritado. Ezra continuava implorando desesperadamente.
— Por favor… eu não quero ver você se machucar. Eles prometeram, prometeram que não iam te fazer mal. Então, por favor…
E então, com os olhos cheios de lágrimas, ele pediu desculpas:
— Me desculpa… se eu não fizer isso, a Sandra vai morrer. Eu sinto muito, por favor, apenas faça o que eles mandam…
°
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Continua..
Ize
Tô chorando 😭
Duda
O desgraça