Deseje-me se puder - Capítulo 151
—Fuaa…
Grayson emergiu da água, ofegando, e lançou um olhar para o relógio digital ao lado da piscina. 3 minutos e 2 segundos. Ele ficou boiando por um tempo, tentando recuperar o fôlego. Quando estivesse mais calmo, tentaria bater o recorde novamente. Já era a quarta tentativa, e seu tempo estava ficando cada vez menor.
Mas, antes mesmo de recuperar totalmente o fôlego, ele enfiou a cabeça de novo na água. Foi um reflexo involuntário assim que Dane lhe veio à mente. Enquanto prendia a respiração, não conseguia pensar em mais nada. Toda a sua atenção estava concentrada apenas em manter-se vivo. No entanto, infelizmente, até esse método começou a mostrar seus limites.
— Huá…
Com os pulmões queimando de dor, ele voltou à superfície, arfando, e procurou o relógio com os olhos. E descobriu que mal havia se passado um minuto. Ele não teve escolha a não ser admitir a derrota, era hora de parar com os mergulhos.
Saiu da piscina com o corpo exausto, e Alex, que sempre rondava por perto, se aproximou dele. Grayson acariciou suavemente o cão, que arfava alegremente demonstrando carinho, e seguiu até a espreguiçadeira. Como se fosse óbvio, o cachorro o acompanhou e se deitou num ponto onde pudesse ser alcançado pela mão de Grayson. Era um hábito antigo. Sempre que se deitava, Alex se acomodava ali perto, à espera de um carinho na cabeça, pronto para curtir um descanso tranquilo.
Como sempre, ao ser acariciado, o cão fechou os olhos e se encolheu no chão, em paz. Com a idade, Alex passava cada vez mais tempo dormindo. Mesmo assim, sempre que via Grayson, ficava animado e vinha correndo, querendo ficar perto dele.
‘Seria bom se o Dane fosse simples assim…’
A lembrança do dia em que o cão se rendeu por completo a uma latinha de comida e balançou o rabo para Dane o fez rir, sem acreditar. ‘Você comeu a minha Diana…’ Pensar nisso de repente o encheu de uma irritação boba, e ele franziu a testa. Mas ao olhar para o cão, que balançava a cauda lentamente e de olhos fechados, despreocupado, tudo lhe pareceu sem importância.
‘O que será que Dane está fazendo agora…’
Claro que seus pensamentos seguiram naquela direção. Ele já estava cansado de tentar forçar a mente para longe daquele assunto, então simplesmente deixou que as lembranças fluíssem. Àquela hora, Dane provavelmente já teria saído do trabalho. ‘Será que estava no hotel barato tomando uma cerveja ruim?’ Ele costumava cuidar da gata, tomar banho, e depois, beber uma cerveja antes de dormir.
Os momentos em que saíam juntos do trabalho, bebiam cerveja e conversavam até adormecer pareciam um sonho agora. Aliás, Dane havia feito várias promessas… Para onde foi tudo aquilo?
‘Mentiroso… tudo foi uma mentira.’
Grayson xingou Dane mentalmente.
‘Ele já devia estar planejando isso desde o início. Nunca teve intenção de cumprir nada, só me iludiu e enrolou até o último momento para depois fazer isso.’
‘Como você ousa me enganar, logo eu, uma pessoa inocente?’
Como sempre, ele se via como a vítima ingênua e injustiçada.
‘Dei o meu melhor, mas em vez de reconhecer isso, ele se aproveitou e me abandonou. Que tipo horrível de ser humano faria isso? Um filho da puta. Um lixo. Não passo de um… preservativo usado.’
…
‘Será que agora ele está procurando alguém novo para passar a noite?’
‘Provavelmente está se sentindo aliviado por ter escapado de mim…’
De repente, uma sensação na mão o fez parar. Baixou o olhar e viu Alex lambendo seus dedos. Ficou observando o cão por um tempo, depois desviou os olhos para a piscina. Quando voltou o olhar, seus olhos repousaram um pouco mais sobre o cachorro.
— Alex, você acha que Dane iria aparecer no seu funeral?
A voz suave fez Alex levantar a cabeça. Tinha escutado seu nome, então foi um movimento reflexivo – não era como se ele realmente entendesse o que havia sido dito. Grayson o observou em silêncio enquanto o cachorro inclinava levemente a cabeça e piscava lentamente, e então sorriu de leve.
— É, isso não daria certo mesmo…
Se fosse antes, teria feito isso sem pensar duas vezes, apenas para poder ver Dane novamente. Mas agora era diferente. Ele sabia como Dane reagiria se descobrisse. Pelas mesmas razões de quando salvou aquela gata feiosa do fogo, Grayson desistiu da ideia que lhe passou pela cabeça. Mesmo que houvesse pouquíssima chance de Dane descobrir a verdade.
— Você é um bom menino, Alex.
Grayson esfregou de leve o nariz no focinho do cachorro, afagou-lhe a cabeça e se virou para entrar em casa. Alex soltou um leve ganido, mas não o seguiu. Ele havia sido treinado para não entrar na casa.
Em vez disso, Alex ficou parado, observando Grayson desaparecer, e depois virou-se para o próprio abrigo – uma construção feita especialmente para ele por Grayson. Uma construção que, se Dane a visse, certamente resmungaria por ser maior e mais luxuosa do que o lugar onde ele morava. Alex entrou, se jogou em uma cama limpa e bem cuidada, soltou um longo bocejo e, sem saber de nada do que tinha acontecido há pouco, adormeceu confortavelmente como sempre fazia.
***
— Maldito alfa dominante…
Grayson, com o rosto carregado de raiva, xingou alto. Já tinha bebido quase meia garrafa de uísque puro, mas não sentia nem um pingo de embriaguez. Qualquer um já estaria zonzo com essa quantidade, por mais resistente que fosse, mas ele continuava perfeitamente sóbrio. ‘Maldita genética.’ Não adiantava usar drogas nem encher a cara – ele simplesmente não ficava embriagado. Até existiam drogas e bebidas feitas especialmente para pessoas como ele, mas para consegui-las, teria que ir ao laboratório do Steward. E ele com certeza ficaria empolgado, fazendo mil perguntas: por que você precisa disso, para que vai usar, me conta o efeito depois, jamais imaginei que Grayson Miller viria atrás disso, e por aí vai… Um falatório insuportável.
— Porra… isso é uma merda.
Grayson soltou mais um palavrão enquanto servia outra dose. Sabia que era inútil, mas continuava bebendo na esperança de que um dia, talvez, o álcool fizesse efeito. Já fazia muito tempo, mas ouviu dizer que Keith tinha feito o mesmo quando Yeonwoo o deixou. Disseram até que ele estava prestes a se tornar o primeiro alfa dominante a morrer de alcoolismo.
— Se eu morresse… será que o Dane iria ao meu funeral?
Essa ideia parecia muito mais eficaz do que o enterro de Alex.
‘Dane com certeza viria. E se arrependeria. Nunca me esqueceria. Assim como fez com a mãe dele.’
‘A mãe de Dane… aquela maldita mulher.’
Enquanto se divertia imaginando Dane chorando arrependido em seu velório, a raiva começou a borbulhar em sua cabeça.
‘Se ao menos aquela mulher não tivesse morrido daquele jeito… Não, se ao menos ela não tivesse batido em Dane, não tivesse feito tanto mal a ele, talvez ele não tivesse me rejeitado assim.’
Era frustrante o fato de que ela já estava morta. ‘Filha da puta.’ Com mais um xingamento, ele virou o resto do líquido que estava no copo de uma só vez. Estava prestes a se servir de novo quando, de repente, o toque do celular cortou o silêncio.
Ele estava sozinho naquele mesmo lugar onde costumava jantar e beber com Dane, agora enchendo a cara de forma miserável e, por um instante, ficou completamente paralisado.
— Não pode ser…
Com o coração apertado entre expectativa, empolgação e medo, ele checou rapidamente o remetente da ligação… e imediatamente franziu a testa. Encostou o celular na mesa, decepcionado e irritado, encarando a tela por alguns segundos. No fim, suspirou e atendeu.
— Que foi?
A voz do outro lado disse algo. Grayson, que estava servindo mais uísque enquanto escutava calado, de repente parou.
— …O quê?
Ele discretamente colocou a garrafa de uísque sobre o balcão do bar e parou de se mover. Grayson permaneceu em silêncio, enquanto o homem do outro lado da linha continuava a tagarelar desesperadamente. Grayson apenas escutou, sem dizer uma palavra. Quando as palavras aflitas do homem finalmente cessaram, um breve silêncio pairou no ar. Grayson, que tinha revirado inúmeros pensamentos em sua mente, suspirou brevemente antes de falar.
— Entendi. Estou indo agora.
Assim que desligou o telefone, ele se virou e praticamente saiu correndo do bar, atravessando o lugar com passos rápidos. Atrás dele ficou apenas o copo de uísque pela metade, abandonado sobre a mesa.
***
O grito de um homem bêbado ecoou tão perto que parecia vir logo ao lado. Em um hotel barato como aquele, isolamento acústico era algo que nem se podia esperar. Em algum outro canto, um casal fazia sexo, gemidos e o som de corpos se chocando eram audíveis.
Em meio àquele caos sonoro que só dava dor de cabeça, Dane estava estirado sobre a cama, encarando o teto com um olhar vazio. Por sorte, Darling, que não podia ouvir nada, havia se acomodado entre seu braço e a lateral do corpo de Dane, ronronando baixinho. Instintivamente, Dane começou a acariciar o corpo da gata, como de costume.
Já fazia mais de uma semana que ele estava naquele hotel. E realmente, o corpo humano é uma coisa traiçoeira. Ele já tinha ficado ali logo após o incêndio, mas depois de passar três meses na casa de Grayson, ao voltar para esse lugar, mal conseguia acreditar no quão horrível aquilo tudo era. Ficou chocado com o quanto o hotel parecia ainda pior agora.
°
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Continua…
Duda
Eita