Deseje-me se puder - Capítulo 149
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Dane, de repente, sentiu vontade de fumar. Toda vez que lembrava daquele dia, um gosto amargo enchia sua boca, como sempre acontecia.
‘Talvez você estivesse certa.’
Dane pensou.
‘Mas será que precisava me machucar tanto assim?’
Em vez de acender um cigarro, ele levou uma das mãos à boca e ao queixo e começou a esfregar lentamente. De repente, sentiu como se o canto dos olhos estivesse ardendo.
Em tudo, ele percebia que ela não o amava.
Na época em que morava com a mãe, isso o deixava profundamente angustiado. Para uma criança, os pais são o mundo inteiro. Quem poderia entender o sentimento de ser rejeitado pelo próprio mundo?
Mas, no fim, até ele se esquecia da mãe. Depois que o efeito do álcool passava, ela sempre dizia que o amava e o beijava, e Dane, confuso, olhava para ela. Aquela mesma mulher que no dia anterior havia o ferido com palavras cruéis, agora o abraçava com todo o carinho do mundo e sussurrava que ele era seu único tesouro. Qual das duas era a verdadeira?
‘Talvez a que bebia fosse a verdadeira.’
Ele pensava assim, mas no fundo queria acreditar que não era verdade. Por isso, ao invés de tentar descobrir o que a mãe realmente sentia, ele escolheu segui-la, dizendo que também a amava e a abraçando de volta. Mesmo com o coração cheio de insegurança e desconfiança.
— Eu era só uma criança, não tinha outra escolha. Se fugisse de casa àquela altura, no fim ia acabar virando um criminoso ou morando na rua.
Ele falou com indiferença, ainda sentindo falta do cigarro.
— Então fiquei ali, preso naquela casa, sempre tentando descobrir qual era o verdadeiro sentimento da minha mãe.
Grayson não disse nada, apenas esperou que ele continuasse, contendo com dificuldade a vontade de abraçá-lo ali mesmo e gritar que o amava mais do que qualquer um nesse mundo.
***
Quando estava perto de completar 13 anos, Dane Stryker já tinha começado a elaborar um plano de vida bastante maduro para a sua idade. A ideia dele era se casar com a garota com quem estava namorando assim que ambos se formassem no ensino médio, e então saírem da casa dos pais para viverem por conta própria. Essa garota era a primeira namorada de Dane – eles estavam juntos há algum tempo – e também foi com ela que ele deu seu primeiro beijo.
Durante as férias, ele fazia bicos para juntar algum dinheiro. Era uma quantia irrisória para quem queria viver por conta própria, mas, se economizasse até se formar, já seria um bom começo.
‘Talvez o exército também não seja uma má ideia…’
Era o lugar ideal para alguém na situação dele. Tratavam bem, o pagamento não era ruim, e era possível montar uma vida nas residências da base. Claro que precisava conversar com a namorada sobre isso, afinal, a opinião dela era essencial.
‘Mas antes de tudo… dinheiro.’
Com esse pensamento, Dane seguiu direto para uma lanchonete de fast-food, localizada a certa distância do seu bairro, assim que terminou as aulas. Considerando sua idade, arrumar um trabalho como aquele era quase impossível. Mas, como ele havia desistido de focar nos estudos muito cedo, tinha tempo de sobra, então procurou empregos em que pudesse trabalhar depois da escola. O gerente parecia gostar do jeito eficiente com que Dane trabalhava e até prometeu contratá-lo como funcionário fixo depois da formatura. Dane apenas agradeceu com um sorriso, sem levar muito a sério.
⟨Oi, Dane. Bem-vindo de volta.⟩
O gerente o cumprimentou com entusiasmo e, assim que ele vestiu o uniforme, já começou a dar instruções:
⟨Pode trazer o pão para cá, organizar os hambúrgueres… Ah, e a lixeira de trás está cheia. Leva isso também…⟩
Ele executou rapidamente todas as tarefas que foram despejadas sobre ele de uma vez só. O gerente, satisfeito, observou o ritmo com que tudo era feito num piscar de olhos. Mas então, um dos funcionários franziu as sobrancelhas e reclamou:
⟨Pare de sobrecarregar o garoto com trabalho, ele nem parece estar bem de saúde.⟩
⟨O quê? O Dane?⟩
O gerente perguntou, surpreso. A funcionária continuou olhando para Dane com uma expressão séria e respondeu:
⟨Veja só, o rosto dele está mais vermelho do que o normal. Parece que está com febre.⟩
⟨Sério? Ah, isso não pode acontecer! Seria um desastre se ele transmitisse algum vírus!⟩
Vendo o gerente correr em direção a Dane com o rosto pálido de preocupação, a funcionária ficou atônita.
⟨É sério isso? Eu disse que ele parece estar doente e você… sério mesmo…⟩
Ela balançou a cabeça com reprovação, mas logo em seguida chegou um cliente. Forçando um sorriso profissional, ela se apressou até o balcão.
⟨Seja bem-vindo, o que vai querer?⟩
Enquanto isso, o gerente procurou Dane po todos os lados, até que o encontrou nos fundos da loja, do lado de fora, esvaziando o lixo.
⟨Dane! Dane!⟩
Ao ouvir o chamado urgente, Dane olhou para trás, surpreso. O gerente vinha em sua direção com passos apressados e um semblante preocupado, ao se aproximar, ele começou a examinar seu rosto e corpo com atenção, murmurando para si mesmo:
⟨É verdade… Seu rosto está todo vermelho…⟩
⟨O quê?⟩
Dane franziu a testa, sem entender o que ele estava dizendo, quando de repente, o gerente esticou a mão. Assustado, Dane encolheu os ombros, mas o gerente tocou sua testa com a palma da mão, arregalou os olhos e tirou a mão depressa.
⟨M-Mas o quê? Você está com febre! Está fervendo! Você tá bem?⟩
⟨Febre?⟩
Dane piscou os olhos e tentou levar a própria mão à testa, mas se lembrou de que havia acabado de mexer no lixo e parou. O gerente então balançou a mão no ar e disse com o rosto tenso:
⟨Esquece, vá embora por hoje. Só volte quando a febre passar, entendeu?⟩
⟨Mas… eu…⟩
Ele tentou dizer que não estava doente, mas o gerente o interrompeu imediatamente:
⟨’E se você transmitir algum vírus? Podemos ser processados! Vá para casa agora, rápido!⟩
Sob pressão, Dane acabou sendo praticamente expulso da lanchonete. Confuso, olhou para trás, mas a porta foi fechada na sua cara sem hesitação – não havia mais o que fazer.
⟨Mas o que foi isso…?⟩
Irritado, ele tocou a própria testa, estava levemente quente, mas nada anormal. Resmungando, pegou sua bicicleta e começou a pedalar para casa. Enquanto pedalava, o vento fresco batia em seu rosto. Aos poucos, sentiu seu corpo ficar pesado.
‘Será que estou mesmo resfriado…?’
Dane pensou vagamente. Seu corpo pesava cada vez mais, ele so queria chegar logo em casa e descansar. Com dificuldade, foi pedalando até que finalmente o prédio onde morava surgiu em seu campo de visão. Sem perceber, ele soltou um suspiro de alívio.
— Fuuu…
Diferente de sempre, ele nem tomou banho. Do jeito que estava, de roupa e tudo, se jogou no sofá. Por algum motivo, não queria mover nem um dedo.
‘Depois eu levanto e faço isso… Só um cochilo… rapidinho…’
Seus pensamentos se interromperam ali e sem perceber, ele caiu em um sono profundo.
Dane acordou horas depois, porque sentiu uma dor sufocante, como se alguém estivesse apertando seu pescoço.
— Cof… cof… ah…
Ele soltou uma respiração ofegante e dolorosa e conseguiu abrir os olhos com dificuldade. No escuro, viu que alguém estava montado sobre ele. Dane piscou várias vezes, tentando entender quem era, mas não foi fácil reconhecer. Na escuridão, via-se apenas uma silhueta vaga.
Mas, na verdade, ele não precisava ver com os olhos para saber. Só havia uma pessoa que entraria nesse apartamento barato e tentaria estrangular Dane enquanto ele dormia.
‘…Não pode ser.’
Ainda assim, Dane negou internamente.
‘Não pode ser a mamãe, ela não faria isso.’
Automaticamente, lágrimas se formaram em seus olhos. Quis arrancar as mãos que apertavam seu pescoço, mas não conseguia reunir forças. Tentou várias vezes alcançar o braço da mãe, mas seus dedos escorregaram.
Enquanto isso, a força que o estrangulava era imensa. Como se estivesse canalizando toda a energia que lhe restava para tirar o ar do filho. A pressão era tamanha que Dane não conseguia escapar.
Engasgando e arfando, o garoto se debatia embaixo da mãe, que então falou:
⟨Como… como você pôde fazer isso comigo…?⟩
Ela chorava. Sua voz tremia descontroladamente e, logo, gotas frias de lágrimas caíram no rosto de Dane.
⟨Como você pôde se manifestar como ômega? Como… você também…?⟩
Hic… hic…
Ela chorou ainda mais alto, com uma respiração mais ofegante que a de Dane.
⟨Dane, meu bebê… era melhor se você morresse.⟩
Um som agudo, como um assobio, escapou de sua garganta. Ela se inclinou, sussurrando no ouvido do filho, que estava à beira do desmaio:
⟨Vamos morrer juntos.⟩
Essa foi a última coisa que Dane ouviu da mãe.
Quando recobrou a consciência, a manifestação já havia terminado. E a vida da mãe também.
Ele ficou ali, sentado no mesmo sofá onde, instantes antes, estava deitado e sendo estrangulado – e apenas encarou, em silêncio, o corpo sem vida de sua mãe, pendurado na janela, com uma corda no pescoço.
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Continua…
Ize
Deus, que tristeza. Nenhuma criança merece ter pais irresponsáveis. Infelizmente, essa é a maioria
Lee joobim
Mano….. Que traumático deve ter sido pra ele 😢