Deseje-me se puder - Capítulo 148
⟨Dane.⟩
A mãe o chamou com alegria quando o viu correndo até ela e o apertou firmemente em seus braços. Ao notar o rosto sujo de terra do filho, ela franziu levemente as sobrancelhas por um instante, mas logo falou como se não fosse nada.
⟨Se divertiu bastante? Está com fome, não é? Vamos entrar e comer.⟩
Com uma sacola de papel contendo alguns poucos vegetais em uma das mãos e segurando a mão do filho com a outra, ela subiu os degraus do prédio. Dane entrou no apartamento acenando para o amigo que ficou para trás.
A refeição deles, como de costume, era uma sopa rala com alguns vegetais boiando e um pedaço de pão. A mãe de Dane não tinha um emprego fixo, então a renda era precária, e por isso ela vivia economizando cada centavo para conseguir sobreviver. A única sorte era o fato de o filho não ser exigente com comida.
⟨Vamos, coma.⟩
A mãe colocou a sopa quente e o pão na mesa e sentou-se à frente. Dane partiu o pão, molhou-o na sopa e sorriu. Comovida pela doçura do filho, ela riu carinhosamente e acariciou sua cabeça.
⟨Eu te amo, Dane.⟩
⟨Eu também te amo, mamãe.⟩
Os dois sorriram um para o outro, separados apenas pela pequena e velha mesa marcada pelas cicatrizes do tempo.
***
— Minha mãe era uma boa pessoa.
Dane continuou, com uma voz quase sem emoção.
— Mesmo com todas as dificuldades, ela fez o melhor que pôde para me criar. Me dizia que me amava o tempo todo, me enchia de beijos. Quando saía para o trabalho, me abraçava como se fosse me esmagar. Eu passava o dia inteiro esperando por ela, mas tudo bem, porque quando ela voltava, a felicidade compensava a espera. Até hoje penso nisso… ela não foi uma mãe perfeita, mas era boa o suficiente.
Um sorriso amargo se formou no rosto de Dane.
— Se não fosse pela bebida.
***
⟨Aaaaaaaah!⟩
A mãe gritou, jogando tudo que estava em cima da mesa com fúria. Ao vê-la batendo a cabeça contra a parede e gritando, Dane se encolheu num canto e começou a chorar.
⟨M-mamãe, mamãe…⟩
Por mais que a chamasse, ela não voltava a ser a mãe carinhosa de sempre. Em vez disso, encarou-o com olhos injetados de sangue e começou a desferir socos.
⟨Isso é tudo culpa sua! Por sua culpa!⟩
⟨Mamãe, mamãe…⟩
⟨Se não fosse por você… se você nunca tivesse nascido…!⟩
Thump, thump
Os sons altos ecoaram. Dane tentou se proteger, abraçando a cabeça e encolhendo o corpo o máximo possível, mas era impossível escapar da surra que caía sobre ele. As surras continuavam até o amanhecer, até que ela, bêbada, caísse desmaiada no chão. E, na maioria das vezes, Dane também já havia perdido a consciência de tanto apanhar.
Quando o dia começava a clarear em meio à neblina, Dane, que geralmente acordava primeiro, arrastava seu corpo inchado e coberto de hematomas até o quarto, piscando com esforço os olhos que mal se abriam. Puxava um lençol velho e cobria a mãe, depois se aconchegava silenciosamente contra ela. Era só nesse momento que sentia a dor por todo o corpo, mas mesmo assim, fechava os olhos, forçando-se a dormir enquanto esperava que ela acordasse. Porque, quando ela acordava, sempre voltava a ser a mãe que o amava.
⟨Dane…!⟩
Como sempre, ao abrir os olhos, a primeira coisa que ela fez foi verificar se o filho ainda estava em seus braços – e então caiu em prantos.
⟨Me desculpa, me desculpa, Dane… me desculpa.⟩
A mãe o encheu de beijos enquanto pedia perdão repetidamente, depois olhou o rosto de Dane e perguntou:
⟨Você sabe o quanto eu te amo, não sabe?⟩
Dane assentiu com a cabeça. Mesmo querendo chorar de dor, Dane resistiu com todas as forças. Aquele momento em que a mãe o abraçava e dizia que o amava era tão feliz que ele não queria estragá-lo com lágrimas. E, segurando com uma das mãos a lateral do corpo que doía cada vez que respirava, ele a acompanhou até a porta, se despedindo enquanto ela saía para o trabalho. Ele sabia que não poderia sair de casa por um tempo, já estava acostumado, então não pensou muito nisso. Bastava tomar o remédio que ela deixou e dormir. Como de costume, engoliu os comprimidos com água, deitou na cama e fechou os olhos. Aquela rotina, repetida tantas vezes, recomeçava mais uma vez.
***
Grayson estava pálido, encarando Dane, ele não conseguia acreditar no que tinha ouvido. Virou os olhos novamente para o rosto impassível de Dane, mas não havia nenhum traço de mentira ou brincadeira ali.
— …Ela te batia?
Foi a única coisa que conseguiu dizer. Com uma mão esfregando a testa, Grayson não conseguiu continuar a frase, apenas abriu e fechou a boca até finalmente conseguir emitir um som rouco.
— Sua mãe… te batia? Você… ainda era uma criança, nem tinha dez anos…
— Não precisa ficar tão chocado. Era comum onde eu vivia.
Dane respondeu de forma indiferente. O contraste entre a sua frieza e a reação de Grayson o deixou ainda mais atônito. ‘Então era por isso…’ Sua mente turva lembrou-se das perguntas insistentes do passado.
⟨Ashley Miller batia em você?⟩
— P-por quanto tem-… Até quando?
Grayson, inesperadamente gaguejando. ‘Quero matá-la.’ Sentia um impulso como nunca antes. Um desejo incontrolável de encontrar agora mesmo a mulher que feriu Dane e estrangular aquele pescoço. Queria destruí-la.
Seu corpo liberou feromônios carregados de hostilidade. Mas era inútil. Dane falava tudo no passado. O que significava que, provavelmente, ela já…
Ao chegar a essa conclusão, Grayson soltou o punho que mantinha cerrado com força. O cheiro intenso dos feromônios também se dissipou.
Dane o observou com um sentimento estranho e respondeu:
— Até mais ou menos o quarto ano do ensino fundamental. Eu era bem maior que as outras crianças da mesma idade, cresci rápido.
Ele sorriu, como se revivesse a memória.
— Quer dizer, eu já estava na fase de me rebelar.
***
⟨Chega disso agora!⟩
Dane gritou, as veias do seu pescoço saltando. Ele já não aguentava mais. Mais uma vez, sua mãe estava bêbada e descontrolada. E antes mesmo que os hematomas da surra anterior tivessem desaparecido, ele estava sendo puxado pelos cabelos para levar um tapa no rosto.
⟨Filho da puta, seu merda! Se você nunca tivesse nascido, se não fosse por você—!⟩
⟨EU DISSE PRA PARAR!⟩
Dane, com a voz rouca de tanto gritar, empurrou a mãe com força. Talvez por causa da embriaguez, ela cambaleou e recuou alguns passos. O rosto, avermelhado pelo álcool, se congelou numa expressão surpresa. Apesar de completamente fora de si pelo efeito da bebida, ela parecia ter se chocado com o fato de o filho, que sempre foi tão dócil, a ter empurrado daquela forma. Encarando aquele rosto atônito, Dane gritou mais uma vez:
⟨E amanhã de manhã você vai acordar de novo dizendo que me ama, não é?! CHEGA disso, eu também não aguento mais!⟩
Sua voz, então, começou a se misturar com o choro.
⟨Eu também… a gente também… não pode viver como uma família normal? Por que você não pode me amar como os outros pais amam seus filhos? Eu só queria uma vida normal… como todo mundo.⟩
Na escola, os colegas nunca apareciam com marcas de espancamento. Só ele, Dane, carregava todos os dias hematomas roxos e vermelhos espalhados pelo corpo. Até o pai do colega que tinha ido para a prisão não batia no próprio filho.
‘Então por que eu?’
‘Por que só eu?’
⟨Mãe, por favor… me ama…⟩
‘Como os outros pais fazem com seus filhos.’
Foi quando ele implorou, com voz trêmula, que ela começou a rir.
⟨Heh… hehe… HAHAHAHAHA!⟩
A mãe sacudiu os ombros, rindo alto. Dane piscou, confuso com a reação inesperada. Ela murmurou entre risos:
⟨Amor? Quer que eu te ame? Você?⟩
Depois, franzindo as sobrancelhas, ela perguntou:
⟨E por quêêê eu deveria?⟩
Com a fala toda enrolada pela bebedeira, Dane apenas abriu e fechou a boca antes de finalmente responder:
⟨Porque… você é minha mãe…⟩
⟨O quê?⟩
Em seguida, ela soltou uma gargalhada estrondosa. ⟨Ahahaha, ahahahahaha, aahahahahahahaha.⟩ O som agudo do riso parecia capaz de rasgar seus tímpanos. Quando Dane se encolheu, cobrindo um dos ouvidos, ela se curvou de tanto rir, até que finalmente conseguiu parar e perguntou:
⟨Por que eu tenho que te amar?⟩
Estranhamente, pela primeira vez naquela noite, ela parecia ter recobrado a razão, sua voz agora era clara. Dane piscou, confuso, e ela disse, com um sorriso enviesado:
⟨Que piada… Você acha mesmo que pais são obrigados a amar os filhos? Isso não parece um tipo de preconceito? Hihihi, hihihihihi.⟩
Ela sacudiu os ombros, rindo dele. Estava zombando de Dane que apertou os punhos com força, tremendo, e, entre respirações ofegantes, perguntou:
⟨Então… por que você me teve?⟩
Sua visão ficou embaçada. A mãe respondeu com uma voz rouca.
⟨Você… simplesmente nasceu por acidente do destino.⟩
Dane não conseguiu dizer mais nada.
A mãe voltou a beber, gritar, destruir coisas… e então caiu no chão e adormeceu ali mesmo. Ela roncava alto. Dane ficou apenas olhando para ela, em silêncio, diferente das outras vezes, não buscou um lençol, não a cobriu, não se aninhou em seus braços.
“Você simplesmente nasceu por acidente do destino.”
As palavras dela ecoavam sem parar em seus ouvidos. De repente, sua visão ficou completamente branca, como se tudo se apagasse. Em seguida, a imagem voltou a se formar com clareza. Mas aquilo durou pouco, logo seus olhos voltaram a embaçar.
Plic. Ploc.
Gotas de água começaram a cair no chão. Dane ergueu o braço para esfregar os olhos, mas as lágrimas não paravam, continuaram a escorrer sem controle. Hic… hic. Os soluços escaparam entre os dentes cerrados. Ele ficou ali, parado, chorando por muito, muito tempo.
°
°
Continua…
Duda
Vou me matar
Angelperfeito
Nossa… o Grayson queria tanto uma história de amor igual ao dos seus pais e conseguiu
Jujuba
Carlh, eu entendo agora pq o Dane é tão frio, no lugar dele eu também não aceitaria ninguém entrar na minha vida, eu imagino o quanto ele deve ter se sentindo miserável toda vez q o Grayson fala q amava ele, o quanto ele deve ter se sentindo sufocado