Deseje-me se puder - Capítulo 147
Grayson permaneceu com o sorriso congelado no rosto, apenas olhando para Dane. Ao redor, tudo estava silencioso como se a morte tivesse visitado o lugar.
‘…O que aconteceu?’
Grayson pensou, atordoado. Era como se alguém tivesse batido com força em sua cabeça com um objeto pesado. Caso contrário, não faria sentido ele se sentir tão confuso.
‘Certo, foi isso.’
Ele finalmente conseguiu formular um pensamento.
‘Alguém deve ter me batido na cabeça. É por isso que estou ouvindo essas coisas absurdas. Deve ser uma alucinação auditiva. Claro, foi isso. Por que Dane diria algo assim para mim? Ainda temos cinco dias, eu acabei de dizer que o amo, e o Dane também gos…’
‘Acho que gosta de mim.’
De repente, um frio percorreu todo seu corpo, como se tivesse sido atingido por um balde de água gelada. As pontas dos seus dedos formigaram e ele rapidamente abriu e fechou os punhos repetidamente.
— Ah, desculpa.
Grayson forçou um sorriso nos lábios e falou apressado:
— Acho que minha cabeça está uma bagunça. Talvez o feromônio tenha se acumulado? Meus níveis de feromônio são mais altos que a média, então tenho que liberar com frequência. Ah, eu te contei que o meu pai também teve problema na cabeça? Isso é confidencial, mas tudo bem, você é meu parceiro. Meu pai sempre diz que se eu negligenciar meus feromônios posso acabar como ele….
— Grayson.
Dane o interrompeu com um tom cortante. Diante disso, Grayson voltou a ficar paralisado. Dane abaixou lentamente a mão que cobria o rosto e ergueu a cabeça. Seu olhar estava devastado, como nunca antes.
— Você não ouviu errado. Ouviu perfeitamente bem… precisamos parar por aqui.
Era como se seu coração tivesse parado completamente de bater. Grayson agora nem conseguia respirar, apenas encarava Dane.
‘Por quê? Por que Dane esta dizendo isso?’
‘O que foi que deu errado?’
— Eu te amo.
— Eu sei.
Ele confessou seus sentimentos novamente com uma voz trêmula, mas a resposta de Dane saiu com uma facilidade cruel. Seus lábios estavam curvados como se estivesse sorrindo, mas suas sobrancelhas estavam franzidas. Com um sorriso amargo e uma expressão de angústia, Dane murmurou:
— O problema não é você. O errado sou eu.
Grayson ainda não conseguia entender. Ele apenas olhou para Dane, perdido, até que, de repente, se deu conta:
— Ah, entendi.
Piscando os olhos, Grayson começou a falar apressadamente:
— É porque… eu não sou seu tipo, não é? É isso, não é? Certo, eu sou grande demais, cresci demais feito um idiota. E se… e se eu cortar minhas pernas? Se eu cortar até aqui, posso ficar menor. O que acha? Isso resolve? Hein?
— Grayson.
— Não? É o torso que é muito grande? Se eu cortar os braços assim, desse tanto, que tal? Isso! Se eu cortar os braços e as pernas, não fico nem com metade do seu tamanho. Então ficaria tudo bem, certo? Se eu ficar menor que você, se eu—
Quanto mais ele falava, mais Grayson se afundava no desespero. Não importava o quanto ele tentasse, nada mudaria. Não importava o que ele fizesse, mesmo que se ajoelhasse e implorasse, ele não poderia segurar Dane.
‘Porque esse homem… não o ama.’
— E se eu…
Grayson começou a falar, encarando o rosto vazio de Dane, que apenas o olhava em silêncio.
— E se eu fosse pequeno e adorável como o Yeonwoo… se eu fosse assim…
— Não, Grayson. Não é sua culpa. A culpa não é sua.
Dane balançou a cabeça com firmeza. Mesmo vendo a expressão confusa de Grayson, ele teve dificuldade em encontrar as palavras certas para explicar. Até então, ele nunca havia dado explicações a ninguém. Um simples “gosto” ou “não gosto”, uma conclusão direta, e depois virar as costas e ir embora – era assim que tudo terminava. Ele sempre manteve relações baratas e superficiais, justamente para que nunca precisasse encarar algo verdadeiro, algo que envolvesse seu coração.
Mas agora era tarde demais. Grayson Miller era o tipo de homem que, mesmo tendo tantas coisas, ainda assim guardava com carinho uma simples latinha de petisco barato para cachorro. ‘Seria melhor se eu nunca tivesse descoberto’, pensou Dane, ‘mas infelizmente descobri.’
Por causa disso, agora ele precisava terminar. Pôr um fim a esse relacionamento sem futuro.
— O problema sou eu, desde o começo. — Ele murmurou, cheio de autodepreciação. — Você é diferente de mim. Eu… não consigo fazer isso.
Dane repetiu as mesmas palavras, mais uma vez. Para Grayson, que ainda não conseguia entender, ele confessou com um suspiro:
— Eu sou alguém que não consegue amar ninguém.
Dane ergueu o olhar, que até então vagueava pelo chão, e encarou Grayson. Ele ainda sorria, mas havia algo forçado naquele sorriso. Provavelmente, por causa das sobrancelhas franzidas e do olhar tenso. Grayson, reprimindo o nervosismo em seu coração, esperou pela próxima fala dele. Dane passou uma mão pelo rosto, esfregou a boca e o queixo, e então soltou um suspiro.
— Eu não sei. Não sei o que é amor, nem mesmo se isso existe dentro de mim. — Ele voltou a baixar o olhar, e com a mão ainda repousando no queixo, murmurou: — O que eu sinto por você não é amor. É mais parecido com…. pena.
Mesmo assim, isso não importava. O que Dane sentia por ele, fosse o que fosse, Grayson não ligava. Ele só queria que Dane ficasse ao seu lado. Era só isso que desejava, nada além disso – queria dizer isso, mas se conteve em silêncio. Não havia como ele não perceber o que Grayson sentia. E ainda assim, ele sabia que as palavras de Dane não terminavam ali.
‘O que mais ele quer dizer?’
‘Algo que possa me convencer…’
No momento em que Grayson pensou que não poderia existir tal coisa, Dane finalmente falou. Com dificuldade, como se estivesse arrancando algo profundamente enterrado no abismo de sua alma, sua voz saiu baixa:
— Minha mãe era uma ômega.
Diante da revelação inesperada, Grayson ficou momentaneamente atônito. O silêncio caiu novamente entre os dois. E nos olhos vazios de Dane, ele viu um passado doloroso começar a se revelar.
***
⟨Dane, por que você não tem pai?⟩
Ele se deu conta daquilo por volta dos três anos de idade. O apartamento onde morava apenas com a mãe ficava numa favela, onde os vidros das janelas estavam todos quebrados e os tiros podiam ser ouvidos dia e noite.
Já não lembrava mais do nome do garoto com quem brincava, mas tinha na memória o tempo que passavam juntos para aliviar o tédio enquanto sua mãe saía para trabalhar.
Esse garoto, dois anos mais velho que Dane, também vivia apenas com a mãe. A diferença é que seu pai estava preso por vender drogas, mas, ainda assim, existia. Certa vez, ele contou com orgulho que tinha ido visitar o pai na prisão junto com a mãe.
De qualquer forma, aquela pergunta inocente de um colega, fez Dane começar a se questionar. ‘É mesmo… por que eu não tenho pai?’ O amigo, com os olhos brilhando de curiosidade, continuou:
⟨Acho que o seu pai também foi preso.⟩
⟨Será que está na mesma prisão que o seu?⟩
Com a pergunta de Dane, o garoto assentiu com a cabeça. Depois apontou com o dedo para uma casa próxima.
⟨O irmão mais velho daquele cara vende armas. Quando eu crescer, vou ganhar dinheiro e comprar uma pistola também!⟩
⟨Uma arma? Por quê?⟩
⟨Pra tirar meu pai da prisão, ué. Vem comigo!⟩
⟨Legal! A gente salva o meu pai também?⟩
⟨Claro que sim. Toca aqui!⟩
O amigo estendeu a mão suja, coberta de poeira e saliva misturadas. Dane apertou a mão dele sem hesitar. Afinal, a mão de Dane não estava muito diferente da do amigo. Como os adultos faziam, eles apertaram com força as mãos um do outro, selando o pacto, e logo voltaram ao assunto inicial.
⟨Mas você sabe atirar?⟩
Dane perguntou, e o amigo respondeu piscando os olhos:
⟨Tem um buraco onde você põe o dedo. É só colocar assim e puxar *desse* jeito!⟩
O menino mexeu o dedo, simulando puxar um gatilho. Dane o observou com o rosto cheio de admiração.
⟨Uau! Eu também, eu também! Eu também quero comprar uma arma!⟩
⟨Bobo, primeiro tem que juntar dinheiro.⟩
Com a bronca do amigo, Dane fez um biquinho de frustração, chupou o dedo e perguntou:
⟨E você, tem dinheiro?⟩
⟨Tenho.⟩
⟨Onde? Cadê?⟩
⟨Vai aparecer no futuro.⟩
O amigo levantou o queixo com arrogância ao responder.
⟨Quando a gente vira adulto, o dinheiro aparece. Olha, tá vendo o tio Bill ali? Ele senta todo dia naquele canto e só fica bebendo, mas sempre tem os bolsos cheios de dinheiro! Um monte de moedinha assim óóóóóóó!⟩
⟨Uaaaaaaaah!⟩
Com os olhos brilhando, Dane ficou impressionado com a explicação. Com aquele dinheiro, ele poderia comprar dez doces na vendinha da esquina. Como o maior número que Dane conhecia era 10, ele tinha certeza de que isso era o suficiente.
⟨Então, se eu virar adulto também vou poder comprar uma arma?⟩
Com essa pergunta de Dane, o amigo balançou a cabeça com confiança.
⟨Claro, aí a gente invade a prisão juntos!⟩
⟨Legal, muito legal!⟩
Dane gritou animado. Os dois imediatamente fizeram um formato de arma com os dedos e começaram a atirar um no outro.
⟨Bang bang, bang bang!⟩
⟨Baang bang, bang bang!⟩
Enquanto praticavam animadamente, o amigo de repente parou e disse “Ah” e abaixou a mão. Dane, que virou a cabeça em seguida, abriu um sorriso iluminado e gritou:
⟨Mamãe!⟩
°
°
Continua..
Duda
QUE DORR
Lee joobim
Ler esse capítulo foi tortura de tanta dor 💔😭