Deseje-me se puder - Capítulo 146
No meio de uma cristaleira repleta de porcelanas luxuosas, estátuas ornamentais, pratos caríssimos e outros objetos que claramente eram tesouros valiosos, havia um espaço vazio que parecia estranhamente deslocado. Era exatamente o local onde antes ficava a lata de petiscos para cachorro que Dane havia dado a Grayson.
Dane permaneceu parado, com o olhar fixo naquele ponto vazio da cristaleira.
⟨Essa é a primeira vez que você me dá um presente…⟩
Grayson tinha dito isso com a voz levemente trêmula, com o rosto corado, os olhos brilhando enquanto olhava para Dane com emoção.
⟨Nem foi caro. Não precisa agradecer tanto assim.⟩
As próprias palavras de Dane ecoaram em sua mente. E o que aconteceu depois?
Grayson não disse nada. Ou melhor, parecia incapaz de encontrar palavras, abrindo e fechando a boca sem emitir um som. Com aquela latinha minúscula nas mãos grandes, ele olhava para Dane com um rosto cheio de emoção, enquanto suas orelhas davam leves tremores.
⟨Esse foi o primeiro presente que você me deu. Não importa o que me ofereça no lugar, nunca vai ser a mesma coisa. Era o meu tesouro mais precioso…⟩
O rosto de Grayson, que tinha gritado isso indignado, sobrepôs-se à lembrança. Com o rosto ruborizado de forma diferente de antes, ele murmurou:
⟨Minha Diana…⟩
Dane continuou olhando em silêncio para a prateleira vazia. Entre todas as outras prateleiras repletas de obras famosas e luxuosas, aquele espaço vazio parecia patético, ridículo.
Mas, mesmo assim, ele não conseguia desviar o olhar. Ficou ali parado por um bom tempo, imóvel.
Faltavam apenas seis dias.
***
— Peito, peito. Peito, peito.
Grayson cantarolava animado. A investigação do comitê finalmente tinha acabado. Mais eufórico do que nunca, ele seguia para casa. Dane estaria esperando por ele, como sempre. Hoje era um dia especial, então merecia ser comemorado. Por isso mesmo, Grayson havia encomendado um enorme buquê de flores. Já havia pedido para prepararem ingredientes especiais, então o jantar seria magnífico, iriam beber vinho juntos, saborear uma sobremesa… E depois…
— Hehehe.
Um riso escapou involuntariamente. Grayson acelerou o carro, com os ombros tremendo de animação. Quando acordou de manhã, Dane já havia saído para o trabalho, mas os traços da noite anterior ainda estavam bem visíveis na cama, tanto que Grayson enterrou o nariz nos lençóis manchados de sêmen seco e se masturbou duas vezes ali mesmo.
‘É óbvio que… Dane também gosta de mim.’
Ele estava convencido. Por que outro motivo Dane teria feito sexo com ele? Nenhum dos dois estava no cio, não havia nenhum incidente que justificasse aquilo.
‘Bom, ele realmente sequestrou meu tesouro mais precioso…’
Grayson franziu o nariz por um momento, mas logo relaxou a expressão.
‘Mesmo assim, se atirar em mim daquele jeito… não é nada típico do Dane. E ainda dormimos juntos depois! Isso só pode significar uma coisa.’
— Dane também me…!
Seu coração acelerou tanto que ele não conseguiu dizer a última parte da frase. Com ambas as mãos no volante, Grayson respirou fundo.
— Haa… haa…
Seus ombros subiam e desciam quando, de repente, viu seu próprio reflexo no retrovisor. Percebeu que suas orelhas estavam se mexendo sozinhas, ele franziu a testa por reflexo, mas logo ignorou. Não importava se elas estavam se movendo ou não. O importante era o que viria a seguir entre ele e Dane.
‘Faltam apenas seis dias.’
Não, para ser exato, faltavam cinco dias e algumas horas. Afinal, o dia de hoje já estava quase no fim.
Estava na hora de resolver tudo de uma vez. Até o dia anterior, ele ainda estava inquieto, mas agora era diferente. Cheio de esperança, Grayson seguiu em frente com todo o entusiasmo. Queria ver Dane logo, abraçá-lo, beijá-lo e dizer que o amava.
Mesmo que Dane ainda não tivesse tomado uma decisão…
Um pensamento sombrio começou a surgir, mas ele se manteve confiante. Nesse caso, ele o convenceria. Até agora, sempre que Grayson insistia, implorava e pedia, Dane acabava cedendo. Talvez suspirasse, talvez até se irritasse. Mas contanto que ele continuasse ao seu lado…
— Só isso já é suficiente.
Grayson pressionou ainda mais o pé no acelerador. O supercarro rugiu assustadoramente enquanto disparava na estrada.
***
Dane estava sentado no sofá de seu quarto. Com Darling sobre o colo, ele acariciava lentamente o corpo da gata, mas sem fazer nenhum outro movimento, como se estivesse perdido em pensamentos. Ele passou um bom tempo assim, até que, de repente, recobrou a consciência. Ao virar o rosto, viu que o sol já estava se pondo.
— Droga.
Dane estalou a língua brevemente e pegou Darling no colo. Colocou a gata sobre uma das almofadas que ela mais gostava, depois pegou sua caneca vazia e se virou. Estava indo deixá-la na cozinha quando, justo ao segurar a maçaneta da porta, escutou uma batida.
Toc, toc, toc. Toc, toc.
O som ritmado o fez hesitar por um momento, mas logo girou a maçaneta e abriu a porta.
— Oh.
Grayson, com a mão suspensa no ar – aparentemente prestes a bater de novo – parou subitamente. Dane olhou primeiro para a mão erguida e depois fixou os olhos no rosto dele.
— O que foi?
Com a voz indiferente, Dane perguntou. Grayson, então, abriu um sorriso radiante e respondeu:
— Preparei o jantar.
— É mesmo?
Não era nada incomum, então não havia motivo para se surpreender. Sem dizer nada, Dane fechou a porta e caminhou lentamente em direção a copa, como de costume. Já imaginava algo simples, como sempre, mas inesperadamente, Grayson segurou seu braço e o puxou.
— É por aqui.
Dane piscou, confuso, e Grayson, sorrindo, segurou sua mão e o guiou à frente. Seus passos pareciam mais leves que o normal, e Dane não pôde evitar um sorriso.
— O que você está tramando agora?
Ao ouvir a pergunta, Grayson apenas soltou uma risadinha, Dane balançou a cabeça, resignado, e o acompanhou sem resistência. O destino era a sala de jantar do primeiro andar.
— Aqui, entra.
Grayson abriu a porta e, elegantemente, fez um gesto com o braço para indicar a entrada. Dane, curioso, entrou – e então parou abruptamente na entrada.
O que apareceu diante de seus olhos era completamente inesperado. A mesa de jantar estava ainda mais extravagante do que na manhã do seu primeiro dia ali, e seus olhos se arregalaram.
Bem no centro da mesa, havia um bolo de três andares. De um lado, um peru digno de um jantar de Ação de Graças; do outro, uma lagosta colossal exibia sua imponência. Ao redor do peru, havia uma montanha de pratos com carnes variadas – frango preparado de todas as formas possíveis, cordeiro, boi, vitela, porco… tudo preparado de formas diferentes, em porções generosas. Perto da lagosta, frutos do mar: caranguejos gigantes, salmão, peixe-espada grelhado, até sushi. Havia três tipos de salada, e os pães iam desde folhados, fatias de pão de forma, muffins, até baguetes cortadas e dispostas em cestas. E além disso tudo, ensopados, sopas, e incontáveis pratos que ele nunca sequer tinha ouvido falar.
E não era só a mesa. Nas paredes, velas presas a castiçais dourados ardiam com intensidade. Do teto, pendia um imenso lustre que brilhava com esplendor, e pelas paredes havia todo tipo de ornamento e flores.
— O que é… isso…?
Dane murmurou, boquiaberto, completamente atônito. Será que estavam gravando um filme ali? Aquele bule não ia, de repente, começar a cantar e dançar, não é?
Ele sabia que era uma ideia absurda. Mas o que estava diante de seus olhos era ainda mais inacreditável. Enquanto olhava fixamente o bule, esperando qualquer movimento, Grayson surgiu de repente ao seu lado e puxou conversa.
— E aí? Gostou?
— Não, é que…
Dane gaguejou, sem conseguir concluir a frase, e acabou fechando os olhos. Quando os abriu novamente, nada havia mudado. Só então ele aceitou que aquilo era mesmo real.
— O que é tudo isso? Que história é essa, do nada?
Ainda visivelmente confuso, Dane olhou para Grayson, que respondeu com uma voz ainda mais animada que o normal:
— Hoje temos muitas coisas para celebrar!
— O quê, por exemplo?
‘Será que é seu aniversário?’
Quando olhou de relance para o bolo, Dane hesitou por um instante. Foi então que Grayson explicou:
— Finalmente terminei minhas audiências no comitê. Agora estou livre!
Assim que disse isso, Grayson estourou um daqueles foguetes de festa. Com um “pof!”, tiras de papel barato voaram por todos os lados. Dane apenas piscou os olhos, surpreso, e então assentiu com a cabeça.
— Ah, entendi. Claro, parabéns. Deve ter sido um saco mesmo.
— Obrigado.
Quando Grayson respondeu, Dane riu de leve e apontou com o indicador para a mesa:
— Tudo bem que você está feliz, mas não é exagero? Por mais que a gente tente, não vamos conseguir comer tudo isso.
— É óbvio que isso não é tudo.
Grayson falou com toda a confiança do mundo. Dane soltou uma risada resignada e balançou a cabeça, quando de repente Grayson puxou algo de trás das costas. Um forte aroma de flores se espalhou ao redor de Dane, que deu um leve sobressalto. Só então percebeu que Grayson segurava um enorme buquê de flores. Ao notar seu olhar surpreso e confuso, Grayson sorriu e disse:
— Eu queria te dar isso.
Dane pegou o buquê quase sem pensar, ainda piscando, como se tentasse entender o que estava acontecendo. Diante da expressão ainda cheia de dúvidas de Dane, Grayson coçou a bochecha e continuou:
— Hm, então… Você ficou esse tempo todo comigo, certo? Então, é… Digamos que é uma forma de agradecer.
— …o quê?
Dane franziu a testa e o encarou. Grayson sentiu as bochechas esquentarem, mas seguiu falando:
— É que… ontem foi incrível… e… por várias coisas, eu queria te agradecer.
‘Não acha que nós combinamos bastante?’
Essa era a próxima frase que ele havia preparado. E depois disso, pretendia pedir para que continuassem morando juntos. Ou pelo menos pedir para estender o prazo. Ele já tinha todo um discurso pronto para convencer Dane. Tinha tantos argumentos preparados, tantos…
Mas o que saiu da boca de Grayson a seguir foi algo completamente diferente do que havia planejado:
— Eu te amo, Dane.
‘Ah, não era isso.’
Foi o que Grayson pensou, mas não se arrependeu. Pelo contrário, ele ficou espantado por não ter incluído essa frase antes. Uma sensação quente se espalhou em seu peito, trazendo um sorriso aos lábios. Grayson olhou para Dane com um sorriso radiante.
— Dane.
…Dane, o encarava como se o mundo tivesse desabado.
— Dane…?
— Ah.
Quando o chamou pelo nome, ainda com o sorriso nos lábios, Dane soltou um leve som quase ao mesmo tempo. Como se sentisse tontura, ele levou uma das mãos ao rosto e soltou um longo suspiro. Um silêncio constrangedor se instalou entre eles. O calor que até então aquecia o peito de Grayson desapareceu por completo, e um ar gélido começou a se acumular em volta do coração.
— Dane…
— Isso simplesmente não vai funcionar…. Entre nós.
Dane murmurou, ainda com o rosto parcialmente coberto pela mão, depois de finalmente abrir a boca com dificuldade.
— É melhor nós pararmos por aqui.
°
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Continua…
Ize
Que tristeza gente. Nunca foi fácil a história deles, mas sinto que agora a merda vai feder mesmo
Jujuba
Cara deu uma pena do Miller, mesmo o Dane sendo o karma dele, ele também é o karma do Dane, tô com medo do Grayson fazer igual o avô dele fez com a Julieta, quando o Dane for embora
Armyizhan
Nãooooooooooo 😭
Klein
Tá na cara que o dane gosta do Grayson, mas o que seja q tenha acontecido no passado dele o impede de aceitar esse sentimento
Duda
Que dorrr, ai cara, a novel dos pais do Grayson foi tão sofrida também, queria que essa tivesse um pouco menos de complicações kkk