Deseje-me se puder - Capítulo 143

— Uau, hoje também foi insano.

Um dos caras suspirou profundamente enquanto tirava a roupa suja após o trabalho. Como de costume, todos estavam imundos depois de mais uma missão. Com a ideia de tomar logo um banho e ir embora, começaram a tirar a roupa às pressas e correr para o chuveiro, mas Deandre parou de repente e olhou para Dane.

— Dane, hoje você vai tomar banho aqui?

Com essa pergunta, Dane, que estava prestes a tirar a camiseta, congelou. Todos os olhares se voltaram para ele.

— Por quê? Qual é o problema?

— O quê? O que aconteceu com o Dane?

No meio dos colegas desatentos, Deandre explicou:

— É que o Dane andava indo direto para casa sem tomar banho. Mas hoje não? Vai voltar a tomar banho aqui de novo?

A última pergunta foi direcionada diretamente a Dane. Ele soltou lentamente a barra da camiseta que segurava, enquanto os outros balançavam a cabeça e continuavam comentando por conta própria.

— Agora que você falou, é mesmo. Que estanho.

— O Dane sempre foi super cuidadoso com a higiene por causa da gata.

— É a Darling, certo? Ele dizia que ela não podia ingerir as cinzas que ficavam nele.

— Então por que ele parou de tomar banho aqui?

— Não faço ideia. Dane, por que você fez isso?

Com o interesse nada bem-vindo, Dane discretamente fechou a porta do armário. Enfiou a carteira no bolso e já se preparava para sair quando Deandre perguntou de novo:

— O quê? Você vai embora de novo sem tomar banho?

— Não era hoje que você ia tomar banho aqui?

— Dane, onde você vai? Dane!

Outros começaram a se meter também. Dane parou e olhou por cima do ombro. Com todos o encarando, cheios de dúvidas, ele respondeu com a mesma expressão impassível de sempre:

— Não se metam.

Ele se virou e saiu, deixando os outros para trás, confusos. Enquanto isso, apesar da aparência calma, o coração de Dane batia descontroladamente enquanto ele caminhava rápido em direção ao carro.

— Droga… por causa daquele desgraçado.

Ainda havia pequenos hematomas espalhados pelo seu peito. A dor e o desconforto já tinham passado fazia tempo, mas as marcas… aquelas malditas marcas não desapareciam de jeito nenhum. Aquilo estava muito além do que alguém poderia chamar de “sexo casual intenso”. Quem diabos deixaria o peito de alguém naquele estado depois de uma única noite?

Por isso ele estava indo direto para casa sem tomar banho. Felizmente, com uma casa tão grande, tinha vários banheiros disponíveis, então ele conseguia tirar toda a poeira e cinza antes mesmo de ver Darling.

Por um tempo foi assim: indo embora sujo e só se lavando em casa. Mas agora, as marcas estavam sumindo o bastante para que ele conseguisse se virar, caso alguém perguntasse. Estava prestes a voltar à rotina de tomar banho no quartel antes de ir embora, mas Deandre, como de costume, com a sua falta de noção, tinha estragado tudo.

— Haa…

Ele soltou um longo suspiro e balançou a cabeça. Hoje era o dia em que Grayson tinha sido chamado para a comissão, então Dane estava mais tranquilo. Quando as coisas se inverteram facilmente depois que ele explicou a situação, Grayson ficou genuinamente surpreso. Ao ver aquela reação, Dane deu um sorriso de canto e comentou:

〈Isso é o resultado da imagem que venho construindo ao longo do tempo.〉

Imediatamente, Grayson franziu a testa. Com uma expressão que dizia “Mas sua imagem não é nem um pouco de alguém responsável?”, Dane lhe deu a resposta.

⟨Eu nunca faço nada que me cause prejuízo.⟩

Grayson ficou sem reação, mas aquele incidente trouxe algo bom. Quando os colegas souberam que Grayson havia oferecido um lugar temporário para Dane ficar depois que sua casa pegou fogo, eles passaram a admirá-lo novamente. Junto com a promessa de nunca mais fazerem julgamentos precipitados, tornou-se natural aceitarem que os dois passassem a ir e voltar do trabalho juntos. Por causa disso, os rumores de que eram namorados, espalhados pelo próprio Grayson, acabaram sendo tratados como uma simples brincadeira. A restrição das três horas diárias também acabou se tornando algo irrelevante, já que Grayson vinha se mostrando bem comprometido com o combinado. No entanto, as mensagens continuavam sem parar.

Mais uma vez, Dane respondeu com apenas um ponto e, assim que chegou em casa, foi direto para o chuveiro externo, como de costume. O chuveiro instalado ao lado da piscina era feito para se lavar rapidamente antes de nadar, mas Dane o usava para outro fim.

— Hã?

Depois de lavar o corpo cuidadosamente e jogar as roupas sujas no cesto de lavanderia disponível, ele saiu e parou abruptamente. A certa distância, um cachorro estava parado, encarando Dane fixamente.

‘O que é isso…?’

Por um momento, ele ficou confuso, mas então teve um estalo.

— Alex?

Ao ouvir o nome, o cachorro ergueu as orelhas, atento. Exatamente como esperado. Apesar de saber da existência do cão desde que se mudara para lá, essa era a primeira vez que o via pessoalmente, então não lembrou imediatamente.

— Então você é Alex. Oi.

Com um nome que combinava com um cão de guarda, era certo que ele já tinha sido bem feroz no passado. Mas agora, talvez por causa da idade, parecia muito mais calmo. Claro, mesmo assim, ele ainda mostrava os dentes e mantinha distância, claramente desconfiado. Ainda assim, ao ver o cão daquele jeito, Dane se pegou querendo se aproximar.

‘Vamos ver… deve ter alguma coisa por aqui.’

Como ele tinha um cachorro, certamente haveria petiscos ou brinquedos em algum lugar. O problema era: onde, naquela casa enorme, estariam?

Dane entrou depressa. Primeiro, foi procurar Darling e lhe deu um beijo como forma de dizer “estou de volta”. Depois cuidou da comida e da água dela, e saiu de novo.

O destino seguinte foi o quarto de Grayson. Pensou que talvez houvesse algum brinquedo por ali. Mas o cômodo estava tão limpo, sem nem um grão de poeira, e nem sinal de algo parecido havia.

‘Nem um frisbee…’

— Hm… — murmurou, passando a mão no queixo pensativo, até que algo em cima de uma estante no canto chamou sua atenção.

— Oh.

Soltou um som surpreso ao ver, isolada, uma lata empoeirada. Imediatamente se aproximou. Como suspeitava, era uma lata de petiscos para cachorro que ele mesmo tinha dado a Grayson tempos atrás.

‘Será que ele esqueceu de dar?’

De qualquer forma, era perfeito. Pensou que, já que não havia brinquedos, pelo menos daria isso. Jogou a lata para o alto e a pegou de novo, depois saiu assobiando. Felizmente, Alex ainda estava lá, no mesmo lugar.

— Tchutchu, tchutchu, tchutchu…

Fazendo um som com a língua, ele se abaixou um pouco e tentou atrair Alex. O cão, ainda desconfiado, continuava imóvel. Então Dane estendeu a mão, que antes estava escondida atrás das costas, e a balançou suavemente.

Ao ver a lata, Alex se encolheu por reflexo. Dane sorriu de canto com um ar divertido e começou a abrir lentamente a embalagem. No exato momento em que a tampa se soltou com um “clique”, Alex correu em disparada na direção de Dane com uma velocidade impressionante.

***

— Peito, peito. Peito, peito.

Grayson batucava no volante no ritmo da melodia, empolgado enquanto cantava.

— Peeeeeeeeeeito!

Com um tang, ele deu um tapa no volante e, satisfeito, continuou cantarolando alegremente. Apesar de estar voltando de uma sessão no comitê disciplinar, havia apenas uma razão para estar tão animado: era certo que Dane estaria esperando por ele em casa. Assim que chegasse, queria enfiar o rosto em Vênus e receber um pouco de consolo. Afinal, Dane tinha mandado um ponto e isso significava que estava tudo bem. Claro que sim!

— Peeeeeeeeeeito!

Repetindo mais uma vez o refrão, Grayson sorriu ao ver a mansão se aproximando. Com habilidade, fez a curva e estacionou o carro antes de sair com um pulo. Agora Dane provavelmente estaria dentro do quarto com Darling…

— Oh.

A caminho da entrada, ele parou de repente. Inesperadamente, Dane estava do lado de fora, perto da piscina. Se fosse para nadar, estaria de sunga ou bermuda, mas ele estava vestido com seu habitual conjunto de moletom velho e uma camiseta largada, com a gola toda folgada.

Inclinando a cabeça, intrigado, mas feliz, Grayson começou a andar em sua direção. E foi então que viu o cachorro na frente de Dane.

‘Ah, Alex.’

Só então tudo fez sentido. Dane sendo  uma pessoa que ama qualquer tipo de animal, era natural que demonstrasse interesse pelos cachorros. Grayson sorriu e se aproximou com passos leves, pronto para abrir a boca e chamar:

— Dane…

Mas congelou no lugar antes mesmo de terminar a frase.

***

Dane observava com um sorriso suave enquanto o cachorro mais velho devorava os petiscos freneticamente. Apesar da aparência rústica, era fofo vê-lo abanando o rabo por causa da lata de comida. Acariciando sua cabeça com gestos gentis, Dane de repente se lembrou.

‘Só resta uma semana…’

Três meses passaram mais rápido do que imaginava. Com um acontecimento atrás do outro, parecia que o tempo tinha voado. De qualquer forma, agora restavam apenas alguns dias.

Relembrando mentalmente tudo o que havia acontecido, ele voltou a acariciar o cachorro. Estava absorto nos próprios pensamentos quando sentiu a presença de alguém e ao virar a cabeça, viu um rosto familiar a poucos passos de distância.

— Oh…

Estava prestes a perguntar “já chegou?” quando viu Grayson pálido como um fantasma, tremendo dos pés à cabeça. A reação inesperada fez Dane se levantar de súbito.

— O que fo-…

— AAAAAAAAAAAAAAAAH!

Grayson, em pânico, agarrou a própria cabeça com as duas mãos e soltou um grito de puro desespero.

°

°

Continua…