Deseje-me se puder - Capítulo 142
— O que aconteceu aqui?
Wilkins, percebendo o alvoroço, chegou depois correndo. Ele olhou alternadamente para o homem caído no chão e para os paramédicos ao redor, e então Deandre, hesitante, finalmente abriu a boca.
— Ah, bem, é que…
Ele hesitou, sem saber se devia contar exatamente o que viu, quando de repente outro rapaz se adiantou e gritou:
— O Miller bateu nesse homem!
Logo em seguida, mais alguns começaram a se pronunciar um por um, apoiando a acusação.
— É verdade, eu também vi! O Miller deu um chute nele!
— Ele já estava no chão, e mesmo assim o Miller o chutou na cabeça!
— Esse homem é o dono da casa! Eu vi ele sentado ali, olhando pro nada. Por que você acha que ele está nesse estado agora? Foi o Miller que fez isso com ele!
— Não, espera. Ok, tudo bem. Woah, calma aí, pessoal.
Wilkins levantou as duas mãos, tentando acalmar os membros da equipe que gritavam e se exaltavam. Em seguida, ele se virou para Grayson, que ainda estava parado um pouco afastado, com uma expressão vazia, e perguntou:
— Por que você fez isso? O que aconteceu, afinal?
Grayson soltou um suspiro de pura exaustão antes de começar a falar:
— Aquele homem tentou entrar no fogo…
Mas ele nem teve tempo de terminar a frase. Assim que disse aquilo, uma onda de vaias e gritos irrompeu ao redor.
— Ah, claro, aí você quis “ajudar” de novo, né?
— Achei que estava enganado sobre você, mas não. Você continua esse tipo de pessoa!
— Filho da puta maluco! Eu sou um idiota por ter confiado em você!
Diante dos gritos e até socos no ar de alguns dos companheiros, Grayson sentiu um completo desinteresse por tudo aquilo.
— Ah, que saco…
Repetindo exatamente a mesma expressão que Dane costumava dizer o tempo todo, Grayson balançou a cabeça. Ao vê-lo agir assim, os membros da equipe ficaram ainda mais furiosos, começando a berrar como loucos.
— O quê? “Que saco”? Tem um homem quase morto e é isso o que você diz?!
— Desgraçado demente, você é um maluco completo!
— Ter um cara como você no nosso time… isso é uma vergonha, uma humilhação…!
Ignorando os xingamentos que choviam de todos os lados, Grayson apenas se virou e começou a se afastar, andando calmamente. Em meio aos gritos, a voz de Wilkins se destacou, tentando restabelecer a ordem:
— Ei, ei! Chega! Vamos terminar logo o que falta aqui. Querem ficar discutindo para sempre? Organizem tudo e vamos embora. Vamos, movimentem-se! Agora!
Mesmo ainda resmungando, os membros da equipe não tiveram outra escolha a não ser se dispersar e seguir as instruções. Com isso, o barulho aos poucos foi diminuindo.
Grayson pegou uma garrafa de água no caminhão dos bombeiros, arrancou a tampa com força e bebeu em grandes goles. Só depois de esvaziar a garrafa inteira sentiu que finalmente estava voltando a si. Então, ao levantar os olhos para o sol obscurecido pela fumaça, um pensamento surgiu do nada.
‘Ah… Eu quero beijar o Dane.’
***
Depois de finalmente apagar completamente os últimos focos de incêndio e recuperar o foco, Dane começou a enrolar a mangueira e só então olhou ao redor. O cara que sempre rondava por perto não estava em lugar nenhum.
‘Com aquele tamanho, é impossível ele passar despercebido assim.’
Depois de fixar a mangueira no lugar, Dane começou a procurar ao redor, andando com o olhar atento, até que encontrou Deandre e falou com ele.
— Você viu o Grayson?
— Quem?
Sem entender de imediato, Deandre o olhou confuso. Dane repetiu, mais claro:
— Grayson Miller.
— Ah, o Miller? Ah…
O segundo “ah” soou estranho. Quando Dane franziu as sobrancelhas, Deandre hesitou, mas acabou começando a falar, como se não tivesse escolha.
— Aconteceu um incidente. É que… bem…
— Aquele desgraçado é mesmo um lixo.
De repente, outro colega se meteu na conversa, soltando um palavrão. Dane continuava com o cenho franzido, alternando o olhar entre ele e Deandre.
***
Grayson estava sentado no chão, afastado de tudo e de todos, com o olhar fixo na rua. Parecia que já tinha se passado bastante tempo. O incêndio já teria sido completamente apagado?
‘O Dane já deve ter ouvido tudo agora.’
A reação de Dane era previsível. Com certeza ele viria xingando e cheio de raiva. “Merda,” ele murmurou, xingando baixinho, enquanto coçava a nuca de forma nervosa. Foi então que, de repente, viu uma sombra se projetar no canto da sua visão. Grayson levantou a cabeça, hesitante, e piscou. Um homem alto estava parado diante dele, olhando para baixo.
Era Dane.
Por um breve momento, o silêncio carregado de tensão pairou entre os dois. Quando Dane abriu a boca para falar, Grayson já se preparava para o pior. Com certeza ele iria começar a xingar…
— O que aconteceu?
Dane fez a pergunta de forma direta e inesperada.
‘…Hã?’
Grayson pensou que tinha ouvido errado. Talvez Dane tivesse mesmo soltado um palavrão, e sua mente só tivesse transformado aquilo numa pergunta absurda.
Mas não fazia sentido. A prova disso era que Dane não parecia nem um pouco irritado. Com a expressão neutra de sempre, ele apenas o observava de cima, como se realmente quisesse ouvir sua versão. Grayson, ainda olhando para ele atônito, demorou um segundo para responder.
— …Não te contaram?
— Eu perguntei o que aconteceu.
Dane repetiu a pergunta, com o mesmo tom calmo. Não era possível que ele não tivesse escutado. Os colegas com certeza já deviam ter contado tudo nos mínimos detalhes. Provavelmente narraram os acontecimentos como se tivessem visto tudo com seus próprios olhos e sem dúvida, repetiram cada acusação que tinham jogado na cara de Grayson mais cedo.
Era o que deveria ter acontecido.
Mesmo assim, Dane ainda estava ali, parado na frente dele, perguntando o que realmente aconteceu, esperando por uma resposta. Grayson o encarou por um momento antes de, lentamente, começar a falar.
— Aquele homem… de repente tentou entrar no fogo.
— E então?
— Pensei em simplesmente deixar para lá… mas aí me perguntei: o que Dane faria no meu lugar?
Os olhos de Dane tremeram por um instante.
— …Você pensou no que eu faria?
Diante da pergunta calma, Grayson assentiu com a cabeça.
— Achei que, se fosse você, teria impedido aquele homem. Por isso segurei ele pelo ombro e puxei de volta, mas aí ele ficou furioso do nada e veio para cima de mim…
Dane não o apressou, apenas esperou em silêncio. Grayson, observando sua expressão, continuou:
— Ele tentou me acertar, mas aí viu o machado e se jogou para cima. Aquilo era perigoso demais, então chutei ele só para impedir que pegasse.
O desabafo tinha chegado ao fim. Com o fim da voz calma de Grayson, o silêncio voltou a pairar entre os dois. Dane ainda não disse nada – apenas continuou observando. Esperando por alguma reação, Grayson mexeu os lábios, hesitante.
— Eu… Fiz algo errado de novo?
Sua voz não era diferente da de antes. Fria, indiferente, como se nada tivesse acontecido. Mas os olhos de Dane viam, viam que Grayson estava tremendo, mesmo que só um pouco.
As sobrancelhas de Dane se contraíram. Ao mesmo tempo, seus lábios se ergueram devagar. Grayson se desconcertou com aquela expressão. O que era aquilo? Um sorriso? Raiva? Ou ele estava prestes a chorar? Confuso, ele não soube como reagir. Foi então que Dane estendeu a mão e a pousou em sua cabeça, falando com doçura:
— Não. Você fez bem.
A mão que acariciava seus cabelos era absurdamente gentil. Naquele instante, toda a ansiedade e desespero que ocupavam o peito de Grayson desapareceram de uma vez.
— Sério mesmo…?
Sua voz soou surpresa. Dane sorriu e assentiu.
— Claro. Você fez muito bem. Então não se preocupe.
Em seguida, ele moveu a mão da cabeça de Grayson e a estendeu na frente dele.
— Vamos. Precisamos contar a verdade para aqueles idiotas.
Mas Grayson não teve coragem de segurar a mão imediatamente. Alternou o olhar entre a mão e o rosto de Dane, ainda desconfiado:
— …Você acredita em mim?
— EXATAMENTE!
A pergunta foi hesitante, mas Dane respondeu sem nenhuma dúvida. E logo emendou uma justificativa simples:
— O Grayson que eu conheço nunca bateria em alguém sem motivo. Aquele cara deve ter dado algum motivo para você encher ele de porrada.
— Sim!
O rosto de Grayson foi se iluminando aos poucos.
— É isso! Você entende! Eu nunca começo a briga, foi legítima defesa!”!
— Se ele tentou pegar um machado para atacar, claro que foi legítima defesa.
— Não é?
‘O Dane está do meu lado. Ele está dizendo que eu tenho razão!’
Grayson ficou tão animado que suas bochechas se avermelharam. Ao mesmo tempo, suas orelhas começaram a se mexer rápido. Vendo aquilo, Dane riu e estendeu a mão de novo. Só então Grayson segurou sua mão com força e se levantou de uma vez.
— Você disse que se fosse eu no seu lugar teria impedido aquele homem, mas estava errado.
Foi o que Dane disse, enquanto estavam frente a frente. Grayson hesitou e olhou para ele de cima. Dane então completou, como se não fosse nada demais:
— Se fosse eu, ao invés de bater naquele homem, teria chutado o machado para longe. E só depois de conseguir uma testemunha, aí sim eu teria batido nele. Porque se você bate de cara, sem ninguém por perto, acaba nessa enrascada.
Depois disso, ele olhou para Grayson com o rosto cheio de riso.
— Agora só falta você ser chamado perante a comissão disciplinar feito um idiota. Que pena, hein.
O rosto de Dane estava cheio de travessura – como o de uma criança zombando de um colega de classe que acabou de se meter em encrenca. Ao ver essa expressão, Grayson finalmente relaxou e riu também.
— O Nathaniel cuidará do processo. Eu sou só um Miller.
Vendo que Grayson tinha voltado ao seu jeito normal, Dane deu uns tapinhas leves em suas costas e começou a andar. Enquanto o seguia, viu Dane gritar para os colegas:
— Ei, seus bostinhas! Vocês saíram falando merda sem nem saber o que tinha acontecido…
Com os gritos de Dane, os que estavam quase terminando de arrumar as coisas e se preparando para ir embora pararam, confusos. Grayson observou de longe, caminhando devagar, enquanto Dane se aproximava deles e começava a explicar algo.
‘…Hã?’
Algo dentro do seu peito pareceu se agitar. Era como se uma flor quente tivesse começado a florescer ali dentro. uma sensação que se espalhava por todo o seu corpo, deixando sua mente leve, flutuante.
‘É o Dane.’
Grayson, sentindo aquela flor pela primeira vez, deu um nome a ela.
‘Isso é o Dane.’
— Vem cá, Grayson! Esses idiotas querem te pedir desculpa.
Bem nessa hora, Dane olhou para ele e gritou. E uma sensação quente também brotou nas bochechas de Grayson. Com o rosto corado, ele assentiu e correu na direção de Dane, com um sorriso radiante.
°
°
Continua..
Duda
Lindos
Dudis
Perfeitos❤️🩹