Deseje-me se puder - Capítulo 141
‘Lírios-do-vale…?’
Grayson olhou com curiosidade para dentro da caixa e avistou um cartão. Pegou-o e o abriu. A primeira linha escrita por Koy capturou imediatamente sua atenção:
[Para meu querido filho, Grayson.]
Grayson começou a acompanhar lentamente as palavras com os olhos.
[A fragrância é maravilhosa, não é?]
[Ouvi dizer que os perfumistas se esforçam tanto para reproduzir esse aroma, mas no fim, parece que o perfume da natureza é algo que não se consegue imitar.]
[Recebi algumas recomendações de perfumes que dizem ter um cheiro semelhante, mas, para mim, não se pareciam em nada.]
[Por isso, pedi que colocassem flores naturais na caixa.]
[Dizem que os lírios-do-vale são venenosos.]
[É curioso como algo com um cheiro tão bom pode carregar veneno dentro de si.]
[Dizem que a flor simboliza a felicidade que um dia virá. Talvez isso queira dizer que, para alcançar a felicidade, a dor também seja necessária?]
[Aqui na França, os lírios-do-vale simbolizam amor e sorte.]
[Quando ouvi isso, pensei em você.]
[Assim como o significado dessa flor, tenho certeza de que a felicidade também chegará até você.]
[P.S.) Os lírios-do-vale têm um pouco de toxinas, então normalmente é preciso ter cuidado ao manusear, mas me disseram que para alguém com a sua constituição, eles não oferecem perigo. Sinta-se à vontade para aproveitar o aroma.]
A mensagem terminava aí.
Grayson colocou o cartão sobre a mesa e aproximou a caixa do nariz. Fuuu… Inspirou profundamente e o aroma suave e indescritivelmente envolvente preencheu seus pulmões. Era como o perfume dos feromônios de Dane – um cheiro fresco de ervas verdes, com uma doçura sutil escondida por trás.
Grayson afundou o nariz nas flores com prazer e respirou fundo várias vezes.
⟨Que fofo.⟩
De repente, a voz de Dane ecoou em sua mente. E imediatamente, aquele bom humor se tornou desconforto. Ele havia jogado no ar uma frase carregada de significado, e ainda assim, a reação de Dane não foi nem uma coisa nem outra. Ele não ficou bravo, nem pareceu achar absurdo, nem concordou como se fizesse sentido. Claro, Grayson sabia que a última opção era ridícula, mas, de qualquer forma, a reação de Dane foi… inesperada.
‘O que aquilo queria dizer?’
Grayson olhou fixamente para as flores.
Tão puras e delicadas, mas escondendo veneno em seu interior. Um veneno oculto por um perfume tão encantador. E o significado da flor: “a felicidade que um dia virá.”
⟨Talvez agora, você ainda não consiga entender o que eu quero dizer.⟩
O rosto de Ashley voltou à sua mente.
⟨É natural que você queira negar, achar que jamais algo assim aconteceria.⟩
Ele havia falado com firmeza, com plena convicção, sem hesitar nem por um segundo, encarando o próprio filho com olhos inabaláveis.
⟨Mas se você realmente ama Dane, então isso definitivamente vai acontecer. Quando chegar a hora, lembre-se do que eu disse.⟩
E por fim, Ashley completou:
⟨É muito melhor ver a pessoa que você ama viva do que matá-la e seguir seu caminho até a morte.⟩
‘Por que ele disse aquilo?’
Grayson mergulhou fundo nos pensamentos, tentando entender. Para sua surpresa, Ashley até deu dois tapinhas em seu ombro – como se estivesse lhe dizendo para ser forte.
‘O que foi aquilo, afinal…?’
Era tudo simplesmente incompreensível. Grayson, que normalmente aceitava as palavras do pai sem questionar, dessa vez foi diferente.
‘O que ele está dizendo, ficou maluco?’
Grayson achava sinceramente que Ashley Miller estava intoxicado por feromônios. Toda a família já sabia que parte do cérebro dele estava danificada, então essa possibilidade não era de todo absurda.
— Por que diabos eu mataria o Dane? Que absurdo.
Grayson resmungou, irritado, e voltou a cheirar a fragrância das flores. O aroma intenso logo o acalmou.
‘Preciso contar ao Papai. O pai está estranho, seria bom fazer ele passar por um exame no cérebro.’
⟨Se em algum momento sentir que pode machucar a outra pessoa, é melhor deixá-la ir.⟩
— Tch.
Grayson estalou a língua e resolveu parar de pensar naquilo. Era só mais uma besteira inútil de se ouvir. Pegou a caixa e levou para a cama, espalhando as flores sobre o colchão. Cercado pela fragrância dos lírios-do-vale, ele logo caiu num sono tranquilo.
***
— A mangueira! A mangueira está curta! Desenrola mais rápido!
Com os gritos de Dane, Deandre correu rapidamente até o caminhão e puxou a mangueira que ainda estava enrolada ao lado do veículo. Assim que conseguiu mais comprimento, Dane levantou a mangueira e começou a despejar água com força. Vendo isso, Grayson se aproximou apressado.
— Quer que eu faça?
— Sai daí, eu cuido disso. Vá perguntar ao Wilkins se ele tem algo para você fazer.
Mesmo sem desviar os olhos do foco do incêndio, Dane respondeu de forma direta, fazendo com que Grayson não tivesse escolha a não ser se virar. Ao encontrar Wilkins e perguntar, o homem deu uma olhada ao redor e logo apontou para uma direção.
— Ali pode ter ainda alguns focos escondidos. Vá lá verificar, e não esqueça o extintor.
Fazendo o que lhe foi pedido, Grayson prendeu um extintor nas costas e correu na direção indicada. As chamas, que haviam começado logo pela manhã, ainda não mostravam sinais de cessar, mesmo já sendo fim de tarde.
A casa isolada, em uma área remota e de difícil acesso, era habitada por um idoso que vivia sozinho. Ele já havia queimado lixo diversas vezes antes, mas naquele dia, a sorte não estava do seu lado. Uma faísca voou e pegou em uma árvore seca, e num piscar de olhos, o fogo se espalhou violentamente.
Quando os caminhões de bombeiros chegaram, a área já estava completamente tomada pelas chamas. Todos se espalharam em várias direções para jogar água e conter o fogo antes que se alastrasse para a floresta próxima. Felizmente, o esforço deles, somado a um pouco de sorte, estava surtindo efeito. Apesar do tempo que levou, o incêndio finalmente começou a ser controlado.
— Ufa…
Grayson soltou um longo suspiro, passando o antebraço pela testa – mas parou no meio do movimento. Só então percebeu que a manga da roupa estava coberta de fuligem e poeira. E por isso, nem precisava de um espelho para imaginar o estado lamentável em que devia estar o próprio rosto.
‘Ah, merda.’
Grayson soltou um suspiro e um palavrão ao mesmo tempo, resmungando enquanto olhava ao redor. Não havia sinais visíveis de focos de incêndio, mas, seguindo o que Dane lhe ensinou, ele esguichou o conteúdo do extintor por todo lado para evitar qualquer possível reignição.
‘Será que já está bom?’
Depois de verificar o solo encharcado e as árvores completamente queimadas, começou a recuar lentamente, voltando ao ponto de onde veio. Mesmo assim, continuou checando o ambiente ao redor com atenção.
‘Até que eu estou indo bem.’
Um sentimento de orgulho começou a borbulhar em seu peito.
‘Não é grande coisa, certo? Eu sou bom em quase tudo – até como bombeiro.’
Com um sorrisinho e até assoviando baixinho, ele se preparava para correr até Dane, quando de repente cruzou o olhar com um homem mais velho, sentado no chão, que o encarava. Os olhos do homem estavam sem foco, como se estivesse em transe, e isso deixou Grayson intrigado. Em meio a toda aquela confusão, só havia uma pessoa que podia se dar ao luxo de ficar ali, simplesmente sentado, sem fazer nada.
O dono daquela casa. Ou melhor, o antigo dono.
Agora sua casa não existia mais. Restava apenas a estrutura carbonizada, os pilares queimando lentamente. Grayson já tinha estado em cenas de incêndio várias vezes, então aquele tipo de expressão não lhe era estranha. Por isso, virou-se sem pensar muito e estava prestes a ir embora – quando, de relance, viu o homem se levantar cambaleando.
Grayson estava prestes a correr até Dane. Essa teria sido a atitude mais natural. Pelo menos, para o antigo Grayson.
‘…Hã?’
Ele parou e olhou para trás. O homem estava caminhando direto para as chamas ainda ativas. Os outros estavam tão ocupados combatendo o fogo que não perceberam o que estava acontecendo. Apenas Grayson havia notado.
…Ah.
Ele virou o rosto de novo, olhando na direção onde Dane estava. Não havia motivo para hesitar. Estava claro o que aquele homem queria e, sinceramente, não havia razão alguma para impedi-lo.
Mas…
Dessa vez, Grayson hesitou – algo incomum para ele.
‘O que o Dane faria nessa situação…?’
De forma surpreendente, ele pensou algo que nunca havia passado pela sua cabeça antes. E, uma vez feito isso, a próxima ação se tornou óbvia.
— Não faça isso! Pare!
Ele gritou, correndo e agarrando o ombro do homem. Com isso, o homem perdeu o equilíbrio e quase caiu para trás. Quando finalmente se estabilizou e voltou a si, encarou Grayson com pura raiva.
— Seu desgraçado…!
O homem gritou, tentando acertar ele com um soco, que desviou por pouco. A situação era ridícula, ele só estava tentando impedir o suicídio daquele idoso, e, em troca, estava sendo atacado.
E não parou por aí. O homem, com os olhos injetados de sangue, começou a socar o ar com força e a berrar:
— Seu merdinha! Você estava rindo, não é? Estava achando engraçado? Hein? Minha casa, tudo que eu tinha está queimando, e você acha engraçado? Filho da puta, morra! Vai morrer…!
Gritando feito um louco, ele partiu para cima. Grayson se arrependeu de ter interferido – mas já era tarde. Os outros estavam tão ocupados apagando o incêndio que ninguém percebeu o que estava acontecendo.
Foi nesse exato momento que o homem avistou um machado deixado ao lado do caminhão de bombeiros. Quando o viu estender a mão para pegá-lo, Grayson agiu por puro reflexo e acertou um chute no abdômen do homem.
— Urgh!
O homem caiu no chão com um grito. Grayson correu até ele antes que pudesse se levantar e dessa vez o acertou com um chute na cabeça. Enquanto o homem cuspia sangue, Grayson agarrou-o pela gola da camisa, tentando arrastá-lo para longe dali.
— MILLER! — Deandre gritou, pálido de susto.
Rapidamente ele correu até Grayson e tomou o homem de suas mãos, deitando-o no chão com cuidado.
— Ei! Acorda! Está ouvindo? Alguém me ajuda aqui!
Os outros finalmente perceberam a confusão e correram até lá, assustados.
— O que está acontecendo? O que houve?
— Tem um homem ferido aqui! Rápido!
— Tragam algo para estancar o sangue!
— Precisamos de uma maca! Depressa! É por aqui!
Enquanto os paramédicos se apressavam, Grayson apenas ficou parado, atordoado, sem entender bem como tudo tinha saído do controle.
°
°
Continua…
Duda
Ah meu deus
Choryti
O Grayson ta na razão, o cara quase pegou um MACHADO pra machucar ele, mas o Grayson deveria ter só desmaiado o cara
Kay
Ainda vai sair como errado que ver