Deseje-me se puder - Capítulo 140
Com o grito repentino, Grayson levou um baita susto. Mas aquilo não foi o fim.
— Sai da frente!
Dane não se deu ao trabalho de explicar nada. Simplesmente se levantou imediatamente e saiu correndo.
— Dane!
Grayson, atordoado, correu atrás dele sem pensar. Dane cruzou o corredor numa velocidade assustadora e, ao se deparar com a escada, se lançou nela sem hesitação.
— Dane, é perigoso!
Grayson gritou, pálido de preocupação, mas foi em vão. Dane pulou direto para o patamar seguinte com um único salto, deu algumas passadas largas e pulou mais uma vez para o próximo lance de degraus. Os olhos de Grayson se arregalaram. Já tinha visto algo assim antes – num documentário sobre a natureza, quando um leão faminto avistou um filhote de gazela separado do rebanho. Era exatamente assim que ele corria.
Sem perder tempo, descendo degrau por degrau, Dane pulou direto de um degrau para o outro até alcançar o saguão em questão de segundos. Quando finalmente pisou no chão do primeiro andar, quase perdeu o equilíbrio e cambaleou por um instante, mas logo se estabilizou. E então, deixando Grayson para trás – que mal havia descido metade da escada –, ele disparou na direção da porta de entrada.
— Espere aí! Ashley Miller! Senhor Miller!
Escancarando a porta com tudo, ele gritou. Ashley, que estava prestes a entrar no carro, se virou surpreso. Seus olhos foram se arregalando ao ver Dane Stryker ofegante, parado na entrada.
— O que…
Ashley levantou a mão para impedir que o segurança o abordasse e ficou encarando Dane. Esperou calmamente enquanto Dane descia os degraus da entrada e se posicionava à sua frente, mantendo os olhos fixos no Ômega, como se dissesse “o que você tem a dizer?”.
— Diga ao chefe… quer dizer, ao comissário… para nos liberar do trabalho voluntariado.
Diante do pedido de Dane, Ashley franziu a testa e abriu a boca. Mas antes que pudesse falar, Dane continuou:
— E esqueça o que o Grayson pediu antes.
A expressão de Ashley se suavizou lentamente. Seus olhos permaneceram fixos em Dane, e então seus lábios se curvaram levemente num sorriso enigmático. Com um tom carregado de ironia, Ashley Miller disse:
— Por que eu escutaria você e não meu próprio filho?
— Porque o Grayson está errado.
Dane respondeu sem hesitar. Quantas pessoas teriam a coragem de dizer, diante do pai, que seu filho estava errado? E ainda mais para Ashley Miller, considerado por muitos como equivalente ao presidente.
‘Olha só isso.’
Ashley passou a mão lentamente pelo queixo, observando Dane com atenção. Nesse instante, Grayson finalmente apareceu. Seguindo o olhar de Ashley, Dane virou o rosto e viu Grayson parado nos degraus da entrada.
— Grayson, diga você mesmo.
— Hã?
‘O Dane… chamou meu nome!’
Grayson arregalou os olhos em choque. Ele tinha dito “Grayson”, e não “Miller”. Aquilo era inacreditável. Piscando em estado de choque, Grayson ficou paralisado por um instante, até que Dane lhe lançou um olhar duro e impaciente. Aquela expressão o fez recuperar um pouco a razão. Sem entender a situação, ele olhou alternadamente para Ashley e Dane, até que Ashley falou:
— Esse rapaz aqui está me dizendo para ignorar o seu pedido e só ouvir o que ele diz. O que você acha disso?
Havia um tom de riso sutil em sua voz. Ashley Miller claramente estava se divertindo com a situação. Era como se ele estivesse segurando as rédeas de Dane e Grayson, brincando com eles – mesmo que o assunto fosse algo tão trivial como o serviço comunitário de Dane.
Enquanto isso, a cabeça de Grayson era um verdadeiro caos. A vontade incontrolável de sair pulando de alegria porque Dane havia chamado seu nome pela primeira vez se misturava à razão que dizia que ele precisava manter a frieza na frente de Ashley Miller. Ao mesmo tempo, ele sentia que precisava descobrir o que Dane queria e ceder a isso. Todas essas emoções embaralhadas tornavam impossível tomar uma decisão com clareza.
— Uuugh… — ele soltou um gemido indeciso, até que, com muito esforço, escolheu um caminho. — Faça como o Dane quiser, por favor.
Colocando de lado todos os seus impulsos e dilemas, Grayson tomou uma decisão pensando em Dane. Ashley o observou em silêncio.
— Tem certeza? Mesmo?
A pergunta veio com um certo mistério, mas Grayson assentiu com a cabeça.
— Sim. Se é o que o Dane quer, então é o que eu quero também. Tudo bem.
— Entendo.
Ashley, por dentro, ficou impressionado com mais essa faceta do filho.
‘Talvez ele realmente…’
— Muito bem, farei assim.
Ashley respondeu sem hesitação e, dessa vez, se virou para Dane.
— Mais alguma coisa a dizer?
— Não.
Dane respondeu de forma curta. Os olhos de Ashley se estreitaram levemente.
— Muito obrigado.
Ele ironicamente jogou de volta as palavras que “Dane” deveria ter dito, mas Dane apenas piscou sem reagir, com a mesma expressão entediada de sempre, como se dissesse “que saco”.
Ashley balançou a cabeça, incrédulo, e entrou no carro. Logo o segurança fechou a porta, e os homens ao redor se dispersaram. O carro da frente arrancou e os demais seguiram atrás, cada um na sua vez. E, finalmente, o silêncio e a paz voltaram a reinar.
— Haaaah…
Dane se espreguiçou como se tivesse escapado da morte e soltou um enorme bocejo. Toda a velocidade que demonstrou há pouco sumiu, e ele agora caminhava com passos preguiçosos. Grayson o observou piscar lentamente, fascinado, e então correu para alcançá-lo.
— D-Dane! Dane!
Grayson gritou, animado, com a voz aguda de tanta empolgação.
— Você me chamou pelo meu nome agora pouco, não foi?! Você me chamou pelo nome?!
Dane continuou olhando para frente e respondeu com indiferença:
— Chamei?
— Foi sim!
Grayson protestou, indignado. Ele continuava andando ao lado, atrás, e na frente de Dane, que segurava no corrimão da escada com aquela cara de tédio, andando devagar. Grayson não parava de falar:
— Você me chamou de Grayson, disse meu nome! Não disse “Miller”, disse “Grayson”! Chamou sim! Você vai continuar me chamando assim agora, não é? Não pode mais me chamar de “Miller”! Tem mais seis Millers na minha família?! É por isso que tem que me chamar de Grayson!
— Sete.
De repente, Dane soltou essa palavra. Grayson, que falava sem parar, parou de repente, piscando os olhos, confuso.
— Hã?
Com uma expressão claramente irritada, Dane explicou:
— Tirando você, são cinco irmãos, Ashley Miller e Koy Miller. Sete, no total certo?
— Ah…
Grayson soltou um murmúrio de compreensão, como se só então tivesse se dado conta, e logo explicou:
— O papai não usa o sobrenome Miller.
— Por quê?
A pergunta inesperada fez Dane hesitar. Agora que pensava nisso, realmente, quando se conheceram, o sobrenome mencionado havia sido outro. Enquanto ele franzia o cenho, curioso, e Grayson respondeu:
— Bom, às vezes até usa, mas ele disse que prefere Niles. É mais confortável, mais familiar, e ouvi dizer que funciona melhor quando ele está trabalhando também.
‘Bom, faz sentido.’
Dane compreendeu aquilo com facilidade. O sobrenome “Miller” era tão comum que seria difícil associá-lo automaticamente a uma única família – mesmo que fosse a dos Miller influentes. Ainda assim, usar o próprio sobrenome, em vez do do cônjuge ou da família política, certamente oferecia uma sensação maior de liberdade e autonomia. Pensando nisso, Dane se lembrou de algo que tinha esquecido: Joshua também continuava usando seu próprio sobrenome. Provavelmente, devia ser pelo mesmo motivo.
— Casar com alguém de uma família tão famosa também não deve ser nada fácil.
Dane retomou a caminhada com indiferença, pensando que, no fim das contas, nada daquilo tinha a ver com ele. Quando Grayson imediatamente o acompanhou e falou animadamente ao seu lado:
— Quando eu me casar, vou mudar meu sobrenome para Stryker.
A declaração repentina fez os olhos de Dane se arregalarem. Ele virou-se, surpreso, encarando Grayson com um olhar intrigado. Grayson, que só então percebeu o olhar de Dane, respondeu, animado:
— Grayson Striker. Não combina bem? Igualzinho a nós dois! Não acha? Você também não acha? Hein?
Ele pressionou por uma resposta, mas Dane não disse nada. Apenas encarava Grayson com uma expressão neutra.
O silêncio inexplicável deixou Grayson paralisado, ainda sorridente, só piscando. Um segundo, dois, três. Depois de uma pausa não tão longa assim, Dane de repente soltou uma risadinha.
— Que fofo.
Pelo tom, não parecia nem um pouco sincero. Parecia mais uma daquelas frases que ele dizia por hábito. Em seguida, diferente de antes, Dane subiu os degraus da escada de três em três, sumindo rapidamente da vista.
— Boa noite.
Deixando para trás um cumprimento formal, ele entrou no quarto. Grayson ficou parado, encarando a porta fechada, e por fim, resignado, voltou para seu próprio quarto.
Toc. Quando fechou a porta atrás de si, um silêncio inesperado tomou conta do ambiente. As três xícaras de chá ainda estavam sobre a mesinha de centro, todas já frias. No cômodo espaçoso, restava apenas Grayson.
Ele ficou ali parado, sem pensar em nada, até que notou um presente sobre a mesa em frente ao sofá. Era algo que Koy havia deixado para ele. Sem pensar muito, ele desfez o embrulho e abriu a caixa. Um aroma nunca sentido antes se espalhou no ar. A caixa estava cheia de flores que ele só tinha visto em fotos até então.
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Continua…