Deseje-me se puder - Capítulo 14
— É mesmo…? Ei, Wilkins! Wilkins! Isso, você aí. Vem cá.
O chefe, ainda com a expressão confusa, acenou para um dos bombeiros que bebia com os colegas. Wilkins, que estava no meio da galera bebendo, caminhou meio relutante, balançando a caneca de cerveja enquanto se aproximava.
— Sim, chefe. O que foi?
Ele lançou um olhar nada amigável para Grayson, e o chefe foi direto ao ponto:
— O Miller aqui está procurando uma pessoa. Você foi quem entrou na mansão naquela vez com a equipe, não foi?”
Depois, fez as apresentações:
— Esse aqui é Darius Wilkins. Wilkins, você já conhece Grayson Miller. Ele vai trabalhar com vocês. Aliás, ele vai ser do seu time.
A cara de Wilkins azedou na hora. Ele se virou para o chefe e abriu os braços como se dissesse “Que porra é essa?!”, só que em silêncio. Mas antes que ele pudesse reclamar, Grayson já tinha agarrado a mão dele num aperto de mão entusiasmado.
— Prazer em conhecê-lo! Conto com você.
Wilkins olhou para a própria mão, como se tivesse acabado de tocar em algo nojento, e rapidamente a puxou de volta. Depois, apontou para Grayson e encarou o chefe como se exigisse uma explicação. O chefe, fingindo que não via a indignação dele, apenas deu uns tapinhas nos dois.
— Tratem de se entender. Wilkins é um ótimo líder, então siga as instruções direitinho, entendeu, Miller?
— Mas é claro, pode deixar comigo.
O tom de Grayson era de pura diversão, e Wilkins claramente não estava acreditando em uma palavra. Resmungando algo inaudível, ele sacudiu a mão como se quisesse se livrar do toque de Grayson e virou-se para o chefe com a paciência se esgotando.
— Pronto, terminou? Posso voltar para o meu time agora?
— Espera aí.
O chefe chamou Wilkins, que já estava virando para ir embora. Relutante, ele olhou para trás, e o chefe apontou para Grayson.
— Leva seu novo companheiro com você.
Wilkins abriu a boca indignado “Como é que é?!”, gesticulando como se tentasse entender que tipo de crime havia cometido para merecer isso. O chefe só cruzou os braços e falou num tom de quem não aceitava desculpas:
— Ótima oportunidade para você apresentar ele para o time, não acha? Esse encontro foi feito para isso.
Não dava pra argumentar contra essa lógica. Wilkins soltou um suspiro frustrado para o vazio e simplesmente deu meia-volta sem dizer nada. O chefe, satisfeito, deu um empurrãozinho discreto em Grayson.
— Vá lá. Eles são seus colegas de equipe, se enturma.
— Esse time foi o que entrou na mansão naquela noite, certo?
E, mais uma vez, Grayson interrompeu sem cerimônia. O chefe, já acostumado a esse jeito dele, apenas acenou com a cabeça.
— É, pergunta para eles que você descobre quem foi…
Mas quando ele disse “pergunta”, Grayson já tinha saído. O chefe, sozinho, terminou a frase sem graça e soltou outro suspiro.
***
Quando Wilkins saiu para falar com o chefe, ele estava sozinho. Mas quando voltou, trazia um incômodo a reboque. Os colegas, que estavam ao redor de uma mesa alta tomando suas cervejas, o olharam com puro choque e desconfiança. Ele nem precisou dizer nada; só mexeu os lábios num mudo “eu sei”, mas não tinha como evitar.
Grayson chegou e se acomodou no grupo como se fosse parte da equipe desde sempre.
— Oi. Tudo bem.
Ele saudou cada um com um aceno leve e um sorriso aberto. Ninguém retribuiu. Em qualquer outra situação, alguém já teria sentido o clima e dado um passo atrás, mas, infelizmente, estavam lidando com Grayson Miller. Vergonha alheia simplesmente não fazia parte do repertório dele. Pior: ainda esticou a mão para cumprimentar os outros, o que fez o grupo perder completamente a vontade de reagir. No fim, restou apenas um silêncio meio derrotado e alguns goles amargos de cerveja.
Mas Grayson não se abalou e quebrou o gelo com a delicadeza de um tijolo sendo jogado na vidraça:
— Então, vocês eram o time que entrou na mansão do Mendez no incêndio, né?
— Mendez?
— Sim, aquela festinha de feromônios.
Um dos membros da equipe, sem querer, perguntou, e outro deu um cotovelada nele e disse:
— Aquela coisa ridícula onde um monte de alfas dominantes surtados vão “liberar feromônios” e ficam se masturbando em grupo. Você sabe… “AAAAH, VOU GOZAR! UHHH! AHHH! MEUS FEROMÔNIOS ESTÃO ESCAPANDO, MEU CÉREBRO TÁ DERRETENDO, SOCORROOOO!”
O cara sacudiu o corpo para frente e para trás, gritando como um louco, e todos na mesa caíram na gargalhada. Ficou claro que era uma provocação direcionada a Grayson, o que só tornava tudo mais divertido para eles. Eles riam tanto que quase caíram para trás, mas pararam de repente ao ver que Grayson estava rindo igualmente, senão mais.
Não um riso sem graça ou um sorrisinho desconfortável. Não. Ele gargalhou, alto. De verdade.
E, instantaneamente, o clima pesou.
A risada deles foi morrendo aos poucos, substituída por olhares confusos. ‘O que foi isso? Esse cara é louco?’ O grupo ficou tenso, encarando Grayson, que, por sua vez, foi parando de rir devagar, quando ele ficou sério de repente, como se estivesse usando uma máscara, todos ficaram mais do que perplexos – ficaram com arrepios. ‘Que diabos é isso, cara?’
A tensão escalou para um nível desconfortável. ‘Que porra é essa?’
— Ué, por que pararam? — Grayson inclinou a cabeça, ainda sem expressão. — Tava engraçado. Continuem.
—…..
Ele deu de ombros.
— Bom, tanto faz, O que importa é que, por coincidência, eu estava naquela festa. Sim, eu mesmo, um desses alfas dominantes surtados que só queria se livrar de um pouco de feromônios. Mas aí, que sorte a minha… um incêndio começou e não deu para liberar tudo. Pelo menos meu cérebro não derreteu.
Conforme Grayson falava, os rostos ao redor ficavam cada vez mais sombrios. Já dava para sentir na pele que ele não era um cara fácil de lidar. Se fosse só um babaca qualquer, alguém com um temperamento ruim, dava para resolver no soco. Mas, desde sempre, a regra era clara: gente louca, melhor nem se envolver.
— Ah… então… eu lembrei que tenho… um negócio para resolver.
O cara que tinha zoado Grayson foi o primeiro a tentar escapar. Os outros, percebendo a deixa, também começaram a se mexer. Mas, antes que pudessem sequer dar um passo, a voz fria de Grayson cortou o ar:
— Parados.
Como se um comando tivesse sido dado, todos congelaram no lugar. Devagar, sem escolha, olharam para trás. Grayson ainda mantinha aquele rosto inexpressivo, mas o tom de voz era claramente uma ordem.
— Tenho algo para perguntar. Voltem aqui.
—….
— Agora.
Ele bateu dois dedos na mesa, de leve, como quem diz “vamos, sem enrolação”. Com relutância, os bombeiros voltaram a seus lugares, trocando olhares incertos. O clima estava uma merda, mas ninguém queria ser o primeiro a bater de frente.
Grayson olhou ao redor e então perguntou:
— Os que entraram na mansão naquela noite são só vocês?
O tom mudou. Não tinha mais brincadeira, nem provocação, só um frio interesse que deixou todos desconfortáveis. Sem saber se aquilo era um interrogatório ou outra coisa, os bombeiros hesitaram em responder. No fim, Wilkins bufou e perguntou, impaciente:
— Por quê? Porque você quer saber?
Grayson sorriu com a pergunta rude, e de novo a equipe sentiu aquele clima estranho. Era realmente a hora de sorrir? Todo mundo sabe que um sorriso pode acalmar a situação, mas o sorriso dele tinha algo que dava nos nervos. O que era aquilo?
Sem pressa, Grayson explicou:
— Quero encontrar a pessoa que me salvou naquela noite. Não faço ideia de como desmaiei, só sei que acordei no hospital. Se não fosse por essa pessoa, eu provavelmente estaria morto.
Ele colocou a mão no peito, com uma expressão de gratidão, e soltou um suspiro profundo.
— Graças a ela eu estou vivo, então, agora quero retribuir de alguma forma. Pelo menos agradecer. Algum de vocês sabe quem foi?
Wilkins lançou um olhar aos outros, como se perguntasse “alguém aí sabe dessa porra?”. Ezra, sempre rápido no gatilho, tomou a frente.
— Putz… aquela noite foi um caos, é difícil lembrar. Alguém aí tem ideia?
O resto do time foi unânime: todos balançaram a cabeça e repetiram variações de “não faço ideia”.Grayson estreitou os olhos, franzindo a testa. Mas a resposta continuava a mesma.
Devagar, ele passou a mão pelos cabelos, exalando uma calma irritante, e então murmurou, alto o suficiente para todos ouvirem:
— Estão dizendo que vão recusar um agradecimento, é isso?
Um silêncio pesado tomou conta da mesa.
Até que Grayson abriu um sorriso despreocupado e disse, num tom quase alegre:
— Bom, então não tem jeito. Vou ter que descobrir sozinho.
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Continua