Deseje-me se puder - Capítulo 138
— Desculpe aparecer assim de repente.
Koy sorriu calorosamente, apesar do rosto visivelmente cansado.
— Estava voltando da França e pensei em dar uma passada. Não vou ficar muito tempo.
Ashley apenas olhou para o filho em silêncio. Na verdade, havia muitas coisas que queria dizer, mas ele preferiu manter a boca fechada. Isso porque, pouco antes de vir, Koy tinha lhe feito vários pedidos e alertas.
⟨Mesmo que seja a última vez, vamos tentar confiar no Grayson mais uma vez. Vamos apenas encorajá-lo.⟩
Ele pediu com tanta sinceridade que Ashley não conseguiu ignorar. Talvez porque, por mais que achasse tudo em vão, no fundo também queria acreditar.
— Fico feliz em ver você, parece que está bem. Aconteceu alguma coisa nesse tempo?
— Não, nada. …Quer tomar um chá?
A última parte saiu quase forçada. Isso fez Ashley hesitar. Sempre tinha ensinado o filho com rigor a agir e falar conforme a situação, então ele normalmente seguia o script perfeitamente. Mas essa sensação estranha… O Grayson que ele conhecia teria sorrido com naturalidade e feito o convite com leveza.
Ainda assim, o sorriso no rosto do filho era igual ao de sempre. Enquanto Ashley estava um pouco confuso, Koy balançou a cabeça.
— Não precisa, eu já estou de saída. Trouxe uns presentes para você e Dane…
— Presentes?
Ao ouvir a pergunta de Grayson, Koy assentiu com a cabeça e pegou uma das duas caixas que Ashley carregava, entregando ao filho.
— Esse é o seu. Abra quando estiver sozinho.
Em seguida, olhou por trás de Grayson e perguntou:
— E o Dane? Ainda não voltou?
— Ah…
‘De novo.’
Dessa vez, Ashley teve certeza. O filho claramente não estava à vontade.
‘…O que está acontecendo?’
Enquanto observava com uma leve sensação de choque, um som agudo de assobio cortou o ar. Todos olharam automaticamente para cima e viram um homem apoiado no corrimão da escada.
— Dane.
Quando Koy chamou seu nome animadamente, Dane – que tinha feito o assobio com os dedos, apenas acenou com aquele olhar indiferente de sempre. Antes que alguém pudesse intervir, Koy subiu correndo as escadas para cumprimentá-lo.
— Quanto tempo! Como você está? Estava com saudades!
Ele o abraçou com força, e Dane retribuiu dando alguns tapinhas nas costas do outro. Ashley e Grayson, no entanto, olharam aquela cena de baixo, com expressões nada felizes.
‘Não tem jeito.’ – pensou Ashley. Desde a primeira vez que conheceu Dane, Koy tinha mostrado uma simpatia enorme por ele. A ponto de guardar segredos… até mesmo de Ashley, algo que nunca fez antes.
Até então, quando Koy dizia que tinha um segredo, era coisa boba – tipo surpresa de aniversário ou algum evento pequeno. Coisas relacionadas a Ashley, que logo se revelavam ou nem faziam muita diferença. Eram segredos tolos, de amigos, que não causavam nenhum incômodo. Mas dessa vez era diferente. A situação agora tinha outro peso.
Na época, ficou bastante chateado, mas logo entendeu o motivo.
Koy já havia confessado que, no passado, sentiu uma conexão imediata ao conhecer Angel. Com base nisso, Ashley concluiu que o motivo pelo qual ele tratava Dane Stryker com tanta naturalidade só podia ser um.
‘Deve ser a genética.’
Ashley chegou a essa conclusão com frieza. Pensando assim, tudo fazia sentido. Por isso, mesmo não gostando muito da situação, decidiu deixar para lá… mas então, de repente, Grayson se mexeu.
Ele ficou surpreso ao ver o filho subindo as escadas de dois, três degraus por vez, com pressa. Seguiu o movimento com os olhos e, num piscar de olhos, Grayson já estava entre Dane e Koy, se enfiando entre os dois à força.
— Vou preparar um chá, que tal irmos para o meu quarto? Você também, pai!
A última parte pareceu claramente forçada. Ashley ficou ainda mais surpreso. Céus, não podia acreditar. Seu filho… com ciúmes?
— Ash!
Ashley, que estava olhando para cima meio atordoado, voltou a si ao ouvir seu nome. Koy acenava para que ele subisse logo, finalmente, ele voltou à realidade e começou a subir os degraus. Koy desceu alguns degraus para pegar o presente que Ashley ainda carregava, e o entregou para Dane.
— É um presente. Espero que você goste.
— Bom… obrigado.
A resposta de Dane foi indiferente, mas Koy não escondeu a alegria. Grayson, observando os dois, tratou logo de intervir com pressa:
— Então, vamos para o meu quarto. É por ali! Dane, boa noite, te vejo amanhã!
Acrescentando rapidamente uma despedida, ele começou a andar na frente. Dane apenas observou a família se afastar com um rosto inexpressivo, depois se virou com o presente nas mãos e seguiu vagarosamente para seu quarto.
Mesmo caminhando ao lado do filho em direção ao quarto, Ashley ainda estava com a cabeça zonza.
‘O que foi que eu acabei de presenciar?’
Enquanto esperavam sentados lado a lado à mesa de chá do quarto de Grayson, até que ele voltasse com o chá, Ashley ficou pensando, tentando organizar tudo o que tinha visto e sentido. Então Koy perguntou:
— No que está pensando tão profundamente?
Segurando sua mão carinhosamente, Koy olhou para ele com curiosidade. Ashley suspirou e resolveu ser sincero:
— Estava pensando nas palavras e atitudes do Grayson hoje.
Koy olhou para ele com os olhos brilhando.
— Eu sabia! Ele mudou, não é? Mudou mesmo, não é?
Até mesmo Koy que era meio desligado tinha percebido a diferença.
Não dava mais para ignorar. Ashley concordou com a cabeça.
— Pode ser influência de Dane Stryker.
— Mas isso significa que nosso filho está sentindo algo, está reagindo de verdade! — Koy ficou eufórico e elevou a voz com empolgação. — Então agora você vai acreditar nele, certo? Vai confiar e observar o Grayson, como eu disse?
— …Foi por isso que eu vim aqui.
— Obrigado, Ash.
Koy agradeceu com a voz ainda animada, chamando seu nome com carinho.
— Vamos voltar e pensar com calma sobre o que o Grayson realmente precisa.
Koy sorriu suavemente e se aproximou para beijá-lo, quando ouviram batidas na porta. Em seguida, Grayson entrou no quarto.
— É chá de ervas. Achei que vocês deviam estar cansados.
Com um sorriso, ele colocou as xícaras sobre a mesa. Koy retribuiu o sorriso de orelha a orelha e agradeceu:
— Obrigado, Grayson. Você é mesmo uma criança muito atenciosa.
Ashley sabia que aquilo era apenas um comportamento ensaiado, mas Koy sempre elogiava assim. Apesar de quase ter morrido depois de comer um bolo feito pelo filho, Koy nunca recusava a comida que as crianças lhe ofereciam. Claro, desde que Ashley provasse antes.
— Ah, agora que pensei, você não usava o quarto ao lado? — perguntou Koy, percebendo que Grayson havia trocado de quarto.
Grayson respondeu com um sorriso leve:
— Sim, troquei com o Dane. A vista daquele quarto é bem melhor.
— Você cedeu para ele? Que gesto admirável.
Koy elogiou, e rapidamente deu um leve chute no pé de Ashley debaixo da mesa. Ashley então falou, com o rosto impassível:
— Você pensou no outro. Fez bem.
— Então você deu o melhor quarto para o Dane, não foi?
Koy emendou o comentário imediatamente, e Grayson sorriu abertamente. Diante da expressão que nunca tinha visto no filho, Ashley piscou, surpreso. E então Grayson disse:
— Mas tudo bem, porque posso usar este quarto aqui, que é interligado. Vejam, dá para ver o Dane por essa janela. Como Romeu e Julieta. Claro que o Dane é a Julieta.
Naquele instante, Ashley congelou. Em um piscar de olhos, toda a cor desapareceu de seu rosto, mas nenhum dos dois percebeu.
A única pessoa que sabia o quanto Ashley odiava Romeu e Julieta era Bernice. E isso só porque ela tinha sido secretária do patriarca anterior. Ela testemunhou com seus próprios olhos o que Dominique, o pai de Ashley, fez com a sua “Julieta”.
Mas ninguém mais sabia desse passado. Mesmo sendo apenas uma coincidência, ouvir esse nome da boca de Grayson fez com que o coração de Ashley gelasse.
— Ash?
Koy, que só então percebeu que ele estava completamente imóvel, o chamou com estranheza. Quando recobrou os sentidos, Ashley viu Grayson e Koy olhando diretamente para ele. Apressadamente, recompôs a expressão e levou a xícara aos lábios. Percebendo seu desconforto, mas sem entender o motivo, Koy tentou mudar o rumo da conversa:
— É uma história romântica, sim, mas Grayson, Romeu e Julieta tem um final triste, não é? Que tal escolher um casal que termina feliz?
— Hmm…
A sugestão fazia sentido. Grayson pensou por um instante, depois estalou os dedos com um som seco.
— Que tal Catherine e Heathcliff?
Diante da sugestão do filho, Koy franziu a testa, visivelmente pensativo.
— Hm… Não tenho certeza, acho que eles também não foram exatamente felizes…
— Claro que foram. Depois que a Catherine morreu, o Heathcliff até cavou o túmulo dela, não foi? Eles foram um casal que permaneceu juntos mesmo depois da morte.
Os olhos brilhantes de Grayson pareciam até conter um leve traço de loucura. Koy, nervoso, olhou para Ashley, que agora já havia retomado a compostura e acenava com a cabeça.
— Parece plausível. Que sejam Catherine e Heathcliff, então.
Na verdade, qualquer um servia – desde que não fosse Julieta. Com a calma restaurada, Ashley esvaziou o resto do chá e falou:
— Está tarde. É melhor voltarmos.
— Ah, então vou me despedir do Dane. Preciso falar com ele também…
— Vá na frente.
Ashley assentiu diante das palavras de Koy. Na verdade, ele também queria ter uma conversa com Grayson. Assim que Koy saiu do quarto, Ashley ficou a sós com o filho. Um silêncio gélido caiu de repente entre os dois.
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Continua…