Deseje-me se puder - Capítulo 137
— Porra…
Dane soltou outro palavrão e, quando desviou o olhar, deu de cara com Grayson o encarando de olhos arregalados. Ele havia parado no meio do movimento de colocar bacon e ovo sobre o pão, piscando lentamente. Envergonhado, Dane coçou a cabeça e murmurou:
— Foi mal… come aí.
Ele pegou um pouco de salada com o pegador e colocou no prato de Grayson, como se estivesse tentando se redimir. Só então o outro voltou ao que estava fazendo. Dane ficou observando em silêncio por um momento, depois jogou a cabeça para trás e olhou para o teto, soltando um suspiro curto. Tudo o que ele podia fazer era esperar que as coisas se acalmassem.
— E por que aquele idiota apareceu aqui?
Ao ouvir a pergunta de Dane, Grayson olhou para ele novamente. Dane falou com paciência:
— O Keith Pittman.
— Ah…
Grayson respondeu com o sorriso de sempre no rosto.
— Por causa da reportagem.
Exatamente como Dane tinha imaginado. Sabia que aquele homem não ia deixar passar em branco. Mas não esperava que ele fosse aparecer de helicóptero.
‘Ele deve estar muito irritado.’
Mas, pensando pelo lado bom, isso provavelmente ia acelerar a resolução do problema com os repórteres. Agora que Yeonwoo estava envolvido, aquele homem certamente não ficaria de braços cruzados.
— Ele nos avisou para não nos envolvermos mais com Yeonwoo.
‘Claro que disse.’
Dane apenas piscou indiferente ao comentário de Grayson, acompanhado de um sorriso malicioso. Era um resultado óbvio. Essa parte estava resolvida. Mas…
O problema era que eles teriam que fazer aquele trabalho voluntário completamente desnecessário. Quando ouviu pela primeira vez sobre a licença de uma semana, ele até se animou, já se imaginava relaxando à beira da piscina, nadando e tomando sol, e não pôde evitar um sorriso. Mas, como se tivesse lido seus pensamentos, o chefe impôs uma condição:
⟨Durante esse tempo, vocês vão fazer serviço voluntário.⟩
Assim que ouviu isso, toda a leveza que Dane sentia evaporou e deu lugar à pura irritação.
⟨Mas, chefe…!⟩
⟨Vá!⟩
O chefe gritou com tanta força quanto ele. Dane ficou sem reação, travado, e o chefe aproveitou a brecha:
⟨Você tem ideia do caos que você e o Miller causaram no quartel? Tem uns cinquenta repórteres acampados lá fora, todo mundo querendo saber o que aconteceu! E os telefonemas? Não param de chegar! Gente fazendo trote, ligação obscena, denúncias falsas… tudo por causa de vocês dois! Vai me dizer que eu estou errado? Hein? Eu estou?⟩
Empurrado pelo tom, Dane acabou murmurando:
⟨…O senhor está certo.⟩
⟨Claro que estou?!⟩
O chefe se animou ainda mais e continuou despejando ordens:
⟨Vou mandar por e-mail o local e as datas. Quero tudo feito no prazo e com relatório depois de cada atividade, entendeu?⟩
⟨…Entendido.⟩
Com um tom desanimado, Dane ouviu o chefe acrescentar:
⟨E diga o mesmo ao Miller. Ele receberá um e-mail separado com seu destino. Certifique-se de que ele verifique.⟩
Nessa hora, Dane travou por um segundo.
⟨Eu e o Gray… digo, o Miller, vamos fazer as atividades separados?⟩
⟨Claro! Se vocês ficarem juntos, vão acabar aprontando de novo! Se afastem! Nunca mais fiquem perto um do outro!⟩
E não parou por aí.
⟨Se eu vir vocês dois juntos mais uma vez, os dois levam suspensão de salário por seis meses!⟩
⟨Chefe!⟩
⟨UM ANO!⟩
E pá, o chefe desligou o telefone na cara dele. Dane ficou parado, só olhando para o celular com a cara de quem levou um soco no meio da testa.
E agora.
Dane estava sentado, com aquela expressão séria, totalmente absorto nos próprios pensamentos. Olhava para Grayson na frente dele, que estava todo tranquilo, falando de “lua de mel” como se a vida estivesse ótima – sinal de que claramente ainda não tinha lido o e-mail.
‘Esse idiota nunca verifica os e-mails ou o quê? Não é possível…’
— Aff…
Dane soltou um suspiro quase como um exercício de respiração e encarou o rosto feliz de Grayson. Era hora de fazer o anúncio bombástico. E ele já estava até imaginando como aquele sorrisinho bobo ia sumir do rosto dele em segundos.
— O chefe te mandou um e-mail.
— Sério?
Grayson respondeu todo desinteressado, como se tivesse perguntado se tinha pão na mesa. Dane continuou:
— Dá uma olhada. Eu vou indo na frente.
— O quê?
Ignorando o olhar confuso dele, Dane rapidamente arrumou os utensílios e saiu da copa. Grayson até tentou se levantar atrás dele, mas se deu conta de que ainda tinha comida no prato – comida feita pelo Dane, inclusive – e voltou a se sentar rapidinho. Ele devorou o que restava, arrumou os talheres e seguiu Dane pelo corredor.
— Dane, onde você está indo? Temos que ir juntos.
Grayson gritou desesperado ao ver Dane saindo após se aprontar. Dane agiu como se não tivesse ouvido, passou direto por ele e disse:
— Abra o e-mail.
— Que e-mail…?
Alternando o olhar entre o celular e Dane, ele abriu o e-mail irritado e então congelou no lugar.
— O que é isso…?
Dane, que já ouvia os gritos de pânico vindo lá de trás, fingiu que nem era com ele. Ignorando o grito perplexo vindo de trás, Dane rapidamente saiu da mansão. E, antes que Grayson pudesse alcançá-lo, ele ligou o carro e partiu em direção ao seu destino. Quando Grayson correu para fora, o carro já havia desaparecido sem deixar rastro.
***
‘Droga, porra, que merda.’
Grayson estava dirigindo com a cara cheia de raiva, pisando fundo no acelerador. Assim que entendeu toda a situação, o primeiro lugar para onde foi, é claro, foi o quartel dos bombeiros. A ideia era convencer o chefe a voltar atrás nessa ordem absurda, mas foi impossível. Assim como Dane tinha dito de manhã, uma multidão de repórteres e paparazzi cercava a entrada da corporação. Se ele saísse do carro, não só não conseguiria falar com o chefe, como ia acabar encurralado e sem saída no meio daquela bagunça.
‘Porra.’
Grayson socou o volante com força, mas não tinha outra opção. E para piorar, no e-mail ainda tinha um aviso especial: Se um dos dois não cumprir direito o trabalho voluntário, os dois iriam ter corte de salário.
Para Grayson, aquilo mal faria cócegas. Mas para Dane era diferente. Se ele acabasse levando corte de salário por causa de Grayson, provavelmente estrangularia ele sem pensar duas vezes.
Sem saída, Grayson rangeu os dentes e seguiu para o primeiro local da lista. Passou o dia inteiro sendo explorado e só agora estava conseguindo voltar para casa. Mas não dava para deixar do jeito que estava. Isso não podia continuar. Ele precisava traçar um plano com Dane. Qualquer coisa, só precisavam pensar em algo. Dane também não devia estar contente com essa situação…
— Nem vem.
Mas Dane cortou o raciocínio dele na hora, sem espaço para discussão.
Por ter saído mais cedo e ido direto para o destino sem se distrair, ele já havia voltado, tomado banho e agora estava bebendo uma cerveja. Com um tom indiferente, ele falou antes que Grayson pudesse protestar:
— Se ficarmos provocando, é capaz do chefe estender mais o castigo. E não é só isso, podemos acabar com corte no salário. O melhor é calar a boca e fazer o que mandaram. Uma semana passa voando.
— Mas nós nem vamos passar um tempo juntos… separados assim?
— Faz o que mandaram. — Dane suspirou fundo e balançou a cabeça. — O chefe é cabeça dura. Quando ele toma uma decisão, não volta atrás. Ficar insistindo só vai deixar tudo pior.
Ele provavelmente estava certo. Mas Grayson não conseguia desistir tão fácil. Já havia passado quase metade do prazo que eles tinham. Perder uma semana inteira? Era um golpe devastador. Se as palavras não funcionassem…
— Se aguentarmos quietos por três ou quatro dias, talvez o chefe amoleça. Aí podemos tentar conversar de novo. — Grayson parou e olhou para ele. Dane tomou mais um gole da cerveja e continuou: — Se dermos um drink para ele durante a conversa, ele cede na hora. O segredo é o timing.
Ele olhou de canto para Grayson e deu aquele sorrisinho torto. Parecia um vilão tramando alguma coisa diabólica.
— Espera para ver, aquele velho desgraçado. Você acha mesmo que eu vou passar uma semana inteira fazendo trabalho voluntário de graça?
— Dane…!
Esse é o meu homem! Grayson juntou as mãos no peito, emocionado, chamando o nome dele como se fosse um heroi.
Foi então que.
♬♪♪♩♬♪…….
O som da campainha da porta ecoou pela casa, fazendo os dois pararem. Grayson trocou um olhar com Dane, inclinou a cabeça confuso e foi em direção ao corredor. Dane, que estava apenas de calça de moletom, sem camisa e com uma toalha no ombro, moveu-se para a varanda, intrigado.
Ele se inclinou um pouco para espiar lá embaixo e viu vários carros desconhecidos estacionados em frente à casa. No mesmo instante em que avistou o que claramente eram seguranças posicionados, Dane franziu o rosto.
‘Não pode ser…’
Com um pressentimento bem ruim, ele foi andando até o corredor e desceu as escadas devagar, meio desconfiado. Se escondeu atrás da parede, espiou lá embaixo – e teve a confirmação.
‘Eu sabia.’
Dane torceu o rosto e soltou um suspiro resignado. Lá estava Grayson abraçando Koy e, a alguns passos de distância, Ashley Miller.
°
°
Continua…
HuaCheng
Vish