Deseje-me se puder - Capítulo 136
— Me explica isso direito!
Keith Knight Pittman rosnou, trincando os dentes enquanto encarava Grayson sentado do outro lado da mesa.
— Explique este artigo.
A mansão onde Grayson morava ficava numa daquelas áreas fechadas, exclusivas para pessoas ricas, com entrada super restrita. Por causa disso, os repórteres que se aglomeravam do lado de fora ficavam presos na portaria, sem conseguir se aproximar do andar mais alto, onde Grayson residia. Esse controle também dificultava a entrada de visitantes comuns, mas para Keith, seguir procedimentos burocráticos – como esperar em filas, apresentar documentos e esperar autorização – era simplesmente impensável.
Ele chegou de helicóptero bem cedo, e Grayson mal tinha acordado direito quando foi abrir a porta, ainda bocejando com aquela cara de sono. Mas Keith não quis nem saber, empurrou o outro para o lado e entrou como se a casa fosse dele. Parou bem no meio do saguão e deu uma olhada ao redor.
— Cadê aquele desgraçado?
Grayson coçou a nuca e bocejou de novo, dessa vez de propósito – o que Keith percebeu na hora, óbvio.
— Seu…
— No segundo andar.
Grayson cortou o grito que Keith estava prestes a soltar, apontando com o dedo indicador para cima.
— Espere na sala de visitas do segundo andar. Eu já vou.
Enquanto Keith quase espumava de raiva no andar de cima, tentando se acalmar na sala, Grayson foi até o canto onde ficava a máquina de café, preparou um espresso triplo e levou até lá. Agora estavam os dois, um de frente para o outro, num silêncio tenso.
Keith ignorou completamente o expresso triplo que Grayson havia feito e continuou rangendo os dentes.
— Spence nos perguntou se vamos nos divorciar.
Spencer, era o filho mais velho de Keith e Yeonwoo. Diante das palavras duras, Grayson fez uma expressão surpresa.
‘O que há com ele? Será que finalmente percebeu a gravidade da situação?’
Mas, assim que Keith hesitou, Grayson continuou:
— Então é isso. Parece que vocês realmente não foram feitos um para o outro.
Grayson balançou a cabeça, suspirando como se tivesse pena. Keith fechou ainda mais a cara, o clima só piorou. Mas Grayson, como sempre, ignorou a tensão e continuou tomando o café, agora com um tom até mais reflexivo – algo bem raro para ele.
— Se o problema for pensão ou divisão de bens, é melhor procurar Nathaniel. Ele vai garantir que você não perca um centavo. Os honorários dele são altos, mas ainda é melhor do que entregar metade do seu patrimônio…
— Eu não vou me divorciar! Droga! Eu e o Yeonwoo nunca vamos nos separar!
Keith explodiu de vez, não aguentando mais. Suas mãos estavam tão cerradas que os nós dos dedos ficaram brancos. Mas Grayson? Permaneceu tranquilo como sempre.
— Quem sabe o que Yeonwoo está pensando?
A veia no pescoço de Keith saltou. Seus olhos, que normalmente eram de um roxo escuro, agora estavam com reflexos dourados. Mas Grayson continuou falando como se nada estivesse acontecendo.
— Vamos combinar, ele já aguentou bastante coisa nesse tempo todo. Você mesmo já falou várias vezes que só alguém que te ama muito conseguiria lidar com esse teu temperamento.
‘Eu devia ter trazido uma arma.’
Se Yeonwoo estivesse ali naquela hora, talvez tivesse dado um tapa na cara de Grayson. Ele era calmo por natureza, mas sabia ser firme quando necessário.
Quando Grayson comentou aquilo, Keith já estava imaginando Yeonwoo dando um belo tapa na cara dele com toda a força.
— Se o Yeonwoo perdeu o interesse, é porque você deve ter aprontado alguma coisa grande. Custava segurar esse seu temperamento?
‘Eu realmente devia ter trazido uma arma.’
Keith já estava pegando o celular, pensando em ligar para o Whittaker, o chefe da equipe de segurança, e pedir para ele subir com uma arma, mas, bem nessa hora, o celular tocou. Quando viu que era Yeonwoo ligando, o rosto, que até agora estava carregado de raiva, ficou um pouco mais leve.
— Sou eu, Yeonwoo.
[Keith.]
A voz dele veio do outro lado da linha, carregada de preocupação.
[Não importa o que o Miller vá dizer, deixe entrar por um ouvido e sair pelo outro. Ele sempre foi assim, você sabe. Não precisa se estressar tanto… entendeu?]
Ela falou como se estivesse vendo a cena diante dos olhos – como se temesse que Keith fosse capaz de matar alguém. E, para ser sincero, ele estava prestes a fazer exatamente isso. Keith não respondeu nada. Só soltou um suspiro pesado e passou a mão pela testa. Yeonwoo já havia dito para ele simplesmente ignorar. Afinal, fofocas assim não eram novidade, e essa também passaria.
Mas ouvir Spencer mencionar divórcio fez seu já escasso autocontrole chegar ao limite. Ele precisava fazer alguma coisa: socar Grayson, dar um murro no Dane Stryker, ou qualquer outra coisa. Ficar parado era impossível.
E Yeonwoo, que conhecia muito bem o jeito explosivo dele, não teve outra escolha a não ser deixá-lo ir – mesmo com aquela cara de quem estava super preocupado. E, mesmo em meio a toda essa confusão, o fato de Yeonwoo estar mais preocupado com ele do que com qualquer outra coisa… isso não deixava espaço para dúvidas. Ele realmente amava Keith.
‘E esse desgraçado vem com essa história de divórcio? Esse filho da…’
[Keith, tudo bem ficar bravo. Mas nada de violência, ok? Pense em mim e nas crianças.]
— …entendi.
Keith conseguiu soltar a resposta com dificuldade, segurando a raiva com toda a força. E Yeonwoo, com a voz mais gentil do mundo, completou:
[Eu sei que você vai fazer a coisa certa. Venha logo para casa. As crianças estão com saudade. E eu estou esperando para tomarmos café da manhã juntos.]
Na hora que ouviu isso, a raiva dentro dele começou a sumir. Não desapareceu de vez, claro, mas pelo menos a razão voltou um pouco.
[Eu te amo, Keith.]
E Keith respondeu do mesmo jeito:
— Eu também te amo, Yeonwoo.
Assim que desligou, sua mente esfriou como de costume. Ele respirou fundo mais uma vez e lançou um aviso:
— Não envolva meu nome nem o de Yeonwoo na sua vida pessoal novamente, entendeu? Se isso acontecer de novo, eu vou te processar.
— Mas não fui eu que soltei a matéria…
Grayson ainda tentou se defender, parecendo todo ofendido, quando viu Keith se levantando. Enquanto fechava o botão do paletó, Keith lançou um olhar mortal em direção a ele:
— Acha que aquele lixo de tablóide ainda tá inteiro?
Ou seja: ele já tinha lidado com o problema. Deixando esse recado final, Keith saiu da sala. Assim que entrou no helicóptero, a máquina pesada decolou fazendo aquele barulho todo.
Grayson saiu até a sacada e olhou o helicóptero se afastando depois de causar aquela confusão. De repente, sentiu algo estranho. Quando ergueu o rosto, seu semblante iluminou-se imediatamente. Dane estava apoiado na varanda de seu quarto, olhando para baixo, diretamente para ele. Grayson acenou com os dois braços, bem animado, e Dane respondeu só com um aceno de leve, com cara de quem tava zero empolgado.
— Precisamos conversar. — No momento em que os olhos de Grayson brilharam, Dane completou: — Enquanto tomamos café, lá na copa.
Na hora, o brilho sumiu dos olhos de Grayson. Dane sabia exatamente no que ele devia estar pensando – e não fazia questão nenhuma de ouvir. Por isso, simplesmente se afastou do parapeito e voltou para o quarto sem dizer mais nada.
* * *
— O chefe nos deu uns dias de folga.
— Folga? Do nada?
Grayson perguntou sem tirar os olhos do prato que Dane tinha acabado de preparar e ele tinha recebido com todo o cuidado. Era uma cena rara: o ovo frito no ponto perfeito, o bacon levemente dourado, pão quentinho… E, como se já não fosse bom o suficiente, hoje Dane ainda tinha feito uma salada, alegando que os vegetais na geladeira estavam prestes a estragar. Ele não mencionou que quase tinha feito sanduíches, mas desistiu. Em vez disso, apenas colocou a tigela de vegetais na mesa e começou a comer.
— Os repórteres estão acampados em frente ao quartel dos bombeiros. Disseram que deve levar uma semana para a poeira baixar, então até lá, não devemos aparecer por lá.
— Então estamos em… lua de mel?
— Não. A ordem foi para irmos fazer trabalho voluntário.
Grayson congelou com o pedaço de pão na mão, paralisado, enquanto Dane continuava num tom bem indiferente:
— Há algumas instituições parceiras do corpo de bombeiros. Temos que fazer inspeções de segurança, dar treinamentos, brincar com as crianças… Merda!
No meio da frase, Dane soltou um palavrão e deu um soco na bancada.
‘Como as coisas chegaram a esse ponto?’
Ele simplesmente não conseguia entender. A vida dele até aqui estava indo bem. Era tranquila, ele não chamava atenção, tinha uma rotina boa, ganhava o suficiente para viver sem aperto, e ainda fazia sexo o quanto queria. Tudo no seu devido lugar.
‘E agora… olha só essa zona.’
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Continua…
Lee joobim
Obrigada pelo capítulo 🥰