Deseje-me se puder - Capítulo 13
— Aah… ah…
O chefe segurou o peito e respirou fundo. ‘Nada nessa vida vem de graça.’ Se você quer algo, tem que pagar o preço. E, no caso deles, o preço se chamava Grayson Miller.
— Só preciso aguentar um ano.
Ele repetiu isso mentalmente como um mantra. ‘Um ano passa rápido.’ Se todos segurassem a onda, logo Grayson sumiria da vida deles. O problema era que esse pesadelo só estava começando.
Com passos arrastados, o chefe se dirigiu ao seu escritório, desanimado com o futuro sombrio que o aguardava. Enquanto o sol se punha nesse clima sinistro, a festa de boas-vindas que ele tanto preparou finalmente começou.
***
Mais tarde…
Sempre que tinha algo para comemorar – ou pelo menos fingir que valia a pena comemorar – os bombeiros tinham um bar de confiança onde se reuniam. Naquela noite, a tradição se manteve firme: antes mesmo da hora combinada, alguns já estavam bêbados, jogados pelos cantos. Riam alto, gritavam, brindavam. O clima era de festa.
— Opa, chegou. Chefe!
— Boa noite, chefe! Já começamos sem o senhor!
Assim que o chefe apareceu na entrada, alguns dos bombeiros mais sóbrios se apressaram em cumprimentá-lo. Ele acenou de volta, devolvendo as saudações com um cansaço disfarçado de formalidade. Mas sua real preocupação era outra: contar quantos desgraçados tinham sobrado de pé e em condições de continuar a noite.
— E o Miller? Ainda nada?
O chefe olhou ao redor, procurando o grande protagonista da noite, que continuava ausente. Um dos bombeiros, encostado no balcão e segurando um copo de cerveja, respondeu sem muita empolgação:
— Ainda não. E, se depender de mim, tomara que não apareça.
— Pfff, Hahaha!
O comentário sarcástico fez um dos outros bombeiros cair na risada. O chefe até pensou em perguntar “Qual foi a graça?”, mas discutir com gente bêbada era uma perda de tempo. Em vez disso, suspirou e se acomodou no balcão, pedindo uma cerveja. ‘O álcool tem um jeito milagroso de unir as pessoas. Quem sabe, com umas boas doses, todo mundo esqueça os problemas da manhã e tente se dar bem pelo menos por hoje.’
Pena que, quando o álcool passar, tudo voltará ao normal.
Ele soltou um longo suspiro, prevendo o inferno que ainda estava por vir, quando:
— Lá vem ele.
A voz de alguém quebrou o barulho da conversa. O ambiente mudou na hora. Antes barulhento e animado, o bar foi mergulhado num silêncio tenso. Um a um, os bombeiros pararam de falar, e um frio desconfortável se espalhou pelo ar. Agora, a única coisa audível era a música alta vinda das caixas de som.
A razão? Grayson Miller tinha acabado de entrar no bar.
Ele entrou tranquilamente, vestindo algo bem mais arrumado que o resto do pessoal. Enquanto os bombeiros usavam camisetas e jeans, ele surgiu com um blazer creme, calça de algodão e a camisa aberta nos primeiros três botões. Seus passos, nem lentos nem apressados, lembravam os de um grande felino rondando seu território. Os olhares carregados de hostilidade e incômodo não pareciam incomodá-lo nem um pouco. Sem hesitar, Grayson atravessou o bar como se nada estivesse acontecendo.
De onde será que vem essa cara de pau?
Os bombeiros no bar simplesmente encaravam Grayson, incrédulos. Qualquer pessoa normal já teria sentido o clima pesado e dado meia-volta para sumir dali. Mas Grayson Miller? O cara era o completo oposto. Parecia até pensar “E daí? O que vocês vão fazer a respeito?”. E o pior? Ele não estava errado, mas isso não tornava a situação menos irritante.
Com a mesma tranquilidade de sempre, Grayson caminhou até o balcão, sem pressa, mas sem enrolar. Todo mundo ali virou a cabeça para seguir cada movimento dele, sem disfarçar o ódio.
‘Vá embora! Cai fora, porra!’
A hostilidade no ar era tão intensa que dava para sentir fisicamente. Mas Grayson, como sempre, não deu a mínima. Ele já estava mais do que acostumado, ódio, simpatia, falsidade. Nada disso fazia diferença para ele.
— Boa noite, chefe. Noite agradável, não acha?
O sorriso que acompanhou o comprimento era largo, genuíno… e irritante. Parecia inofensivo, mas o chefe sentiu um arrepio subir pela espinha. ‘Merda.’ Ele se esforçou para disfarçar e acenou com a cabeça, tentando parecer natural.
— Bem-vindo, estávamos te esperando.
A resposta foi educada, mas sem calor algum. Grayson, claro, nem se abalou.
— Agradeço pela festa. Fiquei realmente emocionado.
O sorriso dele se alargou, como se estivesse se divertindo horrores com a situação.
Grayson colocou uma mão no peito e fez uma expressão como se estivesse muito comovido. Todos no bar olharam para ele com uma cara estranha. Como se já não fosse desconfortável o suficiente ter todos os olhares sobre si, ele parecia completamente alheio a isso, focado apenas em uma única coisa. O chefe, por outro lado, estava tão desconfortável que já sentia o suor escorrendo pelas costas.
— Ah, é… se você fizer um bom trabalho daqui para frente…
— Todo mundo já chegou?
Grayson interrompeu sem nem deixar o homem terminar de falar e deu uma olhada ao redor. Mais uma vez, as expressões ao redor ficaram ainda mais azedas. ‘Mas que diabos há de errado com esse cara?’ O pensamento foi quase unânime entre os bombeiros, o chefe também ficou sem palavras, encarando Grayson como se ele fosse algum tipo de anomalia.
— Ahn… eu acho? Não faço chamada, então…
— Então ainda pode chegar mais gente. Certo, entendido.
De novo, Grayson cortou a resposta no meio e começou a analisar o ambiente. Mas, ao contrário do que os bombeiros pensavam, ele não estava simplesmente provocando. Em vez disso, estava examinando cada rosto no bar, como se estivesse tentando memorizar todos. Quem o encarava com hostilidade logo desviava o olhar, sem graça, enquanto outros dobravam a aposta e sustentavam o olhar, desafiadores. Para eles, parecia uma provocação clara, como se ele dissesse “Vai encarar?”, mas Grayson tinha outro objetivo.
O chefe piscou, confuso, sem entender o que aquele lunático estava aprontando. Tentando quebrar o clima estranho, virou-se para o bartender e pediu:
— Ei traz uma cerveja para o Miller também. E vocês, estão esperando o quê? Vamos brindar! Bem-vindo, Miller.
— Obrigado. Estou muito feliz com a recepção.
O chefe ergueu o copo primeiro, e o resto do pessoal, a contragosto, fez o mesmo. Grayson, por sua vez, fez uma expressão exageradamente emocionada, como se tivesse acabado de ganhar um Oscar, e levantou o copo num brinde teatral, direcionado ao ar.
— Vamos lá, pessoal, bebam à vontade. Ei, vocês aí, continuem jogando sinuca. Isso aí.
O chefe fez um gesto para os bombeiros, tentando a todo custo aliviar o clima estranho. Os que estavam encarando Grayson com cara feia finalmente desviaram o olhar e voltaram ao que estavam fazendo, embora de má vontade. Quando o foco da atenção não estava mais tão concentrado nele, o chefe soltou um suspiro pesado e virou o resto da cerveja. Mas o desconforto continuou no ar e o motivo? O sujeito bem ao seu lado.
Fingindo que não se incomodava, ele tentou se segurar, mas no fim não resistiu e puxou conversa primeiro.
— Decidiu virar bombeiro, hein? Interessante. O que te fez tomar essa decisão?
Ele achou que era uma pergunta normal, mas os olhos de Grayson brilharam de repente. O chefe, se encolheu um pouco no banco quando ouviu a resposta, num tom ainda mais animado que antes:
— Estou procurando uma pessoa.
— Procurando alguém? Está falando de alguém da nossa equipe?
A resposta foi tão inesperada que o homem, mesmo sem querer, acabou perguntando mais. Grayson acenou com a cabeça e continuou:
— Quero encontrar a pessoa que me salvou. Quero recompensá-la.
— Ué… era só perguntar, precisava mesmo se dar ao trabalho de entrar à equipe?
O chefe se conteve para não dizer em voz alta “e infernizar a gente no processo?”, mas a frase já estava clara no seu tom.
Grayson, que antes cortou as falas dele sem cerimônia, agora ouvia tudo com uma expressão impecavelmente polida, o que só deixou o chefe ainda mais irritado. Em vez de soltar outro suspiro, o chefe tomou um gole de cerveja e falou de novo:
— Ok, o que aconteceu? Fala aí, eu te ajudo a encontrar essa pessoa.
‘Melhor eu resolver isso rápido do que deixar essa encrenca se arrastar.’ Ele fez um gesto impaciente, pedindo para Grayson se apressar. Mas o sujeito, claro, continuava sorridente.
— Obrigado. Alguns dias atrás, houve um incêndio na festa do Méndez. Acho que alguns dos bombeiros que foram chamados estão aqui.”
— Méndez? Ah… aquela festa de feromônios?
— Exatamente.
Aquela noite tinha sido uma bagunça total. Claro, qualquer incêndio é uma tragédia para quem sofre as consequências, mas ver um bando de gente completamente nua, correndo pela rua, bêbados, chorando e tossindo por causa da fumaça, definitivamente não era algo que o chefe via todo dia. Sem falar nos detalhes sórdidos que rolou por baixo dos panos… tipo os gêmeos enlouquecidos.
Enquanto o chefe refletia, Grayson acrescentou:
— Não estou falando de toda a equipe. Quero encontrar o bombeiro que chegou até onde eu estava e me tirou de lá. É ele que estou procurando.
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Continua…