Deseje-me se puder - Capítulo 12
O quartel dos bombeiros estava um caos, mas, de repente, o silêncio tomou conta do lugar. Dane olhou ao redor, observando os colegas espalhados pelo chão, gemendo e tentando recuperar o fôlego. Eles estavam encharcados de suor, alguns se esforçando para se levantar, só para desabar de novo.
Que diabos tinha acontecido ali? Ele não fazia a menor ideia. Era difícil acreditar que caras tão resistentes tinham desabado daquele jeito. Mesmo vendo com os próprios olhos, ainda parecia absurdo.
E o que era ainda mais difícil de acreditar era que aquele cara estava bem na frente dele. Dane franziu a testa e encarou o sujeito. Era o mesmo cara que ele tinha visto na festa de feromônios de alfas dominantes alguns dias atrás. O mesmo maluco que, no meio das chamas, não se importou e soltou uma onda de feromônios tão forte que derrubou dois Ômegas, enquanto ria como um psicopata.
E, claro, esse lunático era ninguém menos que Grayson Miller.
Dane tinha certeza de que nunca mais cruzaria com ele. Só o tinha nocauteado e seguido em frente. Mas, pelo visto, a vida gosta de pregar peças.
Não teve muito tempo para pensar nisso, porque, no segundo seguinte, os olhos roxos de Grayson brilharam de forma ameaçadora, e ele ergueu a barra de ferro que estava segurando. O som pesado do metal cortando o ar atingiu os ouvidos de Dane
— Opa!
Dane se abaixou instintivamente, desviando por um triz. Sem perder tempo, pegou a primeira coisa ao seu alcance e…
PFFFFFFFT!
— Puta merda! Cof, cof!
Um pó comprimido jorrou com força, tão denso que parecia engolir o ar. O pó branco se espalhou por todo o lugar, levado por um vento forte, cobrindo tudo como uma névoa espessa. O ar ficou tão carregado que ninguém conseguia enxergar direito.
Grayson soltou um grunhido abafado. O pó fino grudou na sua pele e, num instante, invadiu seu nariz, boca e garganta. Mas Dane, com uma cara de indiferença, continuou apontando o extintor para ele, liberando o pó sem parar.
No fim, o valentão surtado perdeu a pose e começou a tossir sem parar. Dane só parou de apertar o gatilho quando percebeu que Grayson já estava lutando para respirar, com os olhos vermelhos de irritação.
— Você tem ideia do que acabou de fazer?!
A voz dele era contida, como se ele estivesse segurando a raiva com todas as forças, mas era óbvio que ele estava furioso. Os outros caras no chão estavam em choque, sem saber o que fazer, mas Dane, o alvo daquela fúria, não parecia nem um pouco afetado.
— Só acabei com a briga.
A fala indiferente foi o suficiente para Grayson explodir de vez.
— Tá maluco?! Desde quando é permitido jogar um extintor na cara de alguém? E você é bombeiro, porra!
Apesar de toda a fúria de Grayson, Dane só encarou ele com aquele mesmo olhar entediado.
— Mas você é um alfa dominante. Essas coisas nem deveriam te afetar, não é?
— Caralho, isso não é droga, porra! Tá falando sério? Você fez isso de propósito, não foi? Fala logo!
Grayson continuou berrando, parecendo pronto para explodir. O cara que sempre bancava o superior agora estava descontrolado, agindo como se fosse arrancar a cabeça de alguém ali mesmo. Mas Dane? Continuava com a mesma expressão desinteressada.
— Ah, é? Bom, então deve ser.
Foi o estalo final.
— SEU DESGRAÇADO, EU VOU TE MATAR!
Grayson avançou com tudo, parecendo prestes a quebrar o pescoço de Dane com as próprias mãos. Mas Dane só suspirou, visivelmente de saco cheio, e ajustou o extintor de novo na mão. Já se preparando para arrebentar a cabeça do outro com ele, quando…
— O QUE VOCÊS PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO?!
A voz furiosa do chefe fez os dois congelarem.
Grayson, com a barra de ferro levantada, pronto para atacar Dane. Dane, segurando o extintor, a um segundo de esmagar o crânio do outro. O quartel em ruínas, os bombeiros jogados pelo chão, o caos espalhado por toda parte.
O chefe olhou para aquela cena absurda, respirou fundo e soltou um suspiro exausto. A cena era tão absurda que ele ficou sem reação por um segundo, mas logo recuperou o controle e deu uma olhada matadora no culpado de tudo aquilo.
— Mas que confusão é essa?! Por que vocês estão se socando no meio do quartel? Eu deixei você ficar aqui por um ano, mas não foi para você virar o lugar de cabeça para baixo!
O chefe tinha toda razão. Quando aceitaram Grayson, foi com um monte de condições. Ele tinha sido avisado várias vezes para manter um perfil discreto e não causar problemas para ninguém. No mínimo, esperava que ele segurasse a onda por um mês. Mas nem meio dia tinha passado, e o lugar já estava essa zona.
E não parou por aí. O chefe virou para Dane e deu uma bronca:
— E você, Dane, larga isso AGORA! Desde quando se resolve as coisas enfiando um equipamento na cabeça de alguém?! Eu nem reclamei quando soube que você estava na delegacia, ainda mandei o advogado para te tirar de lá! Até entendi que você tinha que chegar mais tarde, mas olha isso! Olha o que você tá fazendo! Como você pode me decepcionar assim, hein?
Os outros bombeiros, vendo o chefe espumando de raiva, nem ousaram abrir a boca. Dane soltou um suspiro resignado e largou o extintor. Grayson, ainda cuspindo pó químico, jogou a barra de ferro longe. O quartel inteiro ficou em silêncio, todo mundo esperando o que o chefe ia decidir.
Ele, por sua vez, estava num dilema.
Talvez fosse melhor mandar essa merda de doação para o inferno.
Olhar os próprios bombeiros caídos no chão, parecendo que tinham saído de um desastre, fez ele se perguntar: de que adianta equipamento novo, caminhão novo, se no final das contas ia ter que lidar com essa bagunça todos os dias?
Ele não precisava nem perguntar quem tinha começado a confusão.
Era óbvio que não foi o Grayson Miller, ele não ia causar um problema desses logo no primeiro dia. O que significava que seus próprios bombeiros tinham resolvido pegar o novato para Cristo.
E, pelo visto, pegaram pesado demais.
E olha que ele tinha avisado.
Agora, era impossível culpar e expulsar Grayson Miller. Principalmente porque o pai dele era Ashley Miller. O cara já tinha dado um jeito de enfiar o filho no quartel de bombeiros com um baita jeitinho, então imagina o que faria se o moleque fosse mandado embora injustamente? Ele poderia exigir uma indenização de valor astronômico… ou encontrar umas mil outras formas criativas de infernizar a vida de todo mundo.
E se ele descobrisse o estado em que o filho ficou…
‘Provavelmente me botaria na cadeira elétrica.’
— Ugh…
O chefe estremeceu só de imaginar e acabou deixando escapar um gemido de puro desespero. Balançou a cabeça, tentando afastar a imagem mental horrível, e depois lançou um olhar mortal pros marmanjos à sua frente.
— Era só ficar quieto por um ano! UM ANO! Como é que vocês não conseguem nem isso? Onde diabos vocês enfiaram o cérebro? Se é que têm um, se tiverem um, deveriam usá-lo para pensar!
A vontade dele era socar todos aqueles idiotas até botar juízo na cabeça deles, mas sabia que não era hora para isso. Primeiro, precisava consertar essa zona. E o primeiro passo era… lidar com Grayson Miller.
— … está tudo bem? Você está machucado em algum lugar…?
Ele se sentiu humilhado por ter que agir com tanto cuidado, mas já era tarde demais. O futuro estava traçado desde o momento em que ele aceitou a proposta de Ashley Miller. Pelo próximo um ano, essa situação ia se repetir sem parar.
Com um suspiro resignado, ele analisou Grayson. A situação era simplesmente deprimente. Ele soltou outro “Ugh”, dessa vez ainda mais sofrido, e finalmente tomou uma decisão.
— Todo mundo dispensado! Você, vá tomar banho no vestiário! Vocês, entrem e tratem dos ferimentos! Dane, limpa essa bagunça. E NÃO ESQUEÇAM que hoje à noite tem a festa de boas-vindas! Entenderam? A gente começa do zero e essa merda toda nunca aconteceu. Chega de infantilidade, vamos agir como adultos!
Ele foi apontando para cada um, mandando os homens se dispersarem. O quartel inteiro estava lotado de adultos reclamões, mas pelo menos foram obedecendo. Só quando viu todos saindo foi que soltou um longo suspiro de alívio.
‘Eu sabia que ia dar merda.’
Em seguida, ele ficou pálido ao se dar conta. Ele sabia que aquele desgraçado do Grayson Miller ia transformar seu pacífico quartel de bombeiros num caos absoluto. Tinha certeza disso!
Segurando os poucos fios de cabelo que ainda lhe restavam, ele se contorceu de agonia enquanto, diante de seus olhos, desfilavam imagens tentadoras: um caminhão de bombeiros novinho em folha, uniformes novos, machados sem ferrugem, ferramentas novas, uns cinco extintores extras, equipamentos de respiração novinhos…
E agora? Será que tudo isso ainda valia o sacrifício?
°
°
Continua….