Deseje-me se puder - Capítulo 11
Com uma pontinha de inquietação ainda na mente, o chefe dos bombeiros voltou para o escritório. Assim que ele sumiu da vista, os homens que ficaram para trás se viraram todos ao mesmo tempo para Grayson, como se estivessem encurralando um criminoso perigoso.
Os braços cruzados, as mãos na cintura, as expressões duras, tudo neles gritava hostilidade. Era óbvio que estavam putos. Primeiro, por terem ficado momentaneamente hipnotizados pela aparência dele. E segundo, por estarem extremamente irritados consigo mesmos por isso. O ressentimento só fez a antipatia deles aumentar.
No meio de um silêncio cortante, o ar na sala ficou cada vez mais tenso. Foi então que um dos homens deu um passo à frente, como se quisesse tomar a dianteira, e olhou para Grayson, soltando com uma voz baixa:
— Então a partir de agora você virou bombeiro.
A maneira como ele escaneou Grayson de cima a baixo deixava claro que achava tudo aquilo uma piada. Outro aproveitou a deixa e disparou, sem esconder o desdém:
— Como é que você conseguiu entrar aqui? Tivemos que passar por um monte de testes. Você também não deveria ter feito?
— Isso mesmo, o teste físico! — reforçou outro, sem perder tempo. — Isso aí é o básico do básico.
O grupo todo percebeu a brecha para atacar, e de repente, ninguém mais estava segurando a língua.
— Quando um incêndio começa, nós carregamos equipamentos pesadíssimos e entramos direto no fogo. Acha que dá conta?
— Quer dizer que agora temos que fingir que você é um de nós? Não vai rolar.
— Somos um time, sabia? Se um novato como você entrar e estragar tudo, todos podemos morrer! Tá ouvindo, porra?
— Responde, seu merda! Tá surdo?
Os caras estavam furiosos, vociferando como se fossem explodir a qualquer momento. Mas Grayson? Nada. Nem um piscar diferente. Ele só olhava com tédio por cima dos ombros deles, como se procurasse algo mais interessante ao fundo. E então, sem mais nem menos, se moveu.
A intenção era óbvia: ele simplesmente ia passar direto, ignorando completamente a presença deles.
— EI, ESSE FILHO DA PUTA, TÁ IGNORANDO A GENTE? — um deles berrou, esticando o braço para bloquear o caminho.
— Onde é que você pensa que vai sem pedir permissão, hein?
— Some daqui! Esse lugar não é para um merdinha como você ficar bisbilhotando!
Punhos cerrados, caras contorcidas de raiva, todos eles praticamente espumavam de ódio. Mas Grayson só ergueu uma sobrancelha, fez uma careta de puro desagrado… e soltou um suspiro longo, como se aquilo fosse a coisa mais irritante e desgastante do mundo.
Os bombeiros acharam que tinham conseguido dobrá-lo. Claro que esse almofadinha ia recuar! Eles eram os caras durões que protegiam essa cidade. Um playboy metido não tinha chance contra eles.
Mas então, com os ombros caídos e um tom de voz que transbordava puro desânimo, Grayson murmurou baixinho:
— Ah… Eu odeio gente feia.
Ele murmurou como se fosse para si mesmo, mas fez questão de falar alto o suficiente para que todos ouvissem.
Por um instante, um silêncio gelado caiu sobre o grupo.
Os caras, que segundos atrás estavam prontos para esmurrá-lo, pareciam ter levado uma tijolada na cara. Grayson, por outro lado, parecia genuinamente exausto, como se a visão deles estivesse drenando sua energia vital. Ele até cobriu a boca com a mão, respirando fundo como se estivesse prestes a vomitar.
E aquilo… fez o sangue dos homens ferver ainda mais de raiva.
— O QUE VOCÊ DISSE, SEU FILHO DA PUTA?!
— Tá querendo morrer, desgraçado?! Então VEM, AGORA MESMO!
— Eu vou acabar com você, seu merda! Quem você pensa que é para falar assim?!
— Anda logo, frouxo! Parte pra cima, seu covarde! Eu te esmago na hora!
Foi um festival de xingamentos e ameaças, e em meio à gritaria, um soco voou na direção de Grayson. Como se aquilo fosse o sinal de largada, o resto do grupo avançou de vez.
Mas antes que pudessem tocá-lo, Grayson franziu o cenho e parou abruptamente. Ele não parecia assustado. Na verdade, ele parecia… aborrecido. Com um suspiro longo e um olhar de puro desdém, ele murmurou quase para si mesmo:
— ahhh… eu odeio tocar em gente feia…
Foi o suficiente para fazer os caras explodirem de raiva.
— O QUÊ?! ESSE MALDITO FILHO DA…
— VAMOS MATAR ESSE IMBECIL! AGORA!
— VOCÊ TÁ FERRADO, SEU MERDA!
O que estava mais perto dele quase espumava de fúria. A veia da testa saltada, o punho já indo direto para o rosto de Grayson. Agora, não era mais uma questão de orgulho como bombeiros. Só havia raiva em seus corações, a raiva de querer dar uma surra nesse arrogante e ensinar-lhe uma lição.
Infelizmente para eles, Grayson só virou levemente o corpo para o lado, e o golpe passou direto, fazendo o agressor perder o equilíbrio.
Outro veio logo em seguida, dessa vez com um chute bem alto, mirando a perna dele. Mais rápido, mais violento. O pé voou na altura da coxa, mas Grayson só deu um passo para trás e evitou o golpe sem esforço. Foi fácil. Quase entediante.
A mesma situação continuava se repetindo, mas os caras não desistiam. Pelo contrário, pareciam ainda mais determinados a derrubar aquele desgraçado de qualquer jeito, com os olhos cheios de ódio e jogando o corpo com mais força ainda na direção dele. Não era uma situação que ia acabar fácil.
Grayson, por outro lado, já estava de saco cheio. Perder tempo com essa palhaçada era irritante o suficiente, mas pior ainda era o fato de que, em vez de estar caçando a mulher da vida dele, estava aqui lidando com esse bando de idiotas.
Foi então que ele viu aquilo.
Enquanto desviava com facilidade de mais um soco, seus olhos pousaram em um pé-de-cabra largado ali perto. Uma ferramenta usada para arrombar portas em emergências… mas que para ele sugeria um uso bem diferente.
No instante seguinte, um baque surdo ecoou pelo lugar. Um dos bombeiros, finalmente, conseguiu acertar um soco no abdômen de Grayson. E o cara ficou paralisado por um segundo, sem acreditar que tinha finalmente acertado Grayson, que até então tinha desviado de tudo.
Mal teve tempo de comemorar.
Uma sombra cresceu sobre ele, e quando o homem levantou a cabeça, viu Grayson com um sorriso largo, brincalhão e Perigoso.
— Agora é legítima defesa.
(Caramba ele usou a mesma tática do pai 😂😂)
Antes que ele pudesse reagir, o pé-de-cabra cortou o ar.
O cara foi para o chão sem nem ter tempo de gritar.
Os outros ficaram estáticos por um instante, mas não tiveram muito tempo para pensar no que fazer. Quando perceberam que Grayson Miller tinha deixado um dos homens acertá-lo de propósito, já era tarde demais – o pé de cabra já tinha acertado outro. O que ele queria era uma desculpa.
E agora, era a vez dele de bater.
O massacre começou.
Os bombeiros tentaram reagir, mas nada acertava. Enquanto isso, Grayson distribuía golpes certeiros, nas costas, braços e cintura, com uma precisão humilhante. Ele não mirava a cabeça, então ninguém ia morrer… mas o resto do corpo? Ia doer. Muito.
Cada vez que um caía gritando, outro tentava atacá-lo, só para ser derrubado também. Os que iam ao chão se arrastavam de volta, só para serem chutados de novo. Era um ciclo de pura humilhação.
A ideia de “dar uma lição” em Grayson Miller já não existia mais. Isso tinha morrido, junto com a dignidade deles, no primeiro golpe. O que restava agora era só teimosia e um restinho de orgulho ferido. Eles precisavam se segurar em alguma coisa, porque simplesmente desabar ali, depois de tudo, seria humilhante demais.
Mas, por mais que estivessem lutando com tudo o que tinham, Grayson nem sequer estava ofegante. Ele continuava manejando o pé-de-cabra com movimentos eficientes, precisos, sem desperdício de energia. Como se isso nem fosse uma luta de verdade.
‘Esse desgraçado…’
O primeiro cara que tinha atacado cerrou os dentes com raiva, mas, no fundo, começava a sentir algo pior que isso. Um pensamento incômodo, quase um presságio: ‘ele vai acabar matando a todos nós. Talvez não agora. Talvez não hoje. Mas, cedo ou tarde, esse filho da puta vai acabar com todos nós.’
E foi aí que o pé-de-cabra veio voando na direção dele.
Não tinha como desviar. Não tinha mais forças para segurar o impacto. ‘É o fim,’ pensou, fechando os olhos.
CRACK!
Um barulho alto ecoou. Parecia vir de mais longe do que ele esperava. Como se o som não viesse do seu próprio corpo, mas de outro lugar. O homem congelou.
Ele abriu os olhos devagar. E o que viu fez seu cérebro parar de processar por um instante. Alguém tinha acabado de acertar as costas de Grayson Miller com uma cadeira.
E no momento em que viu o homem de cabelo ruivo segurando a perna quebrada da cadeira, ele sentiu um alívio imediato, quase como se tivesse acabado de encontrar um salvador.
— Dane…!
O nome escapou antes que ele percebesse.
Em seu campo de visão, Grayson virou lentamente com uma expressão de irritação. E então, no ar pesado da sala, os olhares se encontraram.
Olhos roxos, escuros, irritados.
Olhos azuis, semicerrados, desconfiados.
Dane largou os pedaços da cadeira e olhou para o Alfa, visivelmente incomodado.
— Que porra é essa…? Quem é você?
Então, estourou a bolha de chiclete que estava mastigando com um estalo seco e olhou Grayson de cima a baixo, como se estivesse avaliando um problema que não valia a pena resolver.
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Continua…