Deseje-me se puder - Capítulo 108
O silêncio voltou a tomar conta do ambiente. Quando Ashley finalmente falou de novo, sua voz parecia desprovida de qualquer emoção.
— O amiguinho dele ganhou um irmão mais novo. Mas pelo visto, não gostou muito da ideia. Ele comentou com Grayson sobre isso e sabe o que ele disse?
Ashley fez uma pausa breve, antes de repetir as palavras que, claramente, ainda ecoavam em sua mente.
<Então se livra dele.>
Grayson sussurrou para o amigo.
<Se você não gosta, é só se livrar dele.>
E então ele contou ao amigo um método que havia lido em um livro. Como o bebê era recém-nascido, seria muito fácil. O amigo ouviu e fez exatamente como foi instruído. Ele usou um travesseiro para cobrir o rosto do bebê…
Dane, sem perceber, fechou os olhos com força. Quando os abriu de novo, deparou-se com o olhar seco e vazio de Ashley.
— Felizmente, os pais do bebê descobriram a tempo e conseguiram salvar o bebê.
<Mas… mas eu só fiz o que o Grayson disse para fazer…>
Ashley suspirou.
— Quando perguntei por que ele havia dito aquilo ao amigo, sabe o que meu filho respondeu?
Ele murmurou enquanto sorria, incapaz de esconder a amargura em sua expressão.
<Eu só queria ajudar, pai.>
Dane simplesmente olhou para ele em silêncio. Como esperado, Ashley não mostrou nenhuma mudança em sua expressão e perguntou:
— Agora você entende por que tranciei aquele garoto no porão?
Nenhum traço de arrependimento era visível nele.
— Há apenas uma coisa que nunca mudou nas atitudes do Grayson. ‘Eu só estava tentando ajudar.’ Ele machucava o irmão mais novo constantemente, enquanto brincavam juntos, e depois dizia que só estava tentando ajudar. Você também deve ter experimentado isso, não é? Quantas coisas perigosas ele já fez, supostamente para ‘ajudar’ alguém?
Dane não conseguiu negar. Ele sabia exatamente do que Ashley estava falando. Afinal, também já havia sido vítima das ideias de Grayson. Não era só o incidente do porão. Ele se lembrava muito bem do que aquele desgraçado disse quando foram impedir um homem de cometer suicídio.
<Deixe ele fazer o que quer.>
Será que Grayson também achou que estava ajudando naquela ocasião? Sentindo o começo de uma dor de cabeça, Dane tentou argumentar uma última vez.
— E se ele tivesse acompanhamento profissional? Terapia, medicação…
— Você acha que eu não tentei?
Dane não teve escolha senão ficar em silêncio novamente. Ashley Miller não precisava dizer mais nada. Seu olhar deixava claro: Eu tentei de tudo.
Mas o resultado…
Ashley massageou as têmporas com uma das mãos, como se estivesse exausto. E então, puxou da memória aquilo que talvez fosse o pior de todos os episódios.
— Eu ensinei a ele que, não importa o que aconteça, ele precisava manter as feromonas sob controle. Ele cerrou os dentes e tencionou a mandíbula. — E então, sabe o que ele fez?
O tom de voz de Ashley ficou mais baixo, mais sombrio.
— Tentou enxertar o Chase num maldito cachorro.
Era algo que ele nunca poderia imaginar, mas era vergonha, Grayson havia feito exatamente isso. E Ashley estava lá para ver? O que se passava na cabeça de um pai ao presenciar algo assim? Ashley não esperou que Dane perguntasse. Ele já tinha a resposta na ponta da língua.
— Você consegue entender isso? O que se faz quando uma criança nasce assim? Acha que, nós deveríamos simplesmente aceitar, passar a mão na cabeça e fingir que está tudo bem? Só conversar com ele, tentar acalmá-lo, como se isso fosse suficiente? — Ele fez uma pausa breve, respirando fundo antes de continuar: — Depois disso, Chase praticamente cortou laços com a família. Mal falava com a gente. E só recentemente começamos a trocar algumas palavras por telefone.
Ele não conseguiu conter suas emoções e apertou o charuto que estava segurando entre os dedos. A ponta vermelha e brilhante do charuto se apagou em sua palma, soltando uma fumaça branca enquanto o cheiro sutil de pele queimada se espalhava no ar. Com os dentes cerrados, ele lançou a Dane um olhar feroz.
— Eu não tive escolha. Precisei ensinar a esse garoto, custasse o que custasse, o que ele podia ou não fazer. E claro, a maioria das coisas eram o que ele não podia fazer. Eu fiz tudo o que estava ao meu alcance!
Os olhos de Ashley estavam vermelhos, injetados de sangue. Ele manteve o olhar fixo em Dane por um instante antes de finalmente desviar e passar a mão pelos cabelos, exausto. De repente, ele pareceu extremamente cansado.
— O fato dos meus filhos terem herdado minhas características… também é uma punição para mim.
Ele soltou um suspiro profundo, como se estivesse tentando aliviar o peso esmagador daquela realidade.
— O único motivo pelo qual Grayson ainda não matou alguém ou acabou morto é graças à minha disciplina. O que eu quero para meus filhos são apenas duas coisas: que eles não terminem na prisão por assassinato e que tirem o feromônio do corpo a tempo, antes que suas mentes se deteriorem. Como eu fiz!
Havia uma convicção inabalável em sua voz. Não havia espaço para arrependimento, nenhuma hesitação. Ele estava certo de que fez o que era necessário.
— Não se deixe enganar por ele, Grayson mente com uma facilidade assustadora. Se puder, ele vai te enganar, assim como sempre tenta me enganar.
E então, sem rodeios, ele deu seu último aviso:
— Se baixar a guarda… você pode acabar morto.
Dane ficou em silêncio. Incapaz de responder.
***
— Foi realmente bom te ver hoje, Dane!
Koy, animado, o abraçou com força assim que chegaram à porta de entrada. Após hesitar por um momento, ele finalmente o soltou e olhou diretamente em seus olhos ao fazer seu pedido:
— Cuide bem do Grayson.
Em seguida, virou-se para o próprio filho. Também o envolveu em um abraço apertado antes de se afastar, erguendo o olhar para ele com uma expressão tão carregada de afeto que até mesmo Dane podia perceber. Mas um pouco atrás, parado à distância, Ashley permaneceu imóvel. Ele apenas lançou um olhar breve para Dane e Grayson, sem dizer nada.
— Tchau, pai. Tchau, papai.
Grayson acenou enquanto o carro se afastava. Koy se inclinou para fora da janela, agitando os braços com entusiasmo até o veículo desaparecer completamente de vista.
Dane, que observava o carro se distanciar, finalmente soltou o ar que estava segurando. De repente, a fadiga o atingiu. Ele havia ouvido muitas coisas naquele dia. Nunca foi sua intenção mergulhar tão profundamente nos assuntos íntimos de outra família.
Como chegou a esse ponto?
A realidade pesava sobre ele como um fardo inevitável. Mas era tarde demais para se afastar. Já estava afundado até o pescoço nesse pântano. Com um gosto amargo na boca, ele virou o rosto para o lado… e encontrou Grayson olhando para ele.
Como se estivesse esperando que Dane olhasse para ele, Grayson sorriu radiantemente. Um sorriso tão radiante que parecia completamente genuíno.
‘Mas… será que é real mesmo?’
Dane não tinha certeza. Onde terminava a encenação e começava o verdadeiro Grayson? Ele simplesmente não sabia.
Seu peito apertou.
‘Pare.’
Uma voz dentro de si gritava em alerta.
‘Não vá mais fundo nisso. Você já foi longe demais.’
Ele sabia disso.
Sabia muito bem.
Grayson inclinou a cabeça para o lado, como se estivesse se perguntando o que Dane estava pensando.
— Grayson.
‘Não.’
— Uhum.
Grayson respondeu de imediato.
Mesmo com os alarmes disparando loucamente dentro de sua cabeça, Dane moveu os lábios e continuou:
— Tem mais uma condição para que eu continue morando nesta casa.
Grayson piscou, esperando.
Dane, sem pressa, articulou cada palavra com calma.
— A partir de agora, quando estiver comigo, quero que mostre apenas as expressões referentes a o que realmente está sentindo. Se não souber qual expressão fazer, tudo bem. Pode simplesmente ficar com cara de paisagem. Mas não force um sorriso ou qualquer outra coisa só porque acha que deveria. Entendeu?
Grayson não respondeu de imediato. Apenas manteve aquele mesmo sorriso no rosto enquanto o encarava, como se realmente não compreendesse o que ele estava dizendo.
Dane apontou sem rodeios:
— Exatamente como agora.
Vendo Grayson hesitar, ele acrescentou uma explicação.
— Se não souber, simplesmente não faça nada. Não precisa forçar um sorriso.
Os lábios de Grayson pareceram congelados no lugar. O canto da boca continuava repuxado para cima, mas Dane permaneceu firme, observando teimosamente, até que, devagar, o sorriso foi se desfazendo.
— Assim.
Por fim, ele ficou com uma expressão estranha e meio incerta. Só então Dane sorriu e deu-lhe um leve tapa no braço.
— Você fez bem.
Grayson piscou, parado no mesmo lugar, sem dizer nada. Enquanto isso, Dane simplesmente se virou e seguiu para dentro da mansão, sem dar tempo para mais conversa.
Ele já ia entrando quando, de repente, algo lhe ocorreu.
— Ah, mais uma coisa.
Nem esperou pela reação de Grayson antes de continuar:
— Se for ajudar alguém, me pergunte primeiro. Não tome decisões sozinho, entendeu?
Dessa vez, Grayson demorou um segundo a mais antes de assentir.
Dane deu um pequeno aceno com a cabeça, satisfeito, e atravessou o hall, subindo as escadas de dois em dois degraus até desaparecer pelo andar superior.
Grayson permaneceu parado onde estava, observando-o sumir de vista. E mesmo depois que Dane desapareceu completamente de vista, ele permaneceu imóvel por um bom tempo.
A brisa fria da noite passou, roçando suavemente sua pele, como se algo acariciasse seus ouvidos.
°
°
Continua..
Nue - chan
Esse Grayson é o anticristo
Duda
Coitados do Ashley e do Koi, e boa sorte pro Dane
Vou chorar
🥲🥲🥲
Dany
Tenho fé que Dane vai ajudar o Grayson começar a sentir os sentimentos