Deseje-me se puder - Capítulo 105
Os olhos de Koy brilhavam de expectativa enquanto encarava Dane de um jeito meio constrangido. Assim que Dane pousou o copo na mesa, Koy não perdeu tempo:
— Como você conheceu meu filho? No trabalho? O Grayson está se adaptando bem? Há quanto tempo vocês estão juntos? Quando começaram a morar juntos…?
Dane piscou lentamente, tentando processar o interrogatório relâmpago.
Então era isso, Grayson só tinha herdado a aparência de Ashley Miller.
Sem conseguir evitar, ele olhou para Koy com uma expressão nitidamente exausta. Koy percebeu na hora e soltou uma risada, constrangido.
— Desculpe… não consigo me controlar quando o assunto são meus filhos…
‘Bom, pode ser o caso.’
Dane pensou distraidamente. Alguns pais são excessivamente interessados nos filhos.
Mas, ao pensar nisso, algo o fez franzir a testa. Desde quando ele era tão compreensivo?
Em circunstâncias normais, já teria dado um jeito de ir embora. Mas ali estava ele, não só permanecendo no lugar, como também se esforçando para entender. Será que isso também é algum tipo de empatia que vem da conexão entre pessoas com características de Ômega dominante?
Sentindo que estava começando a pensar demais, Dane pigarreou e desviou a conversa.
— O Sr. Miller mora no leste, não é? Como veio parar aqui? A que devemos a visita?
— Ah, o Ash veio checar se o Grayson estava se adaptando, então eu vim junto. Só posso ver as crianças quando estou com o Ash…
A voz de Koy foi diminuindo, e pela primeira vez desde que chegaram, seu sorriso aberto deu lugar a uma expressão um pouco mais sombria. Antes que Dane pudesse processar isso, um bipe baixo soou de seu bolso.
Ele pegou o celular, olhou para a tela e soltou um suspiro automático.
[Querido Dane.]
Assim que leu a primeira linha, ele passou rapidamente pelas outras sem prestar atenção e colocou o celular de volta no bolso. Quando levantou a cabeça, seus olhos se encontraram com os de Koy. Dane ficou surpreso, encolheu os ombros e depois deixou a mão cair sobre a coxa. Ele coçou a nuca com a outra mão e, com relutância, abriu a boca.
— Foi o Grayson. Ele manda várias dessas por dia. Nunca pensa no lado de quem está recebendo…
Só depois de falar foi que percebeu que, basicamente, estava reclamando de Grayson diretamente para o pai dele. Fez uma careta e tentou disfarçar, mas Koy reagiu de um jeito que ele definitivamente não esperava.
— O Grayson? Ele te manda mensagens? Muitas?!
Koy piscou, surpreso, como se tivesse acabado de descobrir um novo planeta. Dane hesitou antes de confirmar:
— Sim… quase a ponto de ser incômodo….
— Nossa, é mesmo! Eu não fazia ideia!
Os olhos de Koy brilharam de novo, mas dessa vez não era expectativa sufocante – era puro alívio. Ele juntou as mãos como se estivesse agradecendo a algum deus.
— Para ser honesto, eu estava um pouco preocupado. Achei que ele poderia ser frio como parceiro, mas que bom que não é o caso!
Dane travou no lugar.
— Frio?
Antes que pudesse decidir se corrigia a pergunta, Koy ainda acrescentou, com total naturalidade:
— O Grayson fala tão pouco, certo?
‘De quem ele está falando…?’
Dane encarou Koy, completamente sem palavras. Será que estavam falando do mesmo Grayson Miller? Ou, talvez… talvez aquele maluco da teoria da conspiração no quartel estivesse certo e os alienígenas realmente sequestravam humanos para replicar suas peles e andar por aí fingindo ser eles…
‘O que está acontecendo com a minha cabeça?
Dane piscou rápido, tentando se recompor. Ele precisava se controlar. Essa coisa de conexão genética estava realmente mexendo com a cabeça dele.
‘Não, eu preciso voltar ao meu normal.’
Claro, lutar contra o instinto exigia um esforço considerável. E Dane odiava fazer esforço tanto quanto odiava coisas irritantes. O que significava que sua escolha já estava feita.
— Bom, eu já vou indo. Estou cansado…
Ele começou a se levantar, mas Koy arregalou os olhos, parecendo ter levado um susto.
— Ah, desculpe! Fiquei empolgado porque não tenho com quem falar sobre os meus filhos. Você já deve estar exausto e eu te prendendo aqui… Mas é que, sabe, por sermos do mesmo ‘tipo’ e você ser o parceiro do Grayson, então eu meio que me empolguei…
Ao vê-lo se desculpando, sem saber o que fazer, o coração de Dane amoleceu novamente. É comum que os filhos ajam de forma diferente na frente dos pais. Não era tão estranho assim que Koy fosse um pai preocupado. Aliás, provavelmente era mais estranho que não tivesse sido antes.
Mas ainda era difícil de acreditar que Grayson fosse quieto em casa…
E foi assim que, contra todo o bom senso, Dane acabou ficando. Levantou a caneca e murmurou:
— Ainda têm um pouco de café, então vou terminar antes de sair.
— Sério? Que bom!
Koy imediatamente se iluminou, como se Dane tivesse acabado de lhe dar um presente de Natal. Animado, empurrou uma bandeja de biscoitos na direção dele.
— Na verdade, eu queria conversar com você de qualquer jeito, não só sobre o Grayson. Faz tanto tempo que não vejo alguém com a nossa genética… Ah, o meu caçula também é um Omega dominante! Se incluirmos o Bliss, são três pessoas do mesmo tipo ao meu redor. Qualquer dia te apresento o Bliss, ele vai adorar te conhecer.
Dane piscou, lembrando que a família Miller tinha seis filhos.
Se o caçula também era um ômega dominante, isso significava que ele estava no meio de cinco alfas dominantes…
Sem perceber, ele fez uma cara estranha. Koy riu de leve, parecendo meio sem graça.
— Pois é… passamos por algumas dificuldades. Por isso fico tão curioso para saber como as crianças estão se saindo…
Dane apenas o observou por um momento.
— Você se preocupa bastante com seus filhos.
Koy soltou um sorriso meio amargo.
— Como não me preocupar? Eles são… especiais, sabe? Mas eu acredito que meus filhos vão conseguir encontrar o próprio caminho, do jeito deles.
Ele baixou um pouco a voz, quase como se estivesse falando consigo mesmo.
— Se eu não acreditar e perseverar, quem mais vai acreditar nos meus filhos?
Havia algo nos olhos dele. Uma sombra de tristeza que Dane não conseguiu ignorar. Mas ele não disse nada. Só ficou ali, segurando sua caneca no ar, sem saber como responder.
***
Ashley encarou Grayson sem dizer uma palavra. Por trás de sua expressão impassível, inúmeros pensamentos passavam por sua mente. Grayson, como sempre, sorria de orelha a orelha, como se estivesse se divertindo muito, esperando uma reação.
Após um longo e pesado silêncio, Ashley finalmente falou:
— Como você pode ter certeza de que isso que está sentindo é mesmo um sentimento?
Se fosse verdade… se isso fosse real… então só poderia ser um milagre.
Até agora, Ashley havia se esforçado muito para “ensinar” Grayson a sentir. Mas não importava o que ele fizesse, Grayson nunca sentia. Então, a única opção era ensiná-lo a imitar as sensações.
Mas, não importava o que ele fizesse, a criança sempre reagia da mesma forma. Ainda assim, ele era incrivelmente curioso e não conseguia conter sua curiosidade. Ele até tinha aprendido a segurar a curiosidade quando necessário. Mas Ashley sabia que havia uma coisa que Grayson nunca, nunca conseguiria controlar: A fome insaciável de entender o que realmente significava sentir emoções.
Uma curiosidade que supostamente nunca poderia ser saciada, mas também nunca poderia ser ignorada.
E agora Grayson estava dizendo que tinha aprendido o que era medo?
Como isso era possível?
Ashley não conseguia acreditar. E com razão. Não depois de todas as vezes que Grayson já tinha mentido para ele sem nem piscar. Mas, como se já não bastasse, Grayson foi além e disse:
— Ah, e eu também sei o que é amor.
Ele olhou para Ashley com um rosto surpreendentemente convencido, como se estivesse se gabando. Vendo a expressão do filho, Ashley lentamente franziu a testa. Isso definitivamente era uma atuação. Exatamente como ele tinha ensinado. Como se encaixar na situação. Como fazer as pessoas acreditarem nele.
Mas… como ele sabia que deveria fazer essa expressão ao dizer algo assim?
Ashley sentiu um lampejo de esperança surgir em algum canto do peito. E, antes que pudesse crescer, ele a esmagou sem piedade.
Quantas vezes ele não foi enganado por Grayson dessa forma? Quantas vezes já tinha acreditado, só para depois perceber que tinha sido enganado outra vez? Ele não ia se deixar levar de novo. No fim, talvez ele fosse só mais um pai tolo, cego pelo desejo de acreditar no impossível.
Reprimindo aquele pensamento, Ashley perguntou:
— Como você tem certeza?
— Eu aprendi.
Grayson respondeu imediatamente. E, como se quisesse parecer ainda mais impressionante, estufou o peito antes de declarar:
— Com o Dane.
Ashley ficou em silêncio.
Dane Stryker.
O homem que Grayson havia apresentado como seu namorado teria ensinado ele sobre emoções? Sério? Ele já tinha ouvido essa história antes. Sempre era a mesma coisa, Grayson encontrava alguém, jurava que era o amor da sua vida, e depois vinha dizer que tinha se enganado. Como se fosse um experimento que não deu certo.
E agora ele está fazendo essas declarações ousadas de novo?
— Dessa vez é verdade. — Grayson garantiu.
Era uma frase que Ashley já havia ouvido antes. Ele só encarou o filho, sem se dar ao trabalho de responder. Não ia perder tempo com aquela conversa.
— É mesmo? — Ele cruzou os braços. — Então não tem problema se eu verificar, certo?
Diferente da atitude confiante que ele tinha até agora, Grayson hesitou. Os olhos de Ashley se estreitaram. ‘Exatamente como eu pensei.’
— Se o que você disse é verdade, então não tem nada a temer. Afinal, não há problema em eu confirmar com Dane Striker, certo?
Ele fez uma pausa, seu tom ficando mais lento, mais afiado.
— A menos que… — Ashley o observou de perto, sem desviar o olhar. — …você esteja mentindo. De novo.
°
°
Continua….