Deseje-me se puder - Capítulo 102
‘Esse desgraçado nunca fica sem assunto…?’
Dane sentiu um suor frio escorrer pelas costas. O pior era que Grayson não só mandava mensagens gigantescas o dia todo, mas ele, por outro lado, só respondia com um mísero ponto – e ainda por cima só no final do expediente, igual estudante tentando fazer meses de lição de casa em uma única noite.
‘Vou pegar ele assim que chegar em casa. Pode ter certeza.’
Só de imaginar, a cabeça de Dane começou a doer. Do jeito que as coisas iam, ele tinha certeza de que ia ficar careca de estresse. Ele abriu a boca para soltar um grito de desespero, mas acabou engolindo seco. ‘Como que eu fui me meter com essa praga grudenta? Que inferno!’
Com as pernas afastadas, ele se largou na cadeira e enterrou os dedos no cabelo, inclinando o corpo para frente. Foi então que uma sombra cobriu sua visão. Ele levantou a cabeça devagar.
Um homem que ele nunca tinha visto antes estava olhando diretamente para ele.
— Uh… oi.
O tom do desconhecido era meio hesitante. Dane só ficou encarando, mas algo ali parecia… estranho. Eles claramente nunca tinham se visto antes, então por que ele sentia uma familiaridade? Era como se já se conhecessem há muito tempo, uma sensação de intimidade…
— Desculpe perguntar isso na primeira vez que nos vemos, mas…
O homem corou um pouco, visivelmente empolgado. Deu uma olhada rápida ao redor e, depois de se certificar de que não tinha ninguém por perto, se inclinou ligeiramente e sussurrou no ouvido de Dane:
— Por acaso, você tem a mesma… constituição que eu?
‘O quê?’
Dane piscou, confuso. E foi aí que sentiu. Um cheiro de feromônio familiar flutuava pelo ar. Ele congelou. O cheiro era similar ao dele e vinha desse homem.
O homem abriu um sorriso radiante quando viu a reação de Dane.
— Eu sabia! Que incrível! Essa é a segunda vez que eu encontro alguém com a mesma constituição que a minha…!
Ele parecia genuinamente emocionado, rindo baixinho enquanto ainda tentava processar o momento. Dane, por outro lado, levantou-se devagar da cadeira, tentando entender o que diabos estava acontecendo. Ele nunca tinha conhecido ninguém igual a ele antes.
Vendo a confusão estampada no rosto dele, o cara inclinou a cabeça para o lado e disse:
— Ah, desculpe, eu esqueci de me apresentar! Meu nome é Konnor Nilles. Mas pode me chamar de Koy!
Ele estendeu a mão com um brilho animado no olhar. Dane hesitou por um segundo antes de retribuir o aperto de mão de forma um tanto desajeitada. Mesmo percebendo o quão perdido Dane estava, Koy parecia radiante.
Ashley Miller havia chegado.
A notícia se espalhou como fogo no corpo de bombeiros, jogando todo mundo no meio do caos.
Senador Miller, ex-chefe do escritório de advocacia Miller. Um advogado tão implacável que diziam que ele faria um pacto com o diabo para vencer um caso. E agora, um homem prestes a se tornar presidente.
Os funcionários estavam divididos entre o nervosismo e a empolgação de ver um figurão daqueles em pessoa. Todos se aglomeraram na frente da sala do chefe, tentando ouvir o que estava acontecendo lá dentro.
— Você viu o carro dele? É impressionante!
— Aquele é um modelo limitado, só existem cinco no mundo.
—Ashley Miller provavelmente tem todos os cinco?
— O que ele está fazendo aqui? Nem é a área dele. Esse cara devia estar na Costa Leste.
— O filho dele trabalha aqui, né? Veio por causa disso.
— Pelo amor de Deus, ele está bancando o pai preocupado agora?
— Seja como for, dizem que ele despejou uma grana absurda de doação para colocar Grayson Miller aqui, então ele veio para verificar isso. É uma justificativa suficiente.
— Ouvi dizer que ele veio com o parceiro. Será que ele está aí dentro também?
— Sei lá, eu não vi meu Papai.
—Ugh!
— AAAARGH!
No meio do burburinho, uma voz interrompeu abruptamente, e os que estavam sussurrando em grupo gritaram assustados. Misturado entre eles, Grayson apareceu, e alguém perguntou com uma expressão perplexa:
— O que… O que você está fazendo aqui? Não devia estar lá dentro?
Grayson sorriu e respondeu com naturalidade:
— É mesmo? Sei lá. Não me chamaram.
O grupo ficou sem graça. Como sempre, Ezra foi o primeiro a tentar salvar a situação.
— Cara, desculpe, Miller. A gente só tava curioso e—
—Tudo bem, todo mundo é assim.
Grayson ainda sorria, completamente impassível.
— Quando um animal raro chega ao zoológico, todo mundo fica animado para ver.
Diante dessas palavras, os que ainda estavam tentando disfarçar ficaram gelados. Não era uma afirmação errada, mas ouvir uma expressão tão direta assim faria qualquer um reagir da mesma forma.
— Não, não queríamos dizer—
— Miller, escuta, nós só…
Eles tentaram se explicar, mas não tinham muito o que dizer. Enquanto estavam apenas observando, como se fosse uma salvação, a porta do escritório do chefe se abriu. Ao mesmo tempo, todos os olhares se concentraram em um só lugar. Primeiro, o rosto familiar do chefe saiu, e então era a vez do homem que todos estavam esperando. Todos prenderam a respiração e fixaram os olhos, até que finalmente Ashley Miller apareceu.
— Oh…
Alguém soltou um murmúrio besta de admiração.
Diziam que ele tinha mais de dois metros de altura, e, de fato, era fácil ver isso, já que ele estava acostumado a se abaixar para passar pelas portas. Assim que entrou no salão, endireitou as costas e ficou ainda maior. Pela primeira vez, todos ali viram de perto o rosto do homem que, provavelmente, seria o próximo presidente.
O cabelo loiro-platinado, perfeitamente penteado para trás, parecia combinar com a personalidade impecável dele. As sobrancelhas grossas e bem marcadas davam um ar ainda mais severo ao rosto. O olhar afiado, comprido como o de uma serpente prestes a dar o bote, percorreu a sala com calma. Suas maçãs do rosto altas projetavam uma sombra clara sobre suas bochechas afundadas, que eram tão atraentes que qualquer um suspiraria. E, mesmo dentro do terno, era possível ver o corpo absurdamente musculoso.
Mesmo sem olhar diretamente para seus olhos roxos profundos ou sentir o doce aroma de feromônio ao seu redor, era possível sentir a aura opressiva que ele emanava.
Esse homem nasceu para estar no topo.
Foi um pensamento coletivo.
Ashley Miller escaneou o ambiente, passando pelos funcionários um a um. O simples fato de seu olhar pousar sobre alguém já era o suficiente para enrijecer cada músculo do corpo dos presentes.
E então, ele parou.
Todo mundo acompanhou seu olhar e, de repente, entendeu.
Ashley começou a andar em direção a Grayson. Os espectadores prenderam a respiração. O que será que ele iria fazer? Apertar a mão do filho? Abraçá-lo? Ter uma conversa casual, como qualquer pai faria?
A expectativa pairava no ar.
Mas ele parou a três ou quatro passos de distância e ficou ali. Apenas olhando.
E, então, finalmente abriu a boca.
A voz baixa e firme preencheu o silêncio do ambiente.
— Parece que você está indo bem.
— Graças a você.
Grayson respondeu com seu sorriso habitual. Agora era o momento de um abraço caloroso. Todos pensaram assim, mas as expectativas foram completamente frustradas. Ashley Miller, ainda sem mudar sua expressão, moveu-se levemente e passou direto pelo filho.
Como se aquilo fosse um sinal combinado, Grayson virou e começou a segui-lo sem dizer nada.
Os que ficaram para trás só conseguiram olhar, confusos. Então o comandante, percebendo que o ambiente tinha congelado, resolveu trazer o povo de volta à realidade com uma tosse forçada.
— Ahem, cof, cof! Certo, pessoal, vamos encerrar o expediente.
O feitiço se quebrou. O burburinho começou imediatamente.
— Sobre o que você estava falando? Com Ashley Miller.
— Caramba, eles são idênticos. Será que o Grayson vai ficar assim quando envelhecer?
— O Grayson tem um rostinho mais bonitinho, não acha?
— Deve ser porque o cabelo dele é mais comprido. Se ele estilizar igual, aposto que vai ficar a cara do pai.
— Pessoal, foco! O QUE O CHEFE CONVERSOU COM ASHLEY MILLER?!
O comandante, já sem paciência, resmungou:
— O que mais seria? Ele só pediu para cuidarem bem do filho! Agora, CAIAM FORA!
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continua…