Deseje-me se puder - Capítulo 101
— Não. O que eu quis dizer foi…
De repente, Dane, que havia falado sem pensar, refletiu:
‘Espera aí, por que diabos eu tô me explicando? Esse cara realmente é grudento pra cacete.’
Se não fosse direto e frio, Grayson nunca entenderia. E, além disso, Dane precisava deixar bem claro nesses três meses que não haveria chance alguma entre eles. Se ficasse dando abertura, no final das contas, a situação só pioraria.
Ele hesitou por um instante, mas já sabia que não adiantava. Seu lado racional já tinha perdido, e ele estava amolecendo. Droga.
Dane suspirou e resolveu acabar logo com isso.
— Bonitão, por mais que seu rosto seja um colírio para os olhos, ninguém aguenta olhar para mesma coisa o dia inteiro. Além disso, eu não estou acostumado a passar tanto tempo com alguém. Não combina comigo, me irrita.
Ele jogou a verdade sem rodeios, deixando o mais claro possível qual era o problema de base.
— Mesmo entre namorados, a forma como cada um age é diferente. Você gosta de se grudar, mas eu detesto isso. Essas coisas precisam ser ajustadas, não é, meu bem? Quando só um lado impõe o que quer, não se pode chamar isso de um relacionamento saudável.
Isso deveria bastar.
Dane ficou esperando a reação de Grayson, achando que tinha explicado da forma mais racional e fria possível. Mas, ao invés de reagir como qualquer pessoa normal, Grayson apenas inclinou a cabeça, com uma expressão indecifrável.
— …Você entendeu o que eu disse?
Perdendo a paciência, Dane pressionou.
Foi então que Grayson sorriu.
‘De novo esse sorriso…’ Dane já sabia que coisa boa não vinha depois dessa expressão. E, como esperado, Grayson respondeu casualmente:
— Não entendi nada.
— Aaah.
Dane cobriu o rosto com a mão e soltou um suspiro longo e sofrido.
Mas, então, algo lhe ocorreu.
— …Você já teve outros namorados antes, não é? Como era com eles? Eles gostavam desse seu jeito de sombra grudenta?
Ele perguntou já sabendo a resposta. Porque, sinceramente, quem aceitaria ser seguido desse jeito sem enlouquecer?
Grayson coçou a nuca e riu de novo, de forma artificial.
— Ah… Então, eu não era assim antes.
‘Esse cara…’
Dane sentiu uma veia latejar na têmpora.
— Então por que diabos está fazendo isso comigo?! Por que você não me dá um segundo de paz?!
Grayson sorriu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— Porque você é o meu verdadeiro amor.
Dane ficou tão furioso que nem conseguiu gritar. Ele só levantou os punhos fechados, tremendo de raiva.
‘Eu poderia responder com um milhão de coisas, mas se eu abrir a boca agora, só vai sair ofensas.’
Ele respirou fundo, exalando a raiva aos poucos.
— …Você é muito controlador.
A voz saiu cansada.
— Eu odeio quando alguém é obsessivo e se agarra a mim. Por isso nunca gostei de namorar. Se você se controlar um pouco, eu até posso tentar aceitar.
Ao ouvir isso, Grayson colocou a mão no queixo, pensativo.
— Espaço, hein…? E quanto espaço exatamente?
Dane respondeu sem pensar.
— Não me mande mensagem até eu mandar primeiro e pare de aparecer do nada.
Grayson ainda parecia cético e perguntou.
— E quando você vai mandar mensagem ou aparecer?
Dane deu de ombros.
— Quando eu me lembrar.
Ele achou que isso seria suficiente, mas Grayson não desistiu tão fácil.
— Eu passo o dia inteiro pensando em você. E você?
A pergunta saiu do nada, pegando Dane desprevenido. Ele ficou em silêncio por um momento, e Grayson, como se já soubesse a resposta, baixou os olhos e o encarou de cima.
— Se for recíproco, eu acho que posso me controlar.
Dane ficou olhando para ele sem dizer nada, depois passou a mão no rosto com força. Com a palma ainda cobrindo parte da cara, murmurou baixinho:
— …eu vou tentar.
— Ótimo.
Dessa vez acabou mesmo, certo? Ele suspirou aliviado e baixou a mão – só para dar de cara com Grayson, que agora estendia uma das mãos para ele.
— …O que foi agora?
— Seu celular.
Grayson balançou a mão, impaciente.
— Você não tem meu número, então me dê logo.
Dane manteve o olhar fixo nele por um instante antes de tirar o celular do bolso de trás e largá-lo na mão estendida. Grayson pegou o aparelho e, assim que desbloqueou, franziu a testa.
— Como assim não tem senha?
A resposta veio no automático:
— Preguiça.
Grayson só deu de ombros e começou a digitar o próprio número. Dane esperava que aquilo levasse só alguns segundos, então ficou de mão estendida, pronto para pegar o celular de volta. Mas os segundos se transformaram em um tempo maior do que o esperado.
— Porque está demorando tan—
Dane pegou o celular de volta e congelou.
Na lista de contatos, bem no topo, um nome brilhava em destaque: “Love, Grayson”. Sem dizer nada, ele apagou o “Love”.
Grayson fez uma cara de quem queria protestar, mas Dane, obviamente, ignorou.
— Eu também tenho que te dar meu número?
Ele perguntou enquanto guardava o celular no bolso de novo. Tinha assumido que Grayson ligaria para o próprio celular para salvar o número, mas aparentemente ele só havia cadastrado o próprio contato. Aquilo o pegou de surpresa.
A resposta veio casualmente:
— Não precisa, eu já sei.
— …Ahhhh.
Dane soltou um suspiro cansado, mas nem se deu ao trabalho de discutir. Já havia aprendido que perder tempo questionando Grayson era inútil.
E, claro, Grayson ainda não tinha terminado.
— Agora que tem meu número, me manda mensagem sempre que pensar em mim. Pode ser só um pontinho, tanto faz. Se quiser ligar, melhor ainda. Se fizer isso, eu prometo respeitar o seu espaço.
Dane abriu a boca para dizer que aquilo era um absurdo, mas Grayson foi mais rápido:
—Você não vai mentir para mim depois de todo esse discurso sobre não mentir, certo?
Dane hesitou. Desgraçado, me pegou.
Respirou fundo, recobrando a compostura, e respondeu sem expressão:
— Claro que não. Acabamos por aqui, então? Estou indo.
Dane não perdeu mais tempo e saiu andando a passos largos. Sentiu Grayson seguindo logo atrás, mas não tinha como evitar. Trabalhar no mesmo lugar vinha com esse tipo de castigo.
Já era uma sorte não terem que pegar o mesmo carro.
Ele entrou em seu carro surrado e ligou o motor, pensando que, se tivesse que ouvir aquele maldito refrão peitos peitos até na ida e volta do trabalho, um dia desses acabaria enforcando Grayson.
Mas a verdade é que ele só estava adiando o inevitável. Nada tinha sido resolvido de fato, e ele sabia disso.
***
— O que você está fazendo, Dane? Faz tempo que tá nessa.
Deandre perguntou ao ver Dane sentado numa cadeira dobrável, balançando uma perna sem parar enquanto digitava no celular. Conforme o horário de saída se aproximava, ele ficava cada vez mais inquieto. Nunca na vida tinha passado tanto tempo pensando tão obsessivamente em uma única pessoa. Se isso fosse parte de algum plano maligno de Grayson Miller, então parabéns: estava funcionando perfeitamente.
Desde o meio da tarde, Dane começou a ficar mais impaciente e, sem nem perceber, já tinha tirado o celular do bolso e guardado de volta umas cinquenta vezes. Tudo pra mandar uma mensagem para Grayson.
Deandre deu uma espiada rápida no celular dele e arregalou os olhos.
— Que porra… por que tem tanto ponto ali?
Ele olhava do celular para Dane, esperando alguma explicação, mas não recebeu nenhuma. No fim, desistiu e foi embora, mas Dane não deu a mínima. Continuou encarando a tela do celular.
Afinal, como Deandre tinha notado, a única coisa que ele tinha enviado para Grayson eram fileiras intermináveis de pontos solitários.
Já Grayson…
[Querido Dane. Você viu a nuvem que acabou de passar? Era IGUALZINHA a um cachorro-quente! Não é incrível ver um cachorro-quente flutuando em um céu tão azul? Ele era tão imponente quanto a minha Virgínia. Hahaha!]
[Querido Dane. Verificar uma motosserra é basicamente uma roleta russa. Deveríamos receber bônus por periculosidade toda vez que fizermos isso. Quer processar a empresa comigo? Aposto que Miller & Associados consegue arrancar pelo menos uns 100 mil dólares. Se processarmos só nós dois, dá 50 mil para cada, mas eu sou um cara generoso, posso te dar minha parte… com a condição de poder enterrar o rosto nos seus peitos e te encher de beijos.]
[Querido Dane. Você sabia que até entre as formigas têm formigas que trabalham e outras que só ficam de boa? Tipo, as que tão passando pelo meu pé agora… será que são operárias ou só estão passeando? Porque estão juntas, então pode ser que estejam indo se divertir. Que tal irmos nos divertir juntos neste fim de semana?]
[Querido Dane.]
[Querido Dane.]
[Querido Dane.]
[…]
A lista parecia não ter fim.
Dane ficou olhando para a tela por tempo demais, sentindo o sangue sumir do rosto.
°
°
Continua…
Ana
Muito amor kkkkkk
•°Simp_Koynue°•
E como sempre, eu gargalho só de ler sobre a Virgínia kakkakakakaka
Choryti
O Grayson é tão adorável, infelizmente penso assim