Deseje-me se puder - Capítulo 08
Koy começou a discar feito um louco.
No fim das contas, ele sempre era o primeiro a saber das coisas por um motivo simples: Ashley não se dava ao trabalho de contar para mais ninguém. Sabia que Koy ia espalhar a novidade para todo mundo em tempo recorde.
E, como esperado, lá estava ele, fazendo exatamente isso.
— Não tá atendendo… Deve estar no tribunal?
Ele deixou um recado de voz para o filho mais velho, que era a cara de Ashley.
[O Grayson quer ser bombeiro! Ele encontrou alguém novo, está fazendo algo bom, que legal, né? Fique bem, apareça de vez em quando para a gente se ver, e eu te amo.]
Sem perder tempo, ligou para a terceira filha, Stacey.
— O quê? Bombeiro? O Grayson?! Esse idiota?!
Ela caiu na gargalhada assim que ouviu a novidade. Koy piscou, surpreso. Essa não era a reação que ele esperava. Ele cortou a conversa rapidinho, se despediu com um “eu te amo” e seguiu para a próxima chamada.
Aí veio a parte difícil.
A hesitação bateu, porque agora era a vez do Chase. Ainda estavam no meio daquele processo de “consertar as coisas”. Se é que dava para chamar de conserto. No máximo, trocavam umas mensagens de tempos em tempos. Quando conversavam, mal passava de duas ou três frases. Mas para Koy, isso já era motivo para ficar feliz.
Ele soltou um longo suspiro.
Olhou o relógio. Conferiu o fuso da costa oeste.
‘Está tudo certo. Agora é um bom horário.’
Ele respirou fundo, se preparou e apertou o botão de discagem. Ficou ali, com as orelhas quase tremendo de expectativa, esperando a ligação conectar. Quando finalmente ouviu uma voz do outro lado, quase gritou de susto.
— Ah, é… oi sou eu Chase. Como você está?
Mas toda aquela empolgação morreu rapidinho quando Chase respondeu do jeito mais seco possível:
[O que foi.]
—…Ah. — Koy fechou os olhos com força e continuou. — Então, o Grayson disse que vai virar bombeiro. E o Ash decidiu ajudar ele a conseguir o emprego……
Ele se esforçou para falar, mas do outro lado não veio reação nenhuma. Com um silêncio meio estranho, Koy abriu a boca com cuidado.
— Alô… Chase…?
Antes que pudesse terminar a frase, a resposta veio. Grossa. Fria. E acompanhada de um palavrão.
[Que porra esse maluco tá planejando agora?]
— O quê?”
Koy, surpreso, perguntou, mas Chase já tinha cortado a ligação. Ele ficou só olhando para a tela, piscando, como se não acreditasse no que tinha acabado de acontecer. Mas, no fim, não tinha muito o que fazer. A conversa tinha acabado antes mesmo de começar. Ele soltou um suspiro, mas logo um pensamento o animou: Chase, com certeza, ia contar tudo para Joshua. Ele e os filhos eram as pessoas mais importantes para ele, então isso já resolvia o problema de espalhar a novidade.
‘Que bom.’
E, com isso, Koi abriu um sorriso.
Era tão bom saber que seus filhos, assim como ele, tinham encontrado alguém especial. Na verdade, o que mais preocupava Koy era o Chase. Mas o incrível é que foi justamente ele quem encontrou alguém primeiro. E, um por um, os outros filhos também encontraram seus amores e agora vivem vidas estáveis.
Todos… menos Grayson.
Ironia do destino. O cara que passou a vida inteira obcecado com essa ideia de “um único amor verdadeiro” era o único que ainda estava sozinho.
‘Tomara que isso mude logo.’
Koy fez uma pequena prece e, no fundo, acrescentou: mesmo que ele não encontre essa pessoa, seria ótimo se Grayson pudesse aprender um pouco sobre “humanidade” ajudando os outros dessa vez. Mesmo que ele não tenha nascido com isso, dá para aprender. Não foi fácil, mas ele acabou aprendendo a ter “habilidades sociais”, então tudo é possível.
Com esse pensamento, Koy seguiu ligando para os outros filhos. As reações foram variadas, mas ele tinha certeza de que todos sentiam o mesmo que ele. Todos queriam que Grayson encontrasse a tal “alma gêmea” o mais rápido possível.
Porque, apesar de serem um pouco fora do comum…
Seus filhos eram todos uns anjos.
Koy só ignorou o pensamento incômodo que veio logo depois. Lá fora, o céu estava escurecendo. Mas, absorvido em sua felicidade, ele nem percebeu as nuvens carregadas se formando no horizonte.
“O príncipe mimado dos Miller está chegando.”
A notícia se espalhou pelo quartel de bombeiros em menos de meio dia. E, claro, ninguém ficou muito feliz com isso.
O motivo? Era simples.
Todo mundo ali tinha passado por um processo seletivo rigoroso, encarado treinamentos puxadíssimos e feito um esforço absurdo para chegar onde estava. Mas agora, do nada, um riquinho metido ia entrar direto, sem concurso, sem sequer passar pelo teste físico básico.
Óbvio que o cara não tinha espírito de equipe, senso de dever ou qualquer noção do que significava esse trabalho. Deve ter achado a ideia “legal”, talvez tenha visto um filme ou lido alguma coisa inspiradora. E quando perceber que ser bombeiro não é só correr em câmera lenta no meio do fogo, vai dar no pé rapidinho.
Afinal, isso aqui não era brincadeira, era uma profissão onde as pessoas literalmente colocavam a própria vida em risco. Só dava para se manter nisso tendo muita dedicação e orgulho do que fazia. E agora tinham que dividir esse ambiente com um riquinho entediado que decidiu brincar de herói?
Dava para sentir a hostilidade no ar.
No centro de treinamento, os bombeiros estavam espalhados, mas todos tinham a mesma expressão fechada, como se estivessem prontos para derrubar qualquer um que atravessasse o caminho errado.O comandante do batalhão, sentindo a tensão crescente, respirou fundo e tentou acalmar os ânimos:
— É isso. Ele vai entrar, e vocês vão ter que lidar com isso. No máximo um ano, certo? Pensem como um serviço para a comunidade. — Ele hesitou um instante antes de acrescentar:— O Miller também é um cidadão… Um que paga uma quantia absurda de impostos, aliás. Certo?
Ele acrescentou a última frase como se estivesse pedindo aprovação, mas a reação que veio foi fria.
— Isso não é serviço à comunidade, é ser babá de bostinha. Precisamos realmente fazer esse papel, sendo que já estamos ocupados pra caramba com os chamados?
Alguém levantou a mão para perguntar, mas o tom era claramente sarcástico. O chefe dos bombeiros percebeu, mas se segurou e respondeu num tom calmo.
— Pensem nisso como se tivéssemos ganhado mais um voluntário. Sei lá, considere como um trabalho de meio período.
Óbvio que ninguém engoliu essa desculpa. Bombeiros regulares ou voluntários, tanto faz – um incêndio é sempre um lugar onde vidas estão em jogo. Ninguém entra e sai numa boa. Mesmo os voluntários passavam por um treinamento intenso e levavam o trabalho a sério. O silêncio pesado continuou sem sinal de ceder, e o chefe, um pouco sem jeito, riu e mudou de assunto às pressas.
— Bom, então… decidimos fazer uma festinha de boas-vindas pro Miller! Vamos beber juntos, socializar, que tal? Comendo e bebendo à vontade, vocês vão se aproximar rapidinho. Encher a cara ajuda a quebrar o gelo, ok? Ah, eu sei, os alfas dominantes não ficam bêbados, mas… sei lá, se entornarem o suficiente, quem sabe? Hahaha! Todo mundo tem que ir, hein? Sem exceção!
‘Festinha de boas-vindas, sei.’
Ninguém reagiu, mas ele insistiu mais uma vez antes de passar o endereço do bar de sempre e sair rápido, quase fugindo.
Assim que a porta se fechou, o ambiente ficou ainda mais pesado. O silêncio durou um tempo, como se todos esperassem a reação dos outros, até que alguém não aguentou mais e explodiu.
— Isso lá faz sentido? O cara nem passou por um processo seletivo de verdade, nem um teste físico, e vai simplesmente entrar aqui?
O bombeiro que estava sentado no banco do supino se levantou de repente, indignado. E, como se tivessem aberto as comportas, o resto explodiu logo em seguida.
— Óbvio que não faz sentido! Isso é uma palhaçada, completamente injusto!
— Aposto que esse babaca nem fez a prova para se tornar bombeiro.
—Todo mundo deveria ter a mesma chance, mas não, isso aí é puro ‘jeitinho’. Não é a toa que vem de uma família de advogados safados.
—Três gerações já, cacete! A maldita firma Miller de novo!
—Nem se o Miller virasse presidente ele poderia enfiar essa merda goela abaixo da gente. Aqui ainda é os Estados Unidos, porra!
— Presidente? Hah! No máximo, ele é um advogadozinho metido.
— E senador. Mas com a firma Miller bancando tudo, dá na mesma.
As reclamações foram diminuindo até que um silêncio pesado tomou conta do lugar. Sim, afinal, aqui era os Estados Unidos. O país onde tudo é possível se você tiver dinheiro. E se você é dono da maior firma de advocacia da América do Norte há três gerações, que tipo de limite realmente existe? Agora que os Miller estavam se metendo na política, o país inteiro parecia estar na palma da mão deles.
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continua…
Sue
Koy chamando as crias dele de anjos mds, eles são concerteza!,mas eu estou apaixonada pelo koy ele é muito babão pelos filhos.