Deseje-me se puder - Capítulo 07
Ashley, que estava quieto observando o filho hesitante, deu uma olhadinha no relógio de pulso. O recado era claro: ele não tinha o dia inteiro para esperar. Grayson sabia muito bem que o único ser humano no planeta que podia fazer manha com seu pai era Koy, o ômega que o trouxe ao mundo e o único amor da vida de Ashley. E foi esse pensamento que o fez tomar sua decisão.
— Eu vou fazer isso.
A voz saiu firme, cheia de convicção.
— Não importa o que aconteça, eu vou aguentar. Então, por favor, me ajude a entrar no corpo de bombeiros.
Ashley o encarou por um instante, como se estivesse tentando medir até onde ia essa determinação toda.
— …Ótimo.
Demorou um pouco, mas ele finalmente respondeu. E pela primeira vez, sua expressão mudou. Um sorrisinho meio debochado apareceu no rosto dele.
— Isso vai ser divertido. Quero ver até onde você aguenta.
— Obrigado!
Grayson abriu um sorriso radiante, sem conseguir esconder a empolgação. Ashley notou que, dessa vez, ambas as orelhas dele se mexeram. Os passos dele saindo do escritório pareciam leves, como se ele pudesse sair voando a qualquer momento.
Dessa vez era para valer. Dessa vez, ele finalmente iria encontrar aquela pessoa.
Ele sonhou com isso a vida inteira. Encontrar alguém que o amasse de verdade e que ele amaria de volta. Ele acreditava que um dia encontraria um amor único, assim como o do seu pai e do seu papai.
— Opa, opa.
Mal saiu pelo corredor e quase trombou com uma mulher que passava. Grayson, por pouco evitou o acidente, segurou a mão dela com um sorriso de cavalheiro.
— Cuidado, Wendy. Quase caiu.
— Sr. Miller.
A assistente de Ashley respondeu com um sorriso educado, mas seus olhos continuavam frios como gelo.
— Veio ver o presidente? Pelo visto, já resolveu o que tinha para resolver.”
— Ah sim. Resolvido e muito bem resolvido.
Houve um tempo em que aquele sorriso desgraçado do alfa a fazia suspirar. Mas agora? Agora, nem ferrando.
Claro, faz todo sentido. O cara que jurou que ela era “seu par destinado”, que parecia pronto para arrancar o próprio fígado para provar seu amor, simplesmente acorda um dia e disse: “Ops, não era você. Tchau!” e sumiu. Quem não ficaria puto? E depois ele ainda tem a cara de pau de agir como se nada tivesse acontecido.
Ela sentia desprezo? Com certeza. E o fato de saber exatamente o motivo pelo qual Grayson estava tão animado naquele dia só deixava tudo ainda mais irritante. Porque com Grayson Miller, essa felicidade toda só podia significar uma coisa.
— Achou um novo parceiro destinado?
— Como você adivinhou?
Grayson riu alto, quase como se fosse abraçar Wendy e começar a beijá-la sem parar. Wendy, sempre atenta, deu um passo para trás. Mas Grayson, sendo Grayson, sabia exatamente onde estava o limite.
Você não é minha alma gêmea, afinal.
… foi o que ele pareceu dizer, com as mãos nos bolsos e aquele sorriso enorme e cínico.
Ela se segurou para não meter um tapa na cara dele. Infelizmente, ainda estava no trabalho, e ele era o filho do chefe. Tudo que podia fazer era rogar uma praga silenciosa.
— Parabéns. Espero que dessa vez seja mesmo de verdade.
Fuja! Wendy gritou mentalmente para a pobre alma desconhecida que Grayson tinha escolhido dessa vez. Grayson, completamente alheio ou simplesmente ignorando, continuou sorrindo e disse “Obrigado” antes de sair assobiando.
Wendy o observou sumir no corredor, então puxou o celular e rapidamente digitou uma mensagem.
[Alerta vermelho: Grayson Miller escolheu uma nova vítima.]
Menos de 10 segundos depois, uma enxurrada de respostas começaram a aparecer, tão rápido que ela mal conseguia ler.
[O quê, de novo nessa palhaçada de sair por aí atrás do destinado?]
[Isso aí, acertou na mosca.]
As mensagens explodiram no grupo, cheias de choque, raiva e condolências antecipadas pela nova vítima prestes a surgir. Algumas vinham carregadas de xingamentos, mas ninguém se deu ao trabalho de repreender. Era um segredo dessa comunidade. Enquanto Grayson Miller existisse, essa bela corrente de apoio jamais se quebraria.
Wendy pensou.
Mais um nome para a lista de “Sobreviventes de Grayson Miller”. E, ao que parece, ela não foi a única que sentiu isso.
[Se alguém novo chegar, vamos recebê-lo com carinho.]
Wendy suspirou com um misto de compaixão e olhou para trás. Grayson Miller já havia desaparecido.
‘Tomara que, dessa vez, seja verdade.’
‘E que ele leve um belo pé na bunda.’
‘Daquela pessoa que ele tanto acredita ser o “seu parceiro destinado”.’
***
— O quê?! O Grayson?! Sério?!
Assim que ouviu a novidade sobre o seu querido segundo filho, Koy praticamente gritou de empolgação. Do outro lado da linha, Ashley disse algo, e Koy balançou a cabeça repetidamente, como se o marido pudesse ver. Logo depois, soltou um suspiro satisfeito.
— Tomara que, dessa vez, seja verdade. Não quero que ele se decepcione de novo.
Ashley, por sua vez, foi bem mais direto:
[Ele vai se virar.]
—Ah… sim, claro.
Koy coçou a cabeça, meio sem graça. Sempre que o assunto eram os filhos, ele se questionava se não estava sendo superprotetor demais. Ashley sempre dizia que ele exagerava, e Koy, sempre aceitava o que ela falava, então dessa vez não foi diferente.
[O nosso trabalho é só torcer de longe. O resto é com ele.]
— Ah, sim. Certo, você está certo.
Koy assentiu, porque no fim das contas, Ashley estava sempre certo. Mas ver o filho quebrar a cara tantas vezes não deixava de doer.
— Espero que, dessa vez, dê certo.
Murmurou, cheio de esperança. Até que algo lhe ocorreu.
— Espera… Então quer dizer que o Grayson tá na costa leste?! Onde exatamente?!
Empolgado, Koy aumentou ainda mais a voz, mas do outro lado da linha, Ashley respondeu com a mesma calma de sempre.
[ Já deve ter voltado.]
— Já?!”
Koi imediatamente murchou, decepcionado.
— Como ele pôde ir embora sem nem me avisar? Eu nem sabia que ele tinha vindo para cá!
[Tá vendo? De que adianta criar com todo o carinho do mundo?]
Ashley não perdeu a chance de alfinetar. O tom era claramente de quem achava seis filhos um exagero, mas Koy, como sempre, entendeu de outra forma.
— Eles cresceram rápido demais… Eu devia ter tido doze! Mas tudo bem, ainda dá tempo, a gente pode ter mais seis…
[O que você programou para o jantar? Tem algum compromisso hoje?]
Ashley o interrompeu casualmente. Koy piscou, confuso.
— Hã? Não… Não tenho nada. Quer dizer… O quê?]
E então ficou vermelho. Ainda tentou argumentar, mas no fim, só suspirou e se rendeu.
— …Tá bom, então.
Ashley que já tinha conseguido o que queria, como se não bastasse, ainda jogou um último comentário antes de desligar:
[Estou contando os minutos. Te vejo mais tarde, Koy.]
A ligação terminou, deixando Koy olhando para o celular por um instante antes de balançar a cabeça. Mas logo se lembrou do que era realmente importante.
‘O Grayson finalmente achou o par destinado dele!’
Era frustrante pensar que o filho tinha ido até a costa leste e nem se deu ao trabalho de dar um oi antes de ir embora. Mas Koy se forçou a deixar isso de lado. Se queria vê-lo, podia muito bem ir até ele. O que realmente importava era que Grayson finalmente tinha decidido seguir uma carreira. E ser bombeiro ainda por cima! Que orgulho.
Mesmo que as intenções fossem meio… duvidosas.
“Ele tem uma ideia muito fantasiosa sobre isso.”
Ashley já tinha dito isso uma vez. E, no fundo, Koy concordava. Não era ruim que Grayson quisesse um amor como o deles. O problema era que amar alguém não era só flores. Só que o Grayson não fazia ideia de tudo o que eles tinham passado para chegar onde estavam. Ele só via o resultado e queria a mesma coisa. Isso deixava Koy meio preocupado, mas ele não podia simplesmente cortar o sonho do filho.
Se apaixonar e se jogar de cabeça em algo é parte da vida.
E ainda por cima ser bombeiro? Que escolha incrível! Só isso já era o suficiente. Depois de se reconfortar, Koy percebeu uma coisa:
‘Não posso guardar essa notícia só para mim. As crianças têm que saber!’
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Continua…..