Deseje-me se puder - Capítulo 04
Quando os bombeiros finalmente chegaram à mansão isolada, o cenário era um caos — exatamente o que se esperava de um lugar que sediava uma festa de feromônios. Uma coluna de fumaça negra se erguia no céu, enquanto dezenas de pessoas corriam para fora em pânico. Mas, é claro, a maioria estava ou pelada ou vestida só o suficiente para não ser presa por atentado ao pudor. Alguns seguravam pedaços aleatórios de tecido contra o corpo, numa tentativa inútil de preservar o mínimo de dignidade. Os únicos decentemente vestidos eram, claramente, seguranças ou funcionários. O contraste entre eles e o resto da multidão era tão ridículo que, em qualquer outra situação, seria difícil não rir. Mas os bombeiros não tinham tempo para isso.
Na real, até que foi um alívio ver que algumas dessas criaturas ainda tinham cérebro funcionando o bastante para sair correndo. Enquanto uma equipe se preparava para entrar no prédio, outra já trabalhava para controlar o fogo.
— Ainda tem muita gente lá dentro? — perguntou o líder da equipe.
Um homem que parecia ser o mordomo da casa, pálido como um fantasma, gaguejou: — N-Não sei ao certo… Mas acredito que sim…
Antes que ele terminasse de se enrolar ainda mais, um homem de cabelo ruivo quase vermelho puro, com uma expressão de tédio , perguntou:
— Posso focar nos civis normais, ok?
— Que porra, Dane! Se tiver Alfas dominantes lá dentro, você também vai salvar! — rosnou o chefe.
O tal Dane revirou os olhos, soltou um estalo de língua irritado e seguiu direto para o prédio em chamas, sem sequer fingir que gostou da ordem.
O chefe o acompanhou com o olhar, testa franzida em desconfiança.
— Ele não faria uma merda dessas, não é? Tipo, deixar alguém para morrer de propósito?
— Ah, não. — Um dos colegas riu, sem muita animação. — Ele pode ser um babaca às vezes, mas faz o trabalho direito. —E depois de uma pausa:— Pelo menos enquanto ainda está em serviço.
Enquanto isso, um grupo de bombeiros avançava para dentro do inferno. Correndo contra a multidão de fugitivos, eles foram recebidos com um festival de rangidos assustadores e estalos sinistros.
***
O fogo lambia as paredes, criando padrões esquisitos enquanto devorava a casa. O forro começou a desabar em lugares aleatórios, enquanto a fumaça se movia como um monstro vivo, sugando o oxigênio do ambiente. Eles tinham pouco tempo. Cada cômodo era aberto e verificado, e cada pessoa encontrada era arrancada dali no grito.
— MEXE ESSA PORRA DE RABO. VAI SAIR OU VAI MORRER?
No meio da fumaça, um bombeiro encontrou um casal largado no sofá. Mas o casal não reagiu direito, eles estavam caídos no sofá, sem entender muito bem o que estava acontecendo. Enquanto os bombeiros os arrastavam para fora, um deles subiu correndo as escadas.
— Ah, pelo amor de Deus…
Sem paciência para teatrinho de gente chapada, ele e um colega simplesmente os agarraram e arrastaram para fora. Enquanto isso, Dane já tinha sumido escada acima, pulando três degraus de uma vez.
— PORRA, DANE, ESPERA AÍ!
O chamado ficou para trás. No segundo andar, a fumaça era ainda mais densa, mas Dane não perdeu tempo: Ele abriu as portas rapidamente, verificando cada cômodo. Pelo menos algumas pessoas ainda tinham instinto de sobrevivência suficiente para correr assim que viam a saída.
Mas ele sabia que nem todos seriam assim.
Dane respirou fundo, tentando manter o controle sobre a respiração, apesar do calor sufocante e da adrenalina bombando. Estava prestes a seguir em frente quando, no meio da fumaça espessa, um dos funcionários da casa surgiu tropeçando, tossindo como se tivesse engolido um maçarico.
— Tem gente lá dentro ainda?
Sem perder tempo, Dane o segurou pelo braço e perguntou.
O homem, com a cara coberta de fuligem e suando como um condenado, segurou um lenço contra o rosto enquanto tentava falar entre os acessos de tosse.
— Eu… e-eu não sei! Mas levei bebida para alguém no quarto do fundo, à direita…
Dane não esperou para ouvir o resto. Se lançou pelo corredor sem olhar para trás.
— A porta está trancada! Vai precisar arrombar! — O funcionário gritou com a voz rouca, mas Dane já estava longe.
Com um movimento rápido, ele puxou o machado das costas e o segurou firme numa mão. Assim que chegou no final do corredor, seus olhos buscaram a tal porta — quase passou direto por ela, era pequena, discreta, praticamente camuflada na parede.
“Idiotas.”
Se não tivesse sido avisado, jamais teria notado. Dane rapidamente tocou a parede para confirmar a posição da porta, ajustou o machado e golpeou com força.
CRACK!
Com um barulho alto, pedaços de madeira voaram para todos os lados. Atrás dele, o som sombrio do fogo se espalhando se misturava com o barulho de vidros quebrando. Dane ignorou e continuou golpeando a porta. Depois de alguns golpes, ele arrancou o pedaço da porta destruída, enfiou a mão no buraco e girou a maçaneta. Com um som metálico, a porta se abriu e Dane entrou correndo.
— Saiam logo dai! O prédio tá pegando f—
Parou no meio da frase. Aquilo… aquilo nem ele tinha visto antes. E olha que Dane Striker já tinha feito e visto de tudo.
No chão, dois homens idênticos, nus, tremiam violentamente. Babavam, os olhos estavam revirados para trás, os corpos cobertos de suor e marcas avermelhadas. O pior? Mesmo praticamente em choque, ainda estavam de pau duro. Derramando sêmem sem parar.
Ainda assim, eles não conseguiam se controlar e continuavam a se masturbar freneticamente. Os pênis estavam vermelhos, feridos e até sangrando, mas eles não paravam. Parecia que suas mentes estavam completamente dominadas por algo. Álcool, drogas, ou…
Feromônios.
‘Merda.’
E foi então que ele finalmente olhou para a cama.
Foi então que Dane notou o homem na cama. Mais precisamente, um homem de cabelos dourados, com os pulsos amarrados a cada um dos postes da cama, inclinado contra a cabeceira.
O cheiro de feromônio no ar era ainda mais forte que a fumaça.
E a fonte?
Estava bem ali, sentado na cama, sorrindo.
Enquanto os dois ômegas se contorciam no chão, completamente alucinados, aquele desgraçado de cabelos dourados se divertia. Como se estivesse assistindo à melhor comédia da sua vida.
Dane ficou parado por um momento, observando aqueles olhos dourados brilhando no meio do caos. Que porra é essa? Esse maluco tá de sacanagem? O calor atrás dele só aumentava. O som da casa rangendo, desmoronando pouco a pouco, não parava. O suor escorria pela testa, preso sob o capacete, enquanto Dane pensava no absurdo da situação.
Desde que descobriu que era uma “festa de feromônios”, ele já esperava que ia encontrar um caos. Mas ver aquela cena ao vivo era de revirar o estômago. Ele ficou um pouco frustrado, pensando:”Eu realmente entrei nesse inferno para salvar esses malditos?” Mas não era hora de ficar pensando muito.
— Dane! Tá tudo bem aí?! Ai, caralho!
Ezra, que chegou atrasado, gritou assustado. O resto da equipe de bombeiros também chegou e, assim como ele, ficaram boquiabertos com a cena bizarra que nunca tinham visto antes.
Dane foi o primeiro a se mexer. Os gêmeos jogados no chão não tinham a menor condição de sair sozinhos. Dane pegou um deles nos braços, enquanto Ezra fazia o mesmo com o outro. Mas assim que deram o primeiro passo…
‘Merda.’
No meio da fumaça, o cheiro de feromônio se intensificou de novo. E o gêmeo no colo de Dane entrou em convulsão. Dane segurou ele com força, mas Ezra, distraído, acabou deixando o outro escorregar.
— Ah, porra!
O corpo do gêmeo bateu no chão com um baque forte, mas ele não reagiu à dor. Nem mesmo piscou. Ao invés disso, se arrastou pelo chão com desespero, como um viciado atrás da próxima dose. E a “dose”? O maldito loiro na cama.
Dane empurrou o gêmeo que estava carregando para outro bombeiro e foi atrás do que estava no chão. Mas o desgraçado começou a surtar.
— NÃO! ME SOLTA!
— Me dê logo! Me dê logo! Me fode, me fode, me fodeeeee!
A voz rasgou o ar com um grito histérico, o corpo tremendo, a bunda empinada numa súplica desesperada.
Aquilo foi o suficiente para fazer até os bombeiros mais calejados desviarem o olhar. Dane já tinha perdido a paciência: ‘Que inferno é esse?’
°
°
Continua…