Deseje-me se puder - Capítulo 03
Grayson cambaleou para trás, piscando com um olhar atordoado.
‘Que porra foi essa…?’
A visão embaçada aos poucos revelou um corredor familiar, ele precisou de um momento para processar o que diabos tinha acabado de acontecer.
Quando abaixou o olhar, viu dois rostos idênticos olhando para ele com uma expressão nada amigável – e numa altura bem menor do que o normal. Seus olhos percorreram os cacos espalhados no chão, e então a ficha caiu: aqueles desgraçados tinham acabado de acertar sua cabeça com um vaso.
— Seus…
Ele mal teve tempo de terminar a frase antes que os dois saltassem em cima dele ao mesmo tempo. O impacto repentino o fez perder o equilíbrio e tombar para trás. Com um baque surdo, Grayson caiu no chão, e um dos gêmeos imediatamente subiu em cima dele.
— Seu merda, achou que podia tirar onda com a gente?!
O outro, ofegante, disparou logo em seguida:
— Depois do que você fez, achou que ia sair ileso? Pois pode esquecer seu filho da puta! Hoje você não sai daqui andando.
Ele segurava outro vaso de cerâmica na mão.
‘Ah, não…’
Grayson fez uma careta, mas já sabia exatamente o que viria a seguir. Ele virou a cabeça para o lado, mas não foi o suficiente. O vaso o atingiu com força, e tudo ficou preto. Os gêmeos checaram se ele estava desacordado, então, sem cerimônia, cada um agarrou uma perna e começaram a arrastá-lo para algum lugar.
‘Ah, que maravilha.’
Enquanto observava o teto tremular com o movimento, Grayson teve um último pensamento antes de apagar completamente: eu devia ter trazido Alex. Ter feito uma dupla com Alex teria resolvido isso.
***
— Ugh…
Com um gemido baixo, ele voltou a si. Sentiu uma dor latejante em um lado da cabeça e tentou se levantar, mas de repente, um som metálico de “clank” puxou seu braço de forma estranha. Quando ele olhou para cima, viu que seu pulso estava algemado à cabeceira da cama, o outro pulso também. Foi aí que ele admitiu, relutantemente: suas mãos estavam algemadas às grades da cama.
‘Ah, ótimo.’
Só então aceitou – meio a contragosto – que estava oficialmente amarrado à droga de uma cama.
— Que tipo de fetiche é esse, hein?
A voz dele saiu carregada de sarcasmo enquanto ele se dirigia a um dos gêmeos, que, no momento, estava ocupado abaixando as próprias calças. O tom de Grayson transbordava diversão, como se achasse tudo aquilo a coisa mais hilária do mundo.
O outro gêmeo, que já tinha se livrado da própria camisa, engatinhou até o rosto de Grayson, com os olhos estreitos e um sorriso nada amigável.
— Não tá vendo? Foi você quem fez isso, agora aguente as consequências.
O pauzinho pequeno e fofo dele estava todo molhado, empinado pra cima. Provavelmente a bunda também. Não, essa com certeza estava num estado muito pior.
Shhh, shhh. Um dos gêmeos, respirando pesado e ofegante, se agarrou à parte de baixo do corpo do Grayson. Com as mãos tremendo, ele tentou abrir o cinto da calça do alfa, enquanto soltava um monte de palavrões.
— Mostra essa rola, seu filho da puta. Vou espremer ela a noite toda, então se prepare.
A respiração acelerada e os ombros subindo e descendo mostravam que ele já estava completamente fora de si de tesão. Na verdade, era surpreendente que ele ainda estivesse conseguindo falar e se mexer por conta própria, considerando a quantidade de feromônio que Grayson tinha soltado de propósito. Mas era só uma questão de tempo.
Mesmo com os dedos escorregando, incapazes de coordenar um movimento simples, os dois ainda não desistiam. Grayson deu uma risadinha ao ver os gêmeos lutando para tirar as calças dele.
— Que fofos, vocês estão pensando em me estuprar?
— Cala a boca, seu merda!
— Não, não vem dar… uma de superior, você não pode fazer nada!
Os gêmeos gritavam alternadamente, suas vozes cada vez mais desesperadas, mas Grayson continuava completamente relaxado. Mesmo algemado e tecnicamente em desvantagem, ele não perdeu a postura nem o humor. E isso só deixou os gêmeos ainda mais nervosos.
‘O que está acontecendo?’
Por um instante, uma pontada de dúvida passou pela cabeça deles. Algo parecia… errado. Mas logo afastaram o pensamento.
Grayson não podia fazer nada.
Preso daquele jeito, que merda ele poderia aprontar? No máximo, despejar feromônios no ambiente, furioso, como um animal acuado.
Só que…
O cheiro de feromônios que sempre pairou ao redor dele ficou mais intenso. Uma energia pesada e opressiva começou a se infiltrar na pele dos gêmeos. Eles estremeceram, congelando no lugar. Um calafrio percorreu suas espinhas, e sentiram os pelos de seus corpos arrepiarem. A cada respiração, aquela sensação estranha penetrava profundamente em seus pulmões, entorpecendo suas mentes. Mesmo intoxicados por aqueles feromônios, longe de estarem em sã consciência, eles instintivamente sentiram medo.
‘Grayson pode nos matar.’
Minutos atrás, estavam cheios de si, insultando e avançando sem medo. Agora, hesitavam, e Grayson percebeu.
— Tá bom, tudo bem. — A voz dele soou tranquila, arrastada. Os olhos violeta ganharam um brilho dourado enquanto ele completava:— Se querem brincar… por que não?
***
O barulho das sirenes tomou conta da cidade. Os carros frearam de repente, deixando espaço para a fileira de caminhões de bombeiros que avançava pelas ruas.
— Filhos da puta! Se iam fazer putaria, podiam ao menos não botar fogo na casa, né?
O xingamento veio de alguém no trânsito, e logo outros motoristas murmuravam em concordância. Há poucos minutos, o chamado de emergência tinha chegado: um incêndio numa mansão afastada, nos arredores da cidade.
[No começo era só fumaça, mas agora… merda, as chamas estão subindo!]
O operador do rádio quase engasgou ao ouvir a explicação do solicitante. Rastrearam o GPS e partiram às pressas. Mas, ao descobrir a causa do incêndio no caminho, o ânimo da equipe despencou completamente.
O incêndio começou… por causa de fogos de artifício.
Sim. Alguém teve a brilhante ideia de soltar fogos dentro de um lugar fechado. E quando começaram a perguntar o que diabos estavam fazendo antes disso, as respostas só pioraram a situação.
— “Festa de feromônios?” Isso é só um jeito educado de dizer que estavam fodendo em grupo?
Outro bombeiro resmungou:
— Essa gente não tem bombeiro particular não? Dizem que esses alfas dominantes são cheios da grana, mas nem para pagar um serviço decente.
— No final, o trabalho ia cair no nosso colo de qualquer jeito. Se o fogo espalha, adivinha quem tem que apagar?
— Esses desgraçados. Se enfiam em suruba, botam fogo na porra da casa e ainda chamam a gente para apagar. Esses vagabundos sem um pingo de vergonha.
Todo mundo estava de mau humor, mas não podiam simplesmente ignorar a chamada. Seja lá quem fossem, alfas dominantes ou não, ainda eram cidadãos, e ninguém merece morrer queimado. Mas claro, ninguém estava feliz com essa situação, e o chefe da equipe deixou que todos soltassem seus palavrões e caras feias sem interferir.
Qualquer um ali sabia o que era uma festa de feromônios de Alfas dominantes. Essas raras aberrações genéticas tinham um problema peculiar: se acumulassem feromônios por muito tempo, o cérebro simplesmente começava a falhar. Para evitar os efeitos colaterais, eles precisam “liberar” esses feromônios de tempos em tempos. Daí vinham essas “festas” — basicamente, é um grupo de alfas dominantes se reunindo para liberar essa energia juntos.
Tecnicamente, um evento médico necessário.
Na prática?
Uma orgia generalizada.
O lugar ficava infestado de Ômegas e Betas sedentos, prontos para se enfiar no meio da bagunça. Sexo, drogas, álcool — tudo em quantidades absurdas. Não era incomum a polícia ser chamada por conta de alguma briga, ou os bombeiros serem acionados quando alguém tinha a brilhante ideia de misturar fogo e gente chapada.
Dessa vez não foi diferente.
Alguém, provavelmente completamente fora de si, fez merda. E agora eles estavam ali, voando pelas ruas para apagar o incêndio de um bando de idiotas.
— Ali!
O grito fez todos se virarem. O clima no caminhão mudou num instante. Uma coluna grotesca de fumaça preta subia ao céu, densa e alta. O chefe pisou fundo no acelerador, o motor rugiu, o caminhão disparando pelo asfalto.
UOOOOOOOOOOOON!
As sirenes ecoaram, e os carros na estrada se apressaram em abrir caminho. O caminhão dos bombeiros, com seu corpo enorme, avançou pela pista, com as rodas pesadas esmagando o asfalto com um barulho ensurdecedor. As luzes vermelhas e azuis piscavam freneticamente, refletindo nas janelas dos prédios.
O inferno já estava montado. Eles só precisavam chegar a tempo.
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Continua…