Deseje-me se puder - Capítulo 01
Ignorando a vidente que inclinou a cabeça confusa, Grayson pegou a carteira do bolso interno da jaqueta. Tirou algumas notas de cem dólares e largou sobre a mesa antes de perguntar pela última vez:
— Tem mais alguma coisa pra me dizer?
A mulher forçou um sorriso antes de responder:
— Por hoje, é só.
Já imaginava. Como sempre, nada de útil. Sentindo que tinha perdido tempo de novo, ele nem se deu ao trabalho de insistir. Apenas se virou e saiu do lugar.
Depois que aquele homem gigantesco — com mais de dois metros de altura — desapareceu, a mulher ficou sozinha no pequeno espaço. Então, puxou uma nova carta do baralho. Quando a virou, deu de cara com a imagem de uma torre sendo atingida por um raio. Ela soltou um suspiro trêmulo e balançou a cabeça.
— Algo muito ruim está prestes a acontecer…
Murmurando para si mesma, ela olhou ao redor, sentindo um arrepio percorrer seu corpo. O ar pareceu mais frio de repente. Abraçando os próprios braços, ela esfregou a pele arrepiada e se levantou apressada. Justo nesse momento, um novo cliente entrou na loja, mas ela só fez um gesto com a mão e disse rapidamente:
— Não vou atender mais por hoje, pode ir.
— Ah… então eu volto amanhã…?
O cliente hesitou, mas ela negou de imediato:
— Oh, não. Amanhã também não estarei aqui. Não vou mais trabalhar neste lugar.
— O quê? Como assim? Ei, espera aí…
Quase empurrando o cliente para fora, a vidente começou a arrumar suas coisas às pressas.
Preciso dar o fora daqui o mais rápido possível.
Enquanto jogava os pertences na mala com as mãos trêmulas, uma carta escapou do baralho e caiu no chão. Quando se abaixou para pegá-la, seu corpo congelou.
— Agh!
Um grito escapou de seus lábios.
A carta revelada era O Diabo.
Com os dedos tremendo, a mulher segurou a carta e encarou a imagem sinistra, murmurando sem parar:
— Isso é um mau presságio… muito, muito ruim…
Como se estivesse avisando sobre um futuro sombrio, um trovão sinistro rasgou o céu, seguido pelo brilho de um relâmpago ameaçador.
Parte 1 – Lá Vem o Cachorro
Como sempre, quando a noite ficou mais profunda, o som de copos de vidro se chocando, a música baixa e os suspiros ofegantes encheram o espaço. E em algum momento, as pessoas na festa começaram a desaparecer aos pares. Era uma festa com esse propósito, então era um resultado mais do que esperado.
Os alphas dominantes precisavam liberar feromônios regularmente, ou seus cérebros sofriam alterações. Primeiro, vinha a perda de memória, depois, em casos mais extremos, dano cerebral ou até mesmo insanidade. Então, para evitar qualquer tragédia, eles viviam atrás de parceiros para resolver a situação. Muitas vezes organizavam festas como essa só para facilitar o processo.
E foi exatamente em um desses eventos que Grayson estava, encostado no bar, girando devagar um copo de uísque batizado. O gelo derretido escorria pela borda do copo, e ele passava os dedos lentamente pelo vidro. De cada lado dele estavam dois irmãos ômegas gêmeos, com rostos idênticos, mostrando interesse descarado.
— Ter que trabalhar todo dia tem seu lado bom e ruim — murmurou Grayson com um suspiro, deixando o homem à sua direita piscar, confuso. O da esquerda, mais sociável, foi o primeiro a falar.
— O quê, Grayson? Não me diga que tá com vontade de… “trabalhar”?
Ele fez aspas no ar com os dedos, dando um risinho malicioso. O outro pegou o embalo e acrescentou:
— “Ah, não pode ser. Cansou de só curtir a vida? E agora tá querendo “propósito” ou alguma besteira dessas.
— Ah, claro que não. Grayson Miller nunca faria isso, certo?
Os dois continuaram jogando comentários um para o outro, de olho na reação de Grayson. Ele soltou um riso curto e, exagerando no tom, respondeu:
— Como assim, “como se”? Não é como se eu fosse um vagabundo. Eu também trabalho! Às vezes…
Era quase verdade. Se existia um alpha dominante que tinha experimentado mais profissões do que qualquer outro, esse alguém era ele. Sempre que ficava obcecado por alguém, tentava imitar o que essa pessoa fazia. Às vezes ele até descobria algum talento ou habilidade, mas nunca era algo sério — era mais uma diversão do que um emprego de verdade.
Mas aí vinha o problema: toda essa dedicação evaporava no momento em que ele perdia o interesse. Sem aviso nenhum, Grayson simplesmente largava tudo e sumia, deixando os ex-amantes sozinhos para lidarem com o caos. O resultado? Várias almas traumatizadas e uma reputação questionável.
O mais engraçado — ou trágico — era que, apesar do histórico duvidoso, sempre aparecia um novo trouxa. O motivo? Ele era absurdamente bom em fingir que estava apaixonado. Mesmo aqueles que já tinham ouvido os rumores e tentavam se proteger, não resistiam mais que três dias. Grayson sabia exatamente o que dizer, como agir e até como olhar para que a outra pessoa acreditasse que era especial. Fazia tudo com tamanha intensidade que parecia disposto a morrer por amor.
E, claro, as vítimas sempre pensavam: Dessa vez é diferente, comigo vai ser de verdade.
E como esperado. Nunca era.
E quando descobriam… já era tarde demais — geralmente depois de serem descartados de forma brutal.
“Você não é a minha alma gêmea. Adeus.”
Essa era a despedida clássica do Grayson — uma piada que deixava os ex-amantes rindo de nervoso e com vontade de socá-lo ao mesmo tempo.
Não era surpresa que o boato geral fosse: “Grayson Miller só gosta de fingir que está apaixonado.” Porque, convenhamos, ninguém que amasse de verdade conseguiria dar no pé assim, sem nem olhar para trás. Não é como se ele tivesse um botão liga-desliga para sentimentos. Mas tinha quem discordasse. Para alguns, Grayson realmente se apaixonava… só que a paixão dele tinha prazo de validade curtíssimo.
Seja como for, o final era sempre o mesmo. Ele fazia alguém cair de amores, brincava com a ilusão até enjoar e, sem o menor peso na consciência, sumia. E se a outra pessoa entrava em colapso? Problema dela.
— E aí, já achou um novo “destinado”? — cutucou um dos gêmeos com um tom de deboche que parecia mais algo que se diria sobre um cachorro que sai para cruzar com qualquer um no parque. O outro gêmeo aproveitou a deixa, deslizando a mão pelo braço de Grayson antes de perguntar:
— Então, qual é o “trabalho” dessa vez? Algo a altura do grande Grayson, alguma coisa na área de… atendimento ao público?
O olhar insinuante deixava bem claro o que ele queria dizer com isso. E para reforçar, foi se encostando ainda mais, enquanto o irmão fazia o mesmo do outro lado. As mãos começaram a se movimentar — uma pelo braço, outra pela coxa. Ou melhor, subindo um pouco além da coxa.
Grayson apenas sorriu de leve, como se aquilo fosse tão natural quanto o uísque no copo dele.
— Ainda tô pensando.
Um dos gêmeos inclinou a cabeça.
— Que tal algo com uniforme? Seria sexy.
— Tipo policial?
O outro pegou a ideia no ar e, sem perder tempo, deixou a mão deslizar pelo volume nas calças de Grayson. Imaginando como seria sentir aquilo dentro de si, um arrepio percorreu seu corpo, a antecipação já o deixava excitado, e as palavras saíram antes que ele pensasse:
— E já tem até um revólver enorme aqui.
Grayson riu baixo.
— Talvez, humm.
Uma resposta simples, mas o suficiente para os dois reagirem como se tivessem ganhado na loteria. Até mesmo os bartenders, que estavam ocupados preparando drinks, pararam o que estavam fazendo para olhar na direção deles. Percebendo os olhares, Grayson sorriu, tranquilo.
— É uma profissão respeitável.
— Você, policial?
Um dos gêmeos piscou, incrédulo.
— Hmm, gostei. Combina com você, acho sexy.
O outro foi rápido na bajulação.
O primeiro gêmeo, percebendo que estava perdendo terreno, se apressou para se redimir:
— Claro que combina com você! Só não achei que fosse se interessar. Mas já que estamos aqui… que tal começar comigo? Que foi, oficial? Quer que eu me incline no capô do carro?
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Continua….