Defina o relacionamento - Capítulo 74
—Mesmo só agora, fico feliz por ter descoberto. Então, a partir de agora, se não puder comer algo, você precisa me dizer imediatamente, Lyle.
Um forte sentimento de arrependimento tomou conta dele. A sensação que surgiu de repente foi tão avassaladora que ele teve vontade de fazer imediatamente.
No entanto, ele rapidamente percebeu onde estava e recuperou a compostura. Imaginar coisas tão impróprias em plena luz do dia! Ele ficou profundamente desapontado consigo mesmo, especialmente por ser alguém que deveria servir de exemplo para Bonbon.
—Eu entendo.
Ele se recompôs, adotando uma expressão rígida. Ao lembrar da repreensão de seu avô, o calor em sua cabeça esfriou rapidamente.
—Então, que tal nos sentarmos para comer um fudge antes de ir? Doces, você consegue comer, certo?
—Curiosamente, parece que sim.
Olhando para o fudge que havia se esquecido, ele comentou, e Ash falou como se tivesse tido uma boa ideia.
—Então, já que viemos até aqui, vamos levar uma sobremesa famosa também. Há um lugar muito antigo chamado Sally Lunn’s.
Carlyle também conhecia o lugar. Era um local de longa história, conhecido por qualquer pessoa que tivesse vivido em Bath. Embora nunca tivesse visitado, já que não via motivo para tomar chá da tarde em um lugar assim, ele tinha ouvido dizer que os pãezinhos feitos ali eram deliciosos.
—Vamos fazer isso.
—Ótimo.
Ash estendeu a mão educadamente. Carlyle, que agora aceitava com mais naturalidade a escolta dele, o acompanhou, sentindo-se consideravelmente mais leve.
Depois de voltar para casa após um raro encontro, Carlyle tinha uma nova tarefa. Assim que chegaram, Ash foi diretamente até May, discutiu algo brevemente com ela e, em seguida, depois fez Carlyle sentar na sala de jantar, pedindo-lhe para escolher o que gostaria de comer.
Ash até trouxe uma poltrona confortável para Carlyle se sentar, e então ele e May começaram a preparar algo na cozinha ao lado. Receber essa tarefa depois de longas três semanas o deixou um pouco animado, ele sempre conseguiu trabalhar sem parar, não apenas por ser uma pessoa diligente, mas porque genuinamente gostava de trabalhar.
Endireitando as costas, Carlyle assumiu uma postura impecável. Não sabia onde Ash havia encontrado aquilo, mas ele lhe entregou uma lista com nada menos que 100 pratos diferentes. Como as fotos estavam anexadas, era fácil imaginar cada comida, e Ash pediu para que ele marcasse as que lhe despertassem vontade de comer.
Carlyle pegou sua caneta-tinteiro e começou a marcar cuidadosamente a lista. O tempo passou rapidamente. Embora não fosse um trabalho de verdade, ele estava gostando tanto de ter algo para fazer novamente que, sem perceber, começou a cantarolar a canção de ninar que Ash havia cantado para ele.
—Você estava cantando essa música de forma tão fofa?
Quando chegou à última página da lista, Ash entrou na sala. Carlyle ficou surpreso ao ouvir que estava cantando. Enquanto ele o olhava com um semblante confuso, Ash caminhou rapidamente até ele e o abraçou por trás.
—Parece que gostou da canção que eu cantei para você.
Foi só então que Carlyle percebeu que realmente estava cantando a canção de ninar em voz alta, era a primeira vez que isso acontecia. Ele nunca havia sido uma pessoa alegre ou espontânea, muito menos alguém que cantava. Até mesmo pequenos murmúrios musicais eram algo que nunca tinha feito antes.
—Eu… fiz isso?
—Sim, eu estava pensando de onde vinha essa música tão agradável, e era você, Lyle. Estava cantando para Bonbon?
Felizmente, Ash inventou uma desculpa plausível, e Carlyle rapidamente assentiu.
—Acho que sim.
—Que fofo
Ainda abraçando ele por trás, Ash inclinou-se e encheu sua bochecha de beijos. Com um leve sorriso, franzindo suavemente o nariz, Carlyle aceitou os beijos sem reclamar. Ele nunca imaginou que poderia se acostumar com algo tão constrangedor, mas agora já sentia falta quando Ash não o fazia. A ideia de que não gostava muito de contato físico parecia coisa do passado.
—Ah, estou interrompendo um momento especial dos dois, não é? Devo voltar mais tarde?
May que entrou de fininho no restaurante disse. Carlyle não ouviu os passos dela e se assustou ao virar rapidamente a cabeça, apesar de gostar dos beijos de Ash, ele achava inadequado exibir esse tipo de interação na frente dos outros, especialmente de May, que tinha sido sua babá desde a infância.
—Peço desculpas por essa cena desnecessária.
—Oh meu Deus, mas não precisa pedir desculpas, é apenas um casal demonstrando amor.
—Mesmo assim…
Ele tentou se desculpar novamente, incapaz de deixar o incidente passar, mas Ash interveio de forma natural.
—Lyle, May e eu preparamos um jantar delicioso. Se estiver tudo bem, quer provar?
Assim que ele falou, um aroma doce começou a preencher o ar, e Carlyle de repente sentiu fome. Sua boca se encheu de água, e o apetite surgiu de forma avassaladora. Surpreso com a maneira como seu corpo estava reagindo de forma tão incomum, ele assentiu.
—É melhor comermos antes que fique mais tarde.
May se aproximou apressada e colocou uma tábua de madeira sobre a mesa. Em cima dela, havia torradas cortadas em pedaços pequenos, fáceis de comer. O pão estava torrado de forma crocante, com uma generosa camada de queijo ricota e por cima havia figos cortados ao meio, revelando sua polpa avermelhada.
—Eu ouvi tudo, jovem mestre. Me disseram que estava escondendo os enjoos matinais?
—Lyle nos enganou direitinho, May.
—Se não tivéssemos saído para comer hoje, talvez só percebêssemos isso daqui a um mês, Ash. A senhora Alice também escondeu os enjoos por dois meses enquanto se forçava a comer. Vendo por esse lado, o jovem mestre é definitivamente filho dela.
May e Ash repreenderam Carlyle suavemente. Sem ter o que dizer, ele aceitou as críticas em silêncio.
—Se o jovem mestre estiver feliz, o bebê Bonbon também ficará. E se ambos estiverem felizes, nós também ficaremos.
—Tudo o que May disse está certo.
Ash assentiu ansiosamente, escondendo-se atrás de May. Embora fosse uma situação de repreensão, não parecia uma bronca; em vez disso, dava a sensação de estar sendo bem cuidado. Para Carlyle, que lidava com tudo sozinho desde antes de se tornar adulto, aquilo era uma experiência estranha, mas ele sentiu algo no fundo do coração se aquecer e relaxar.
—Sim, eu entendi.
—Então vá em frente e experimente. Tenho certeza que você vai gostar.
May, confiante, ofereceu a comida a Carlyle. Embora o cheiro estivesse apetitoso, ele, que nunca fez questão de comer figos, pegou uma torrada com certa hesitação.
—Não há problema em comer ricota, então coma bastante. Por precaução, não coloquei mel, e os figos foram cozidos com apenas uma pitada de açúcar. Usei bastante azeite de oliva, o que deve deixar o sabor mais rico.
Após ouvir a explicação de May, Carlyle mordeu a torrada devagar. A textura crocante do pão que se desfazia na boca era excelente, mas o verdadeiro destaque era o sabor que veio logo depois, com a combinação de figo e queijo.
‘…Está delicioso.’
A satisfação que sentiu foi muito maior do que quando comeu fudge. Sem perceber os olhares direcionados a ele, Carlyle rapidamente terminou uma torrada e pegou outra. A sensação de desconforto que surgia ao comer nos últimos dias desapareceu completamente, e a fome tomou conta dele.
Mesmo que ele conseguisse fazer suas refeições na hora certa e digeri-las de alguma forma, Carlyle rapidamente terminou quatro torradas como se tivesse passado fome por vários dias. Quando seus olhos se fixaram no prato vazio, desejando mais, Ash sussurrou baixinho para Mayam.
—May, você pode preparar mais?
—Me dê cinco minutos.
Respondendo em um tom decidido, Mayam saiu da sala apressada. Carlyle, que devorou a comida num piscar de olhos, levantou a cabeça sem entender o que tinha acabado de acontecer. Ao encontrar o olhar de Ash com uma expressão confusa, viu o outro sorrindo alegremente enquanto estendia a mão em direção ao seu rosto.
—Posso ver que você não se forçou a comer isso. Parece que gostou a ponto de deixar farelos nos lábios.
Quando Ash limpou gentilmente as migalhas em seus lábios, Carlyle sentiu suas bochechas corarem tardiamente. Ele ficou tão envergonhado que até os lóbulos das orelhas ficaram vermelhos, então ergueu a mão e tocou o canto da boca.
—Eu… eu mesmo farei.
—Mas isso é um privilégio do marido, sabia?
—Não quero sujar as mãos de Ash. Posso limpar sozinho…
Carlyle não conseguiu terminar sua frase. Isso porque Ash lambeu os farelos de pão que estavam em seu dedo.
—Está delicioso.
Seus belos olhos se curvaram em um sorriso satisfeito. Ash, com um sorriso muito satisfeito, inclinou a parte superior do corpo para trás. Ele parecia mais saciado que Carlyle depois de comer quatro torradas, e saiu da mesa, dizendo que traria água para beber.
Só depois que ele saiu, Carlyle mexeu os lábios, que estavam tensos. Lentamente, ele levantou a mão e tocou com cuidado os próprios lábios, onde o dedo de Ash havia encostado. Onde seu dedo passava, o calor subia, espalhando-se por todo o corpo.
…E então, de repente, ele percebeu que não se beijavam devidamente havia mais de um mês.
***
Desde que conseguiu encontrar alimentos que podia consumir, a rotina ficou muito mais fácil. Embora os enjoos continuassem, ele não sentia qualquer aversão a comidas que contivessem figos, o que resolveu seu problema com a alimentação.
A variedade de figo que Carlyle mais gostava era a Strawberry Verte, uma fruta pequena e doce, cujo sabor lembra morango, como o próprio nome sugere.
Mayam, como se já esperasse, ensinava a Ash diariamente todas as receitas possíveis que envolviam figos. Graças a isso, Carlyle estava ganhando peso além da meta planejada. Ele tentou resistir para manter o controle do peso conforme o planejamento, mas falhou todas as vezes, pois Ash percebia imediatamente, de forma quase assustadora.
—…Bonbon será muito parecido com Ash.
Depois de perder uma batalha mental de 20 minutos contra os figos, Carlyle murmurou essas palavras. Quando ele espetou um pedaço de figo cortado em tamanho ideal para uma mordida e o levou à boca, Ash, que o observava ao lado, sorriu satisfeito.
—Eu acho que Bonbon vai se parecer mais com Lyle.
—Não, pelo jeito que gosta de coisas doces, será exatamente igual a Ash.
—Hum… Não posso negar isso. Além disso, é bom ouvir algo assim.
Ash acenou com a cabeça, todo sério, e continuou observando ele mastigar e engolir o figo com o queixo apoiado na mão. Quando Carlyle, ciente do olhar dele, colocou o garfo na mesa, Ash rapidamente o pegou de volta. Ignorando o olhar desconfortável do marido, ele espetou outro pedaço de figo e o levou até os lábios dele.
—Vamos lá, diga ‘aaa’.
—…Eu já comi demais.
—Foram só dois figos. E ainda por cima, divididos em quatro pedaços.
—Mas Ash, você sabe que estou ganhando peso além do planejado.
Ash, no entanto, tinha um argumento irrefutável em sua defesa.
—E Bonbon também está crescendo forte e saudável. O Dr. nos disse, lembra? Bonbon está em ótima condição e deve vir ao mundo sem nenhum problema.
Era verdade. Nas últimas sete semanas, Bonbon apresentou um crescimento impressionante. Com 17 semanas, ele já se movia animadamente dentro do líquido amniótico durante os ultrassons. Não apenas seu corpo e o cordão umbilical estavam claramente formados, mas, nesta semana, ele começou a esboçar leves expressões faciais.
Além disso, ocorreram inúmeras outras mudanças. Carlyle agora conseguia sentir, ainda que de forma sutil, os movimentos de Bonbon, e seu abdômen finalmente mudou de forma. Antes, era difícil acreditar que ali havia uma vida, mas agora as evidências eram inegáveis.
Os resultados dos exames de sangue também estavam ótimos, e, como Ash mencionou, até mesmo Luther afirmou que não havia mais motivos para preocupação. Carlyle, que antes acreditava ser altamente provável que enfrentasse um aborto, estava muito mais estável do que há seis semanas.
‘Ainda assim…’
Ele constantemente sentia uma ponta de inquietação, temia que, se relaxasse completamente e baixasse a guarda, Bonbon pudesse estar em perigo por conta disso. A ideia de que um pequeno deslize seu poderia colocar o bebê em risco fazia com que Carlyle nunca se sentisse realmente tranquilo.
—Então, abra a boca logo. Meu amor, sim?
Carlyle, cuja expressão estava endurecida de preocupação, levantou a cabeça surpreso com essas palavras.
—…O quê?
Achando que ouviu errado, ele estreitou os olhos, confuso, mas Ash balançou mais uma vez o garfo diante dele. O doce aroma de figos vermelhos encheu o ar.
—Meu amor.
Não havia se enganado. Ash realmente havia usado aquele termo embaraçoso. Carlyle nunca imaginou ouvir algo assim na vida real, e a ideia de aceitá-lo parecia impossível.
Carlyle abriu e fechou a boca várias vezes, tentando responder, mas sem sucesso. Perdendo a compostura, algo totalmente atípico, ele lutava para encontrar palavras em sua mente que parecia completamente vazia. Após alguns minutos de silêncio, ele finalmente conseguiu dizer algo, ainda que de forma hesitante:
—Por que… começou a me chamar assim de repente?
Incapaz de encarar Ash diretamente, desviou o olhar, mas Ash apenas inclinou a cabeça curiosamente e continuou a segui-lo com os olhos. O garfo, ainda segurando o figo, acompanhava cada movimento, pairando insistente ao redor dele.
—Você geralmente se surpreende quando te chamo de querido, então decidi tentar te chamar de algo novo. E gostei da sua expressão.
—…Você realmente precisa me chamar assim?
—Não diria que é necessário; foi mais como um gesto de carinho.
‘Gesto de carinho? Ash, está agindo de forma fofa.’
Carlyle finalmente entendeu o que as pessoas queriam dizer com “sentir o coração apertar diante de algo fofo”. O músculo dentro de seu peito parecia se contrair intensamente. Ele piscou, tentando esfriar o calor que tomou conta dele, mas Ash aproximou o rosto, sorrindo.
—Amor, coma a fruta.
Carlyle ficou sem ar, como se algo o tivesse atingido em cheio. Era como se estivesse paralisado diante de uma visão adorável demais para processar. Sua expressão geralmente impassível e fria desmoronou, e uma vermelhidão intensa subiu de sua nuca até o contorno dos olhos.
—…Acho que ‘querido’ seria melhor.
Finalmente conseguindo falar, Carlyle ofereceu outra opção, tentando amenizar a situação.
—’Querido’, então?
°
°
Continua….