Defina o relacionamento - Capítulo 73
De manhã fazia sol, mas à tarde sempre ficava nublado, no entanto, o clima não foi caprichoso hoje. O sol brilhante iluminou o vasto jardim da mansão, e os pássaros voavam pela floresta que cercava a residência do marquês. O cheiro de terra úmida misturado com a brisa fresca tornou o almoço mais agradável.
Ash sugeriu que fôssemos ao centro da cidade para comemorar esse lindo almoço.
—Meu avô disse para evitar saídas… Não sei se será uma boa ideia.
Carlyle, sempre fiel às ordens do avô, não queria desobedecê-lo por um simples prazer pessoal. Após a recusa polida, Ash pensou por um momento e disse:
—Quero ouvir a opinião de Lyle, não a do Marquês. Se a razão pela qual você não quer ir ao centro da cidade for por gosto pessoal, vou respeitar.
Isso era…
Uma maneira de pensar desconhecida para ele.
As ordens do seu avô sempre estavam ligadas ao prestígio e à continuidade da família, e seguir as palavras do chefe da família era natural. Nascer com o sobrenome Frost e desfrutar de privilégios e conveniências trazia responsabilidades.
Portanto, seguir as ordens era algo que Carlyle fazia de bom grado. Se isso satisfazia seu avô, então também era sua felicidade.
—Acho melhor seguir a opinião do meu avô.
Portanto, Carlyle não tinha outra resposta além desta. Quando ele respondeu com uma voz hesitante e confusa, Ash perguntou novamente.
—Você não quer ir à cidade?
—…Não é que eu não queira, mas também não desejo desobedecer ao meu avô.
—Você não gosta de lugares com pessoas ou não quer passear?
—Não, não é isso.
—Então vamos.
Não era a conclusão esperada da conversa anterior. Quando Carlyle olhou para Ash com um rosto perplexo, ele sorriu.
—Para ser honesto, eu não gosto muito do marquês. Ele não respeita as opiniões de Lyle. Mas é claro que estou feliz por ter conhecido você graças a ele.
Carlyle não sentiu nenhuma aversão por essas palavras. Seu avô era, de fato, uma pessoa notável, mas não tinha uma personalidade fácil de agradar. Ele não se importava em ferir ou usar outras pessoas, o que provavelmente era desconfortável para alguém gentil como Ash.
Além disso, como Ash disse, foi graças ao seu avô que os dois se conheceram. Se ele tivesse se casado com outro nobre por conveniência, não teria conhecido Ash. Saber que Ash pensava da mesma forma o tranquilizou.
—Eu também estou feliz por ter conhecido Ash.
Com um leve sorriso, ele também expressou seus sentimentos. Ash, que estava se preparando para falar, parou ao ver Carlyle sorrindo timidamente.
—…Que comentário fofo, Lyle.
Embora não soubesse exatamente qual parte soava assim, Ash pareceu gostar de sua resposta e o puxou para seus braços. Carlyle se acomodou de bom grado, e Ash pressionou os lábios sobre seu cabelo, dando-lhe uma série de beijos.
—Está tentando me deixar ainda mais apaixonado por você.
—Não era essa a intenção.
—Eu acho que sim. Lyle, só com sua respiração, você faz com que me apaixone de novo.
Mesmo sendo uma afirmação claramente exagerada, quando Ash a dizia, parecia genuína e embora fosse embaraçoso, Carlyle não se importou.
Na verdade, ele gostou de ouvir isso.
“Não se importar” e “gostar” são claramente coisas diferentes. Carlyle corrigiu seus pensamentos para ficar ciente disso. Ele queria expressar seus sentimentos de forma mais clara para evitar mal-entendidos com Ash.
—Você foi tão fofo que esqueci por um momento o que ia dizer. Lyle, o que eu queria dizer é…. Acontece que o marquês não se importará se a saída for algo que você deseja. Eu quero acreditar que ele tem esse nível de humanidade. Agora, Lyle, você tem o direito de fazer tudo o que quiser, esse é o privilégio de um pai que espera um filho.
A sensação dos lábios se movendo sobre seu cabelo era vívida. Com as doces palavras ressoando em sua mente, Carlyle continuou a pensar. Ao contrário da previsão de Ash, seu avô sempre aplicava punições severas quando Carlyle desobedecia suas ordens, mas…
Mas talvez dessa vez fosse diferente. O fato de ter lhe dado o quarto do sul e não ter interferido em nada desde que chegaram ajudava a sustentar essa hipótese.
—Tudo bem. Se não formos ficar fora por muito tempo, acho que não tem problema.
Se Ash queria sair, Carlyle também achava uma boa ideia. Visitar a cidade, que ele nunca tinha explorado antes, seria uma boa mudança de ares e, acima de tudo, ele gostou da ideia de fazer algo com Ash pela primeira vez desde que chegou ali.
Foi então que percebeu que estava ansioso por esse passeio.
—Está falando sério?
—Sim.
—Ótimo. Mas não quero que Lyle se sinta ansioso por qualquer motivo…
Ash olhou ao redor enquanto falava. Depois de se certificar de que não havia ninguém por perto, ele colocou um dedo nos lábios e fez um sinal de silêncio.
—Eu vou dizer que saímos para comprar mantimentos para Lyle, e que você adormeceu no banco de trás do carro durante o percurso.
—Acha que vai dar certo?
—Sim, é isso.
—Uma razão razoável.
—Acho que sim?
—Certo.
Embora fosse necessário caminhar mais de 15 minutos da mansão até o estacionamento, Carlyle decidiu não mencionar esse detalhe. Tudo o que Ash disse estava certo.
Depois de olharem nos olhos um do outro e combinarem o álibi, informaram a Mayam que iriam sair para a cidade. Perceptiva como sempre, ela disse para voltarem devagar e os despediu.
No caminho, Ash segurou a mão de Carlyle e saiu para a estrada lateral da mansão. Conduzindo-o cuidadosamente para evitar serem vistos pelas janelas da ala central onde o avô estava hospedado, Carlyle acabou rindo alto. Ao ouvir a risada suave, Ash olhou para trás. Um sorriso feliz também se espalhou pelo rosto do homem.
Seus passos se aceleraram com a atmosfera descontraída. O som suave de suas risadas se espalhou pela floresta. Então o vento, carregado com o cheiro da vegetação, soprou sobre suas cabeças, enquanto caminhavam de mãos dadas, e as folhas giravam no ar antes de cair aos seus pés.
Como jovens amantes fugindo em segredo, chegaram ao carro e seguiram pela estrada pavimentada em direção à cidade de Bath. Ash ajustou o volume do rádio assim que ligou o carro, e uma música de Julie London começou a tocar, ele também começou a cantarolar suavemente.
Embora Carlyle não fosse particularmente fã de jazz, achou que a voz suave de Julie London combinava bem com o dia. No entanto, mais doce que a música era a melodia baixa do cantarolar de Ash.
—Você canta bem…
Apesar de terem morado juntos no último um ano, Carlyle não se lembrava de ter ouvido Ash cantar antes. Já tinha visto o homem estalar os dedos ao ritmo da música várias vezes, mas nunca cantar.
—Obrigado por dizer isso.
Ash virou a cabeça para o lado e fez contato visual. Seus olhos suavemente curvados eram lindos.
—Não é apenas um elogio vazio, eu realmente penso assim.
—Mesmo?
—Sim, é uma pena não ter ouvido antes.
—Acho que fiz isso porque queria impressionar Lyle. Mas se você não gostasse da minha voz?
Parecia que Ash também estava sendo sincero, e não apenas dizendo palavras vazias. Ele desviou o olhar, como se estivesse envergonhado por revelar seus sentimentos. Foi uma faceta nova. Afinal, Carlyle pensava que era ele quem deveria tentar impressionar o homem.
Ver um alfa sempre tão confiante sentir-se tímido parecia contagioso, e Carlyle também ficou envergonhado. Incapaz de continuar olhando para os belos olhos, ele virou o rosto para frente. Se sentiu tão nervoso que era difícil mover o corpo.
Um estranho silêncio permaneceu entre os dois por um momento. Carlyle ponderou sobre o que dizer para agradar Ash e, depois de várias tentativas, finalmente falou.
—Não precisa se preocupar. Qualquer pessoa adoraria ouvir Ash cantar.
Ele sentiu o olhar de Ash perfurar suas bochechas. Seguindo a sensação, virou a cabeça e seus olhos se encontraram novamente. Assim que se entreolharam, eles desviaram o olhar por um instante, mas rapidamente voltaram a se encarar. Trocaram olhares furtivos até que, inevitavelmente, seus lábios se curvaram e sem saber quem começou, ambos sorriram ao mesmo tempo.
—Será que Bonbon também gostaria de ouvir?
Ash perguntou, coçando a bochecha com uma mão ligeiramente tímida. Carlyle assentiu sem hesitar.
—E claro.
—Então…
Ele esperou, prestando atenção ao que Ash diria.
—A partir de hoje, eu gostaria de cantar canções de ninar para Bonbon. Sei que estou me adiantando, mas… depois de ouvir os batimentos cardíacos dele, simplesmente não consigo me segurar.
Havia tensão em seus olhos que se alternavam entre olhar para a frente e para Carlyle.
—O que você acha?
Mesmo para tomar uma decisão tão simples, Ash pediu sua opinião. Pensou que Ash poderia fazer o que quisesse, fosse cantar ou ler histórias, mas mesmo assim ele queria saber o que Carlyle achava.
Olhando para o perfil atento de Ash, Carlyle percebeu que ele seria um pai maravilhoso. Embora já soubesse disso, agora sentiu isso ainda mais forte em seu coração.
—Bonbon também ficará feliz.
Receber o amor de uma pessoa tão gentil, claro que Bonbon vai gostar.
—Obrigado.
Um sorriso de alívio surgiu nos lábios de Ash.
—Posso perguntar qual música você vai cantar?
—Claro.
Ash sorriu amplamente e estendeu a mão para diminuir o volume do rádio. Depois de limpar a garganta, ele começou a cantar lentamente.
{Lavender’s blue, dilly, dilly… }
{Lavender’s green.}
A luz do sol entrava pela janela do carro meio aberta. A melodia suave e grave de sua voz se espalhou pelo vento enquanto eles percorriam a estrada.
{When you are king, dilly, dilly…}
{I shall be queen.}
Carlyle fechou os olhos. O calor do sol em suas pálpebras e a voz reconfortante em seus ouvidos eram tão acolhedores que, sem perceber, ele caiu em um breve sono ao som da canção tranquila.
***
Quando abriu os olhos, o carro estava estacionado em algum lugar. Ao se mover levemente, ainda se sentindo sonolento, Carlyle sentiu uma mão acariciando seu cabelo, ele virou a cabeça na direção do toque agradável e viu Ash recostado sobre o volante.
—Oi.
Assim que abriu completamente os olhos, Ash acenou suavemente com os dedos em cumprimento.
—Dormi por muito tempo?
—Não. Acabamos de chegar. Se estiver cansado, gostaria de dormir mais um pouco?
Carlyle olhou para o relógio e viu que eram 13h. Eles haviam saído da mansão às 10h30, e deixado a propriedade às 11h. Demorava cerca de 25 minutos para chegar à cidade de Bath desde a propriedade Frost…
Então, já tinham passado mais de uma hora desde que chegaram. Ash havia esperado pacientemente enquanto Carlyle dormia.
—Eu dormi por muito tempo… Já são 13h.
—Já faz tanto tempo??
—Ash, da próxima vez, por favor, me acorde. Sinto muito por fazer você perder tempo no carro.
—Não, a culpa é minha. Eu estava observando Lyle dormir porque o achei bonito, e isso aconteceu.
Carlyle sempre achou que Ash fazia algumas observações estranhas. Considerando que “fofo” pudesse ser uma expressão influenciada pelo amor, “bonito” era uma palavra que parecia totalmente inadequada para Carlyle.
No entanto, como foi algo dito pensando nele, não foi ruim. Embora estivesse bastante desconcertado…
—Hum, entendi. Está tarde, gostaria de ir comer algo primeiro?
—Isso soa ótimo. Ah, só um momento.
Quando Ash pediu para ele esperar, Carlyle parou, então o homem saiu primeiro do carro e abriu a porta do motorista. Enquanto observava com curiosidade a figura dando a volta no carro e vindo em direção ao lado do passageiro, Ash se aproximou e abriu a porta.
—…Ash?
—Não posso deixar o Lyle abrir algo tão pesado.
Sem palavras, Carlyle ficou em silêncio enquanto uma mão se estendia na sua direção. Se ele não a pegasse, não conseguiria sair do carro, então não teve escolha a não ser segurá-la. O calor da mão macia derreteu a frieza da dele, fazendo seu coração palpitar.
Assim, com as mãos entrelaçadas, eles começaram a caminhar pela cidade. Suas os dedos entrelaçados balançavam suavemente a cada passo, e o ritmo de seus passos era igualmente relaxado. O sol da tarde brilhava intensamente, aquecendo a cidade, quase fazendo parecer verão.
—Eu nunca estive na cidade de Bath, então pesquisei várias coisas. Há muito mais para fazer do que eu imaginava. Acho que entendi por que as pessoas vêm para cá no verão.
Enquanto caminhavam pelo centro da cidade, Ash enumerou as coisas que queria fazer. Apenas observando seus olhos brilhando de curiosidade, Carlyle pensou que sair de casa foi uma boa ideia, ficar apenas na mansão era tedioso para Ash também, e foi um erro não ter sugerido sair antes.
Bath é uma cidade bastante ampla, mas o centro turístico é pequeno e cheio de coisas para ver. No caminho para o restaurante, eles pararam por um momento na ponte Pulteney.
—Este é o lugar onde Les Misérables foi filmado, Lyle. Vendo assim, consigo reconhecer facilmente.
Carlyle olhou para a ponte sem emoção. Esta ponte, uma das atrações mais famosas, pertencia à família Pulteney, rivais incômodos na visão de Carlyle. No entanto, Ash explicando sobre o filme com tanto entusiasmo era adorável, então Carlyle ouviu em silêncio.
Por ser um dia agradável, a cidade fervilhava tanto de turistas quanto de moradores. As árvores e gramas ao redor brilhavam intensamente em tons de verde, o que era lindo. Embora fossem edifícios antigos que Carlyle tinha visto a vida toda, hoje pareciam especialmente bonitos. Logo ele percebeu o porquê.
—Ah, Lyle. Bath é realmente uma cidade linda. Aquele prédio ali, sem janelas, é completamente diferente dos que vemos em Londres. Ouvi dizer que no passado, as pessoas tinham que pagar um imposto separado pelas janelas, certo? Provavelmente é por isso.
O mundo era lindo porque Ash estava ao seu lado, apontando animadamente para cá e para lá com os olhos bem arregalados.
—Vendo o quanto você gosta, acho que deveríamos vir para a cidade todas as semanas.
—Acha que podemos?
—Se sairmos escondidos, tudo ficará bem.
—Ahaha. —Ele parecia ter gostado da resposta, pois riu alegremente como um menino. —Só de imaginar já é emocionante. Na próxima vez, vamos ao Museu Jane Austen.
—Tudo bem. Eu serei seu guia.
Embora nunca tivesse vindo visitar a cidade como um turista, Carlyle conhecia Bath muito bem. Desde a antiga história até a gestão atual das propriedades da região e dos principais negócios, ele havia aprendido tudo isso na infância. Afinal, metade das propriedades imobiliárias da área estavam vinculadas ao Grupo Frost, então era natural que ele soubesse.
Enquanto caminhavam tranquilamente, chegaram ao restaurante. Ash havia feito uma reserva antecipadamente, disse seu nome e levou Carlyle para dentro. O restaurante, com um design moderno e limpo, reinterpretava a culinária do Leste Asiático em estilo europeu.
—Não sou especialista nesta área, mas quis trazer Lyle para experimentar novos pratos. Achei que poderia ficar cansado de comer minha comida todos os dias.
—De modo algum. Eu adoraria comer apenas a comida que Ash faz pelo resto da minha vida.
—Hum, gosto de ouvir as palavras ‘pelo resto da minha vida’.
Com o queixo apoiado na mão, Ash sorriu brilhantemente, fazendo Carlyle também sorrir levemente. Eles ficaram se olhando furtivamente por um tempo, o que atrasou um pouco o pedido. O garçom, que passou por eles algumas vezes, começou a lançar olhares curiosos para Ash, o que incomodou Carlyle, fazendo-o decidir rapidamente o que pedir.
Havia uma grande variedade de pratos. Embora a comida de Ash fosse a melhor de todas, experimentar algo diferente pareceu uma boa ideia. Talvez, como Luther havia dito, ele encontrasse um prato que realmente gostasse.
Depois de ponderar, Carlyle escolheu ingredientes que não costumava comer. Ele escolheu robalo grelhado com molho de soja, guarnecido com pimenta e uma tigela de arroz coreano com ovo cozido. Ash também pediu ensopado com todos os tipos de vegetais.
Quando o funcionário veio anotar o pedido, Ash verificou novamente a lista de alimentos proibidos para gestantes, então o garçom os olhou de forma curiosa. Felizmente ele apenas respondeu à pergunta feita e desapareceu em direção à cozinha com uma expressão que tinha algo a dizer.
Só depois dessa cena Carlyle se lembrou por que seu avô havia dado tais recomendações. Afinal, um alfa masculino grávido é estranho em qualquer lugar do mundo.
—Lyle.
Assim que pensamentos desconfortáveis começaram a passar por sua mente, Ash o chamou.
—Sabe de uma coisa? Pessoas com almas vazias bisbilhotam a vida de outras pessoas para preencher esse vazio.
Ash sorriu suavemente e estendeu a mão, acariciando gentilmente a mão pálida de Carlyle sobre a mesa.
—Temos um ao outro, então não precisamos nos preocupar com esse tipo de infelicidade.
Curiosamente, ao ouvir que tinham um ao outro, a autoculpa que havia passado por sua mente desapareceu rapidamente. Sim, bonbon que ele protegia com todo o seu ser era a prova do amor que ele e Ash compartilhavam. Portanto, não havia necessidade de se desculpar ou se culpar.
—Eu… —Carlyle sorriu levemente. —Sou uma pessoa de sorte.
—Eu também.
Ele virou a mão que começou a ficar quente para cima. Quando segurou firmemente a mão de Ash, que o acariciava, teve a certeza de que estarem juntos era a única coisa que importava.
A refeição foi bastante agradável. Ash disse que estava gostando muito, pois era um sabor que normalmente não comia, e comeu com prazer. Carlyle também reconheceu que o chef tinha uma habilidade considerável.
Infelizmente, a náusea não melhorou. Desde o momento em que o peixe foi servido, uma intensa sensação de enjoo subiu, e ele sentiu uma ânsia de vômito tão forte que seu estômago parecia se contorcer. Felizmente, estando de estômago vazio, não houve nada que saísse. Enquanto tentava conter o vômito Carlyle manteve a expressão neutra, cerrando os dentes e apertando o punho sob a mesa com tanta força que seus dedos ficaram brancos.
O suor frio escorreu por suas costas, mas ele suportou com determinação. No entanto, ao contrário dos últimos dias, quando ele conseguiu se conter, desta vez seu corpo inteiro reagiu com repulsa. Não tendo outra escolha, ele foi ao banheiro com a desculpa de fazer uma ligação e, com o rosto pálido, vomitou tudo o que havia comido. Depois de vomitar a ponto de sair suco gástrico, ele se sentiu um pouco melhor.
… Vou evitar peixe por um tempo.
Embora o peixe não tivesse um cheiro desagradável, seu corpo reagiu de forma tão intensa. Ele enxaguou a boca várias vezes e respirou fundo, e antes de sair verificou sua aparência.
—Você está bem, Lyle?
Ash esperou por ele sem continuar a refeição. Assim que Carlyle se aproximou da mesa, Ash se levantou rapidamente e olhou para ele preocupado. Carlyle assentiu, mantendo a expressão neutra.
—Sim, estou bem.
—A ligação demorou bastante. Fiquei preocupado porque levou muito tempo.
Ao ouvir as palavras, Carlyle hesitou. Por um momento, pensou em aproveitar a oportunidade para falar a Ash sobre a náusea, mas não se sentia pronto para isso naquele momento.
Mesmo se fosse falar, seria melhor fazê-lo fora do restaurante. Mesmo tendo acabado de esvaziar tudo por dentro, sentiu como se estivesse prestes a vomitar novamente.
—Se não se importar… —Carlyle hesitou antes de falar. —Não estou me sentindo muito bem. Posso esperar lá fora enquanto Ash termina sua refeição?
Se esta comida tivesse sido feita por Ash, ele teria comido de alguma forma, mas felizmente não foi o caso. Mesmo que não comesse tudo, não achava que iria decepcionar Ash.
—Você não está se sentindo bem?
Ash franziu a testa. Vendo-o ficar sério de repente, Carlyle acrescentou algo para acalmá-lo.
—Andei de carro pela primeira vez em muito tempo e acho que fiquei um pouco enjoado. Um pouco de ar fresco deve me fazer bem.
—Vou sair logo. Vou pagar a conta e depois sair, então, se estiver tudo bem Lyle pode esperar lá fora?
—Obrigado.
Assim que recebeu permissão, Carlyle assentiu. Queria pagar a conta ele mesmo e sair junto, mas tinha a sensação de que, se ficasse ali, acabaria vomitando de forma indigna. Ele saiu do restaurante com passos rápidos e finalmente conseguiu respirar aliviado.
Sentindo-se exausto e tonto, Carlyle esfregou o rosto seco. Parecia que a gastrite, que costumava ter antes de conhecer Ash, estava voltando. Desde que se casaram, ele não havia sofrido com isso e quase tinha esquecido a dor…
Enquanto pensava que deveria listar os alimentos que não conseguia comer ao voltar para a mansão e escolher algo que pudesse tolerar, ele sentiu um doce aroma no ar.
O cheiro doce o atraiu instantaneamente. Piscando os olhos sob o sol forte, ele olhou em volta e logo descobriu de onde vinha o aroma. O sabor rico do leite, o amargor do cacau, a cremosidade da manteiga, e o doce do açúcar…
Carlyle, que nunca quis comer algo doce por vontade própria, não conseguiu resistir à forte tentação e caminhou até a loja de fudge do outro lado da rua. A loja, cujo nome estava escrito em uma fonte um tanto antiquada, parecia ser bastante popular, então havia algumas pessoas sentadas no pátio do lado de fora.
Ele sentiu os olhares curiosos das pessoas ao verem um homem elegante de terno entrar na loja, mas ignorou todos e foi até o balcão. Olhando para os produtos na vitrine, fixou o olhar em um fudge de chocolate amargo e caramelo.
—Por favor, me dê esse aqui.
Sem tirar os olhos do fudge, Carlyle fez o pedido. Ao ouvir o preço, tirou várias notas do bolso e as colocou no balcão, então recebeu o fudge bem embrulhado em papel e saiu imediatamente. Estava tão cativado pelo doce que nem ouviu o funcionário chamando para devolver o troco, o mais importante naquele momento era dar uma mordida naquele doce sem ser interrompido.
Mesmo sabendo que era muito deselegante comer alguma coisa parado na beira da estrada, Carlyle não resistiu à tentação e entreabriu os lábios. Mesmo prevendo o sabor incrivelmente doce que faria seu cérebro formigar, e sentindo uma leve repulsa, ele cuidadosamente deu uma mordida no fudge, como um animal cauteloso experimentando um novo alimento.
O sabor doce que se espalhou pela língua era desconhecido, então suas sobrancelhas escuras se franziram levemente. Mas, surpreendentemente, não sentiu nenhuma náusea ou rejeição. Sua cabeça achou que isso não era bom, mas sua boca se moveu de forma contrária. Depois de mastigar e engolir o doce macio, ele deu outra mordida.
É delicioso.
Com um olhar vago, esse pensamento passou pela sua mente. Embora não conseguisse acreditar que estava comendo um doce assim, se sentiu aliviado por finalmente ter algo que pudesse comer. No momento em que ele estava olhando para o Fudge com os olhos bem abertos, Ash o chamou.
—Lyle, onde você…
Ash, que estava procurando por Carlyle, se aproximou com o cabelo um pouco desalinhado devido à corrida e parou ao ver o fudge que ele estava segurando. Ao ver as marcas das duas mordidas no doce, Ash piscou surpreso. Carlyle, que olhou para ele com uma expressão confusa, abriu a boca.
—Desculpe. Quando senti o cheiro, tive vontade de comer isso imediatamente…
Sentindo-se envergonhado enquanto falava, Carlyle escondeu Fudge discretamente atrás dele. Ash, que estava observando a cena atentamente, estendeu o braço e puxou suavemente a mão, que segurava o doce, de volta para frente.
—Está gostoso?
—…Sim.
Não era como se fosse uma criança, mas Carlyle estava dizendo que algo doce estava gostoso. Claro, Ash também gostava muito de doces, o homem era uma pessoa adorável, então isso não devia ser um problema.
—Lyle, você normalmente não come doces, não é?
—Isso mesmo.
—Então por que de repente foi comer fudge? Isso é… —Ash levantou as sobrancelhas. —Lyle, você está tendo náuseas constantes?
Eventualmente ele descobriu a verdade. Era um comportamento que não podia ser escondido, e era algo que tinha que ser dito ainda hoje, então Carlyle assentiu de bom grado.
—Sim, começou há alguns dias. Ficou tudo bem por um tempo e pensei que tinha passado, mas não foi o caso.
—Há alguns dias? Quando exatamente começou?
A voz de Ash ficou ainda mais séria. Ao ver o rosto dele sem a usual expressão sorridente, Carlyle ficou nervoso. Olhando para Ash com um olhar arrependido, ele confessou a verdade em voz baixa.
—Tudo começou um dia depois de conhecer o parteiro.
—Então já faz mais de quatro dias. Você está tendo náuseas todo esse tempo?
—…Sim, desculpe.
Estava claro que ele seria repreendido, então sua voz soou um pouco desanimada. Ash, vendo uma sombra projetada sobre seu rosto inexpressivo, soltou um suspiro profundo. Depois de pensar por um momento com olhos preocupados, ele agarrou o ombro de Carlyle e puxou-o para perto.
—Não era minha intenção pressionar você… Sinto muito. Eu fiquei bastante surpreso também. Se não se importa, poderia me dizer porque você agiu assim? Não estou repreendendo Lyle, só quero entender porque você me escondeu isso. Acho que algo que fiz pode ter deixado Lyle desconfortável.
Ash atribuiu o erro de Carlyle à sua própria falha. Surpreso com as palavras inesperadas, Carlyle apressadamente negou.
—Não é isso. Eu estava tentando suportar o máximo possível pelo bem do Bonbon e não queria deixar a comida que Ash preparou para mim. Não queria chatear Ash, que se dedicou tanto a fazer o melhor…
—A única coisa que me entristece é ver Lyle tendo que suportar essa dor sozinho. A comida que fiz não é importante.
Com as sobrancelhas franzidas, Ash ajustou seu olhar para ficar na mesma altura que Carlyle e, olhando-o diretamente, sussurrou.
—Eu realmente aprecio que tenha pensado em mim. Meu Lyle é uma pessoa gentil, então é natural que tenha esse tipo de pensamento. Mas não cozinho para Lyle só para satisfazer minha felicidade.
Ash começou a explicar calmamente.
—O motivo pelo qual cozinho é apenas para você e para o Bonbon. Quero preparar alimentos higiênicos e deliciosos, sem aditivos. Esse é o único propósito. Então, se você não quiser comer, pode dizer isso abertamente. A comida que sobrar eu posso comer ou compartilhar com outros, então não se sinta mal se precisar jogar fora.
—Tudo bem.
Ao ver que Carlyle aceitava suas palavras, a expressão de Ash também relaxou. No entanto, ainda parecia desconfortável com o fato de Carlyle ter escondido a náusea, e sua expressão não estava tão alegre quanto antes. Era evidente que o passeio que havia planejado tinha sido prejudicado.
—Espero que não haja mais necessidade de esconder suas dificuldades. Nós somos um casal.
—…… Desculpe.
Como foi um erro unilateral, Carlyle não tinha outra coisa a fazer além de pedir desculpas. Ao se desculpar sinceramente com um olhar melancólico, Ash balançou a cabeça.
—Não é que Lyle tenha feito algo errado. Eu sei que meu marido é assim, e também sei, que tudo o que você fez por consideração a mim. Só estou pedindo para que, no futuro, faça isso de uma maneira diferente.
—Sim, farei isso.
—Na verdade, o erro foi meu. Então, por favor, pare de pedir desculpas.
Ash, com os olhos fechados e franzindo o rosto, encostou a testa no ombro de Carlyle. Ver sua aparência desanimada fez seu coração pesar.
—Ash, você não fez nada de errado. Por que está dizendo isso agora?
—Por favor, fique assim por um momento. Eu estou tão envergonhado por não ter percebido que meu querido marido estava com náusea, que não consigo levantar a cabeça. Sinto que não tenho o direito de olhar para o seu rosto.
Ash murmurou essas palavras de forma desamparada, envolvendo Carlyle em um forte abraço. Carlyle, que estava tranquilamente aninhado nele, falou rapidamente para confortá-lo.
—Não é culpa de Ash. Fui eu quem deliberadamente escondeu isso.
—Mesmo assim, não consigo perdoar a mim mesmo. Meu Lyle está sofrendo e isso parte meu coração. É por minha causa que você está passando por tudo isso, eu queria tanto que Lyle…
As pequenas palavras que Ash continuou murmurando soaram frágeis. Ouvir essa autoacusação carregada de culpa fez Carlyle sentir como se seu próprio coração estivesse sendo rasgado. Ele se sentiu mal por fazer Ash e Bonbon sofrerem por causa de suas próprias deficiências, e agora Ash estava se culpando assim.
—Eu também queria isso.
Normalmente, Carlyle evitava esse tipo de conversa ao máximo, mas agora era o momento de falar. Ash, que estava com o rosto enterrado no ombro dele, ergueu a cabeça ao ouvir essas palavras. Seus olhares se encontraram.
—Eu não teria feito…. isso se não gostasse de estar com Ash. E, não é graças a isso, que agora temos Bonbon?
Embora a explicação tenha sido dada de maneira calma, Carlyle não conseguiu evitar que seus olhos ficassem um pouco vermelhos. Para ele, o sexo era um meio de aliviar o Rut, não uma atividade descrita como “Prazerosa”. No entanto, fazer sexo com Ash sempre trazia um prazer tão intenso que parecia assustador.
—…Hmmm.
Ash soltou um suspiro profundo, como se estivesse contendo algo, e então pressionou o dedo no ombro de Carlyle.
—Você realmente pensa assim?
—Sim, é a verdade.
—Fico feliz em ouvir isso…
Ash soltou um suspiro de alívio e começou a dar pequenos selinhos na testa de Carlyle. Beijos leves, como bicadas de um passarinho, foram derramados na testa e na ponta do nariz fino. Carlyle fechou os olhos e apreciou o momento, sentindo um prazer simples e até um sentimento um pouco estranho. Embora estivesse no meio da rua pensamentos indecentes passaram pela sua mente.
Normalmente, após esses pequenos beijos, ele e Ash acabariam se beijando mais intensamente. Os lábios de Ash eram mais macios e deliciosos do que gelatina, e com o tempo, o corpo de Carlyle se aquecia. Geralmente sempre que os lábios se tocavam várias vezes, as línguas se encontravam naturalmente, e um beijo profundo começava.
Carlyle piscou ao se deparar com esses pensamentos lascivos, e, como um sinal, Ash se afastou um pouco e tomando isso como um sinal, Ash recuou um pouco, tocou o ombro de Carlyle mais algumas vezes e então soltou o abraço.
°
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Continua….