Defina o relacionamento - Capítulo 58
Eram 9 horas da manhã de um domingo, hora do café da manhã. Depois que voltou para Londres, se tornou quase que como um ritual familiar passar todos os fins de semana juntos, mas Carlyle era o único na sala de jantar da casa Mayfair. Não foi uma ocasião especial. Era mais como um momento único para toda a família se reunir.
Não esperava ver seu irmão mais novo, Kyle. Ele tinha acabado de se casar com a pessoa por quem foi apaixonado desde a infância após uma relação conturbada. Tinha sua própria casa, por isso era natural que o seu foco estivesse lá. Era triste ver cada vez menos o único membro da família com quem conversava em casa, mas estava contente por ele estar feliz.
Então, as únicas pessoas que podiam comparecer eram sua mãe e seu pai. Seu avô sempre morou na mansão Frost em Bath, então não o via em Londres, e sua avó cortou os laços com a família depois que se divorciou do seu avô quando era jovem. Como se casou novamente, era praticamente uma desconhecida.
Crescendo sem sua avó materna, a mãe de Carlyle centrou muita da sua atenção no seu avô, e depois de ter casado com o seu pai, por quem seu avô não tinha nenhum apreço, ela tentou ganhar reconhecimento ao imergir-se ainda mais nos negócios. Como resultado, as lembranças de ver sua mãe desde criança nas refeições em família podiam ser contadas nos dedos.
Provavelmente será o mesmo hoje.
Olhando para a sala de jantar vazia e a longa mesa onde ele estava sentado sozinho, Carlyle chegou a uma conclusão. Devo ser a única pessoa a comer aqui hoje. Era familiar. Desde muito jovem ele cuidava de uma casa vazia, e tratava das coisas que precisavam ser feitas, por isso não estava habituado a ter os seus pais por perto. Já não tinha idade suficiente para querer isso…
— Desculpe, estou atrasado.
Quando estava prestes a pedir a um criado que preparasse uma refeição simples para ele, seu pai apareceu. Carlyle empurrou a cadeira para trás ao ouvir a voz atrás dele. Levantou-se cuidadosamente, sem que as pernas da cadeira arrastassem no chão, e ficou ao lado de seu pai.
— Alice disse que tem trabalho a fazer até mais tarde.
Os olhos cinzentos de seu pai piscaram tristemente. Apesar da aparência que herdou do homem, seu pai, Jonathan, era um homem expressivo, ao contrário de Carlyle.
Carlyle nasceu como filho mais velho da família Frost, mas não tinha uma única característica que tivesse sido transmitida através de gerações da família. Tendo nascido assim, esperava ter herdado pelo menos a personalidade doce de seu pai, mas Carlyle também não sabia como se comportar de maneira gentil com os familiares.
Embora fosse bom em sorrir para as pessoas que conhecia no trabalho, ele nunca sorria para seus pais ou para Kyle. Não sabia exatamente quando suas expressões haviam desaparecido, mas foi algo que aprendeu desde jovem. Não gostava de ver sua mãe ficar desapontada ou triste.
— Bom dia pai.
Apesar do comprimento seco do filho, Jonathan assentiu como se estivesse acostumado. Erguendo a mão, chamou o criado e pediu a refeição. O homem sentou-se em uma cadeira, colocou o jornal que sempre lia sobre a mesa e foi direto ao assunto.
— Alice parece ter muitas coisas para preparar para o seu casamento. Então, vou me desculpar no lugar dela.
A manhã de domingo, que não era tão especial, de repente se tornou estranha quando ouviu as palavras “preparação para o casamento”. Piscando os olhos, ele ficou em silêncio por um momento, então evitou ligeiramente o olhar de seu pai.
— Eu não quero incomodar as pessoas que já estão tão ocupadas. Eu vou tratar disso.
— É o seu casamento, então é claro que você deve participar dos preparativos.
A gravata se sentiu ligeiramente apertada em volta do seu pescoço. As coisas sobre as quais ele e Ash Jones conversaram em Primrose Hill passaram-lhe pela mente. Durante aquele estranho almoço quando eles comeram sanduíche há uma semana atrás, definiram os breves termos do acordo após a refeição. Iriam se encontrar três vezes e, manteriam a decisão em segredo de suas famílias.
A ideia de que sua mãe estava se preparando para um casamento que nunca aconteceria o fez sentir culpado. O casamento com um Alfa não seria o melhor, mas a mera suposição de que arruinou o que seu avô e sua mãe queriam o deixou desconfortável.
— Você está bem?
Jonathan perguntou como se tivesse notado a inquietação de Carlyle.
— Estou bem.
— E o casamento, Carlyle.
Olhou para o pai, se perguntando se ele realmente sabia de alguma coisa. Mas Jonathan estava perguntando outra coisa.
— Seu parceiro é um alfa.
Com as palavras de seu pai lembrou de quando seu avô o informou. Sentiu como se estivesse mentindo para o seu pai, que captou a essência do que lhe incomodava.
— Estou perguntando isso porque sei que não é o que você esperava, e não é uma coisa fácil para alguém que nunca saiu com um alfa aceitar.
Era uma situação em que todos pareciam pensar o mesmo, mas não se sentia muito bem ao ouvir essas palavras. Seria correto dizer que era embaraçoso. Não pelo fato de sair com um Alfa, mas porque era óbvio o que esse casamento significava.
Carlyle Frost é uma mão descartada.
Ele sabia disso desde que nasceu, mas não esperava que seu avô expressasse tão claramente. Claro, o adversário era muito para ele. As possibilidades que sua família obterá por meio dessa conexão são incomparáveis às que ele poderia conseguir sozinho.
Sua mente estava uma bagunça. Ash Jones disse que conseguiríamos o que queríamos, mas as pessoas são imprevisíveis, e se ele mudar de ideia ou se isso mais tarde der errado, isso pode nos prejudicar no futuro, a menos que estejamos ligados pelo casamento.
— Se você não gosta, eu farei algo a respeito.
Talvez interpretando o longo silêncio de Carlyle dessa maneira, Jonathan trouxe palavras difíceis primeiro. Sentiu uma grande felicidade crescer bem no fundo do seu coração, com as palavras de seu pai, mas era impossível. Ele não queria inflamar mais ainda a vida de seu pai, que tinha sido desprezado pelo seu avô na sua cara por ter vindo para a casa de um nobre mesmo sendo um plebeu.
— Não. Não é comum, mas também não é ruim.
Balançando a cabeça levemente, Jonathan sorriu melancolicamente.
— Sim, há um exemplo de Alice e eu.
Jonathan que estava olhando para Carlyle com uma expressão de desculpa, falou cautelosamente novamente.
— No entanto, o casamento entre alfas do mesmo sexo é inédito nesse meio.
Não havia nada de errado com as palavras de Jonathan que falava enquanto olhava ao redor da mansão. Não familiarizado com a expressão preocupada de seu pai, que ele não via há algum tempo, Carlyle o encarou em silêncio.
Ao contrário da sua mãe, que não expressava emoções ou expressões faciais de maneira semelhante a ele, seu pai era mais expressivo. Mas não era algo que ele via com frequência. Então uma preocupação sem sentido passou pela sua cabeça; talvez sua mãe também estivesse pensando assim.
— O que minha mãe pensa?
— Bem, Alice realmente não expressa esse tipo de intenção.
Parece que era um pensamento infundado. O fato de não ter havido uma declaração de suas intenções significa que ela provavelmente pensava o mesmo que o seu avô. Um sentimento de opressão que tinha se dissipado durante algum tempo silenciosamente foi pressionado sobre os ombros de Carlyle.
— Entendo.
Após uma breve resposta, Carlyle decidiu encerrar a história.
— Estou bem. É uma coisa definida e não quero ir contra o que meu avô quer.
Jonathan franziu os lábios, então assentiu com um suspiro.
— Que tipo de pessoa é seu noivo?
Com essa pergunta, Carlyle finalmente se lembrou da pessoa que era o assunto da conversa. Não foi uma reunião longa para definir, por isso foi difícil responder facilmente. A primeira coisa que disse foi…..
— Ele é bonito.
Apenas disse isso secamente quando ele veio à mente, mas Jonathan sorriu depois de fazer uma expressão de surpresa.
— Parece que você gostou dele.
— Não é desse jeito.
Ele estava apenas afirmando um fato objetivo. Nunca tinha visto ninguém tão deslumbrante em sua vida. Ele tinha olhos de cor diferente. Era um homem bonito que parecia elegante e arrumado, quando olhava para o seu rosto, todas as características eram atraentes, e ele tinha um bom físico. Era difícil ver alguém tão alto quanto ele, por isso essas coisas ficaram fixadas em sua mente.
Seus feromônios… não eram fortes o suficiente para ser repulsivo. Tinham o aroma amadeirado das árvores do Primrose Hill onde o conheci. É difícil encontrar o aroma de um Alfa que tenha uma presença forte, mas que não me faça sentir repulsa quando o sinto.
— É a primeira vez que ouço você dizer isso.
— Fora isso, não tenho nada a comentar. Ele não parecia uma pessoa ruim.
Realmente era isso.
— Você tem um bom faro para as pessoas. Então ele deve ser uma boa pessoa.
Parecia assim, mas não tinha a certeza porque ainda não tinha convivido o bastante com ele. Ao recordar o homem que ele tinha deliberadamente empurrado para o fundo de sua mente durante os últimos dias, os acontecimentos em Primrose Hill voltaram a inundá-lo como se fosse ontem. Houve tantas coisas que fiz pela primeira vez na minha vida, tantos momentos que me fizeram sentir mal do estômago quando comi.
Era estranho comer comida que alguém tinha feito diretamente para ele, era ainda mais estranho que a pessoa se aproximasse deliberadamente dele e sorrisse o chamando pelo seu primeiro nome. Ele tinha uma mentalidade tão oposta àquela a que Carlyle estava habituado. O mais impressionante foi quando ele chamou Carlyle de bonito.
A sensação estranha pressionou ainda mais o seu estômago. A comida chegou bem a tempo, enquanto ele pensava no que dizer. Os brócolis e vegetais estavam bem espalhados sobre um ovo meio cozido. Manteiga de trufas e pão foram servidos com café e chá.
Carlyle bebeu chá Assam Tae e seu pai, Jonathan, escolheu Flat White. A princípio passou pela sua mente que seu avô havia criticado seu pai por não ser educado o suficiente ao tomar café. Porque o homem não tinha berço.
Depois de adicionar um pouco de leite ao chá, Carlyle observou por um momento a cena sobre a mesa. Ash Jones pediría o mesmo? Deve tomar café ou chá?
Depois de pensar inadvertidamente no café da manhã do homem, Carlyle percebeu que ele estava pensando em casamento contrariando o que havia prometido. Era claramente bom para todos romper o compromisso, como disse Ash Jones.
Talvez se sentisse hesitante porque estava preocupado com as reações de seu avô e de sua mãe. Não vamos pensar muito profundamente. Se eu romper o acordo que fizemos, vou perder a confiança da outra pessoa de qualquer maneira, então é certo seguir o planejado.
Naquele momento, houve uma vibração dentro do terno. O toque do celular que guardava dentro do paletó ressoou no sala de jantar tranquila. Jonathan, que acabara de pegar uma faca, olhou para Carlyle.
— Acho que recebeu uma mensagem.
— Não deve ser urgente.
— Você pode checar.
Carlyle pegou o celular sem dizer uma palavra, com o convite que continha uma pressão sutil. Normalmente deixava o seu telefone oficial com a sua secretária durante as refeições, então o que tinha agora era o seu celular para uso pessoal.
As mensagens privadas de Carlyle eram surpreendentemente poucas, já que todas as reuniões com nobres eram marcadas através de seus números oficiais. Não gostava de ter muita gente ao seu redor, isso era óbvio. Os seus contatos estavam limitados à sua família e ao Alfa Aiden Haywood, que tem estado ao seu lado desde a infância.
[Bom Dia.]
Era Ash Jones.
[Como vai?]
Aparentemente, devido ao seu acordo com Ash Jones, não puderam contactar um com o outro através dos seus secretários e trocaram os dados de contato entre si. Era natural que fosse contactado, mas quando finalmente viu o número da outra pessoa ficou um pouco surpreendido.
Às duas mensagens de texto vieram em sucessão, Carlyle respondeu alguns segundos depois. Podia sentir o olhar de Jonathan, mas achou que obteve permissão e sentiu que tinha que responder.
[Estou bem. E você teve uma boa semana?]
— Sinta-se à vontade para falar.
— Mas a comida…….
— Se esfriar, você pode pedir para trazer um novo.
Jonathan disse que estava tudo bem e começou a comer primeiro. Enquanto Carlyle hesitava, a resposta veio rapidamente.
[Carlyle também envia mensagem de texto de um jeito sexy.]
Seus dedos congelaram. Pensou sobre isso desde a última vez, a outra pessoa costumava dizer coisas ultrajantes em momentos específicos. Esperou por um tempo, mas parecia não haver sinais de que a conversa continuaria até que Carlyle falasse. Finalmente, Carlyle deu uma resposta.
[Não realmente.]
[Continua o mesmo de nós conhecemos. Por acaso está usando um terno?]
[Sim.]
[Eu quero te ver logo. Os ternos caem muito bem em você.]
Seus dedos pararam novamente. Um elogio veio do nada, como uma saudação, que deixou Carlyle intrigado.
[Então, a propósito, tudo bem se eu mudar o horário do encontro de 1h para 11h? Acho que seria bom vê-lo um pouco mais cedo. Claro, você pode recusar.]
Carlyle verificou a hora na tela. Algum tempo se passou entre as conversas. De acordo com o cronograma original, faltavam mais de 4 horas para o horário marcado.
Como os dois trabalhavam durante a semana, marcaram de se encontrar no final de semana, e o almoço seria neste domingo. No entanto, se o horário fosse alterado de acordo com o pedido de Ash, os preparativos teriam que ser feitos rapidamente.
[Aconteceu alguma coisa?]
[Esta manhã, há uma exposição inaugural na Hayward Gallery. Eu quero ir lá com você. Pensei nisso por alguns dias, e acho que seria legal te lavar. O domingo é um dia bom para ver uma exposição e tomar um brunch, o que você acha?]
Tinha ouvido falar que havia uma nova exposição na Hayward Gallery, se tratava de um conhecido de Ash Jones. Não era surpreendente, já que ele é uma figura tão influente neste meio, e parecia que todos conheciam Ash Jones. Essa foi a impressão que teve do homem.
[Você está participando do leilão?]
A razão pela qual os aristocratas iam à exposições era normalmente para adquirir itens para suas coleções. Isso não quer dizer que não tivessem passatempos, mas eram poucos e distantes, e na sua maioria usavam isso para se exibir. No caso de Carlyle, ele participou de todas as exposições notáveis exigidas, mas não adquiriu nenhum item. Não havia razão para se interessar por tais coisas.
[Algumas vezes sim, mas o objetivo de hoje é apreciar o momento. Ele é um ótimo artista. Eu me perguntei como seria admirar tal arte com Carlyle ao meu lado.]
Carlyle pensou por um momento. Ele estava prestes a tomar o bom chá, então o brunch seria demais. No entanto, se não fossem comer juntos, seria ambíguo encontrá-lo mais cedo para a exposição.
— Se for algo importante, você pode ir.
Só quando ouviu a voz de Jonathan, Carlyle percebeu que estava segurando o telefone por mais tempo do que o esperado. Envergonhado por ter sido rude no meio da refeição, ele rapidamente desligou o telefone.
— Desculpe.
— A pessoa que está te enviando mensagem não é o seu noivo.
Jonathan disse como se soubesse de tudo, e Carlyle balançou a cabeça.
— As refeições familiares são mais importantes.
— Você e eu nos vemos com frequência. Além disso, essa pessoa também fará parte da sua família.
Um sentimento de culpa apertou seu peito. Seu pai, que antes estava preocupado porque tinha interpretado mal sua reação, parecia agora aliviado. Não tinha tido uma má impressão de Ash Jones, mas não era como se gostasse dele.
No entanto, não havia como dizer que ele não se tornaria um membro da família. Após um momento de hesitação, o seu telefone voltou a vibrar. Jonathan fez um gesto para que ele o verificasse. Cautelosamente, Carlyle olhou para o telefone, e um símbolo que nunca tinha visto antes apareceu na tela.
[=(]
Carlyle refletiu por um momento sobre a estranha combinação de símbolos. Achou que o homem tinha cometido um erro de digitação.
[É triste, mas não há problema em recusar. Porque eu sou um homem crescido.]
Estava prestes a perguntar o que isso significava, mas felizmente uma mensagem se seguiu. Ironicamente, a voz de Ash Jones veio ligeiramente à sua mente quando olhou para o texto.
[Não. Estava apenas verificando minha agenda por um momento.]
Hesitou porque não era típico dele aceitar tais planos improvisados. Se fosse um encontro relacionado a negócios, eu seria mais flexível, mas esta é uma reunião privada. O som da tosse de Jonathan cortou os pensamentos de Carlyle.
[Eu acho que vai ficar tudo bem.]
Relutantemente, Carlyle aceitou. Então, um símbolo quase semelhante ao anterior apareceu na tela.
[=D]
Olhou para a tela com uma expressão vazia. Não estava esperando por algo assim. Não era a primeira vez que lidava com alguém que não era um nobre, mas o homem era diferente. Senti mais ainda porque não tinha se relacionado com alguém assim.
[Eu o incomodei, então vou buscá-lo. Você poderia me dar seu endereço?]
Enquanto pensava nos emojis estranhos, Ash sugeriu uma escolta.
[Não, está bem.]
[=(]
O símbolo que tinha visto antes chegou novamente. Carlyle finalmente decidiu perguntar o significado.
[Que significa isso?]
Ash não respondeu à pergunta de Carlyle por alguns minutos. Sentindo-se um pouco constrangido, Carlyle desligou o telefone. Mas seu olhar continuou focado na tela.
— Vai sair agora?
— Ah, ainda não. Mas parece que terei que sair em breve.
— Parece que vocês querem comer juntos.
Jonathan disse como se soubesse.
— Desculpe por sair primeiro.
— Não diga isso.
Erguendo a mão, Jonathan bebeu seu café novamente. Enquanto isso, não houve resposta de Ash, e seu nervosismo aumentou um pouco. Seu dedo se aproximou do telefone e finalmente a vibração soou.
[Eu quis dizer que se você não me deixar ir buscá-lo, eu poderia começar a chorar a qualquer momento porque estou triste.]
Carlyle estreitou os olhos diante das palavras inesperadas.
[Deixe-me ir te pegar, e direi exatamente o que isso significa.]
Foi uma sugestão estranha. Carlyle ponderou por um momento, não sendo capaz de entender o homem, que insistia em fazer tal coisa, mas pensou que se recusasse ele poderia se sentir ofendido. Afinal de contas, nesta relação ele era a parte que menos tinha a oferecer.
Vou apenas aceitar, mas ele não vai ter nenhum benefício com isso.
[… Está tudo bem.]
Sentiu que o homem estava se preocupando com uma pessoa que não tinha muito a lhe oferecer. Uma certa sensação de melancolia o atingiu. Não era um sentimento desconhecido. Era a mesma sensação que sentia quando decepcionava seu avô por causa da sua inutilidade.
Para se tornar um ser humano útil, mesmo que apenas um pouco, seria melhor atender ao pedido do outro. Carlyle inexpressivamente enviou o endereço.
[Obrigado. Até logo.]
Ash estava grato por uma coisa que não precisava. Enquanto isso sentimento de melancolia que havia inundado Carlyle há pouco, desaparecia lentamente. Não habituado a sentir-se assim, Carlyle enfiou o telefone de volta no bolso como se o ignorasse.
***
Coincidentemente, Jonathan não saiu imediatamente após terminar a sua refeição. Ele sabia com toda certeza que Carlyle tinha planos para o horário da manhã, mas Jonathan não saiu da casa antes das 11h00. Sentou-se na sala de estar, leu o jornal e bebeu seu chá sem pressa.
Carlyle percebeu sem dificuldade que ele estava tentando encontrar Ash. Foi constrangedor. Enquanto estava pensando se deveria avisar a Ash com antecedência, a campainha tocou. Carlyle verificou a hora. Chegou 10 minutos antes do horário marcado.
Foi inesperado. Achou que ele chegaria na hora.
— Estou indo embora.
Jonathan ultrapassou Carlyle que estava descendo as escadas e caminhou em direção à porta. Carlyle seguiu o homem apressadamente, que assumiu a liderança sem lhe dar chance de pará-lo.
— Não precisa fazer isso.
— Ele e seu futuro cônjuge, então é claro que devo sair para conhecê-lo.
Jonathan abriu a porta enquanto Carlyle hesitava diante da palavra cônjuge. A primeira coisa que viu atrás da porta silenciosamente aberta foi um buquê de rosas vermelhas. Jonathan arregalou os olhos e parou. Carlyle deu alguns passos e ficou ao lado dele.
Ash estava segurando um lindo buquê. Mesmo quando Jonathan abriu a porta ele não pareceu constrangido, sorriu e ofereceu a sua mão para um aperto.
— Olá. Sou Ash Jones.
Erguendo a mão educadamente, ele não parecia nem um pouco envergonhado. Jonathan olhou brevemente para Ash e pegou sua mão.
— Você pode me chamar de Jonathan. Sou o pai de Carlyle.
— Um prazer te conhecer.
Ash assentiu suavemente. Então ele olhou para Carlyle, que estava de pé ao lado do pai. Enquanto baixava lentamente os olhos, ele disse de forma refrescante.
— Olá.
Um buquê de flores foi oferecido junto com as saudações. O cheiro das rosas brilhantes permeou o lugar.
— Para Carlyle.
Depois de apertar sua mão, Jonathan recuou. Carlyle olhou para o buquê espalhado à frente. Nunca recebeu flores de presente na vida, exceto na formatura e na cerimônia de entrada. Também não incluía flores tão bonitas.
— … obrigado.
Não é que ele não tenha gostado, mas se sentiu estranho. Ele não esperava ser tratado assim por aquele Alfa.
— Combinam bem com você.
Ash olhou para Carlyle com um grande sorriso, então disse para Jonathan.
— Desculpe interromper seu tempo juntos, mas posso pegar Carlyle emprestado por um momento?
— Claro. Carlyle, vou ajeitar as flores para você.
Carlyle, que estava rígido por uma série de situações inesperadas, cuidadosamente confiou o buquê a ele.
— Obrigado pai.
Jonathan, que havia recebido as flores, sentiu o aroma do buquê trazido para Carlyle e sorriu.
— Alice ficará aliviada. Então divirtam-se.
Jonathan pareceu ter gostado muito de Ash. Ash piscou os olhos para Jonathan, que sorriu quando se referiu a sua mãe.
— Por favor, deixe comigo.
Jonathan estava encostado na porta os observando, talvez pretendo fechar a porta apenas depois de vê-los sair. O seu pai nunca tinha se despedido dele desta forma, nem mesmo quando ele levou o parceiro Omega designado por seu avô a festa de formatura. Não era a primeira vez que ele tinha um encontro com alguém, mas agora sentia como se estivesse fazendo isso pela primeira vez.
E como se para apoiar esse pensamento, Ash estendeu a mão.
— Vamos, Carlyle?
A mão estendida para escoltá-lo, era branca e grande. Parecia muito natural para Ash fazer isso mesmo com um alfa. Ele não se lembrava de já ter segurado a mão de outro alfa, mas não podia rejeitá-lo. Hesitante, Carlyle segurou a mão delicadamente.
As palmas se tocaram. A temperatura corporal quente envolveu a pele fria de Carlyle. Ao contrário de Carlyle, que tinha calos por andar e praticar esgrima, as mãos de Ash eram macias. Ainda assim, a sensação era claramente diferente da mão de um Omega.
A brecha penetrou os limites do Carlyle.
Enquanto seus sentidos estavam totalmente focados na mão que segurava desajeitadamente, eles deixaram a mansão. Ash conduziu Carlyle com a mão ainda sobre a dele. Entretanto, a mão fria tinha sido derretida pelo calor corporal de Ash. Um agradável calor subiu pela palma de sua mão, juntamente com uma sensação de formigueiro.
— Eu estava pensando em pegar meu carro, mas como não estamos muito longe da Hayward Gallery, vou pedir um táxi. Tudo bem para você?
— Não me importo.
Ele estava mais preocupado em quando deveria soltar a mão que estava segurando.
— Como o tempo está bom, acho que não há problema em caminhar quando voltarmos. Oh, claro, isso se Carlyle não se importa.
Você vai continuar me segurando assim?
— Carlyle?
Ah, de repente desviou o olhar das duas mãos. Ash olhou para ele e piscou.
— Me desculpe se te ofendi.
Ash imediatamente se desculpou, provavelmente pensando que ele estava olhando para as duas mãos com um sentimento de desgosto.
— Não, você não fez nada.
A mão que estava prestes a se afastar parou com a resposta de Carlyle. Ash olhou para Carlyle. Ele perguntou, olhando para o rosto inexpressivo dele.
— Então?
— … eu olhei para elas porque me perguntava quanto tempo eu deveria segurá-la.
Ash estremeceu com as palavras inesperadas. Ele piscou, depois sorriu alto e estreitou os olhos.
— Então é por isso que estava olhando para mim?
— Sim.
— Que fofo.
—…. ?
A expressão de Carlyle mudou devido às palavras que ouviu. Ele estreitou os olhos ligeiramente e olhou para o homem. Ash suspirou e se inclinou.
— Você sabe como, parece fofo quando envia mensagens de texto?
— Acho que nunca fiz nada assim.
Seja bonito ou fofo, Ash parecia ter um padrão ligeiramente diferente dos outros.
— Como não é fofo perguntar sobre o significado dos emoticons? Esqueci de responder na hora porque achei muito fofo quando vi.
Por isso que a resposta foi lenta? Carlyle suprimiu a vergonha que sentiu.
— Carlyle parecia não saber nada sobre o assunto.
— Não é uma expressão costumeiramente utilizada à nossa volta.
— Pode ser.
Ele não parecia convencido.
— Eu não pesquiso ou aprendo coisas que não preciso saber.
— Claro. Eu sei um monte de coisas inúteis, e Carlyle não precisa saber.
Ash que se aproximou um pouco, estendeu a outra mão que não estava segurando. Um dedo se ergueu lentamente e tocou gentilmente a bochecha de Carlyle. Fazendo uma pausa na ação inesperada, Ash levou o dedo para cima, fazendo com que o canto da boca de Carlyle se levantasse.
— O D adicionado ao sinal de igual é um rosto sorridente como este.
O dedo acariciando sua bochecha lentamente desceu até seus lábios. O toque suave fez cócegas. O contato excessivamente íntimo desencadeou um aviso em sua cabeça. Carlyle recuou tanto quanto Ash se aproximou.
— Os outros queriam dizer o contrário.
Vendo Carlyle se afastar com passos rápidos, Ash abaixou a mão. Os dois se afastaram um do outro enquanto se viravam e soltavam as mãos que seguravam.
— Eu não queria te surpreender.
— Você é o tipo de pessoa que sempre tem muito contato físico assim?
Carlyle perguntou como da última vez. Ash inclinou a cabeça em um ângulo e mostrou uma expressão preocupada.
— Em um encontro.
°
°
Continua…