Defina o relacionamento - Capítulo 19
Uma performance moderadamente emocionante encheu o salão de banquete. Embora fosse hora da noite cair, o céu além da ampla janela era de uma cor azul claro. Era literalmente o ápice do verão.
O sol, que iria desaparecer rapidamente com a chegada do outono, coloria esplendidamente tudo lá embaixo, desde o ponto mais alto. Como se tentasse tocar cada pequeno ponto antes de se pôr.
Os banquetes nesta época do ano são magníficos. Os encontros sociais, sejam em salões, festas de caça ou assistindo a jogos, são sempre a maior atração do verão. Mas é claro que dezenas de milhares de libras são gastas independente da estação do ano.
Porém o organizador do evento frequentado por Carlyle, não era um aristocrata que segue as tendências dominante da alta sociedade. O nome do organizador era Philip Gordon, que herdou o título de Marquês como o avô de Carlyle. Ele era provavelmente dois anos mais velho que sua mãe, Alice.
Philip Gordon raramente aparecia nos círculos sociais, e as suas atividades sociais consistiam na realização de um ou dois eventos por ano.
No entanto, seu salão de artes era frequentado por muitas pessoas nobres e mesmo aqueles que não puderam entrar em contato com ele tentaram participar. O motivo era as conexões que ele tinha.
Gordon, o Marquês de Hartford, manteve uma relação estreita com o Duque de Devonshire durante gerações, seguindo o legado de uma família venerável. Também mantinha boas relações com aristocratas de prestígios dentro da política.
Gordon sempre foi uma pessoa popular, já que está próximo a ele aumentava consideravelmente a possibilidade de conhecer o Duque, com quem era muito difícil fazer conexões.
O avô de Carlyle, Lord Frost, também conhecia Philip Gordon como Marquês de Bath, mas com a personalidade fechada de Philip Gordon, suas interações não chegaram a um nível bom o suficiente para haver resultados claros.
Mesmo para Carlyle que conhece muitos lugares e pessoas, esta é provavelmente a terceira vez que visita o salão de Gordon. Carlyle geralmente estava ocupado, e o salão de Gordon sempre tinha um número limitado de visitantes.
Foi graças a Aiden Haywood que Carlyle pode estar aqui hoje. Aiden, que atua principalmente no ramo de hotelaria, bem como em exposições e leilões, parecia conhecer Gordon muito bem.
Aiden se propôs a ajudar assim que ouviu falar sobre a decisão repentina de Carlyle de ir ao salão de Gordon.
— Isso é o que você quer?
E os termos da proposta eram simples.
— Acho que é um talento ser capaz de permanecer assim por dez anos.
Passear com Aiden por todo o salão. Essa era a condição dele. Era irritante, mas Carlyle aceitou. Em vez disso, teria sido menos incômodo se ele pedisse uma transação em dinheiro ou comercial, mas Aiden realmente não queria mais nada.
Carlyle focou sua atenção nas cartas de pôquer sobre a mesa embaixo de sua mão. O jogo em sua mão era um J straight flush.
— Eu não deveria ser a estrela principal hoje? Você tem que perder para mim.
Aiden, que nunca havia vencido Carlyle no pôquer, expressou seu sincero descontentamento. Sempre foi assim. Carlyle nunca perdeu para Aiden desde os seus 16 anos.
Mas isso não se limitava apenas a Aiden. Isso ocorre porque Carlyle não tinha expressão, e para aqueles que eram adeptos ao pôquer e outros jogos, ter esse tipo de rosto inexpressivo era bastante vantajoso.
A palavra cara de poker se adequava bem a Carlyle.
— Se você me pedir para combinar mais do que isso, seria melhor usar uma condição de transação diferente.
Não era óbvio, mas Carlyle franziu a testa de propósito, sentindo-se um pouco cansado de tudo isso. Ao longo das horas que passava no salão, Carlyle ficou realmente ao lado de Aiden.
Aiden era um pouco tagarela — claro, Carlyle já estava acostumado com isso — Só era possível ouvir e responder as palavras do homem se prestasse um pouco de atenção.
Além disso, hoje, também encontrou pessoas envolvidas no trabalho de Aiden, todos legisladores ressentidos com a Lei de proibição da caça à Raposa.
Carlyle passou o tempo mais perdido de sua vida durante cerca de uma hora, ouvindo seus planos e opiniões sobre revogar a lei de proibição à caça à raposa, e xingarem os grupos de proteção que protestavam contra isso.
— Sério? Agora eu ia ver o Sr. Gordon, mas se você puser dessa forma…
Aiden disse como se tentasse algo. O olhar astuto e encolher de ombros deixou Carlyle estupefato. Aiden é um das poucas pessoas que Carlyle pode definir como amigo, e ao contrário de outros aristocratas, ele tem um pouco de humanidade, mesmo assim não combina em nada com ele.
É triste pensar que Aiden está sempre à procura de Carlyle, porque à medida que as relações vão evoluindo, o gostar de um dos lados não é suficiente para tornar tudo perfeito. Assim como a relação de Ash e Carlyle.
Enquanto pensava em Ash, Carlyle franziu os lábios com uma estranha sensação de cócegas. Já que o propósito de vir aqui hoje tinha a ver com Ash Jones, Carlyle lutou para não pensar nele durante o resto do encontro.
Ultimamente, seus sentimentos se tornaram mais aparentes e só de pensar no nome de Ash seu estômago se revirou e seu coração bateu mais forte. Os dedos do seu pé se contraíram.
Carlyle havia ido àquele lugar para pegar a pintura de Philip Whitewood. Ele descobriu que a pintura tinha passado por dois aristocratas antes de acabar nas mãos do Marquês de Hartport.
Kyle finalmente confirmou isso, e Carlyle pesquisou os interesses recentes do Marquês no intuito de fazer um acordo. Então estava ali com várias propostas vantajosas para negociar com o Marquês.
Se o acordo for bem-sucedido e o Marquês de Hartport transferir a propriedade da pintura para ele, ele poderá dar a pintura a Ash neste fim de semana.
Desde a noite de sexta-feira que passou na casa de Ash até o sábado de manhã, Carlyle tem lutado para acalmar seu coração. A voz de Ash, dizendo que ele era uma exceção, sussurrava incessantemente em seu ouvido.
Carlyle passou esta semana em contato com Ash, lembrando de quando o homem pressionou seu corpo e do belo sorriso estranho que mostrou involuntariamente, enquanto olhava para o cartão azul que Ash havia lhe dado.
Agora seus encontros estavam caminhando para a oitava semana. Depois desta semana, tudo chegará realmente ao fim. Carlyle pensou muito sobre isso. Além de seus sentimentos transbordantes que não são claros o suficiente, havia outro motivo para os dois continuarem se encontrando?
A razão o aconselhou a organizar suas emoções e voltar ao seu eu original o mais rápido possível, mas a partir de certo ponto, emoções além da razão continuaram o encorajando a tomar outra decisão.
‘Eu não quero estar com ninguém além de Ash. Quero ficar com Ash. Quero segurar as mãos dele, beijar seus lábios e misturar nossos corpos. Quero ver o rosto sorridente de Ash para sempre’.
Na imaginação de Carlyle, tal suposição pressupunha um período de tempo, talvez uma vida inteira, Carlyle teve muito tempo para suprimir seus pensamentos estúpidos. Mas mesmo depois que ele conseguiu recuperar sua compostura, concluiu que gostaria de estar com Ash tanto quanto possível.
Então, qual é o caminho? O desejo ténue, que vinha crescendo nele há algum tempo, continuou seduzindo Carlyle e se tornando cada vez mais forte. Ele queria dizer algo para Ash. Queria fazer uma proposta com a qual nunca havia sonhado na vida, queria expressar os sentimentos que estavam presentes a explodir.
Embora Carlyle tivesse a ilusão de que Ash poderia ter sentimentos reais por ele, era improvável que o homem fizesse tal oferta a Carlyle primeiro.
Se for assim, a única maneira é ele mesmo fazer a proposta primeiro. E quando fizesse a oferta, queria dar a Ash um símbolo de seu amor, como se fazia tradicionalmente.
—… Eu não pensei direito.
Então, para obter o certificado de proprietário, teria que ser um pouco mais agradável com Aiden.
— Desculpe, Aiden.
Quando Aiden respondeu às palavras de Carlyle. Ficou claro para ele que deveria fazer o que lhe foi pedido. Ele estava realmente relutante sobre isso, mas Carlyle eventualmente o seguiu.
— Desculpe.
— Finalmente você disse o meu nome?
Carlyle olhou silenciosamente para Aiden. Os olhos verdes brilhantes estavam cheios de malícia. Aiden piscou os olhos, sorriu e estendeu a mão para alcançar a bochecha de Carlyle. Carlyle se afastou. Sabia exatamente o que ele faria se o deixasse continuar.
— Pensei que tinha deixado esse hábito ruim de lado.
— É porque você quase não sorri.
Aiden era obcecado pelo sorriso de Carlyle desde criança, e uma das ações decorrente dessa obsessão ridícula era colocar a mão nos cantos dos lábios dele e levantá-los.
Ficou incomodado com esse comportamento e o deixou sozinho várias vezes quando eram crianças, e mesmo nessa idade, ele tenta esse tipo de coisa. Quando se levantou como se não houvesse mais nada a dizer, Aiden o seguiu.
— Okay. Por enquanto ficarei satisfeito com você me chamando de Aiden.
Carlyle calmamente chamou seu nome com um tom de simpatia.
— Aiden.
— Quão bom seria se fizesse isso sempre?
Carlyle escolheu ficar em silêncio. Aiden suspirou e acenou para Carlyle. Eles saíram da sala e se dirigiram para as escadas.
A mansão de Gordon foi construída no estilo Georgian House e ficava em Kensington, e toda a casa era usada como um edifício independente do porão onde havia outra grande construção. Como a manipulação da estrutura interna era regulamentada, muitas vezes era o método preferido para os proprietários da classe alta de casas vitorianas e georgianas.
— Mas por que você está procurando por essa pintura? Não é tão famosa, pelo menos eu nunca ouvi falar.
Aiden, que tem pinturas e esculturas nas quais vale a pena investir, perguntou curioso.
— Eu não acho que seja algo com que você se importe.
Carlyle disse a verdade. Apenas o som de sapatos subindo as escadas foi ouvido por um tempo. Aiden, que estava em silêncio, falou novamente.
— Eu não sei se meu palpite está correto, mas… — Ele parou no corredor do quarto andar, onde o som da música era ténue. — É por causa do Alfa que eu vi com você daquela vez?
Carlyle ergueu as sobrancelhas ligeiramente. Era natural que Kyle, que estava sempre ao seu lado, tivesse notado, mas foi surpreendente que até mesmo Aiden Heywood tenha percebido.
— Porque você acha isso?
Carlyle perguntou. Aiden olhou para Carlyle com uma expressão séria no rosto. Olhos verdes claro, o encararam de frente.
— Nesse momento, você só está fazendo coisas que jamais fez na sua vida.
Parecia tão óbvio para Aiden que Carlyle, que sempre teve tempo para participar de reuniões aos fins de semana, não tinha aparecido recentemente. Talvez o fato de ter sido visto com Ash tenha dado força a essa especulação. Carlyle olhou para baixo e pensou.
Não há necessidade de ser um livro aberto para transparecer suas interações. Também sabia que muitos rumores poderiam surgir ao sair com um Alfa.
Como um exemplo próximo, sua mãe, Alice, conheceu e se casou com seu pai, Jonathan, um Alfa masculino o que causou um grande alvoroço. Naquela época, Carlyle ouviu isso pela boca de seu avô.
Se Alice não tivesse engravidado, seu avô acabaria fazendo com que Alice se divorciasse de Jonathan. Mas sua mãe conseguiu engravidar mesmo sendo uma mulher Alfa, o que era considerado quase impossível pois só acontecia em 5% dos casos. Mas mesmo contra todas as probabilidades, ela deu à luz a duas crianças.
Talvez seja por isso que seu avô é particularmente rigoroso sobre casar Carlyle e Kyle com ômegas de boas famílias. Para que não sigam o exemplo de sua mãe.
É claro que o casamento em si não teria sido possível se o pai, Jonathan, não fosse dono de uma grande empresa de investimentos em uma idade tão jovem.
— Entendo.
No entanto, como estava decidido a estar em um relacionamento com Ash, Carlyle não queria esconder nada a partir de então. ‘Ash é uma pessoa linda e maravilhosa aos olhos de qualquer um, e se formos namorar…’
Assumindo a palavra namorar, Carlyle decidiu parar de pensar nisso, com timidez. Era muito difícil apenas pensar na palavra, e ele não fazia a menor ideia de quando começou a querer namorá-lo.
Além disso, a prioridade agora era encontrar a pintura. Assim que Aiden estava prestes a abrir a boca novamente, a porta do outro lado do corredor se abriu. Os olhos de Carlyle e Aiden se voltaram para o som da porta que soou no corredor silencioso.
— Ouvi dizer que houve uma agradável comoção lá fora, parece que temos um novo convidado.
Um som baixo suave e profundo foi ouvido. Um homem de meia-idade foi visto abrindo a porta. O homem alto, tinha aparência suave, cabelos escuros e olhos azuis. Embora tivesse alguns fios de cabelos branco misturados aos escuros, o homem parecia mais jovem do que ele imaginava, talvez por causa da expressão suave em seu rosto.
— Senhor Gordon.
Aiden arregalou os olhos e logo curvou a cabeça brevemente para cumprimentá-lo. Naturalmente, eles andaram em direção ao homem. O nível dos olhos, que eram ligeiramente mais altos do que os de Carlyle, parecia de alguma forma familiar. Ash também tinha essa pequena diferença de altura. O homem olhou para Carlyle com um belo sorriso.
— Acho que esse cavalheiro é a pessoa que o Sr. Heywood mencionou antes.
— É Carlyle Frost.
Gordon ergueu a mão para cumprimentá-lo. As Mãos se tocaram e logo caíram. Como costumava ser com todos que obtêm grandes títulos, o homem era um Alfa dominante.
Embora o número de alfas dominantes tenha diminuído com o passar do tempo, não foi difícil encontrar esse homem mesmo ele não estando no círculo de convivência de Carlyle. No entanto, o homem não pareceu intimidador, talvez por causa da expressão suave.
— Vi o senhor Frost algumas vezes.
Dito isso, Gordon apontou para a porta. Aiden, que tendia a se meter desnecessariamente nos assuntos de Carlyle, mas que sabia ser discreto em momentos importantes, saiu da sala dizendo que lhes daria alguma privacidade.
— Ouvi dizer que o senhor está interessado na pintura de Whitewood. Acho que me disseram que havia alguém a quem queria presentear, mas não sei se o que me lembro está correto.
Ao entrar na sala, Gordon rapidamente abordou o tópico principal da conversa. Carlyle permaneceu em silêncio por um tempo, agindo de forma completamente diferente de sua maneira de iniciar uma conversa baseada em palavras fingidas.
Gordon, que conduziu Carlyle até a mesa onde o chá estava preparado, lhe convidou para sentar. Carlyle abriu a boca lentamente.
— Antes de mais nada, obrigado por nos emprestar seu precioso tempo.
Gordon sentou na cadeira e acenou com a mão como se dissesse que estava tudo bem. Seu comportamento descontraído era diferente dos nobres que Carlyle tinha visto.
— É uma pintura que tenho há alguns anos, achei interessante o fato de haver pessoas procurando por ela. Então, pode-se dizer que também reservei esse tempo para me divertir.
Depois de dizer isso, Gordon pegou a xícara de chá. Carlyle, que o observava em silêncio, também pegou um copo de leite e misturou o leite com o chá preto. Gordon que bebeu o chá olhou para Carlyle e disse:
— Como o senhor Gordon disse, eu estava procurando a pintura. Se estiver disposto a aceitar minha oferta… Gostaria que me dissesse o que deseja em troca.
Ao ouvir as palavras de Carlyle, Gordon desviou o olhar. Seu olhar foi para a tela pendurada no centro da parede forrada com prateleiras de livros. Carlyle percebeu, sem nenhuma explicação prévia, que aquela era a pintura da qual Ash tinha falado.
Ash explicou a pintura de forma detalhada. A imagem correspondia exatamente à descrição dele. As cores roxas e azuis brilhavam misturadas sob o luar branco.
A silhueta escondida nas sombras parecia ganhar vida, embora nada estivesse claramente visível. Um nariz pequeno e reto que caía em uma curva circular e os cantos de uma boca que pareciam estar sorrindo levemente, eram vistos de lado.
Carlyle viu inúmeras pinturas. Entre elas, havia coleções cujo valor estava além da imaginação, também havia obras que o público em geral se sentiria afortunado se pudesse ver apenas uma vez na vida. Mas, ele nunca tinha sentido nada sincero através de uma obra de arte.
No entanto, havia um certo afeto na pintura a sua frente que inundava o espectador. Sentiu que o artista amava tanto a pessoa na pintura, que seu amor era próximo da adoração. Carlyle não sabia dizer se ele se sentia assim porque a pintura era realmente bonita, ou se essa mudança vinha do seu amor por Ash.
Uma coisa era certa aqui, qualquer que fosse a razão disso, eventualmente estava relacionada a Ash. Ele se sentiu assim à noite quando estava imaginando algo enquanto assistia a um filme sobre o amor com o qual ele nunca foi capaz de se relacionar.
— O que você acha?
Gordon, que estava olhando para a pintura também, perguntou. Carlyle parou por um momento e escolheu suas palavras, sentindo emoções desconhecidas e pungentes o inundarem.
Ele não tinha a habilidade de falar sobre arte. Embora seja talentoso para explicar com precisão uma determinada situação, levar uma vantagem esmagadora em negociações e apontar brechas com precisão, ele não sabia exatamente expressar seus sentimentos.
Depois de refletir por um longo tempo, uma frase finalmente saiu da boca de Carlyle.
—… É alguém amado. — Gordon então se virou para olhar para Carlyle, que ainda estava olhando para a pintura. — Posso sentir que a pessoa que desenhou isso amou muito alguém.
Para Carlyle, o amor sempre foi uma emoção que só havia nos contos de fadas. Algo que existe para dar esperança e algumas lições de vida, mas na verdade não pode ser encontrado. Embora amasse muito sua família, ele sempre se sentiu assim. Isso porque o amor descrito na literatura e nas mídias de vídeo sempre foi intenso e pungente, e Carlyle não conseguia sentir esse tipo de sentimento em sua família.
‘Mas agora eu entendo’. Todas as palavras que achava chatas e convencionais vinham à sua mente. Os testemunhos sobre o amor, que pareciam um exagero ficcional, tocaram profundamente seu coração. Então algo tomou conta de Carlyle.
Os sentimentos que sentia por Ash não podiam ser expressos apenas nas simples palavras “gosto de você”. Esse sentimento doloroso, que ferve como lava apertando o coração de Carlyle várias vezes ao dia, não pode ser definido apenas como uma sensação agradável.
Se os humanos realmente tivessem almas, assim como essa emoção substancial existe, a alma de Carlyle estaria agora manchada pelos os traços de Ash Jones.
Então, Carlyle Frost não será a pessoa que era, antes de se apaixonar por Ash Jones.
— Então o Sr. Frost merece esta pintura.
Disse Gordon. Carlyle finalmente tirou os olhos da pintura e olhou para Gordon com uma expressão confusa no rosto. Gordon estava sorrindo.
— Na verdade, o trabalho de Whitewood não tem nada de especial em técnica ou forma. Mas há uma peculiaridade.
Gordon se levantou do assento e esfregou a borda da moldura do quadro com um mão que só um homem de meia-idade entrando na velhice podia ter, uma mão cheia de profundo pesar dos anos passados.
— Só quem ama profundamente alguém pode sentir algo quando olha para esta pintura. Aqueles que não sentem nenhuma inspiração quando olham esse quadro…
Gordon que a olhava com um olhar muito triste, se virou. Ele acenou para Carlyle. Carlyle se levantou em silêncio. A pintura não era tão grande. Era surpreendente que uma emoção tão forte estivesse contida em uma tela de apenas 15 polegadas de comprimento.
— Chagall disse que se houvesse alguma cor que desse sentido à vida e à arte, seria a cor do amor.
Seu coração disparou. Quanto mais escutava aquelas palavras, mais sentia falta de Ash. Mesmo que ficasse longe por apenas algumas horas, sentia tanta falta como se não o visse há anos.
Tudo era Ash. O ar de verão, o aroma de vinho no ar, a forma como o homem olhava para ele, todas essas coisas triviais e comuns, faziam Carlyle lembrar de Ash.
— É por isso que gosto dessa pintura. Toda vez que olho pra ela, me lembro daquela época.
Gordon riu dizendo algo inesperado.
— Se você gosta tanto da pintura… — Carlyle, que lutou para suprimir seu nervosismo, apontou um ponto nas palavras de Gordon. Então Gordon balançou a cabeça. — Acho que é hora de deixá-la ir.
Dito isso, Gordon olhou carinhosamente para Carlyle. Não importa como olhasse para ele, o homem não parecia um aristocrata. Mesmo seu avô, que conhecia Carlyle desde criança, nunca olhou para Carlyle dessa maneira.
— Há apenas uma coisa que vou propor como condição para transferir esta pintura. O valor realmente não importa. Esta peça não é tão cara. O pintor não queria isso.
Carlyle olhou para Gordon com um olhar de incompreensão.
— Faz sentido pagar por isso.
— A recompensa nem sempre precisa ser monetária. Pelo menos para mim. Dinheiro não me faz falta. É uma triste realidade, mas as pessoas que tem muito podem aumentar o que tem com a quantidade certa de esforço. Cresci em um ambiente assim, então não valorizo o dinheiro.
Ele ficou sem palavras. Na verdade, ninguém que Carlyle conhecia precisava de dinheiro. E, no entanto, eles sempre quiseram mais e foram privados de muitas coisas devido a sua maior riqueza. Carlyle não era diferente. Mesmo que não fosse o que ele queria.
— Mas depois, se eu tiver um pedido a fazer, talvez possa ouvir? Não farei nenhuma exigência irracional, Sr. Frost.
— Não sei se só isso é o suficiente. É educado e correto pagar um preço compatível com o valor do trabalho.
— Para mim, esta é a coisa certa a fazer. Se realmente quer isso.
Gordon disse suavemente. Um silêncio relaxado preencheu a lacuna entre os dois.
— Digamos que o Sr. Frost, pode me dizer como é a sua pessoa amada, acho que isso é um preço adequado.
— O que?
— Uma história de amor é sempre uma boa inspiração para um artista.
Pensando bem, Gordon disse que estava muito interessado em arte. Carlyle não sabia exatamente o que ele fazia, mas de acordo com os visitantes da mansão, ouviu dizer que ele faz muitas coisas.
Depois das palavras de Gordon, que perguntou algo difícil, Carlyle ficou distante por um momento. Mas não foi uma sensação ruim.
— O sr. Jones…
— Esse é o nome dele?
Carlyle, que involuntariamente disse o nome de Ash, fez uma pausa e assentiu. Gordon sorriu gentilmente. Pode ver os fios grisalhos misturados a suas sobrancelhas, tal como em seus cabelos escuros. Isso fez Gordon parecer mais caloroso.
— Esse é um ótimo nome.
Mesmo que elogio vinhesse de alguém que nunca conheceu Ash, Carlyle se sentiu aquecido como se tivesse ouvido algo doce e encantador.
Aos poucos, os pensamentos vieram à mente. Ash era difícil de definir como tal. Em alguns momentos ele parecia amigável, em outro ele foi cruel, mas no final era brutalmente gentil. Mesmo o olhar no rosto de Ash quando magoava Carlyle era simplesmente bonito.
Porque é assim que Ash Jones é.
— Sr. Jones… Ele é uma pessoa muito boa.
O significado da palavra “boa” era infinito. Carlyle gostava muito de Ash, e Ash estava associado a todas as coisas boas que Carlyle lembrava. Portanto Ash era literalmente uma boa pessoa.
Não sabia se Gordon tinha entendido, mas o homem sorriu suavemente como se tivesse compreendido.
— Então.
A mão branca, sutilmente enrugada, retirou lentamente a moldura da parede.
— Tenho certeza que ficará feliz em aceitar o presente do Sr. Frost.
A tela em tons fortes e bonitos o suficiente para penetrar e machucar os olhos foi entregue a Carlyle, que gentilmente recebeu a pintura e olhou para ela em silêncio. Carlyle que a admirou por um longo tempo, olhou para cima. Os olhos de Carlyle que pararam em Gordon expressavam um leve vislumbre de alegria.
— Mais uma vez…. Muito obrigado.
Gordon sorriu profundamente para Carlyle, como se reconhecesse sua gratidão.
* * *
É certamente a primeira vez que ele pretende dar um presente a alguém. Foram tantas situações que aconteceram pela primeira vez nos últimos dois meses que é engraçado enfatizar isso novamente, mas era exatamente assim.
Claro, se olhar para frase literalmente como ela é, isso não é exatamente verdade. Mesmo antes do baile de apresentação aos 16 anos, quando Carlyle visitava a mansão de alguém, com a ajuda de seus pais ele sempre escolhia um presente apropriado para a ocasião.
Os presentes eram preparados da mesma forma quando participavam de reuniões ou eventos comemorativos. Vários tipos de brindes foram trocados entre parceiros de negócios que realizam transações e inúmeras pessoas que interagem entre si com algum propósito.
No entanto, se dar algo a outra pessoa com sinceridade é definido como o ato de dar um presente, hoje seria a primeira vez.
Era sábado à tarde. Havia decidido ver Ash por volta das 15h. Desde que começaram a trocar mensagens de texto todos os dias, a comunicação se tornou algo natural, então, além de marcar as datas para os encontros, também começaram a conversar sobre coisas triviais do dia a dia.
Carlyle ponderava se deveria ou não mencionar a pintura com antecedência por mensagem de texto várias vezes ao dia desde o dia em que recebeu a pintura.
Tinha muito com o que se preocupar. Começando com como dar o quadro a Ash, o que vai dizer, qual é o melhor dia, que tipo de expressão deveria fazer, se isso é suficiente e se Ash vai gostar do presente.
Era difícil se concentrar no trabalho porque sua cabeça estava cheia de todo tipo de pensamentos confusos. Ele estava mais nervoso do que quando assinou o maior contrato de sua vida.
Se lembrou do passado, de quando começou a pós-graduação. Na época, Carlyle, que já havia começado a se envolver nos negócios da mãe e do pai, teve que assinar um importante contrato de um projeto aos 25 anos para provar sua capacidade. Ele se sentiu assim naquela época.
Ele não demonstrou, mas Carlyle estava muito nervoso por dentro quando fez aquilo, sabia que alcançar as expectativas de sua família estava em jogo. Ele havia treinado a vida inteira para lidar com isso com calma, sem ser afetado pela situação, isso porque temia que sua mãe e seu pai se decepcionassem com ele.
A utilidade de Carlyle estava ligada a isso. Mais do que qualquer outra coisa, ele não queria ver sua mãe e seu pai tristes por sua causa. Kyle ainda estava com problemas, então não podia incomodá-lo por causa disso. Como único filho que podia lidar com isso, Carlyle também tinha a obrigação de não desonrar a honra da família até que Kyle pudesse se tornar o herdeiro.
Foi durante esse tempo que Carlyle passou a sofrer de insônia e gastrite. Era um sintoma de estresse que só apareciam em tais momentos, e que não se atreviam a aparecer depois desses períodos, os outros não percebiam. Não era uma coisa tão corriqueira fazendo com que Luter só percebesse a causa muito mais tarde.
Carlyle sofria de uma leve insônia enquanto ponderava sobre os presentes. Embora não fosse suficiente para causar gastrite por estresse, a tensão em si era tão intensa como nunca havia sentido antes.
Embora decidisse que não guardaria mais isso para si, Carlyle sabia que sua confissão continha uma alta probabilidade de risco.
Ele sabe que há relações que, através da confissão, mudam para pior e depois rompem. Nunca esteve em um relacionamento, mas já testemunhou alguns casais através de Aiden e daqueles ao seu redor.
Mesmo tendo que fazer um grande esforço para não ser ganancioso com Ash, Carlyle pensou que seria capaz de ver Ash com frequência, mesmo depois do oitavo encontro. Portanto, se confessar e agravar a situação é algo que Carlyle não quer.
No entanto, as palavras de seu pai, Jonathan, continuavam vindo à sua mente. Assim como se lembrou do dia em que pensou que gostaria de ver Ash novamente, lembrou do que Jonathan disse, “às vezes é preciso correr riscos para conseguir o que ninguém mais tem”. E Ash valia o risco.
Além disso, a confissão de Carlyle hoje não foi uma aposta sem fundamento. Ele havia pensado muito sobre isso.
Claro, havia uma forte possibilidade de que os pequenos gestos de “carinho” que Ash tinha demonstrado, fossem apenas uma ilusão que Carlyle tinha sozinho. No que diz respeito ao amor, a credibilidade do seu julgamento era baixa, já nunca em sua vida tinha sentido isso.
Mas.
Mesmo contudo isso…
Carlyle olhou fixamente para o espelho e pensou. O homem no espelho tinha um rosto frio. Pele pálida como a neve, a expressão dura parecia imutável, sobrancelhas levemente levantadas, olhos cinzas e uma boca reta.
Os elementos que compõem sua feição eram perfeitos, mas não brilhavam tão lindamente quanto Kyle, nem causavam uma impressão glamorosa e profunda como Nicholas. Ele era definitivamente incomparável com Ash, que cativa as pessoas fazendo-as querer ouvir qualquer coisa que vinhesse dos seus lábios.
No entanto Ash continuava chamando Carlyle de bonito.
No final, ele o fez rir, e quando viu o sorriso de Carlyle, demonstrou seu desejo por ele. A mão forte tocou a pele nua. Ele abriu as pernas de Carlyle, expressando seu desejo.
Se essa pessoa que o trata assim… Não teria segundas intenções?
‘Acho que não’. Ele não queria acreditar nisso. Queria acreditar que havia algum tipo de sentimento em todas essas ações de Ash, lembrou de quando lhe deu flores, quando lhe entregou algo especial que carregava na carteira e quando o apresentou à sua irmã depois de um longo passeio até sua casa.
Carlyle decidiu. Tirou o celular do bolso do terno e digitou uma única frase.
[Preciso te encontrar hoje, há algo que quero te dizer.]
Um sentimento muito profundo permeou a frase que pareceu um pareceu um pouco dura. Carlyle olhou para ela por um tempo, exalou uma respiração trêmula e apertou o botão enviar.
Uma forte pressão pesou sobre seus ombros. Mas foi uma pressão agradável. Ash havia falado sobre o destino. Carlyle queria acreditar nas palavras de Ash.
Havia até um desejo um tanto irracional de que Ash pudesse se lembrar inconscientemente de seu primeiro encontro com Carlyle.
[Sério?]
Ash respondeu pouco depois. A expressão que parecia letárgica aos poucos ganhou vida. Carlyle escreveu a resposta lentamente com as mãos trêmulas.
[Sim.]
A resposta de Ash chegou rapidamente, como se ele estivesse olhando para o celular.
[Estou curioso sobre o que você quer falar, então acho que não vou conseguir mais trabalhar.]
Sua impaciência e ansiedade aumentaram ao mesmo tempo. Ele estava feliz mesmo assim. Tinha um bom pressentimento.
[Você está muito ocupado?]
Ash ficou em silêncio por um momento. Ele demorou cerca de trinta minutos. Carlyle verificou a hora. Eram duas e meia da tarde. Se tudo corresse conforme o planejado, Ash já deveria estar saindo agora. E provavelmente os dois iriam se encontrar hoje na mansão de Carlyle.
[Desculpe, eu tenho alguns negócios a fazer.]
Ash digitou caracteres diferentes um após outro.
[Há algo errado com o esboço final que acabo de receber, então acho que eu mesmo vou ter que resolver isso. Posso te ir te ver às quatro horas? Sinto muito.]
Ele sentiu uma leve decepção. Os seres humanos eram incríveis. Desde que Carlyle decidiu dar um presente a Ash, ele percebeu que os minutos e segundos passavam mais lentamente. Foi muito difícil se conter porque queria ver seu rosto feliz e sua reação.
Foi estranho perceber pela primeira vez em trinta e dois anos de vida que ele era uma pessoa impaciente. Carlyle hesitou. Queria ver Ash o mais rápido possível. Carlyle tem uma agenda extensa e muito trabalho a fazer, mas estranhamente, Ash sempre parecia estar mais ocupado. Era como se Carlyle fosse livre e não tivesse nada para fazer.
Ainda assim, não queria sobrecarregar ainda mais sua agenda ocupada. Queria estar com Ash o máximo de tempo possível. Se sua confissão for aceita hoje, e seu relacionamento for definido de forma diferente, ele está disposto a fazer mudanças em sua agenda para ganhar mais tempo.
[Posso ir te buscar?]
Carlyle obedeceu ao seu próprio desejo incontrolável. Nos últimos dois meses, ele se tornou um ser humano que cede muito facilmente aos desejos e prazeres. Este foi o resultado de seus encontros com Ash.
[Você quer?]
O som da risada de Ash parecia ser transmitida através do texto. Os cantos dos lábios de Carlyle subiram e desceram lentamente.
[Se você permitir, eu adoraria.]
[Em uma honra.]
Ash gentilmente deixou Carlyle fazer o que ele queria.
[Perto da estação de Covent Garden. Você pode vir para o endereço que vou te enviar até às 15h30?]
[Ok.]
[Vejo você mais tarde.]
Carlyle verificou a hora. Eram duas e meia. Mesmo que ainda faltasse uma hora, ele achou difícil ficar em casa esperando por mais tempo. Carlyle aceitou o desejo que havia surgido em seu peito novamente e resolveu sair de casa um pouco mais cedo.
Continua…