Da Terra ao Céu - Capítulo 37
[Parece que você não estava esperando por isso.]
— Não. Todos os moribundos balançam a boca antes de desaparecer. Chamamos isso de “chutes de afogamento”. E se você não tem nada importante a dizer, então eu vou desligar.
É isso? Que diabos? Ele é alguma espécie de zumbi ou que caralho? Caso contrário, por que alguém que tinha a cabeça completamente partida seguia vivo? Noah suspirou e Sasha estreitou os olhos para ele.
[Estou te ligando para… te advertir e me despedir de você. Realmente não sabia que… conseguiriam chegar tão longe.]
— Que tipo de aviso?
[O aviso de que não vão conseguir sair daqui.]
Caleb não podia falar adequadamente devido à enorme dor que sentia em seu corpo, mas parecia seguir estando bem o suficiente para começar a falar esse tipo de coisa sem sentido e sem qualquer cuidado.
— Eu também quero lhe dar um aviso.
Noah parecia falar de maneira mais calma.
[Qual pode ser o aviso do meu querido Noah?]
— Que você está completamente fodido.
Foi quando Noah o xingou e tentou desligar o telefone que ouviu uma nova voz dizer:
[Deveríamos ver quem morre primeiro?]
Caleb suspirou pesadamente enquanto cerrava os dentes, e quase ao mesmo tempo KWAANG! O chão sob seus pés tremeu com um barulho impressionante e gotas de poeira começaram a cair do teto como se fosse flocos de neve. Noah arregalou os olhos e olhou ao seu redor. Sasha, que também achou que isso era algo inesperado, rapidamente abraçou Noah e o cobriu.
[Por favor, dê meus cumprimentos a Sasha.]
Caleb então começou a rir como um louco e Bang! Um rugido soou novamente. O rosto de Noah endureceu e ficou incrivelmente pálido também. Havia conseguido entender que esse maldito bastardo decidiu explodir a mansão inteira. Por isso o som daqueles que os seguiam havia desaparecido.
— Corre!
Sasha agarrou a mão de Noah.
Na poeira que caía do teto, havia também pequenas gotas de água. Noah foi conduzido por Sasha por todo o caminho, assim que teve que correr às cegas, pensando que o lugar definitivamente iria se converter em seu túmulo se continuassem ali. Droga! Vamos mesmo morrer!
Um palavrão surgiu do nada:
— Onde caralhos vamos?
— Para fora.
Sabia que tinham que sair agora mesmo, mas ele constantemente se perguntava onde estava essa “porta para fora” aonde queria levá-lo. No entanto, não havia outra maneira, assim que decidiu segui-lo.
Noah correu o mais rápido que pôde. Embora não fosse um local que estivesse em funcionamento há algum tempo, o porão era tão amplo que parecia difícil ver o fim. Fosse porque estava nervoso ou porque se movia rapidamente, sentiu que a parte inferior de seu abdômen começou a latejar um pouco. Noah juntou as mãos sobre seu ventre e acalmou um pouco seus passos… A respiração começou a sair de sua boca quase desesperadamente.
— Espere espere…
E foi no momento em que Noah mal conseguia falar que houve outra explosão. Um rugido foi ouvido e o eixo da mansão tremeu sobre si mesmo. A poeira caiu de cima como se tudo estivesse prestes a desmoronar.
— Noah!
A voz de Sasha, chamando seu nome em voz alta, atingiu seu ouvido mesmo em meio a um barulho tão vertiginoso. Não sabiam, mas o teto estava desmoronando muito rapidamente, então Sasha instantaneamente abraçou Noah e o apertou contra seu peito. No momento seguinte, foram empurrados para trás por aquela grande força e, ao mesmo tempo, parte do teto desabou e caiu sobre os dois. O rugido que durou alguns minutos diminuiu gradualmente e logo, os arredores ficaram em completo silêncio. Noah estava esparramado no chão, fechando os olhos com força enquanto um gemido escapava do fundo de sua garganta. Por mais que Sasha o tivesse abraçado, sua cabeça latejava porque a bateu quando caiu no chão.
— Uh… Noah… Noah, você está bem?
Sasha, que estava segurando Noah até agora, perguntou isso com uma voz bastante ofegante. Então Noah piscou e deixou suas lágrimas lavarem uma espessa camada de poeira que estava se depositando em suas bochechas. Seus olhos estavam embaçados, seus cílios estavam colados e era difícil ver o rosto de Sasha corretamente na frente dele.
— Eu estou bem, você…
Mas Noah, que estava falando com ele, pareceu parar de respirar sem perceber. Foi porque a aparência do homem, que finalmente apareceu na frente de seus olhos, era um completo desastre. Os fragmentos do teto desmoronado se empilharam nas costas de Sasha e, no meio disso, ele usou seu corpo para evitar que o grande peso o pressionasse diretamente.
— Sasha!
Sem que percebesse, soltou um grito bastante agudo. Ele olhou para Sasha e a pilha de escombros esmagando suas costas e então começou a tentar libertá-lo de lá.
— Não é nada… Não se preocupe.
Sasha estalou a língua brevemente e tentou levantar-se frente a ele imediatamente. Franziu a testa por causa da dor intensa, mas ainda assim empurrou os pilares de madeira para puxá-los para a outra extremidade. Noah distorceu o rosto:
— Não se mova assim! Você pode se machucar mais!
Como era um edifício de madeira, a maior parte era de pilares quebrados, fragmentos e pedaços muito grandes de piso. Havia muitas partes afiadas, então era evidente que algumas o haviam perfurado. E como se fosse pouco, sentiu-se como se um odor de sangue passe de imediato pela ponta de seu nariz toda vez que ele o pegava. Não eram apenas arranhões, assim que ficou preocupado que até mesmo seus ossos tivessem sido quebrados por conta do desmoronamento da casa. Ainda assim, Sasha parecia querer se levantar, fingindo que não era nada, fazendo com que Noah dissesse um monte de palavrões a respeito. Mas assim que ele passou os braços ao seu redor, sentiu o sangue quente encharcando suas mãos…
Os dedos, cheios do sangue de Sasha, tremeram involuntariamente.
— Estou bem… Não é nada.
— Isso não é está bem!!
No final, ele não aguentou mais e começou a gritar bem alto. Na frente dele, o cabelo de Sasha estava encharcado de suor e sangue e mesmo que apenas um momento atrás o homem houvesse dito para não se preocupar, agora estava em um estado em que parecia que estava prestes a desmaiar na frente dele.
Noah engoliu saliva, olhou para Sasha, então mordeu o lábio. O calor em seus olhos estava aumentando porque sentia muito medo. E a sensação se converteu gradualmente em um frio que o fez começar a tremer. Teve que piscar para que Sasha não se desse conta de que estava chorando.
— …Nem ouse pensar em me deixar sozinho, ouviu? Não me deixe sozinho. Deve viver e me levar e se desculpar apropriadamente comigo. Tem algo a me dizer, assim que…Saia e faça! Eu te escutarei, então… então…
Não sabia por que estava tão irritado. Era difícil suportar a raiva enquanto olhava para Sasha esfarrapado e respirando como alguém que estava prestes a morrer. E se ele sabia o quão ruim estava ou não, o homem apenas sorriu amargamente e disse:
— Sim, eu farei… eu te prometo.
Seu coração estremeceu.
Noah abraçou Sasha, que tremeu como se estivesse prestes a desmaiar, e disse para ele aguentar um pouco mais. Não pôde dizer mais palavras do que isso, assim que simplesmente foi como se ele se apoiasse um pouco entre seus braços.
— O… Onde vamos? Sabe onde está a saída?
— Está na nossa frente. Na outra extremidade havia uma passagem que levava ao lado de fora do prédio, então… devemos sair por ali.
Noah deu um passo à frente na direção que Sasha estava apontando. Nem sequer se apoiava completamente nele, então estava tentando andar sozinho de alguma maneira. Como se estivesse preocupado em machucá-lo ou algo ridículo assim. Noah o abraçou com força e o obrigou a confiar nele.
Mas, quase de repente, começou a sentir que seus pés estavam molhados. Quando olhou para baixo, o chão estava cheio de água e seus sapatos estavam extremamente encharcados. No começo, sentiu-se como se estivessem na lama, quanto mais eles seguiam caminhando, logo o lugar se encheu o suficiente para fazer um som estridente toda vez que pisavam no chão.
— Parece que a água está se infiltrando. É uma mansão construída bem perto da praia, então… Talvez a bomba explodiu e a água do mar se infiltrou, ou o abastecimento de água de repente estourou.
Sasha olhou para o chão e disse isso com um rosto bastante duro.
— De qualquer forma, não é uma boa situação.
— Droga.
A blasfêmia se estendeu desde a ponta de sua língua. Tinham que se mover mais rápido para tentar sair vivos dali, então o suor começou a escorrer por sua espinha. A água subia a cada momento e logo, parecia que o porão, sem importar o quão amplo fosse, iria se converte em uma cópia exata do mar.
Se sobreviver, prometo fazer uma festa impressionante na Itália. Juro por Deus!
— Ei, estou vendo as escadas!
Depois de caminhar um pouco, encontraram as escadas que levavam ao andar superior. Como disse Sasha, no final do porão, as escadas foram construídas ao longo da parede como uma forma de “saída de emergência”.
Noah subiu, pisoteando na água.
As escadas eram estreitas e de madeira, tinha um corrimão que rangia como se estivesse prestes a quebrar. Ainda mais quando os dois homens subiam ao mesmo tempo. Noah lutou para subir enquanto segurava Sasha e, enquanto o fazia, imediatamente chegaram a uma porta quadrada que se estendia acima das cabeças. Ao contrário de quando eles desceram, descobriu que a porta era feita de algum tipo de pedra pesada que certamente não parecia combinar com a estética do lugar.
Noah comprovou a fresta da porta de pedra com a ponta dos dedos, depois a empurrou para cima com toda a sua força. Mas, como esperado, a porta não se moveu nem uma só vez. A empurrou de novo enquanto segurava a respiração, mas apenas podia escutar o som da pedra sendo empurrada. Não saia do lugar.
— Espere…
Sasha, que estava alguns degraus mais abaixo, se aproximou e ficou ao lado do corpo de Noah. Um espesso cheiro de sangue emanava dele, assim que não achava que o homem poderia fazer nada mais forte do que isso. Menos ainda empurrar uma pedra tão pesada.
— Fique quieto. Se você se esforçar além do seu limite, poderá se machucar gravemente… Ouça-me, por favor.
Noah virou-se para Sasha e insistiu que ele ficasse longe. Mas bang! Houve um forte estrondo novamente. Algo bem diferente da explosão que havia ocorrido há um instante. Era o som de algo desmoronando, como… Escutar as ondas ao longe. Para ser preciso, era o barulho de uma grande quantidade de água correndo ao mesmo tempo.
— Puta merda…
De longe, na direção em que estavam andando, podiam ver a aparição de água azul saindo das paredes. Estava claro que algo havia desmoronado e a água do mar entrou.
— Noah, me abrace forte!
Sasha gritou alto, dobrando suas costas feridas e empurrando a porta com as costas enquanto isso. Então, com um braço, agarrou o corrimão da escada e com o outro o abraçou para evitar que fossem arrastados pela água.
Noah, que não havia se dado conta da visão de uma grande onda correndo em direção a eles, empurrou a porta uma última vez.
A rocha começou a mover-se para cima pouco a pouco.
— Saia primeiro!
Quando houve um espaço entre a porta e o chão, Sasha empurrou Noah naquela direção. Noah olhou para ele por um momento, segurou-o, e então mordeu o lábio e entrou no buraco.
Mas com um som alto, um enorme jato de água pareceu cobrir Sasha até que seu corpo, com as costas contra a porta, foi varrido pela forte correnteza até desaparecer.
— Sasha!!!!
A porta foi direto para baixo. Simplesmente parecia uma das inúmeras pedras que estavam dispostas no chão da casa. E como a porta secreta se fechou, não havia forma de levanta-la de novo, então Sasha não poderia sair e morreria quase imediatamente.
Reconhecendo esse fato, Noah gritou. Seu rosto pálido e cansado estava cheio de medo.
— Sasha!! Sasha!!
Noah gritou seu nome. Sua mão esquerda estava procurando a enorme porta secreta que parecia fazer parte do chão, então quando sentiu o relevo, a empurrou para cima sem deixar de gritar. Tinha uma dor terrível em seus ossos, mas ele nem se importava. Colocou a mão direita ao seu lado e tentou fazer uma espécie de alavanca com ela. A parte inferior da escada, por onde Noah saiu, já estava cheia de água.
— Sasha!!!
De alguma forma, se afundou para tentar encontrar uma nova maneira de levantar a porta. Seu corpo estava encharcado, mas ele continuou e continuou de qualquer maneira. Não podia ver para onde a pessoa do outro lado tinha ido porque havia um monte de água escura ao seu redor.
As lágrimas caíram imediatamente, mas ele não se deu conta disso.
Sem saber o que fazer, Noah balançou os braços ao redor da água, depois respirou fundo e meteu a cabeça pela segunda vez. Moveu a pedra e depois tentou fazê-lo com as costas, embora fosse terrivelmente doloroso.
A água estava escura.
Gelada…
Colocou os braços em frente a ele e olhou ao redor, mas não pôde encontrar Sasha. Sua boca estava seca e não conseguia suportar o nervosismo que fazia seu coração bater forte, como se estivesse prestes a sair pela garganta.
Mas então, algo prendeu seus dedos. Então essa mesma força segurou sua mão, assim que Noah agarrou e o segurou para puxá-lo o mais forte que podia. E no momento seguinte, uma grande mão finalmente agarrou seu ombro…
O rosto de Sasha, que se aproximava, já podia ser visto com bastante clareza.
— Sasha!
Apertou os lábios e gritou seu nome assim que saíram um monte de bolhas de sua boca. Ao mesmo tempo, Sasha agarrou as bochechas de Noah e o beijou de uma forma muito profunda. Era como se ele não pudesse suportar, como se o necessitasse…
Como se desejasse esse gesto para seguir em frente.
Noah chorou, o abraçou e puxou-o um pouco mais para não chegar a soltá-lo nunca. Foi o sentimento mais doce e mais doloroso que sentiu.
Então, mais uma vez, a água corrente irrompeu da porta de pedra em um jato impressionante. Noah, que estava meio submerso, e Sasha, que o segurava debaixo d’água, foram empurrados para fora dali pela sucção, de modo que seus corpos, empurrados pela corrente, pousaram no chão junto com gemidos e tosses que pareciam insuportáveis.
— Noah, ah, Noah, você está bem? Está ferido, Noah?
Sasha,que não havia soltado Noah nem um só momento, olhou para ele com tanto medo que até parecia divertido. Verificou se havia feridas aqui e ali e rapidamente o abraçou de novo.
— Sua… Sua mão…
— Não é nada, deixa.
Estava mais irritado com o fato de que ia morrer do que com a mão ferida. E enquanto olhava seu rosto, os palavrões subiram por sua garganta junto com maldições que nem pareciam que eram em inglês. E então:
— Noah!
Alguém chamou Noah.
Achou que os arredores eram incomumente barulhentos, mas parecia que era porque Isaac finalmente havia chegado. Quando olhou em sua direção, viu o homem correndo, completamente armado, com uma submetralhadora em uma só mão. Era um espetáculo precioso. Como queria poder agradecer a sua mãe por tê-lo dado à luz já que com isso ele podia ver essa coisa ardente.
Noah ergueu os cantos dos lábios.
— Isaac… Você realmente veio. E você está armado até os dentes. Você é lindo.
Disse, esquecendo que ainda estava junto com Sasha. Sasha imediatamente agarrou seu queixo, com um rosto rígido, e o virou para que olhasse somente a ele. Seus olhos estavam frios e seus dentes estavam cerrados. Tanto que Noah supôs que não poderia voltar a olhar Isaac por muito, muito tempo. Mas em vez de dizer algo a respeito, como era seu costume, olhou para Sasha e juntou seus lábios imediatamente nos dele. Então estendeu a mão e acariciou suavemente o rosto que estava bastante bagunçado:
— Sasha… Você me deve muito. Idiota.
— Eu sei…
— Eu… eu vou a… Ah…
Não sabia o que estava dizendo. Sua cabeça estava tonta e sua voz ficou bem baixa. Ele tinha muito a dizer, mas mal conseguia dizer uma palavra.
— Minha barriga… está doendo…
Em um instante, o rosto de Sasha ficou branco. Era um rosto contorcido de medo, algo que nunca tinha visto antes.
Noah fechou os olhos. Tinha a voz de Sasha ao lado dele, gritando seu nome tão constantemente quanto o som das sirenes, hélices de helicóptero, e a voz de Isaac que dizia que “Tudo vai ficar bem”, embora tivesse certeza de que estava fazendo isso a distância.
Queria acordar para dizer a Sasha que estava bem, mas ainda sim seus olhos nunca responderam.
***
O som das hélices e do motor do helicóptero parecia ressoar bem alto.
O homem dentro dele, olhou em volta com uma cara ansiosa e imediatamente empurrou o piloto:
— Apresse-se, mova-se um pouco mais rápido!
No entanto, não importa o quão rápido se movesse, havia um limite para a velocidade que um helicóptero poderia alcançar.
Caleb, um homem com um curativo na coxa, roeu as unhas com os dentes e ligou o celular com uma expressão impressionante de ansiedade no rosto. Se escutavam notícias alarmantes sobre L & M e também sobre a corrupção que existia em torno do CEO. A maioria das reportagens na televisão tinham títulos como esse. Que aceitava subornos de todos os lados, e que foi acusado por todos os tipos de corrupção, incluindo lobby ilegal, manipulação de ações e peculato. Mas o maior problema era que estavam dando uma recompensa por ele por causa que havia vazado segredos de defesa e comércio ilegal. Todos os fundos armazenados secretamente em bancos estrangeiros foram bloqueados. Também foram confiscadas todas as suas propriedades nos Estados Unidos e havia perdido sua licença para sair do país. Não foi preso imediatamente porque estava no México, mas a Interpol já estava o buscando assim que era difícil mover-se facilmente. Por sorte teve a grande alegria de ter encontrado uma maneira de fugir para outro país depois de encontrar todos os fundos que havia enterrado em sua casa em Los Cabos. Tinha que se esconder por um tempo e depois encontrar uma maneira de recuperar seu dinheiro de alguma forma.
Caleb, que havia pensado nisso enquanto ainda roía as unhas nervosamente, mais uma vez começou a pensar em Sasha.
Bateu na cadeira com o punho.
— Eu deveria ter matado esse maldito bastardo quando tive a oportunidade!
Não matar Sasha assim que ele assinou a papelada foi um erro. Além disso, nunca havia imaginado que Noah o atingiria dessa maneira, usando a força de seus feromônios. Ele baixou a guarda, então um palavrão veio do nada.
— Apresse-se, vá mais rápido!
Estava tão irritado que acabou descarregando toda a sua raiva no piloto. Mas de repente, a tela do celular que segurava entre as mãos começou a vibrar. E em vez do portal de notícias que estava lendo, um coelho rosa começou a pular em um fundo completamente branco. Pressionou o botão ‘próximo’ com firmeza, se perguntando se havia aberto uma ‘janela pop-up’ por engano, e ainda assim a tela em que corria o coelho parecia nunca querer sair.
— Há um problema, senhor!
Nesse momento, o piloto começou a gritar. Quando olhou para ele, percebeu que o monitor do helicóptero mostrava o mesmo coelho rosa correndo em volta dos botões, assim como estava fazendo em seu celular. Caleb olhou para o monitor, seu rosto terrivelmente branco, e então o coelhinho, que estava correndo pelas telas dos monitores de todos os aparelhos eletrônicos como um completo lunático, parou de se mover do nada, olhou para frente e disse:
[Caleb, você se lembra do que eu te avisei?]
— Avisou o quê? Quem é você?
[Você não lembra?]
— Quem é?!!
Caleb arregalou os olhos um pouco mais e então o coelho gritou histericamente.
[Você está perdido.]
[Está perdido.]
[Está perdido.]
[Está perdido.]
A resposta do coelho continuou por um longo tempo. O rosto de Caleb ficou azul, como se visse um fantasma, e de alguma forma, ele parecia até ter esquecido de respirar.
— Porra… Noah?
[Bingo!]
O coelho deu voltas e mais voltas. Caleb finalmente jogou o telefone.
— Vire o helicóptero! Não, aterrize! Vá para qualquer lugar, rápido!
— Não está se movendo, senhor! Eu não posso pilotar o helicóptero!
Caleb e o piloto gritaram um com o outro.
Era possível ver uma cadeia de montanhas na frente deles e a maneira como o helicóptero avançava de maneira reta até ali. E se continuasse assim, eles iriam colidir com o penhasco sem poder fazer nada a respeito.
[Eu tive muita dificuldade em escapar, mas e você? Suou um pouco? Ficou excitado? Foi divertido explodir tudo comigo lá?]
— Desgraçado!
Caleb resmungou. A forma em que olhava ao seu redor, com os olhos bem abertos, parecia algo que uma pessoa louca definitivamente faria.
[É tarde demais para fugir. Nem sequer pode saltar com um pára-quedas desta altura.]
Caleb gritou novamente. A montanha estava bem na frente dele, então o piloto fez o mesmo. O coelho rosa foi o único que continuou falando, com voz calma, no helicóptero que havia se tornado um desastre.
[Se tivesse sido um pouco mais cuidadoso, se tivesse investigado melhor quem eu era, então você teria baixado a cabeça para correr. Por que se atreveu a me tocar e mexer com as pessoas que eu amo? O preço é muito alto, mas, você ainda terá que pagar.]
— Noah!
[É como dizem no México “Adiós para siempre, hijo de tu puta madre”.]
O coelho deu uma piscadinha, depois desapareceu da tela como se nunca tivesse aparecido e ficou tudo preto. Caleb prendeu a respiração.
No momento seguinte, Bum! O helicóptero caiu no meio de uma serra até explodir. E os únicos rastros que restaram dos dois, foram a fumaça espessa que subiu e os fragmentos de metal que caíram como chuva.
*
Noah fechou o laptop até ouvir um clique. Então um longo suspiro escapou quando se apoiou profundamente no travesseiro e fechou os olhos. Em pensar que havia terminado, a verdade é que começou a se sentir um pouco mais aliviado.
A cama do hospital, que estava inclinada como uma cadeira, era tão confortável que Noah se recostou e olhou pela janela. O céu, sem uma única nuvem, estava de um azul deslumbrante e o fazia pensar que era um dia perfeito para voar em um helicóptero. Embora, claro, não sabia se no México também era assim.
De alguma forma, enquanto organizava seus pensamentos, percebeu que havia se tornado um pouco melancólico. Talvez porque tenha estado trancado no hospital por mais de 3 semanas ou porque a pessoa que ele esperava ver não mostrou o nariz por mais de 3 semanas.
Depois de ser transportado para um hospital perto de casa em San Diego, Noah esteve rodeado por vários médicos, se submetendo a exames, medicamentos e uma série de injeções. Isso se deve ao alto risco de aborto que estava apresentando. Quer dizer, passou por alguns momentos difíceis durante sua gravidez, teve uma forte dor abdominal e sangramento. E fosse por causa da medicação ou porque simplesmente não se sentia bem, descobriu que foi muito difícil abrir os olhos por vários dias.
Havia passado uma semana desde que a dor diminuiu. Os médicos disseram que foi um milagre que não houvesse abortado e o advertiram que mantivesse a calma e não se movesse por nada no mundo. Graças a isso, esteve de cama até que magicamente descobriu que três semanas horríveis haviam se passado. E em todo esse tempo, Sasha não esteve ali. Ou seja, só ouviu a notícia de que estava internado na unidade de terapia intensiva (UTI). Seus ferimentos eram tão graves que os médicos explicaram que seria difícil para ele se mover por um tempo e, pelo mesmo motivo, foram tratados em enfermarias diferentes. Entretanto, o trabalho progrediu de forma constante. Se descobriu a corrupção do CEO da L & M Systems, a opinião pública subiu e o preço das ações despencou. Caleb, que fugiu, estava sendo procurado pela Interpol e, além disso, muitas coisas vertiginosas surgiram em seu quadro de tarefas. Embora não fosse visível do exterior, rapidamente se deu conta de que Sasha também estava fazendo algumas coisas por conta própria, mesmo estando na unidade de terapia intensiva.
Mas ainda assim Sasha não foi visitar Noah, não entrou em contato e não foi para obter notícias sobre sua condição ou a do bebê. Tinha certeza de que ele sabia, mas teria sido melhor se ele mostrasse seu rosto.
Enquanto esperava por ele, Noah perseguiu Caleb por tédio e bateu seu helicóptero em uma cadeia de montanhas. O acidente de helicóptero de Caleb foi claramente um erro do piloto, então seria a notícia de hoje. Talvez digam que foi suicídio para evitar a captura pela Interpol ou algo ridículo assim. E embora estivesse claro que havia agido arbitrariamente, não estava preocupado com o que poderia ou não acontecer. Quer dizer, ele o sequestrou, o tocou de forma imprudente e quase o fez perder o bebê. Se o deixasse ir, então não seria mais capaz de se chamar de um verdadeiro Felice nunca mais.
Noah olhou pela janela por um longo tempo, contemplando vários pensamentos estúpidos, e então virou o olhar para sua mão. Um gesso estava enrolado em seus dedos esquerdos porque os ossos do dorso foram quebrados quando tentou abrir a porta de pedra. Felizmente, não estavam quebrados o suficiente para exigir cirurgia, então tinha que usar isso por um longo tempo. Não era desconfortável devido à já bastante sufocante vida no hospital, mas poderia dizer que se sentia um pouco inútil porque era difícil para ele pressionar o teclado do computador, lavar o rosto, tomar banho e até trocar de roupa. Lhe foi dito que teve sorte por ter machucado apenas a mão esquerda, mas mesmo enquanto tratava de consolar a si mesmo, um suspiro aterrorizante saiu. Odiava ter suas mãos machucadas, então estava triste, mas também era divertido ter um gesso quando nunca teve um ao longo da sua vida. Nem mesmo quando era criança.
Além disso, não se arrependia. Caso contrário, Sasha teria morrido porque não teria sido incapaz de sair do porão por conta própria. Estava muito feliz por ter conseguido salvá-lo, então, mesmo que isso fosse o caso agora, estava bem sabendo que Sasha estava vivo.
Noah gentilmente ergueu os cantos dos lábios, acariciando suavemente sua barriga e alternando entre a mão esquerda, que estava engessada, e a mão direita.
— … vou me sair bem.
Tudo o que tinha que fazer era tentar tornar sua vida um “lugar seguro” para ele, Sasha e até mesmo para a criança que estava em seu ventre. E Noah, que havia estado pensando nisso há algum tempo, convencido de que definitivamente poderia tornar isso possível, fechou os olhos por um momento na sonolência que os remédios e todos aqueles soros lhe causaram.
Uma brisa agradável entrou pela janela…
No meio disso, ele sentiu um toque suave em seu cabelo e mãos fortes e grandes tocando as feridas visíveis em seus braços. Havia um cheiro nostálgico que fez cócegas na ponta de seu nariz, então, inevitavelmente, Noah virou a cabeça para poder persegui-lo. Mas aquela mão, acariciando seu cabelo, se contraiu e parou de se mover. Não gostou da atitude hesitante dela, então ele queria perguntar algo como “Por que você fez isso?” Mas ainda assim, era difícil acordar do sono assim que não podia falar com ele.
De repente, uma sensação de formigamento atingiu sua testa. Foi um beijo que fez cócegas até em seu couro cabeludo.
— Te amo.
De qualquer forma, o cheiro desapareceu em um instante e o hálito quente também pareceu se afastar dele. A mão que acariciava cuidadosamente seu cabelo caiu lentamente de seu lado e o aroma se afastou até fazer que uma parte de seu peito doesse. Era difícil suportar a sensação, então no momento em que sua testa franziu, ele abriu os olhos.
— …
Noah estava deitado na mesma cama que havia sido levantada em um ângulo. Estava escuro porque já era noite e uma brisa fresca soprava pela janela ligeiramente aberta. E quando deixaram aberta, para começar? A enfermeira veio ou algo assim? No entanto, ainda não era hora de ela vir, então se levantou abruptamente, sem pensar muito em sua condição, pegou o telefone e contatou a enfermaria do lado de fora do quarto. Depois de um bipe, a voz de uma mulher respondeu:
— O que há de errado Sr. Felice?
— Sasha, na unidade de terapia intensiva… Onde está Sasha Lambert agora?
Claro que seria tolice compartilhar os dados pessoais de outros pacientes com ele, mas de qualquer forma, a enfermeira, sabendo que os dois foram trazidos aqui depois de se envolverem no mesmo incidente, respondeu sem hesitação.
— A o Doutor Lambert foi dado alta.
Parecia que a dor de cabeça havia voltado. Disseram que ele estava gravemente ferido, então tinha que ficar no hospital por um tempo, mas…O deram alta tão cedo? Ele era capaz de se mover? Aonde foi? Inúmeras perguntas flutuavam em sua cabeça, então ele disse novamente:
— Uh, quando saiu do hospital?
— Está tarde.
Com a resposta da enfermeira, Noah fechou os olhos.
Aquela mão acariciando seu cabelo, aquele beijo. Não foi um sonho. Mesmo que ele não mostrasse seu rosto… Havia estado lá com ele, mas ele saiu sem dizer uma palavra.
Por quê?
— Sasha.
Seu nome ficou na ponta da língua. Foi uma palavra triste e infeliz. Um nome que fazia cada canto de seu coração mais pesado.
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Continua. ..
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Tradução: Sasori
Revisão: Rize
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Continua…
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Tradução: Sasori
Revisão: Rize