Da Terra ao Céu - Capítulo 36
Sasha, que ainda estava olhando para o notebook, perguntou o que ele queria dizer com “Ele também era louco”.
— Está muito claro que uma pessoa comum teria tratado você como um maldito lunático, se tivesse prestado atenção a tudo o que acabou de dizer. Acho que Caleb, tem suas razões para dizer que você tem uma doença mental.
— Pode ser…
— Mas, eu não sou assim, não me importo, preferiria te beijar.
A expressão de Sasha endureceu por um instante. Parecia intrigado que ele o aceitasse tão bem, então vendo isso, Noah sorriu. Talvez fosse porque esteve vivendo todo esse tempo ouvindo as pessoas dizerem que ele era louco, mas agora era muito bom encontrar alguém que fosse parecido com ele. Quer dizer, não era tão ruim. Mesmo que fosse obviamente mais um problema do que uma vantagem.
Nesse momento:
Houve uma comoção do lado de fora e alguns passos correndo apressados ecoaram nas paredes. As vozes dos homens, que continuavam falando alto, eram ferozes e claramente não estavam de bom humor.
Noah parou de sorrir e se dirigiu até a porta. Ele girou a maçaneta e ao mesmo tempo, Sasha saiu de seu assento e agarrou seu braço para tirá-lo dali. O notebook foi deixado aberto como estava.
— Ven comigo.
— Nós vamos para onde?
Sasha não respondeu à pergunta de Noah. Em vez disso, ele deu um passo à frente e empurrou a mesa de sinuca, que estava pesadamente apoiada no chão, com toda a força. Havia um grande tapete embaixo dela. Quando o tapete foi varrido, uma fissura quadrada apareceu no meio do piso de madeira que também tinha uma maçaneta de metal.
— Vamos descer aqui?
— É uma passagem de emergência que leva a um depósito subterrâneo. Há muito tempo, quando visitei este lugar com meus pais, Caleb nos disse que a tinha em caso de emergência. Eu preferia não ter que usá-la, mas não temos tanta sorte.
Agora sabia por que tinham ido para aquela sala. Ele estava tentando escapar do subsolo? Enquanto Noah estava surpreso com o que ele havia dito, Sasha levantou a porta de madeira com um golpe e, como se não tivesse sido usada por um longo tempo, assim que ele o fez, houve um som estridente que parecia meio assustador.
As escadas para o porão eram estreitas e íngremes e abaixo estava bastante escuro, como se um monstro estivesse com a boca aberta para eles. Estava com um nó na garganta. Tinham realmente que descer lá? Ele estava duvidando disso, então Sasha passou por Noah, descendo as escadas primeiro e depois estendendo a mão em sua direção. Era verdade, se ficasse ali, os homens de Caleb o pegariam e o matariam sem pensar duas vezes.
Noah seguiu Sasha pelo corredor de emergência enquanto lutava tentando convencer a si mesmo que era a coisa certa a se fazer. Ele pegou uma lanterna que estava ao seu lado, então Noah perguntou o que deveriam fazer se ela não funcionasse por ser muito velha, mas felizmente ela acendeu na primeira tentativa. Sasha foi até Noah, iluminando as escadas com a luz do celular na mão:
— Se descermos, encontraremos um local adequado para fugir. Como a parte inferior do edifício é toda subterrânea e há passagens que levam a vários cômodos, também podemos chegar a mais lugares dentro da casa, inclusive podemos chegar até a porta que nos levará até a saída.
— Como você se lembra de todas essas coisas se já faz tanto tempo?
Noah fechou imediatamente a boca depois de dizer isso, porque se lembrou tarde demais que sua memória era excepcionalmente boa.
— Eu era adolescente e foi a primeira grande estrutura que eu já vi. Além disso, como um espaço completamente indistinguível do exterior, pensei no negócio que poderia ser feito se eu trouxesse itens ilegais de programação e os mantivessemos escondidos aqui.
— …Você tem tido idéias muito estranhas desde que era jovem.
— Eu nunca fui normal.
Sasha admitiu humildemente. Então, depois de esperar um pouco até que Noah descesse, ele fechou a pesada porta de madeira. Houve um estrondo e a poeira subiu com um som de “Atchin”. Sentiu uma coceira no nariz e na garganta, então naturalmente houve muitos espirros. Ao mesmo tempo, a escuridão total nublou sua visão, então mesmo dizendo que não estava com medo, Noah não teve escolha a não ser tremer.
— Eu sei que é assustador… não sabia que você tinha medo do escuro.
— É porque está muito escuro…
— Não solte minha mão. Cuidado para não escorregar… estou aqui.
Sasha, que estava descendo as escadas íngremes primeiro, virou-se para Noah e disse para não soltá-lo por nada. Mas mesmo andar lentamente em um lugar como este era um grande problema.
— O médico me disse que eu precisava relaxar. Isso não está me deixando relaxado! Droga! E se eu…?
Pensando nisso, ele mordeu o lábio. Não sabia como estava passando por um momento tão difícil com um corpo de grávido. E se alguma coisa desse errado, então iria perder seu bebê. Noah pensou em algo muito sinistro sem perceber, então balançou a cabeça. Foi quando Noah, que ainda estava descendo as escadas enquanto prometia a si mesmo que não iria deixar aquele maldito bastardo encontrá-los, de repente sentiu braços ao redor de seu corpo. Noah, que estava perdido em pensamentos, soltou um breve grito quando. Mas a surpresa durou pouco.
O fato de Sasha o estar carregando não parecia seguro para nenhum deles.
— O que você está fazendo?
— Você disse que precisava se acalmar. Por favor, descanse um pouco, enquanto eu cuido do resto.
— Como diabos eu vou descansar assim? Agora seu corpo também não está na melhor forma do mundo! Se você cair, eu sou o único que vai ter dificuldade. Me coloque no chão!
— Eu estou bem, eu juro.
Sua mão esquerda estava gravemente quebrada, seu braço sangrava muito por causa de um ferimento de bala e sua fala estava um pouco instável porque afinal foi atingido com força da cabeça aos pés.
— Você é um idiota…
— Mais importante que isso… Me fale por que o corpo que já era incrivelmente leve ficou ainda mais magro.
Sasha estava realmente carregando-o como se fosse um palito. E cuidadosamente segurando o corpo dele em seus braços, caminhou para frente da mesma forma que ele tinha feito no início. Nada mudou. Relutantemente, Noah passou os braços em volta do pescoço dele.
— Eu disse a você que tenho tido enjoos matinais graves.
— Então é por isso que perdeu mais peso? Você está grávido, precisa se cuidar melhor mesmo que esteja enjoando.
— Eu simplesmente não consigo comer! Se exagerar, eu vomito.
Sasha franziu a testa, mas não foi muito visível na escuridão. Noah deu um tapinha no ombro dele dizendo ‘não se preocupe muito’ e então… Sasha pareceu incapaz de controlar sua expressão enquanto o olhava diretamente no rosto. Claro, ele fingiu não notar e enterrou o nariz no ombro do homem um pouco mais. Seu odor corporal, misturado com o suor, penetrou profundamente em seus pulmões novamente. Quando começaram os enjoos matinais, era difícil suportar o vento que ardia em seu nariz e que vinha acompanhado de todos os cheiros do mundo, mas o cheiro do homem não era ruim. Ele ainda não tinha perdoado Sasha e sua raiva não havia diminuído, mas não queria perdê-lo de vista, então apertou o braço em volta de seu pescoço, como se estivesse desesperado para mantê-lo ali. Em sua mansão em São Francisco, muitas vezes ele se lembrava de Sasha o segurando assim para levá-lo até a sala de jantar.
Gostaria de poder descer para a sala de jantar assim todas as manhãs. Gostaria que Sasha pudesse cozinhar e os dois conseguissem sentar cara a cara e comer.
— Eu quero comer a comida que você fez para mim na sua casa…
Seus pensamentos estavam se esvaindo sem que ele percebesse. Sasha parou de andar.
— Depois que sairmos daqui, farei qualquer coisa por você.
Foi quando Sasha abaixou a cabeça e sussurrou isso baixinho que…
Bum!
Um som alto ressoou no lugar que estava apenas em silêncio.
— Eles estão fugindo! Estão lá embaixo.
Alguém gritou de longe. Sasha o ouviu, então ele se moveu o mais rápido que pôde.
— Sasha, me coloque no chão!
— Depois.
O espaço escuro era como um labirinto. Havia várias salas grandes e também pilares erguidos no meio. Além disso, encontraram um monte de coisas empilhadas em todas as direções. Parecia um armazém ou o esconderijo secreto de alguém. Foi no momento em que corriam sem rumo, tentando se afastar dos sons que vinham das pessoas que os perseguiam, as luzes instaladas no teto começaram a piscar com um pequeno som de eletricidade e logo depois, todas as luzes do porão escuro se acenderam.
— Ali!
Alguém do grupo adversário viu Sasha e gritou. Sasha mordeu o lábio e se escondeu atrás de uma pilha de objetos altos. “Bang, bang, bang!” O tiroteio continuou novamente, então Sasha colocou Noah no chão e puxou a arma. Noah fez o mesmo. Eles se moviam entre os objetos enquanto atiravam de volta contra aqueles que os atacavam imprudentemente e toda vez que os viam nas escadas, Noah subiu primeiro e tentou abrir uma porta para entrar. No entanto, assim como a sala de onde saíram, móveis pesados estavam colocados em cima para esconder o alçapão. A saída de emergência dificilmente poderia ser aberta, provavelmente estaria fechada também. Enquanto isso, houve alguns gritos.
— Não podemos sair!
— Está bem. Há outro lugar.
Noah, que estava batendo na porta novamente, gritou de ansiedade, então Sasha estendeu a mão. Noah desceu as escadas íngremes e o seguiu novamente. Um suor frio escorreu por suas costas. Era sua primeira vez brigando e fugindo com uma arma em meio a um tiroteio. Quando Félix ou Isaac trabalhavam, Noah apenas operava o sistema de computador por trás. Estava passando por algo que nunca havia experimentado antes e estava porque também estava fazendo isso enquanto carregava umagbebe em seu ventre.
Era quase assustador.
Foi no momento em que ele prometeu a si mesmo que sairia daquele lugar e se livraria de tudo que Caleb tinha, houve uma vibração no bolso de Noah. Assustado com isso, ele tateou nas calças e pegou o celular. Depois de falar com Félix através do celular de Caleb, apenas o guardou para que não soubessem que ligaram para o homem.
— É uma chamada desconhecida.
— Atende.
— Sério? Aqui?
— Parece estranho. Atende.
Com as palavras de Sasha, Noah olhou ao redor. De repente, o tiroteio parou. Os caras que os perseguiam não estavam mais atirando e também não estavam gritando. No entanto, Sasha não abaixou a mão com a arma e não parou de olhar ao redor. Estava certo, definitivamente havia algo errado.
— Quem é?
Noah também não largou a arma. Ele a pegou com uma mão enquanto atendia a chamada com a outra.
[Noah, estou muito decepcionado com você.]
A voz do homem, que ele menos queria ouvir agora, filtrou-se pelo telefone. Sem perceber, ele tirou o celular da orelha e olhou para o aparelho como se fosse matá-lo já que não podia fazer isso com o verdadeiro Caleb.
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Continua…
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Tradução: Nath
Revisão: Rize